1 Introdução
A Unidade de Planejamento do Planalto Norte Catarinense (UPR-4), composta pelas áreas de atuação das Gerências Regionais da Epagri de Canoinhas e Mafra, apresenta sistemas de produção agrícola diversificados, predominantemente operados por agricultores familiares.
No ano agrícola de julho de 2004 a junho de 2005 foram estudadas e acompanhadas com Contabilidade Agrícola 16 propriedades, que foram tipificadas em quatro sistemas de produção distintos, com ênfase na bovinocultura de leite, cereais e fumicultura.
Das 16 propriedades estudadas, nove foram tipificadas como tendo sistema de produção - cereais e outros grãos e bovinos de leite. As outras sete propriedades não foram analisadas como grupo, pois as atividades exploradas foram acompanhadas para estudos de casos.
O objetivo deste documento é apresentar os resultados deste estudo, revelando indicadores técnico-econômicos por meio de análise comparativa e estudo de caso como a batata-salsa e cultura da macieira.
São apresentados dados para os sistemas (resultados da propriedade como um todo) bem como, dados de cada atividade.
As referências aqui apresentadas foram calculadas a partir das médias das propriedades que tiveram o melhor desempenho técnico-econômico e poderão ser úteis para realização de diagnósticos e subsidiar o planejamento de outras propriedades que apresentem condições semelhantes àquelas estudadas e analisadas neste documento, na UPR-4.
As propriedades levantadas e analisadas com a atividade leiteira, olericultura e fruticultura foram demandas da região, no sentido de encontrar alternativas adicionais a atividade de fumicultura.
2 Metodologia
A metodologia empregada para a coleta e o processamento das informações seguiu o que é preconizado pelo trabalho de gestão agrícola da Epagri. Inicialmente, através de uma discussão com técnicos da região, foi feita a escolha dos sistemas de produção mais relevantes a serem estudados. Em seguida, com o apoio dos extensionistas dos municípios, foram selecionados os agricultores que possuem os sistemas de interesse e que estavam motivados a cooperar com o trabalho.
Assim sendo, foram selecionados produtores de leite, olericultura, fruticultura e indústria caseira.
Após a seleção dos produtores foi realizado um inventário inicial em cada propriedade para contabilizar seus fatores de produção disponíveis (terra, mão-de-obra e capital). Os agricultores e seus familiares ainda receberam instruções para fazer os registros e controles necessários para a contabilização de todos os atos e fatos, que resultam nos indicadores técnico-econômicos de cada propriedade e de cada atividade.
Dois agricultores fazem a digitação de seus dados diretamente no computador, em suas propriedades, utilizando o Contagri. Os demais fazem anotações em cadernos de registros e guardam documentos fiscais. O número médio de visitas para a coleta de dados e assistência técnica ao produtor foi de 12 por ano.
Os dados registrados pelo agricultor foram posteriormente processados através do software Contagri, desenvolvido pela Epagri, que faz a Contabilidade Agrícola e a análise comparativa dos indicadores das diversas propriedades. A comparação de grupo foi feita para o grupo da bovinocultura de leite, sendo os demais tratados como estudos de caso.
3 Caracterização dos sistemas acompanhados3.1 Sistemas com bovinocultura de leite3.1.1 Descrição do sistema
As nove propriedades que têm seu sistema de produção com base na bovinocultura de leite apresentam as características conforme indicado na Tabela 1.
Em todas as propriedades os animais são da raça Holandesa e predominam áreas com declividade entre suave ondulada a ondulada, sendo possível o uso de máquinas de tração mecânica.
Os indicadores técnicos do sistema são apresentados na Tabela 2 e os econômicos na Tabela 3.
Percebe-se que a contribuição da atividade bovinos de leite na formação da Renda Bruta do sistema é de 43% para o grupo de cabeça e de 49% para a média das propriedades acompanhadas.
O sistema de produção de leite à base de pasto cultivado em áreas adicionais (Figura 1) apresenta bons resultados nas condições edafoclimáticas do Planalto Norte Catarinense.
A produtividade de leite tem aumentado de forma significativa.
As Tabelas 4 a 6 mostram os resultados da comparação de grupo.
Tabela 5 - Comparação de grupo contendo indicadores técnico-econômicos apresentados por unidade de vaca (matriz) da atividade bovinocultura de leite UPR-4, do ano agrícola 2004 /05
3.1.2 Indicadores técnico-econômicos da atividade bovino de leite na UPR-4
A Renda Bruta Total por unidade (hectare de SFP ou vaca) de uma atividade resulta da multiplicação do rendimento por unidade pelo preço do produto. Entretanto, neste trabalho isto nem sempre é verdadeiro porque são consideradas também a diferença de estoque e a compra ou venda de animais, para o caso das atividades animais.
3.1.3 Coeficientes de mão-de-obra e mecanização para a atividade bovino de leite, sistema com dez matrizes na Região Oeste Catarinense (UPR-1)
Os coeficientes de mão-de-obra e mecanização apresentados na Tabela 7 foram estimados considerando o seguinte sistema de produção: oito vacas em lactação, duas vacas secas, 15 unidades animal total, tamanho médio de 15 ha , produção média de leite esperada 3.500 litros/vaca/ano e ordenha mecânica.
Possui como infra-estrutura, máquinas e implementos principais como:
• Carreta de um eixo para “motocultivador”. • Mangueira de espera. • Ordenhadora de um conjunto de balde ao pé. • Picador “forragens”. • Resfriador de leite capacidade 300 litros. • Sala de alimentação e de ordenha.
Além disso, os animais permanecem o tempo todo na pastagem, sendo recolhidos apenas para as ordenhas e fornecimento de volumoso e/ou ração no cocho.
Tabela 7 - Coeficientes de mão-de-obra e mecanização (tempo padrão), em dia homem (DH) ou hora máquina (HM), para a atividade bovino de leite, sistema de produção com dez matrizes, no período de um ano, na Região Oeste Catarinense (UPR-1)
4 Conclusões
Os resultados obtidos das tabulações dos indicadores técnico-econômicos permitiram constatar a existência de diferenças significativas na performance entre as propriedades estudas, isto implica dizer que existem grandes diferenças no lucro e na remuneração dos fatores de produção, por exemplo, entre diferentes propriedades rurais dentro de um mesmo sistema de produção semelhante.
As propriedades do grupo de cabeça (top 25%) podem servir de “inspiração” para as propriedades rurais com performance inferior, para que possam atingir resultados semelhantes àquelas de melhor desempenho.
As propriedades analisadas separadamente como estudos também oferecem importantes informações sobre o que fazem, como fazem, quanto fazem e como vendem seus produtos.
Para o ano agrícola 2005/06 está sendo acompanhado um número maior de propriedades de cada tipo/sistema de produção, o que permitirá realizar análises comparativas mais diversas.
Finalmente pode-se concluir que este documento poderá ser importante instrumento e fonte de informações para os produtores rurais, no sentido de sistematizar o acompanhamento gerencial e subsidiar a tomada de decisão, visando melhorar o desempenho do sistema e da atividade bovino de leite.
Análise interanual da atividade de bovinocultura leiteira de empresa rural no Planalto Norte Catarinense UPR-4
Este trabalho tem como objetivo analisar a evolução tecnológica e sistema de produção da bovinocultura leiteira numa propriedade no Planalto Norte Catarinense.
1 Introdução
O administrador rural vem trabalhando com o objetivo fazer os registros e controles para melhorar a gestão do seu negócio agrícola.
O acompanhamento é través do método de Contabilidade Agrícola com o uso do software Contagri.
A Contabilidade Agrícola tem como objetivo principal o registro dos movimentos que a empresa agrícola efetua com o exterior, ou seja, as vendas e recebimentos, compras e pagamentos, operações efetuadas a crédito, etc., constituindo-se num histórico detalhado das relações da empresa com outras entidades.
2 Metodologia
Foram acompanhadas dez safras (de junho de um ano a julho do outro) com tratamento dos dados pelo Contagri.
A propriedade está localizada no município de Major Vieira e está registrada com o código 126001.
3 Resultados
Ocorreu evolução nos indicadores tecnológicos e econômicos da atividade de bovinocultura de leite nessa propriedade, conforme Anexo A .
Verifica-se que na safra junho 1992 a julho 1993 a produção de leite foi de 1.664 litros/vaca/ano, para uma produção de 6.108 litros/vaca/ano na safra de 2004/05.
O uso de tecnologias modernas nesta propriedade implicou na compra de insumos, para tanto, tem um custo variável mais elevado com insumos. Porém se reflete também formação de uma maior Margem Bruta, que é o que fica para o administrador rural sustentar sua família e fazer os investimentos futuros.
Ocorreu um aumento da Renda Bruta Total.
Esta evolução se deve ao uso de tecnologia de produção e processos administrativos modernos.
Esta análise interanual (AIA) fornece muitos outros indicadores que podem servir de subsídios para orientações técnicas e capacitação de produtores em bovinocultura leiteira.
Chama-se a atenção ao uso crescente de silagem. O sistema de produção de alimentação como forragens e outros volumosos estão limitados a área agricultável da propriedade.
A partir do ano 1997 o crescimento vertical deixou de acontecer, mantendo-se o efetivo médio de 13 vacas, devido à limitação de recursos nessa propriedade, como mão-deobra e terra para pastagens.
A Superfície Forrageira Principal – SFP - não tem variado significativamente, pois as culturas de fumo e milho são preferidas, por serem economicamente mais viáveis, mas é notório o cultivo de forragens em áreas adicionais.
O milho como suporte para atividade leiteira é importante no sistema de produção desta propriedade.
4 Conclusões
A propriedade evoluiu em decorrência do uso de tecnologia de produção e processos administrativos modernos. Concomitantemente ocorreu o desenvolvimento do produtor e da sua família.
Observou-se ainda que:
O uso de insumos como fertilizantes, defensivos, sementes, medicamentos e melhoramento genético dos animais é viável economicamente.
Produtor tem melhorado a qualidade de vida a família.
Com o aumento do poder de consumo, há a disponibilidade para a aquisição de veículos automotores, telefone e eletrodomésticos modernos.
Ocorreu a inclusão social principalmente na educação formal dos filhos, todos com segundo grau completo e o desenvolvimento da família desempenhando liderança em administração da propriedade e uso de tecnologias de produção agrícola.
Indicadores técnico-econômicos da cultura da batata-salsa na UPR-4
No sentido de obter indicadores técnico-econômicos para alternativas de produção foram acompanhadas propriedades que exploram o cultivo de batata-salsa. Na safra de 2003/04 foram cultivados mais de 1.500 ha na UPR-4, tendo ocorrido frustração em função de intempéries climáticas.
A Margem Bruta da atividade batata-salsa nas propriedades acompanhadas variou de R$5.449,01 a R$14.895,46/ha mostrando ser uma atividade compensadora.
Os indicadores da atividade batata-salsa mostram maior densidade econômica que as atividades com cereais da UPR-4, conforme informações da propriedade 121100, safra 2004/05, para o milho a Margem Bruta foi de R$ 830,00/ha numa área de 92 ha e da soja foi de R$614,00/ha numa área de 92 ha.
É uma oportunidade para as propriedades com pequenas áreas de exploração da agricultura familiar.
A Tabela 1 apresenta resultados individuais de três propriedades:
Nas últimas safras entre 2000 e 2004 ocorreram problemas com ataque de pragas que foi limitante para o cultivo, porém é possível fazer o controle das pragas com auxílio da tecnologia ou a melhora de condições climáticas. Assim a batata-salsa torna-se um cultivo viável economicamente como mostram os Anexos A, B e C.
A Figura 1 mostra o tubérculo de batata-salsa, produzida em Porto União, SC.
Figura 1 – Tubérculo de batata-salsa, produzida no município de Porto União, SC
Indicadores da cultura da maçã - cultivar Eva - na UPR-4
A cultura da macieira, em especial as cultivares de baixa exigência em frio, é uma importante alternativa de alta densidade econômica por hectare para regiões de invernos amenos, por serem colhidas mais cedo que as cultivares Gala e Fuji das regiões produtoras de São Joaquim, Fraiburgo e Vacaria, que atendem um nicho de mercado onde há previsão de preços mais atrativos ao produtor.
Os resultados apresentados neste trabalho fazem parte da coletânea de dados utilizados na elaboração do Contagri.
Através destes resultados pode-se discutir com o produtor vários indicadores econômicos da propriedade.
As duas propriedades aqui analisadas estão localizadas do município de Monte Castelo, SC e identificadas apenas pelos nº.s 127501 e 127502 e cultivam a ‘Eva’, as quais estão no terceiro ano de produção. A projeção desta cultivar para a região neste período é de 24.000 kg.
As duas propriedades estudadas são classificadas como pequenas propriedades e utilizam basicamente mão-de-obra familiar.
A Tabela 1 mostra que mesmo tendo áreas iguais de 1 ha, as duas propriedades tiveram produtividade, Renda Bruta, Custo Variável e Margem Bruta diferentes.
No caso da Renda Bruta observa-se que a propriedade 127501 obteve um preço médio de R$ 0,079 a mais por quilo de produto, provavelmente pela época da comercialização e classificação do produto.
A propriedade 127501 teve um Custo Variável de 91,57% maior que a propriedade 127502, o mesmo não ocorreu com a produtividade, isto se deve a utilização de frete e mão-de-obra ocasional contratada pela propriedade 127501.
A produtividade em torno de 40% acima da esperada para a cultivar Eva no terceiro ano, isto mostra a boa adaptação da cultivar na região, como também os cuidados que os produtores tiveram na implantação de seus pomares, controle fitossanitário e assistência técnica da parceria Epagri/prefeitura.
Maçã cultivar Eva
A estiagem que atingiu a região nos meses de novembro e dezembro prejudicou a qualidade dos frutos.
A comercialização é feita por uma grande empresa de Fraiburgo,SC, mas há probabilidade de melhor remuneração ao produtor, quando a cooperativa entrar em funcionamento no município de Monte Castelo.
A Margem Bruta mostra que o cultivo da maçã é viável economicamente no município, além de ser uma cultura de alta densidade econômica e uma alternativa a mais para o pequeno produtor (Anexos A e B).