INTRODUÇÃO
Diversas transformações têm contribuído para que os produtores de leite reflitam sobre a necessidade de administrarem bem a atividade, tornando-se mais eficientes e, conseqüentemente, competitivos; assumindo posição de empresário, independente do tamanho do seu sistema de produção de leite. Um produtor empresário precisa, entre outras coisas, considerar a informação como um insumo de grande importância, conhecer o mundo onde está inserido o seu sistema de produção (da porteira para fora) e também, conhecer bem o seu sistema de produção (da porteira para dentro). Para conhecer o sistema de produção, ponto de grande importância é saber quanto custa o litro do leite produzido.
Os dados obtidos da apuração dos custos de produção têm sido utilizados para diferentes finalidades, tais como: estudo da rentabilidade da atividade leiteira; redução dos custos controláveis; planejamento e controle das operações do sistema de produção do leite; identificação e determinação da rentabilidade do produto; identificação do ponto de equilíbrio e instrumento de apoio ao produtor no processo de tomada de decisões seguras e corretas (LOPES & CARVALHO, 2000). Dados de custo de produção têm sido utilizados também para cálculo dos valores econômicos (a quantidade esperada de aumento no lucro por cada unidade de melhoramento em uma determinada característica) para características de gado de leite (BUENO et al., 2004; MADALENA, 2000; MARTINS et al., 2003), bem como para quantificar ineficiências econômicas (BRAVO-URETA & RIEGER, 1991; GOMES, 1997; KUMBHAKAR et al., 1989; TUPY & YAMAGUCHI, 2002). De acordo com Tupy et al. (2003), uma vez quantificada a ineficiência, seus fatores determinantes poderão ser identificados e muitos prejuízos evitados.
Por não conseguir controlar o preço do produto que vende, o produtor necessita administrar as variáveis que estão sob o seu controle. Trata-se de uma estratégia para tornar seu produto competitivo, atingindo menores custos de produção. O resultado econômico em um mercado caracterizado pela concorrência depende do gerenciamento dos custos de produção do leite e dos ganhos de escala (REIS et al., 2001).
Vários pesquisadores têm-se se preocupado em estimar o custo de produção e estudar a viabilidade econômica da produção de leite. Entretanto, muitos não mostraram quais componentes exerceram maior influência, não identificaram o ponto de equilíbrio dos sistemas de produção do leite e nem mesmo verificaram a influência de alguns fatores sobre o custo de produção do leite.
Dentre os fatores que podem influenciar a viabilidade da atividade está o nível tecnológico do sistema de produção de leite. De acordo com Schiffler (1999), a produção leiteira no mundo tem se elevado via inovação tecnológica. Madalena (2001) salientou que a pecuária leiteira rentável deve-se basear em diversos componentes, dentre os quais cita o uso de instalações, máquinas e equipamentos simples, quando justificados economicamente. Holanda Junior & Madalena (1998) concluíram que propriedades menos tecnificadas, embora tenham apresentado menor produtividade, apresentaram custos mais baixos e foram mais rentáveis. Vale ressaltar que, nesta ocasião, as condições de competitividade não são as mesmas da atuais.
Objetivou-se com este trabalho estudar a rentabilidade da atividade leiteira de sistemas de produção de leite na região de Lavras/MG nos anos 2004 e 2005, segundo o nível tecnológico. Pretendeu-se, ainda, identificar os componentes que exerceram maior influência sobre os custos finais da atividade e identificar o ponto de equilíbrio.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados foram provenientes de 17 sistemas de produção de leite localizados na região de Lavras, sul do Estado de Minas Gerais, coletados entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005. Eles foram cadastrados no software Custo Bovino Leite® (LOPES et al., 2002), que contempla as duas estruturas de custo de produção: custos totais de produção que envolvem os custos fixos e variáveis, utilizada por Reis (1999), e custo operacional, proposto por Matsunaga et al. (1976). A lucratividade foi calculada pela fórmula (lucro x 100) / receita; e a rentabilidade, pela fórmula (lucro x 100) / investimento total (SEBRAE, 1998).
Os itens que compõem o custo operacional efetivo de produção do leite foram divididos em: mão-de-obra, alimentação, sanidade, reprodução, ordenha, impostos, energia e despesas diversas (LOPES et al., 2004a).
A pesquisa considerou duas etapas diferentes no levantamento das informações. Em uma etapa, utilizando-se um questionário e caderneta de campo, foi realizado o inventário completo dos bens das propriedades estudadas, apurando valor e vida útil de cada ativo, sendo, posteriormente, alocados em um dos seguintes grupos: benfeitorias, máquinas, veículos, equipamentos e implementos, ferramentas e rebanho. Nas situações nas quais o pecuarista não dispunha de informações referentes ao valor e data de aquisição, para a estimativa dos valores atuais, bem como da vida útil restante, foi adotado o seguinte critério: os bens foram analisados e, em função do estado de conservação, foram enquadrados em um dos seguintes escores: ótimo, bom, regular e ruim. Para os bens em ótimo, bom, regular e ruim estado de conservação os valores atuais foram estimados em 100, 75, 50 e 25%, respectivamente, dos valores de mercados dos bens novos. Para a estimativa de vida útil restante, considerou-se os percentuais de 100, 75, 50 e 25, para os bens em ótimo, bom, regular e ruim estado de conservação (LOPES et al., 2004a).
Quanto às benfeitorias, cada uma foi medida sendo atribuído um estado de conservação e registrado um resumo do memorial descritivo, objetivando auxiliar na estimativa do valor atual. Em função da área, do estado de conservação e do padrão de acabamento foi estimado um valor por m2 de construção. O valor atual utilizado foi produto do valor do m2 pela área da benfeitoria (LOPES et al., 2004a).
Para estimar a influência do nível tecnológico sobre o custo de produção do leite, os 17 sistemas de produção foram enquadrados em níveis tecnológicos: baixo, médio ou alto, sendo os grupos compostos por 3, 12 e 2 sistemas de produção, respectivamente. O enquadramento baseou-se nas informações obtidas no inventário, na sofisticação de equipamentos, como, por exemplo, modelo do tanque de resfriamento de leite, e nas observações realizadas durante as visitas mensais. No nível tecnológico alto, foram enquadrados os sistemas de produção que possuíam ordenhadeira mecânica do tipo leite canalizado, altos investimentos em máquinas e implementos agrícolas e instalações sofisticadas. Nesse nível o grupo genético dos animais foi igual ou superior a 15/16 de fração da raça Holandesa. No nível tecnológico baixo, foram enquadrados os sistemas de produção que não possuíam máquinas e implementos agrícolas e ordenhadeira mecânica, e com pequeno investimento em instalações. O rebanho era composto de animais mestiços ou de grupo genético não definido. No nível tecnológico médio foram enquadrados os sistemas de produção intermediários.
Os índices produtivos e econômicos foram comparados por meio de análises descritivas, utilizando o aplicativo MS Excel®, e agrupados em tabelas, objetivando uma melhor comparação, discussão e apresentação dos resultados (LOPES et al., 2004b).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela tabela 1, verifica-se um resumo dos recursos disponíveis nos 17 sistemas de produção. Na Tabela 2 há um resumo da análise de rentabilidade da atividade leiteira nos sistemas de produção estudados. O desvio-padrão indica que as fazendas foram diferentes entre si.
A receita total no período de dois anos, em reais, correspondeu à soma dos valores apurados com a venda de leite (77,80%; 88,89% e 82,51%), de animais (21,21%; 9,61% e 9,91%) e de subprodutos (0,99%; 1,44% e 7,59%), nos níveis tecnológicos baixo, médio e alto, respectivamente. Essas diferenças podem ser atribuídas à quantidade de leite produzida, isto é, quanto maior o nível tecnológico maior foi a produção de leite. A receita subprodutos refere-se à venda de esterco e 33,3%, 16,7% e 100% das propriedades, na ordem de citação acima, não o comercializaram. Nestas, parte do esterco foi utilizado como adubo orgânico em capineiras do sistema de produção. De acordo com Lopes et al. (2004a) o fato dele ser utilizado no próprio sistema de produção, embora, em um primeiro momento signifique redução da receita, representou também uma redução nas despesas com manutenção das capineiras.
A produtividade de leite por ha/ano (Tabela 3) é menor do que as citadas por Gomes (1997), Lopes et al. (2001) e Schiffler et al. (1999). Esses índices, aliados ao número de matrizes por hectare, indicam capacidade ociosa de utilização da área, principalmente nos sistemas de produção de nível tecnológico médio e alto.
Em um sistema de produção com baixo nível tecnológico, o custo variável por litro de leite foi superior ao preço de venda não permitindo o cálculo do ponto de equilíbrio, o que significa que a receita do leite não é suficiente para cobrir os custos variáveis. Nestes, a produção média diária foi de 149,72kg e o ponto de equilíbrio daqueles cujo custo variável unitário foi superior ao preço de venda foi de 178,69kg de leite por dia. Nos doze sistemas de produção com nível tecnológico médio, o custo variável do litro de leite foi inferior ao preço de venda. Mesmo assim, eles não atingiram o ponto de equilíbrio que foi de 752,02kg, sendo que a média diária foi de 417,44kg. Em um sistema de produção de alto nível tecnológico o custo variável por litro de leite foi inferior ao preço de venda, e o ponto de equilíbrio foi de 899,50kg/dia. Nele, a produção média diária foi de 1.487,15kg. Nos três grupos, os índices evidenciam que esforços gerenciais e tecnológicos devem ser feitos com o objetivo de aumentar a média diária de produção, sem, contudo, aumentar o custo variável por litro de leite. De acordo com Lopes et al. (2004a) uma alternativa é aumentar a eficiência produtiva, ou seja, a produtividade por matriz, otimizando as despesas com mão-de-obra, medicamentos, inseminação artificial, impostos fixos, energia e despesas diversas.
O custo operacional total (COT) permitiu que se fizessem reserva para reposição dos bens (depreciação) e remuneração da mão-de-obra familiar.
O maior percentual do índice de depreciação nos sistemas de produção de médio nível tecnológico em relação ao baixo (Tabela 3) deve-se ao fato de que quanto maior o investimento em máquinas, equipamentos e benfeitorias, maior será o "peso" do item depreciação. Ainda, espera-se que a depreciação tenha maior "peso" nos sistemas de produção com maior nível tecnológico, pois o valor do patrimônio, sem considerar a terra, é bem maior neles. Os produtores enquadrados no nível tecnológico mais alto foram os que obtiveram as maiores produções e maiores custos médios. Nesses sistemas, observou-se a maior eficiência produtiva (16,20kg/vaca/dia). Lopes et al. (2001), ao estudarem um sistema de produção de médio porte (240kg de leite/dia) com alto nível tecnológico e Lopes et al. (2004a), constataram que a depreciação representou 17,3% e 14,73% do COT, respectivamente. Embora na literatura não exista informações sobre o valor ideal para esse indicador técnico, pode-se dizer que a eficiência de utilização dos bens patrimoniais dos sistemas estudados foi superior à dos citados por esses.
Os itens que compõem o custo operacional efetivo (COE) de produção do leite (Tabela 2) foram responsáveis pelos percentuais encontrados na Tabela 4.
Na mão-de-obra, era de se esperar um menor percentual no nível alto, pois a adoção de tecnologias otimiza este fator de produção. No entanto, isso não foi observado no presente estudo. Pela comparação da relação vaca homem de 11,67:1 (nível alto) e 16,96:1 (nível médio), pode-se constatar que a mão-de-obra naqueles está ociosa. O valor de 17,16% (Tabela 4), obtido no sistema de produção com baixo nível tecnológico pode ser explicado pelo fato de 67% dessas propriedades adotarem a mão-de-obra familiar, e apenas 33% delas, eventualmente, contratarem pessoal. Assim, diminuiu-se o desembolso com mão-de-obra pela redução na contratação de pessoal.
A produção diária de leite por mão-de-obra permanente para sistemas de produção com baixo e médio nível tecnológico (Tabela 3), quando comparados com o do sistema com alto nível tecnológico, foram 24,96 e 5,86% menores, respectivamente, confirmando que "a tecnologia facilita a vida e aumenta a produtividade" (LOPES, 1997).
O menor percentual do item alimentação no grupo com alto nível tecnológico pode ser explicado pelos maiores percentuais de mão-de-obra, inseminação artificial, energia, ordenha e despesas diversas reduzindo matematicamente o "peso" deste item. Outra provável explicação pode ser a maior eficiência na produção de silagens, que uma vez atingidas maiores produtividades, terão menores custos unitários. Todos os sistemas de produção utilizaram suplementação com concentrado durante todo o ano e suplementação com volumoso e concentrado na seca.
As despesas com medicamentos (sanidade) foram mais altas nos sistemas de produção com alto nível tecnológico. As despesas com inseminação artificial foram pequenas nos sistemas de nível tecnológico médio, pois apenas quatro das doze propriedades estudadas adotou essa tecnologia, o que pode ser deduzido pelo alto desviopadrão desse item. A inseminação artificial foi adotada pelos dois sistemas de produção com alto nível tecnológico e por um sistema de produção com baixo nível tecnológico.
As despesas com ordenha foram maiores com o aumento do nível tecnológico dos sistemas, representados principalmente por gastos com a ordenha mecânica. A diferença se explica pelo fato de dois dos doze sistemas de produção do grupo de média tecnologia não usarem material de limpeza, papel toalha, desinfetantes e soluções pré e pós-imersão. Os resultados evidenciam pouca preocupação com a obtenção higiênica do leite. Impostos considerados fixos como o ITR e IPVA representaram muito pouco no percentual de despesas operacionais efetivas.
O item energia incluiu as despesas com energia elétrica e combustíveis. Em despesas diversas consideraram-se as despesas com frete do leite, taxas e impostos variáveis em função da produção e as despesas com manutenção de benfeitorias, máquinas e equipamentos. Os valores estão bem abaixo dos mencionados por Almeida Júnior et al. (2002) e Lopes et al. (2001).
Pela Tabela 2, nos sistemas com nível tecnológico médio, observa-se que o valor das receitas menos os custos variáveis foram positivos e que o valor das receitas menos o custo total indicaram que os custos variáveis foram pagos, a reserva referente à depreciação pôde ser realizada, mas o capital investido em bens e terra não foi totalmente remunerado. Os resultados mostram que os sistemas de produção com nível tecnológico médio, em média, estão se descapitalizando ao longo do tempo, enquanto que os com menores e altos níveis tecnológicos estão se capitalizando.
Os custos fixos não representaram desembolso, com exceção dos impostos, mas indicaram o que a atividade deveria remunerar para ser competitiva, ao ser comparada com outras atividades econômicas, e não descapitalizar o pecuarista ao longo dos anos. Os custos fixos representaram 16,41; 36,81 e 19,72% do custo total nos sistemas de produção com baixo, médio e alto nível tecnológico (Tabela 3). Com exceção do nível baixo, eles são elevados quando comparados aos 16,1% encontrados por Almeida Júnior et al. (2002) e indicam que os investimentos foram dimensionados para produção de leite acima da obtida.
Os indicadores de eficiência econômica, margens bruta e líquida, foram positivos, evidenciando que a atividade leiteira tem condições de sobreviver no curto e médio prazos. Quando analisada pelo indicador de eficiência econômica "resultado" (receita bruta menos custo total), a atividade leiteira não conseguiu remunerar o capital apenas no nível tecnológico médio.
Nos sistemas com nível tecnológico baixo não se observou margem bruta negativa, pois o que foi apurado com a venda de leite, animais e esterco foi suficiente para cobrir as despesas operacionais efetivas. Em dois sistemas, a margem líquida foi positiva, mas a receita foi suficiente apenas para cobrir as despesas operacionais e não para fazer as reservas necessárias para substituição dos bens ao término de sua vida útil. Nesse caso, indica-se que os produtores podem estar descapitalizando a cada ciclo produtivo. Em um sistema, o resultado foi positivo e cobriu todas as despesas; assim, o empresário conseguiu remunerar o capital em níveis acima da caderneta de poupança e não se descapitalizou.
Em nenhum sistema de produção com nível tecnológico médio a margem líquida foi negativa, isto é, a venda de leite, animais e esterco foi suficiente para fazer as reservas necessárias para a substituição dos bens ao término de sua vida útil.
Em nenhum dos sistemas de produção com nível tecnológico alto a margem bruta foi negativa, evidenciando que o que foi apurado com a venda de leite, animais e esterco foi suficiente para cobrir as despesas operacionais efetivas. Em um, a margem líquida foi positiva, isto é, a receita foi suficiente para cobrir as despesas e fazer a reserva necessária para substituição dos bens ao término de sua vida útil. Em outro, o resultado foi negativo, indicando descapitalização. A venda de animais representou 27,09 e 4,02% da receita nas duas propriedades estudadas, o que explica a diferença nos resultados. Almeida Junior et al. (2002) constataram que a venda de animais excedentes contribuiu decisivamente para o melhor desempenho econômico na atividade leiteira.
A lucratividade de 10,84; -0,54 e 9,72%, significou que, para cada R$100,00 investidos, houve ganho de R$10,84; R$9,72 e perda de R$0,54, nos sistemas de produção com baixo, alto e médio nível tecnológico, respectivamente. A rentabilidade foi de 1,48; 2,06 e 0,72% nos sistemas de produção com níveis tecnológicos baixo, médio e alto, respectivamente. Menor rentabilidade dos sistemas de produção mais tecnificados foi relatada por Holanda Junior & Madalena (1998) e Madalena (2001), enquanto que Konzel (1998) constatou que os sistemas mais tecnificados na produção de leite são mais rentáveis que os de nível tecnológico inferior.
Pela Tabela 5, verificam-se os custos médio de produção por quilograma de leite. O preço médio recebido por kg leite foi de R$0,49, R$0,50 e R$0,55, para os sistemas de produção com baixo, médio e alto nível tecnológico, respectivamente. Os sistemas de produção com alto nível tecnológico foram os de maior produção, evidenciando melhor remuneração por maiores quantidades. Os valores médios de venda foram suficientes para cobrir as despesas operacionais efetivas, exceto do nível alto, mas não foram suficientes para cobrir os custos totais em nenhum dos níveis.
Na Tabela 6, observam-se os custos médios de produção por quilograma de "leite virtual". O termo "leite virtual" (LOPES & LOPES, 1999) significa a quantidade de leite, em kg, resultante da conversão dos valores apurados com a venda de animais. Esse valor pode ser tomado como referência para o produtor avaliar se a atividade leiteira, principalmente a cria e recria de animais, é viável economicamente. Neste caso, os valores médios de venda foram suficientes para cobrir as despesas referentes ao custo total, exceto no nível alto, evidenciando que, neste, parte do custo fixo, principalmente a remuneração do capital investido, não foi coberto.
Dentro do preconizado por Lopes (2003), considerando o custo total do leite de R$0,61 (Tabela 5) e o valor de venda de R$0,49 no grupo nível tecnológico baixo, a atividade leiteira não foi viável economicamente, pois o produtor teve prejuízo de R$0,12 (R$0,49 - R$0,61) por kg de leite. Neste custo de R$0,61kg foram computadas todas as despesas, inclusive a criação de bezerras e demais categorias animais. Contudo, nesse período os produtores venderam alguns animais. O software CU$TO BOVINO LEITE, utilizado no processamento eletrônico dos dados desta pesquisa, realizou a conversão dos valores apurados com a venda de animais, em leite, e calculou o custo total do "leite virtual", que foi de R$0,46 (Tabela 6). Assim, quando se considerou a venda de animais, a atividade foi rentável em R$0,03 por kg de leite (R$0,49 - R$ 0,46). O resultado desta pesquisa mostra que, em algumas situações, pode ser verdadeira a afirmação feita por muitos produtores de leite: "produzir leite é mau negócio. O que é bom negócio são as crias. As crias sim, valem a pena". Os dados desta pesquisa, que apontam margem líquida positiva (Tabela 2), mesmo sendo o custo total superior ao preço de venda (Tabela 6), confirmam a importância e aplicabilidade da estimativa do "leite virtual".
CONCLUSÕES
O nível tecnológico influenciou o custo total de produção do leite e a lucratividade e rentabilidade. O "peso" dos itens componentes do custo operacional efetivo da atividade leiteira são influenciados pelo nível tecnológico da exploração. A margem líquida positiva nos três níveis tecnológicos indica que os pecuaristas conseguem produzir a médio prazo; e por apresentar resultado negativo, os pecuaristas que adotaram médio nível tecnológico, a longo prazo, estão se descapitalizando.
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***Dado Bibliográfico: Ciênc. agrotec. vol.33 no.1 Lavras jan./fev. 2009