Introdução
Em muitos sistemas de produção de ruminantes, que têm como base o uso de pastagens, nutrientes suplementares são necessários para obter níveis aceitáveis de desempenho animal. O desafio constante é predizer, com eficiência, o impacto que a suplementação terá sobre o desempenho animal.
O uso de suplementos múltiplos na época da seca tem proporcionado resultados satisfatórios, evitando a perda de peso, característica de animais não suplementados nesta época crítica do ano. Vários são os trabalhos em que se comprovam o ganho de peso de bovinos entre 0,059 e 0,740 kg/cabeça/dia e o consumo diário por cabeça de suplementos de 0,05 a 0,6% do peso vivo (Paulino, 1999; Euclides, 2001).
A adoção da técnica de suplementação alimentar em um sistema de produção animal a pasto deve, antes de tudo, tornar a exploração mais lucrativa. A lucratividade resultante do sucesso da aplicação desse tipo de manipulação nutricional normalmente se encontra associada a algumas vantagens produtivas (Almeida e Azevedo, 1996).
Dessa forma, objetivou-se avaliar a economicidade da suplementação de novilhas Gir e mestiças recriadas a pasto no período da seca.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia, da Universidade Federal de Viçosa, na cidade de Viçosa, MG, região da Zona da Mata mineira, entre os meses de julho e outubro de 2007. Os tratamentos MM (mistura mineral), 10:10 (10% mistura mineral, 10% uréia e 80% milho), 10:25 (10% mistura mineral, 25% uréia e 65% milho), 25:10 (25% mistura mineral, 10% uréia e 65% milho) e 25:25 (25% mistura mineral, 25% uréia e 50% milho) eram de autocontrole e apresentaram entre 32,08 e 71,93% de proteína bruta. A área onde foi realizado o experimento, de 17,5 ha de pastagem de Brachiaria decumbens, foi dividida em cinco piquetes de 3,5 ha cada. Estes piquetes foram diferidos em março de 2007.
Trinta e cinco novilhas Gir e mestiças foram distribuídas em cinco tratamentos, cada um com sete repetições. As novilhas foram alimentadas com suplemento à base de milho moído, uréia mais sulfato de amônia e mistura mineral, com teor de proteína bruta variando entre 32,08 e 71,93%. Os suplementos foram ofertados uma vez ao dia, por volta das 10 horas da manhã, quando era colocado 10% a mais do consumo estimado, de modo a quantificar diariamente as sobras e assim obter a quantidade consumida de cada tratamento, uma vez que os tratamentos eram de autocontrole em função dos níveis de uréia e sal mineral.
Cada período experimental era constituído de 17 dias, e o experimento continha cinco períodos, totalizando 85 dias experimentais. No início do experimento, todos os animais foram pesados e submetidos ao controle de endo e ectoparasitas (com produto contendo 1% de ivermectina). A pastagem selecionada pelos bovinos apresentou 53,4% de MS; 4,8% de PB; 2,03% de EE; 70,6% de FDN; 67,6% de FDNcp; 25,1% de FDNi; 5,79% de lignina; 6,7% de cinzas; 88,3% de CHOT e 20,7% de CNF.
Os animais e os tratamentos (suplementos) foram rotacionados entre os cinco piquetes, visando à eliminação de possíveis diferenças de disponibilidade de matéria seca (MS) entre os mesmos. A coleta de amostras do pasto foi realizada pelo método de simulação manual, sugerido por Aroeira (1997), tendo sido observada cuidadosamente a preferência do animal quanto às partes da planta ingerida. Posteriormente, material semelhante em composição botânica e morfológica foi arrancado com a mão, simulando o pastejo animal, em todos os piquetes experimentais. As amostras foram encaminhadas para a estufa com ventilação forçada (60°C) para a pré-secagem para análises posteriores.
O experimento foi analisado em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e sete repetições. Os tratamentos consistiram de um esquema fatorial tipo 2 x 2 + 1, sendo dois níveis de uréia (10 e 25% do suplemento), dois níveis de sal mineral (10 e 25%) e um tratamento testemunha (somente sal mineral), sendo analisados por contrastes ortogonais ao nível de 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
O consumo de sal mineral variou de 18 a 64 g/animal/dia, e a elevação do nível de sal mineral nos suplementos estimulou seu consumo (P<0,01; Tabela 1). Por outro lado, a elevação do nível de uréia nos suplementos inibiu o consumo de sal mineral, especialmente no seu nível mais baixo no suplemento. Entretanto, o maior nível de uréia, associado ao menor de sal mineral (10:25), que levou um razoável consumo de uréia e baixo consumo de sal mineral, de fubá de milho e de suplemento, foi o que proporcionou o melhor ganho de peso diário. Este resultado evidencia que o nitrogênio foi realmente o nutriente mais limitante para bovinos em crescimento em pastagem no período da seca.
O fornecimento de suplementos em regime de autocontrole de consumo para animais na fase de recria facilita o manejo e racionaliza a utilização da mão-de-obra na distribuição de suplementos na pastagem, além de evitar que o animal crie dependência do suplemento e apresente aspectos negativos sob o ponto de vista nutricional e econômico (Gomes Jr., 2000; Baroni, 2007).
O milho é o ingrediente que ocupa a maior proporção dos suplementos e, portanto, seu consumo seguiu a mesma tendência verificada para o consumo de suplementos. Seu maior consumo foi verificado no suplemento contendo os menores níveis de uréia e sal mineral.
Entretanto, o maior consumo de milho não refletiu maior ganho de peso, podendo acarretar maior custo com suplementação e sem retorno econômico comparado aos tratamentos 10:25 e 25:10.
Tabela 1. Consumo de ingredientes no suplemento, relações ganho de peso/consumo de ingredientes no suplemento e diferencial de ganho de peso/diferencial de consumo de ingredientes no suplemento em relação ao tratamento testemunha, em função dos tratamentos
Ao avaliar os custos com suplementação (Tabela 2), verifica-se que o tratamento contendo o maior nível de uréia e o menor de sal mineral foi o que apresentou a melhor eficiência econômica, as maiores relações de ganho de peso em função do consumo de suplemento, do consumo de milho e do consumo de mistura mineral, e uma das maiores relações de ganho de peso em função do consumo de uréia.
Tabela 2. Economicidade da suplementação de bovinos em crescimento no período da seca em função dos tratamentos.
Conclusão
O tratamento 3 (10% mistura mineral, 25% uréia e 65% milho) foi o que apresentou a melhor eficiência econômica, as maiores relações de ganho de peso em função do consumo de suplemento, do consumo de milho e do consumo de mistura mineral, e uma das maiores relações de ganho de peso em função do consumo de uréia.
Literatura citada
AROEIRA, L.J.M. Estimativas de consumo de gramíneas tropicais. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE DIGESTIBILIDADE EM RUMINANTES, Lavras, 1997. Anais... Lavras – UFLA-FAEPE, 1997. p.127-164.
ALMEIDA, A.J.; AZEVEDO, C. Semiconfinamento - como ganhar dinheiro com boi gordo quando os outros estão perdendo. São Paulo - SP: Globo, 1996. 184p.
BARONI, C.E.S. Níveis de suplementação para novilhos da raça Nelore terminados a pasto na região Centro-Oeste durante o período da seca. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2007. 82p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 2007.
EUCLIDES, V.P.B. 2001. Produção animal em sistema intensivo combinado de pastagens Tanzânia e Braquiárias na região dos Cerrados. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC. 13p. (EMBRAPA. Programa Produção Animal. Subprojeto 06.0.99.188.01).
GOMES JR., P. Composição químico-bromatológica da Brachiaria decumbens e desenvolvimento de novilhos em recria suplementados durante a seca. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2000. 51p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 2000.
PAULINO, M.F. Misturas múltiplas na nutrição de bovinos de corte a pasto. In: SIMPÓSIO GOIANO SOBRE PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE, 1999, Goiânia. Anais... Goiânia: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 1999. p.95-105.
**O Trabalho foi originalmente publicado Associação Brasileira de Zootecnistas - ZOOTEC -2009