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O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros

Publicado: 3 de abril de 2012
Por: Oriel Fajardo de Campos; Rosane Scatamburlo Lizierire.
Em sistemas de produção de leite com animais mestiços "meio-sangue" ou mais azebuados, o aleitamento natural, definido como o bezerro mamando na vaca, é o mais indicado. Isto porque a ordenha desses animais sem a presença dos bezerros normalmente resulta na secagem da vaca (ela não "desce" o leite) ou, se ela produz leite, o faz em menor quantidade e por menos tempo. O aleitamento natural também é recomendado para os sistemas de produção de bovinos de duplo-propósito (leite e carne), freqüentes no Brasil. Inclusive, estes sistemas deveriam ser estimulados, considerando o grande número de animais mestiços existentes, resultado do cruzamento de raças especializadas para a produção de leite com animais zebuínos. Sua principal vantagem é a possibilidade de o produtor comercializar carne e leite simultaneamente.
Na prática, não existe um sistema único de aleitamento natural, pois o tipo, tamanho e produtividade do rebanho, qualidade da mão-de-obra e capacidade de gerenciamento do produtor resultam em diferenças no manejo dos animais. Os sistemas de aleitamento natural podem ser classificados em dois grandes grupos: tradicional (com os bezerros mamando durante toda a lactação, ou a maior parte dela) e controlado (com os bezerros mamando por dois a três meses), com uma série de variações dentro de cada um deles. No aleitamento natural, os bezerros devem permanecer com a vaca por período reduzido de tempo, independentemente do número de ordenhas, mas o suficiente para mamarem com tranqüilidade. Muitos produtores que ordenham uma só vez ao dia permitem que os bezerros permaneçam horas com a vaca, mas este manejo não é o mais indicado, como se verá mais adiante.
Efeitos do aleitamento natural sobre o desempenho de vacas e bezerros
Uma questão sempre levantada diz respeito aos efeitos da amamentação sobre a reprodução das vacas. Em rebanhos de corte, o fato de os bezerros permanecerem com as vacas durante a fase de aleitamento resulta em intervalos de partos mais longos. Há estratégias para contornar este problema, como as desmamas precoce, interrompida e a controlada (Embrapa Gado de Corte, 1996).
Resultados de pesquisa (Anta et al., 1989) evidenciaram que o intervalo de partos de vacas de duplo propósito foi superior a 16 meses, quando essas vacas aleitavam seus bezerros por cinco a seis horas depois de ordenhadas. A duração do anestro pós-parto, nestes sistemas, prolongou-se até oito meses, em função da amamentação(Villa-Godoy e Villagómez, 2000), Não se pode esquecer que a subnutrição da vaca é outro fator importante no prolongamento do anestro pós parto.
Gallegos (1990) mostrou, sob condições experimentais, que atrasar o aleitamento dos bezerros em oito horas após as vacas terem sido ordenhadas reduziu o período parto-primeira ovulação em 21 dias, e que todas as vacas ovularam nos 100 primeiros dias pós-parto. Além disto, os bezerros ganharam mais peso, e a produção de leite e o peso corporal das vacas nos primeiros 100 dias de lactação não foram afetados negativamente.
Pérez et al. (2001) conduziram um teste em fazendas com gado de duplo propósito (3/4 Pardo-Suíço e ¼ Zebu) na região tropical do México. Eles compararam dois sistemas. No primeiro, chamado de aleitamento tradicional, ordenhavam-se mecanicamente três quartos da glândula mamária e deixava-se um quarto para o bezerro. Depois da ordenha, os bezerros permaneciam com as vacas por sete horas para mamar o leite do quarto não-ordenhado e o leite residual das três tetas ordenhadas, além do leite sintetizado neste período. No segundo sistema, chamado dealeitamento restrito, as vacas eram ordenhadas totalmente e a amamentação tinha a duração de uma hora, com início somente oito horas após a ordenha. Os autores concluíram que o sistema de aleitamento restrito resultou em menores intervalos parto-primeiro cio (58 vs 70 dias). Além disto, resultou em maior porcentagem de vacas que apresentavam cio nos primeiros 100 dias pós-parto (90 vs 70%), sem afetar o desenvolvimento dos bezerros (720 vs 630 g de ganho de peso por dia, do nascimento aos 100 dias de idade), a variação no peso vivo das vacas (-115 vs -220 g nos primeiros 100 dias pós-parto) e propiciando maior produção total de leite, somando-se o ordenhado mais o mamado pelos bezerros (11,3 vs 9,2 kg/vaca/dia). O tempo utilizado pelos bezerros para mamar não foi maior que 30 minutos, o que reforça o conceito de não haver necessidade de deixar os bezerros com as vacas por até sete horas após a ordenha.Um sistema de aleitamento natural controlado, testado com sucesso, consiste em oferecer à bezerra uma teta, em rodízio, durante o primeiro mês de vida. Durante o segundo mês, a ordenha é feita nas quatro tetas, sem, contudo, "esgotar" o úbere (o ordenhador já conhece o potencial de produção da vaca), restando à bezerra mamar o leite residual. Experimentos conduzidos na Embrapa Gado de Leite (Campos et al.,1993ab) evidenciaram que os bezerros, assim manejados, ingeriram diariamente 4 kg de leite durante o primeiro mês, e 2 kg de leite durante o segundo mês de aleitamento, em vacas com potencial de produção igual a 3.000 kg de leite por lactação. O desenvolvimento dos bezerros foi semelhante àqueles sob aleitamento artificial, que receberam 160 kg de leite durante 56 dias de aleitamento, mas vacas produziram 10% a mais de leite comercializável durante a lactação (Tabelas 1 a 3).
Tabela 1: Efeitos dos sistemas de aleitamento natural controlado e artificial sobre o consumo de leite e de concentrado inicial dos bezerros.
O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros - Image 1
Campos et al. (1993)
a,b P<0,05
Tabela 2: Efeitos dos sistemas de aleitamento natural controlado e artificial sobre o ganho de peso dos bezerros
O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros - Image 2
Campos et al. (1993) a,b P<0,05
Tabela 3: Efeitos dos sistemas de aleitamento natural controlado e artificial sobre a performance das vacas.
O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros - Image 3
O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros - Image 4
Campos et al. (1993) a,b P<0,10
Após 60 dias de idade, a bezerro somente é levado à presença da mãe, durante as ordenhas, caso haja necessidade de estímulo para a "descida do leite". De qualquer forma, ela deve ter à disposição, desde a segunda semana de idade, um bom concentrado e um bom alimento volumoso, para compensar a redução na ingestão de leite.A desmama precoce e a alimentação dos bezerros
O fornecimento de concentrado inicial a partir da segunda semana de idade é importante para quem adota a desmama precoce. A quantidade reduzida de leite ingerida e o fato de os bezerros ainda não terem a capacidade de obter do pasto os nutrientes necessários para seu crescimento, justificam esta afirmação. O consumo de pasto passa a ser importante a partir do terceiro mês de idade, quando começa a declinar a produção de leite da vaca. A taxa de crescimento da bezerra dependerá, em grande parte, da qualidade do pasto disponível. Poucos são os produtores que oferecem concentrado inicial para os bezerros, levando à subnutrição dos animais, o que resulta em maior ocorrência de doenças, menores ganhos de peso e idade mais avançada à primeira parição. Ouologuem et al. (1994) conduziram um trabalho com vacas Zebu, e mestiças de Zebu, com produções médias diárias em torno de quatro litros de leite. Metade dos bezerros só recebia o leite materno, e a outra metade, além de mamar, tinha à sua disposição um concentrado com 19% de proteína bruta. Os bezerros foram controlados por 90 dias, a partir da terceira semana de idade. Os autores não observaram diferenças no comportamento dos bezerros nos primeiros 45 dias, mas no período final de avaliação o leite mamado foi menor (0,39 vs 0,95 litros/animal/dia) e o ganho de peso foi maior (442 vs 139 g/animal/dia) para aqueles que receberam o concentrado. O consumo médio de concentrado observado foi de 0,74 kg/bezerro/dia, e as vacas cujos bezerros recebiam concentrado produziram significativamente mais leite comercializável.
Número de ordenhas.
Dependendo do nível de produção das vacas, pode-se fazer uma ou duas ordenhas ao dia. Em rebanhos com vacas de média ou alta produção diária de leite, duas ordenhas diárias representam aumento na receita da propriedade. Mas em rebanhos com baixa produção, a segunda ordenha não se justifica. Veitia e Simon (1972) compararam freqüências de ordenha e de aleitamento: (1) vacas ordenhadas somente pela manhã e bezerros mamando à tarde, e (2) vacas ordenhadas duas vezes ao dia e bezerros mamando após as ordenhas. Os resultados, mostrados na Tabela 4, sugerem que esses dois manejos não afetaram as performances de vacas e bezerros.
Tabela 4: Efeitos da freqüência da amamentação sobre a produção de leite das vacas e o ganho de peso dos becerros
O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros - Image 5
O aleitamento natural em rebanhos bovinos leiteiros - Image 6
Veitia e Simon (1972)
1 Vacas ordenhadas somente pela manhã e bezerros mamando à tarde.
2 Vacas ordenhadas duas vezes ao dia e bezerros mamando após as ordenhas.
A transição do sistema de aleitamento natural para o artificial.
A mudança do sistema de aleitamento natural para o artificial pode se justificar quando o produtor está aumentando a proporção de sangue de raças especializadas para produção de leite (Holandês, por exemplo) no seu rebanho e deseja manter animais acima de 15/16 HZ. Além disto, quando ele tenciona ordenhar as vacas sem a presença dos bezerros na sala de ordenha, apartando os bezerros ao nascer e separando o manejo dessas duas categorias animais.
A citada mudança deve ser feita gradativamente e requer muito bom senso. O ideal seria ter um segundo curral ou sala de ordenha, distante do primeiro, para onde seriam levadas todas as vacas que parissem e fossem então submetidas a esta mudança no manejo da ordenha. Os bezerros seriam apartados e aleitados artificialmente usando-se baldes ou mamadeiras, em local afastado deste segundo curral para impedir que as vacas vissem ou ouvissem os bezerros. As vacas seriam ordenhadas sem a presença dos bezerros e observadas cuidadosamente. Aquelas que "descessem" o leite nessas novas condições seriam obviamente ali mantidas. Aquelas que não "descessem" o leite seriam encaminhadas para o primeiro curral, sendo ordenhadas com o bezerro ao pé. Estas últimas seriam descartadas futuramente. Este esquema deveria ser mantido até a desativação do primeiro curral.
Conclusões.
O sistema de aleitamento natural é o mais indicado para rebanhos leiteiros ou de duplo propósito (carne e leite) compostos por animais mestiços resultantes do cruzamento de raças especializadas para a produção de leite com raças zebuínas, meio sangue ou mais azebuados, considerando propiciarem maior produção de leite. O número de ordenhas diárias vai depender do nível de produção das vacas, justificando-se duas ordenhas diárias nos rebanhos com vacas de média ou alta produção de leite. Os bezerros devem mamar sete a oito horas depois da ordenha, e não precisam mais do que 30 minutos para obterem o leite que necessitam. Este intervalo entre ordenha e amamentação repercute positivamente sobre a reprodução das vacas, que apresentam cio mais cedo. A alimentação adequada das vacas também é importante para que voltem a ciclar mais cedo.Concentrado inicial de boa qualidade deve ser oferecido aos bezerros desde a segunda semana de idade caso a intenção seja realizar a desmama precoce sem prejuízo do desenvolvimento dos bezerros. O consumo de pasto, por si só, não garante o bom desenvolvimento dos bezerros, pelo menos até os seis/oito meses de idade. Havendo a intenção de mudar do sistema de aleitamento natural para o artificial, esta mudança deve ser implementada gradativamente e com bom senso. Sugere-se a utilização de um segundo curral ou sala de ordenha, onde permaneceriam somente as vacas que "descessem" o leite sem a presença dos bezerros.
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