A correta nutrição é um dos pilares para assegurar a boa produtividade e rentabilidade da exploração de leite.
Hoje se sabe que a criação de gado leiteiro em pastagens degradadas ou mesmo no cocho, sem alimentação balanceada é uma prática inviável economicamente porque as pastagens utilizadas em propriedades leiteiras apresentam déficits nutricionais acentuados, que se intensificam na medida em que as forrageiras amadurecem e envelhecem, principalmente durante os períodos de secas.
O quadro de deficiência das pastagens se torna ainda mais grave quando se considera que tal condição tende a se agravar com o passar do tempo, onde quase nada é feito no sentido de restituir ao solo os nutrientes retirados pelas forrageiras, incorporados ao organismo do animal e transportados para fora do ecossistema.
Quando se adota a prática da análise bromatológica, o produtor, além de suprir uma necessidade e corrigir a dieta do animal, está verificando as necessidades do solo em nutrientes perdidos.
As conseqüências da falta de um correto balanço na alimentação animal são graves para as vacas leiteiras, já que a falta de nutrientes está diretamente relacionada à produção e reprodução.
Quando há carências na alimentação, o produtor certamente depara com formação deficiente e precária da estrutura óssea; maior freqüência de casos de ausência do cio; períodos longos entre um cio e outro; produção de crias debilitadas e com pouco peso; maior facilidade de contrair doenças infecto-contagiosas; queda da produção de leite; pelagem grosseira, áspera e sem brilho; atraso crônico no processo de crescimento; reduzido aproveitamento da alimentação, com conseqüente diminuição de conversão alimentar; lentidão no aumento de peso e degeneração do apetite, levando muitas vezes o animal a ter um apetite depravado, o que amplia a possibilidade de aquisição de doenças.
Por outro lado, a análise bromatológica quando utilizada de forma adequada permite que o animal utilize com maior eficiência todos os outros nutrientes disponíveis, aumentando, assim, a sua resistência orgânica, melhorando a produção de leite, o crescimento e a reprodução.
Os elementos caracterizados pela análise bromatológica foram as quantidades de massa seca, extrato etéreo, energia disponível, fibra bruta, proteína bruta, resíduos minerais, extrativos não nitrogenados, cálcio, fósforo, nutrientes digestíveis totais, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido comparando-os com valores de referência.
Busquei realizar um levantamento acerca da importância da correta alimentação do animal leiteiro, procurando identificar suas causas, meios de diagnóstico, utilizando para isso experiências relatadas através de pesquisadores disponíveis para consultas em bancos de dados, publicações em eventos e livros textos.
O número de variáveis mensuráveis para a determinação da análise bromatológica é ampla, mas neste estudo foram utilizados parâmetros bem estabelecidos pelas ciências de nutrição, bioquímica e fisiologia. A técnica e a determinação destas variáveis selecionadas foram economicamente viáveis para ser implantadas na rotina de avaliação da qualidade da dieta oferecida ao rebanho bovino leiteiro de Canoinhas, Santa Catarina.
c) Fibra Os principais nutrientes encontrados nas forragens são os carboidratos que de maneira geral, correspondem entre 60 e 70 % da alimentação de bovinos, sendo a principal fonte de energia da dieta (VAN SOEST, 1965).
Os carboidratos são divididos grosseiramente em não-fibrosos e fibrosos. Os carboidratos não-fibrosos são encontrados no interior das células das plantas e são rapidamente disponibilizados para o animal, por outro lado, os fibrosos são os principais componentes da parede celular, ocupam espaço no trato gastrintestinal e são degradados mais lentamente (Id).
Os carboidratos fibrosos correspondem à fibra em detergente neutro (FDN), determinando os componentes da parede celular (Id). Assim, é possível separar o conteúdo celular, que é a parte da forragem solúvel no detergente neutro, constituído principalmente de proteínas, gorduras, carboidratos solúveis, pectina e outros constituintes solúveis em água; da parede celular, que é a parte da forragem solúvel em detergente ácido (FDA), constituída, basicamente, de celulose, hemicelulose e lignina.
d) Matéria seca
A ingestão de matéria seca também é um dos fatores determinantes do desempenho animal, sendo o ponto inicial para o ingresso de nutrientes necessários para o atendimento das exigências de mantença e produção, enquanto a digestibilidade e a utilização de outros nutrientes representam a descrição qualitativa do consumo.
Todo alimento tem algum teor de água em sua composição. Se uma amostra de 100 g for totalmente seca (retirar-se toda a água) o peso que sobrar é a quantidade de matéria seca contida em 100 g daquele alimento.
3 METODOLOGIA
Foram utilizados trinta e seis bovinos fêmeas de aptidão leiteira em diversas etapas da lactação, entre a 3ª e 6ª lactações, com grau de sangue variando de Holandês Preto e Branco Puro (HPB), Jersey e mestiças, com peso vivo médio de 520,5 Kg, divididos em 3 grupos de 12 animais. O grupo 1 foi composto por animais da propriedade “A”; o grupo 2 foi composto por animais da propriedade “B” e o grupo 3 foi composto por animais da propriedade “C”.
As dietas foram avaliadas adotando-se relação volumoso:concentrado de aproximadamente 60:40, utilizando a ração concentrada produzida nas propriedades, e, em uma das propriedades houve a adição de batata-doce (Ipomoea batatas) e mandioca (Manihot esculenta) na alimentação.
A mistura de concentrados e volumosos foi feita manualmente no comedouro, durante o fornecimento da alimentação. A silagem de milho (100% SM) constitui 100 % do volumoso nas três propriedades. As três propriedades fornecem arraçoamento em quantidades iguais para todos os grupos de animais. Os animais foram mantidos nos seus lugares de cotidiano para a ordenha e depois alimentados. A alimentação foi fornecida em duas refeições diárias, às 7 horas e às 17 horas, proporcionando em torno de 10 % sobras.
A determinação das variantes da análise bromatológica foi feita pelo método de Weende, que foi desenvolvido entre 1860 e 1864 na Estação Experimental de Weende, na Alemanha. É conhecido como método de análise centesimal ou proximal e consiste basicamente nas determinações de:
Para a determinação das variantes da Fibra em Detergente Neutro (FDN) e da Fibra em Detergente Ácido (FDA) foi utilizado o método de van Soest, desenvolvido no ano de 1967 nos laboratórios do U. S. Department of Agriculture (USDA), que utiliza reagentes denominados de detergentes neutros e detergentes ácidos e divide os nutrientes dos tecidos vegetais em dois grupos:
UMIDADE
A umidade é definida como a perda de peso que as amostras apresentam quando aquecidas à temperatura de 100/105 °C até obter uma massa constante.
Representa a massa do material analisado totalmente livre de água. Os valores de matéria seca facilitam a comparação qualitativa entre diferentes alimentos, principalmente volumosos que normalmente apresentam umidade variável, e é também necessária sua determinação para obter o resultado do extrato não nitrogenado.
Em caso de forragens com umidade muito elevada se faz a determinação em duas vezes, primeiro em estufa a 65/70°C (pré-secagem) e após100/105 °C.
EXTRATO ETÉREO
Temos como principais funções das gorduras, fornecer 2,25 vezes mais energia do que os carboidratos e proteínas; ser fonte de calor de combustão dos principais nutrientes; fornecer isolamento térmico; ser fonte de ácidos graxos essenciais (linolênico, linoléico, araquidônico); ser precursor de vitaminas D2 e D3; auxiliar na absorção de certas vitaminas; tornar a carne mais macia e mais apetecível (marmoreio).
Para a determinação do extrato etéreo foi utilizado clorofórmio a 75° C como solvente orgânico atuando sobre a ração e dissolvendo a gordura, corantes e resinas.
FIBRA BRUTA:
Determina o material orgânico não nitrogenado que é insolúvel em ácido e álcali diluídos e ferventes. Os valores encontrados relacionam-se com a idade da forragem, pois quanto maior a percentagem de fibra, menor a qualidade da forragem, podendo limitar o consumo de matéria seca e energia.
Os glicídios no sistema de Weende são divididos em dois grupos:
1 - parte insolúvel que é denominada fibra bruta (FB);
2 - uma fração solúvel denominada de extrativos não nitrogenados (ENN).
Entretanto o método de Weende se torna falho, pois o hidróxido de sódio (NaOH - 1,25%) digere parte da lignina e solubiliza a hemicelulose, dando a falsa impressão da digestibilidade ser maior do que realmente é.
Para um resultado mais preciso foi utilizada à análise de Van Soest (1967), na qual foram determinados os valores para fibra em detergente neutro (FDN) e para a fibra em detergente ácido (FDA). Esta é a maneira mais moderna de se determinar os elementos fibrosos nos alimentos, obtendo resultados mais precisos do que somente a fibra bruta a qual teve sua utilização reduzida principalmente em função das falhas relacionadas ao método de determinação desta.
PROTEÍNA BRUTA:
O termo Proteína Bruta (PB) envolve um grande grupo de substâncias com estruturas semelhantes, porém com funções fisiológicas muito diferentes. Baseado no fato das proteínas terem porcentagem de nitrogênio quase constante é possível determinar o nitrogênio e por meio de um fator de conversão e transformar o resultado em PB. Então, PB significa o nitrogênio total contido em um material analisado, multiplicado pelo fator convencional 6,25. Este processo considera todo nitrogênio do alimento na forma protéica, e que a proteína contém 16 % de nitrogênio (100 ÷ 16 = 6,25).
Para determinar a PB foi utilizado o método do digestor de Kjeldahl Macro, que faz parte do método de Weende (1860 – 1864). Na determinação da proteína bruta não são excluídos outros compostos nitrogenados não protéicos.
RESÍDUO MINERAL:
A determinação da cinza fornece apenas uma indicação da riqueza da amostra em elementos minerais. O teor de cinza pode permitir, às vezes, uma estimativa do cálcio (Ca) e fósforo (P) do alimento analisado, quando se trata de certos produtos, como farinha de ossos e produtos de origem marinha. Todavia, quando se trata de produto vegetai (forrageiras, rações e cereais), a determinação da cinza tem relativamente pouco valor. Isto ocorre porque o teor da cinza oriunda de produtos vegetais nos dá pouca informação sobre sua composição, uma vez que seus componentes minerais são muito variáveis. Alguns alimentos de origem vegetal são, ainda, ricos em sílica, o que resulta em teor elevado de cinzas, todavia, esse teor não apresenta nenhum valor nutritivo para os animais (por isso deve-se suplementar os animais).
EXTRATO NÃO NITROGENADO:
Os extratos não nitrogenados (ENN) representam os carboidratos de alta degradabilidade no rúmen. Quimicamente, os ENN representam amido e a sacarose em dietas à base de cana-de-açúcar, ou a pectina, em dietas com alta inclusão de polpa cítrica, citando apenas exemplos prevalentes em nossas propriedades leiteiras. Sua determinação se faz por exclusão de outras variáveis da matéria seca. Então é necessário se ter os resultados de umidade (UM), fibra bruta (FB), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e do resíduo mineral (RM), daí, por diferença obtêm o resultado para ENN.
NUTRIENTES DIGESTÍVEIS TOTAIS:
É a análise mais utilizada para bovinos, baseia-se na soma da fração da Proteína digerível (PD) + Carboidrato Digerível + (2,25 x Gordura Digerível), assim temos a seguinte fórmula: NDT % = % PD + % FD + (2,25 x % EED) expressando o valor energético dos alimentos. Os valores necessários foram obtidos através de fórmulas que tiveram como base a análise bromatológica prévia dos alimentos.
3.1 AMOSTRAGENS DO MATERIAL
Foram utilizadas várias sub-amostras colhidas em diferentes pontos dos comedouros após serem homogeneizadas através de nova mistura. A amostra final, com cerca de 500g foi dividida em duas alíquotas, parte para análise e parte guardada pra contraprova.
As amostras foram acondicionadas em sacos de papel, e levadas à análise o mais rápido possível para que não se deteriorassem.
Como os resultados foram expressos em matéria seca, a perda de umidade durante o transporte não foi levada em consideração. As amostras sofreram secagem em estufa com circulação de ar quente (100°C/ 105ºC) e posterior moagem em moinho para então serem processadas para as devidas análises.
O software utilizado para a análise estatística foi o Graphpad Prism® v.5.0, e as médias com distribuição paramétrica foram comparadas pelo teste ANOVA de uma via seguido do teste de Tukey.
As variáveis da análise bromatológica foram comparadas com as necessidades para vacas leiteiras propostas pelas Normas e Padrões de Nutrição e Alimentação Animal do Ministério da Agricultura – 2000 (MAPA-2000).
4 RESULTADOS OBTIDOSA correta nutrição é um dos pilares para assegurar a boa produtividade e rentabilidade da exploração de leite.
Hoje se sabe que a criação de gado leiteiro em pastagens degradadas ou mesmo no cocho, sem alimentação balanceada é uma prática inviável economicamente. Isso porque as pastagens utilizadas em propriedades leiteiras apresentam déficits nutricionais acentuados, que se intensificam na medida em que as forrageiras amadurecem e envelhecem, principalmente durante os períodos de secas.
O quadro de deficiência das pastagens se torna ainda mais grave quando se considera que tal condição tende a se agravar com o passar do tempo. Quase nada é feito no sentido de restituir ao solo os nutrientes retirados pelas forrageiras, incorporados ao organismo do animal e transportados para fora do ecossistema. Quando se adota a prática da análise bromatológica, o produtor, além de suprir uma necessidade e corrigir a dieta do animal, está contribuindo para restituir ao solo uma pequena parte dos nutrientes perdidos, através da fertilização do solo.
MASSA CORPORAL:
Os animais analisados fazem parte de grupos em diferentes fases de lactação, e, não havendo diferença entre os animais nas diferentes fases de lactação, estes foram separados por propriedades.
Os animais apresentaram uma média de 520,5 Kg de peso corporal (gráfico 01). Os animais da propriedade B apresentaram menor média de massa corporal (p<0,05, ANOVA seguida pelo teste de Tuckey).
Gráfico 01: Massa Corporal de Vacas Leiteiras em Canoinhas em Diferentes Fases Fisiológicas de Produção
Nota: * p<0,05, ANOVA seguida pelo teste de Tuckey.
Os animais analisados fazem parte de grupos em diferentes fases de produção.
Os animais existentes são mestiços Holândes Preto e Branco ou mestiços Jersey.
ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL:
A avaliação do escore de condição corporal (ECC) é um método rápido, prático e barato, que reflete as reservas de energia e preenchimento de gordura no animal. O ECC é obtido através da observação visual do animal por um técnico treinado. Isso faz com que este método seja considerado subjetivo por tanto o mesmo avaliador deve fazer todas as inferências.
Não houve diferença no ECC inferido para as vacas em lactação em Canoinhas – SC (gráfico 02).
Gráfico 02: Escore Corporal Inferido para Vacas de Leite em Diferentes Fases de Produção Fisiológicas em Canoinhas – Sc
Nota: a linha na horizontal demonstra o valor médio ideal (3,0) para o escore de condição corporal nas diferentes fases de produção (RADOSTITIS, 2000).
ANÁLISE BROMATOLÓGICA
A análise bromatológica é composta por análises de reações bioquímicas centesimais e proximais. É empregada no estudo da composição dos alimentos e constata possíveis desequilíbrios na nutrição fornecida. Esta análise fornece as quantidades de massa seca, extrato etéreo, energia disponível, fibra bruta, proteína bruta, resíduos minerais, extrativos não nitrogenados, cálcio, fósforo, nutrientes digestíveis totais, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido baseados em reações químicas.
A alimentação utilizada para os animais das três diferentes propriedades apresentou teores de umidade 97,86 %, 65,59 % e 44,24 % maiores que o recomendado pelas Normas e Padrões da Nutrição e Alimentação Animal (MAPA, 2000) nas propriedades “A”, “B” e “C”, respectivamente. O percentual de proteína bruta encontrado no alimento atende as necessidades dos animais (id.) em todas as propriedades. O percentual de extrato etéreo encontrado não pode ser considerado baixo porque a energia obtida com a dieta está acima da idealizada pelo MAPA (2000), ou seja, cumpre-se a função energética dos lipídios pelos carboidratos da silagem de milho (TABELA 1).
TABELA 1: Análise Bromatológica das Amostras de Ração de Três Propriedades Leiteiras em Canoinhas-Sc e Valores de Referencia das Necessidades Nutricionais
Nota: a análise bromatológica foi realizada segundo o método de Weende (1860-1864). Os valores da análise bromatológica são referentes à média aritmética de dois resultados obtidos em estações do ano distintas (outono – primavera) As necessidades ideais estão dispostas na linha de referência, para tanto foi utilizado as Normas e Padrões de Nutrição e Alimentação Animal – 2000 – MAPA. Após a obtenção dos valores para extrato etéreo, estes foram associados aos valores para carboidratos e ambos foram transformados para energia disponível em Kcal Fonte: Angelo Antonio Beraldo Os percentuais de fibra em detergente neutro, de extrato não nitrogenado e de nutrientes digestíveis totais atendem as necessidades propostas pelas Normas e Padrões da Nutrição e Alimentação Animal (MAPA, 2000) nas propriedades “A” e “C”. Os nutrientes digestíveis totais ficaram 10,93 % abaixo do valor considerado ideal (id.) na amostra coletada na propriedade “B”. O percentual de fibra em detergente ácido apresentou-se 55,90%, 59,90% e 64,85% mais baixos em relação à referência (id.) nas propriedades “A”, “B” e “C”, respectivamente (TABELA 2).
TABELA 2: Análise Bromatológica das Amostras de Ração de Três Propriedades Leiteiras em Canoinhas-Sc e Valores de Referencia das Necessidades Nutricionais
Nota: a análise bromatológica foi realizada segundo o método de Weende (1860-1864) para determinar Extratos não Nitrogenados e Nutrientes Digestíveis
Totais O método de van Soest (1967) definiu os valores de Fibra em Detergente Neutro e Fibra em Detergente Ácido. Os valores da análise bromatológica são referentes à média aritmética de dois resultados obtidos em estações do ano distintas (outono – primavera)
As necessidades ideais estão dispostas na linha de referência, para tanto foi utilizado as Normas e Padrões de Nutrição e Alimentação Animal – 2000 – MAPA
Os valores de FDN e FDA quando somados não perfazem 100% devido as perdas de elementos solúveis em solvente orgânico. Fonte: Angelo Antonio Beraldo O resíduo mineral percentual foi 47,79 e 37,57 mais baixos na propriedade “A” e “C”, respectivamente. O resíduo mineral atendeu as necessidades propostas pelas Normas e Padrões de Nutrição e Alimentação Animal (MAPA, 2000) na propriedade “B”. Apesar do baixo percentual de resíduo mineral encontrado nas propriedades “A” e “C”, todas as propriedades estavam em conformidade quanto aos percentuais de cálcio e fósforo. A proporção média de cálcio:fósforo encontrada para as três propriedades em nossa avaliação foi de 3,45:1 (TABELA 3).
TABELA 3: Análise Bromatológica das Amostras de Ração de Três Propriedades Leiteiras em Canoinhas-Sc e Valores de Referencia das Necessidades Nutricionais
Nota: a análise bromatológica foi realizada segundo o método de Weende (1860-1864).
Os valores da análise bromatológica são referentes à média aritmética de dois resultados obtidos em estações do ano distintas (outono – primavera)
As necessidades ideais estão dispostas na linha de referência, para tanto foi utilizado as Normas e Padrões de Nutrição e Alimentação Animal – 2000 – MAPA
Fonte: Angelo Antonio Beraldo
5 DISCUSSÃONos rebanhos leiteiros de alta produção é importante obter um correto balanço nutricional, especialmente no período de maior exigência, que corresponde ao inicio da lactação. Neste período a vaca ainda não apresenta sua capacidade máxima de ingestão de alimento, está no pico da produção leiteira e convalesce das demandas fisiológicas da prenhez, mobilizando suas reservas corporais para atender as elevadas exigências metabólicas. (ANDRIGUETTO, 1990; BERALDO & ZATTA 2008).
Neste período ocorre também à época da nova reprodução, fato importante a se considerar, uma vez que o aumento das demandas metabólicas diminui a fertilidade, e com isso, a meta de obter uma cria ao ano não é atendida.
A massa corporal dos animais não é um método acurado para determinar se as necessidades nutricionais estão sendo atendidas, mas Freitas et al. (2006) observaram uma correlação positiva entre a massa corporal dos animais, a ingestão de matéria seca, e a produção leiteira. A massa corporal também nos foi útil para determinar qual referência utilizar como necessidade nutricional a ser atendida (MAPA, 2000). A menor média de massa corporal observada nas vacas da propriedade “B” é decorrente da raça utilizada para a produção leiteira, mestiça Jersey.
O escore de condição corporal é um método mais acurado, apesar de impreciso, para determinar se as exigências nutricionais estão sendo atendidas. O escore de condição corporal recomendado para vacas lactantes é de 2,5 a 3,0 (Radostits, 2000), acima disso o animal apresenta excesso de compostos energéticos, que são convertidos em gordura e mobilizados no período do periparto, gerando uma condição patológica conhecida como cetose. Quando o escore inferido é menor que 2,0, o animal apresenta deficiência energética, e começa a utilizar a proteína como fonte de energia, então há o aumento da uréia plasmática decorrente da desaminação de aminoácidos (CHILLIARD, 1983).
A umidade representa o teor de água dos alimentos. Em nossas condições experimentais foi observado um elevado teor de umidade no alimento utilizado para as vacas das três propriedades. O excesso de umidade é decorrente da mistura concentrado:volumoso (40:60) utilizada nas três propriedades, onde a fonte de volumoso é a silagem de milho, que normalmente possui 58,7 % de umidade. A umidade elevada do alimento é um fator que restringe a ingestão de matéria seca pelos animais (ANDRIGUETTO, 1990), este fato não foi verificado neste experimento, pois o escore de condição corporal ficou dentro da variação considerada normal e não houve alteração no perfil metabólico avaliado em um trabalho anterior (BERALDO & ZATTA , 2008).
O percentual extrato etéreo representa a quantidade de gordura na amostra e o valor referência geralmente exprime o máximo permitido na dieta. O excesso de gordura na dieta é prejudicial à digestão dos alimentos, ela forma uma película que dificulta a ação das enzimas no rúmen, a absorção de nutrientes pelo epitélio ruminal e causa a redução no tempo de permanência do alimento no trato gastrointestinal, ou seja, reflete na digestibilidade e no consumo voluntário do alimento (ANDRIGUETTO, 1990). O máximo de extrato etéreo recomendado para as vacas de leite é de 7 % (MAPA, 2000). As amostras avaliadas neste trabalho não atingiram esse percentual. O percentual de extrato etéreo encontrado não pode ser considerado baixo porque a energia obtida com a dieta está acima da idealizada pelo MAPA (2000), ou seja, cumpre-se a função energética dos lipídios pelos carboidratos da silagem de milho.
O conteúdo de fibra da ração vem sendo inversamente relacionado com o a energia líquida do alimento, ou seja, maiores teores em fibra indicam alimentos com menores teores energéticos. Portanto, em rações para animais de alta produção existe a tendência de diminuir o teor de fibra e aumentar o teor de concentrado na dieta. Nutricionalmente, a fibra em detergente ácido (celulose e lignina) pode ser definida como sendo a fração lenta e incompletamente digerível dos alimentos, e que ocupa espaço no trato gastrointestinal dos animais. Em função de sua lenta degradação e baixa taxa de passagem através do ambiente ruminal, há uma limitação da ingestão de alimentos (Id). Apesar da baixa digestibilidade do material fibroso, ele é necessário para o funcionamento ruminal normal, o excesso de carboidratos solúveis requer grande ingestão de água, aumentando grandemente a fermentação ruminal, favorecendo o aparecimento de ruminite aguda, esfacelamento da mucosa ruminal até uma hepatite fúngica se não tratado brevemente (RADOSTITS, 2000). Deve-se ter o cuidado de introduzir lentamente uma dieta rica em carboidratos solúveis (alta fibra em detergente neutro, ou elevado percentual de extrativos não nitrogenados e elevado percentual de nutrientes digestíveis totais) para permitir o crescimento adequado da flora e fauna ruminais que degradam esses carboidratos.
O percentual de resíduo mineral é uma avaliação grosseira dos níveis de íons essenciais a manutenção dos animais. O valor deve ser sempre acompanhado da análise dos teores de cálcio e fósforo dos alimentos. Em nossas condições experimentais foi observado um baixo percentual de resíduo mineral, e ainda assim foram atendidas as necessidades de cálcio e fósforo propostas pelo MAPA (2000). A deficiência de cálcio em pastagens é rara nas regiões tropicais e este fato se verificou nas amostras avaliadas, onde o percentual de cálcio ficou acima das exigências nutricionais propostas pelo MAPA (2000).
O fósforo tem papel central em todas as reações metabólicas do organismo que utilizam a energia das ligações do fosfato. O fósforo é deficiente em grande parte dos solos e conseqüentemente, nas forrageiras. A deficiência de fósforo é um estado predominante em bovinos alimentados em pastagens (TOKARNIA et al., 2000). No período de estiagem esse efeito é acentuado, ou prolongado. Como exemplo pode-se citar a média da concentração de fósforo em pastagem de aveia: no período de chuva, cerca de 0,22 % e na seca reduz-se para 0,06 % a 0,10 % na matéria seca (MAPA, 2000). Os sinais da carência de fósforo podem manifestar-se, no início, por redução da ingestão de alimento, seguindo-se de perda de peso, apatia geral, redução da fertilidade, alterações ósseas (deformidade e fraturas), endurecimento das articulações ("andar duro"), claudicação, apetite alterado (alotriofagia) caracterizado por mastigar materiais estranhos à dieta, como ossos, couro, madeira e pedras (RADOSTITS, 2000). As categorias mais suscetíveis à deficiência de fósforo são as vacas jovens com cria ao pé que exibem primeiro os sinais da carência devido a sua alta demanda por este elemento. A seguir, as vacas adultas, animais em crescimento (macho e fêmeas) e, por último, os animais recém desmamados, por apresentarem reservas de fósforo adquirido durante o aleitamento (id).
É sabido que a relação cálcio:fósforo é importante e afeta a absorção de ambos, os bovinos leiteiros toleram a relação Ca:P até de 7:1, sem efeitos prejudiciais, desde que os níveis de fósforo estejam adequados (RADOSTITS, 2000)
6 CONCLUSÃOA maior umidade da dieta e menor massa seca fornecida aos bovinos leiteiros em Canoinhas – SC reflete a proporção volumoso:concentrado utilizada na dieta.
A concentração de proteína bruta encontrada em nossas condições experimentais atende adequadamente as necessidades de produção dos bovinos leiteiros em Canoinhas – SC.
A concentração de extrato etéreo foi menor que a estabelecida como referência, contudo, não comprometeu a energia disponível fornecida aos bovinos leiteiros em Canoinhas – SC.
A concentração de resíduos minerais ficou abaixo da estabelecida como referência, contudo, não houve comprometimento na disponibilidade de cálcio e de fósforo para os bovinos leiteiros em Canoinhas – SC.
A concentração de extrativos não nitrogenados fornecidos aos bovinos leiteiros em Canoinhas – SC segue o padrão encontrado para a fibra em detergente neutro nas três propriedades, ou seja, é demonstrativa do teor de carboidratos solúveis na silagem de milho.
Os nutrientes digestíveis totais fornecidos aos bovinos leiteiros em Canoinhas – SC atendem as requisições nutricionais estabelecidas como referência.
Os percentuais de carboidratos solúveis e insolúveis da dieta fornecida aos bovinos leiteiros em Canoinhas – SC são suficientes para atender as necessidades nutricionais estabelecidas como referência e são representativos de uma dieta com alta proporção de volumoso:concentrado quando a silagem de milho é o volumoso em questão. As variáveis da análise bromatológica dos alimentos consumidos pelas vacas leiteiras em Canoinhas – SC demonstram que as exigências nutricionais, fisiológicas e metabólicas dos animais estão sendo atendidas, tendo a possibilidade de seu uso como indicadores para o balanço energético.
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