O clima atua de forma direta sobre os animais, que quando expostos a intempéries por várias horas do dia, tornam-se extremamente suscetíveis a um estado permanente de estresse, que desencadeia alterações fisiológicas de adaptação, comprometendo o desempenho produtivo do animal.
A maioria dos animais criados para produção de leite é sensível às elevadas temperaturas encontradas nas zonas tropicais, sendo, muitas vezes, a atuação dos elementos climáticos tão intensa que causa desequilíbrio entre o animal e o ambiente.
As elevadas temperaturas e a grande incidência de radiação solar comprometem a produção de leite, pois além de o animal utilizar a energia, que seria necessária para produzir leite, na tentativa de dissipar o calor ele também diminui a ingestão de alimentos o que reduz o escore de condição corporal tornando o animal mais suscetível a doenças e a problemas reprodutivos. Para minimizar esse efeito muitos produtores têm adotado sistemas de sombreamento, seja natural ou artificial, sistemas de ventilação e nebulização ou aspersão. Estes sistemas, quando bem implantados e menejados, têm se mostrado eficientes em minimizar os efeitos do ambiente sobre a produção animal.
Apesar do exposto, nem sempre a época mais quente do ano representa os maiores desafios ao produtor de leite, para muitos é na época das chuvas que os piores desafios ambientais aparecem. Um dos motivos para tal afirmação é o aumento considerável da umidade relativa do ar nesta época do ano, já que nos bovinos 85% das perdas de calor ocorrem por meios evaporativos (transpiração e respiração), uma das vias de perda de calor mais eficientes em ambientes quentes, contudo, esta poderá ficar altamente prejudicada em situações de elevada umidade relativa do ar. Como conseqüência, por não conseguirem perder calor de forma eficiente, os animais poderão entrar em situação de estresse.
Além do estresse gerado pelo aumento da umidade relativa do ar na época chuvosa, deve-se ressaltar que muitas propriedades também enfrentam outro grande problema, que é o acúmulo de lama nos currais. Nessa época do ano fica bastante difícil seguir a rotina de limpeza, então o esterco gerado pelos animais impede a infiltração normal da água acumulada nos dias de chuva resultando em uma grande quantidade de lama nos piquetes, barracões e currais de espera.
A lama acumulada nos currais além de gerar desconforto aos animais pode influenciar na sanidade dos mesmos que ficam mais expostos a doenças, principalmente mastite. É comum em muitas propriedades leiteiras os casos de mastite aumentarem na época chuvosa do ano, afetando o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, diminuindo também a qualidade do leite, devido ao aumento na contagem de células somáticas (CCS), sem falar nos altos custos com tratamento dos animais acometidos pela doença.
Outro problema sanitário que geralmente surge quando há um grande acúmulo de lama nos currais é o amolecimento dos cascos dos animais, esse amolecimento faz com que o casco se desgaste com facilidade, deixando-o mais suscetível as infecções, uma vez que os ferimentos cicatrizam com maior dificuldade e resultarão em dor e desconforto aos animais.
A grande quantidade de lama acumulada nos currais afeta o desempenho produtivo.
Mesmo diante do exposto é comum ver a situação ser deixada de lado em muitas fazendas, muitos produtores têm consciência dos danos gerados durante a época chuvosa, entretanto tomam atitude conformista, ou seja, esperam os problemas surgirem pra depois os resolverem. Alguns tentam amenizar a situação antecipadamente e acabam não encontrando formas eficientes de fazê-lo.
Um bom começo é fazer uma adaptação do calendário de retirada do esterco, intensificando a limpeza dos currais no mês que antecede o início das chuvas, assim nos primeiros dias de chuva o solo estará preparado. Essa medida visa manter o ambiente o mais seco possível tentando melhorar o aspecto sanitário, contudo para prevenir as doenças dos cascos é interessante que seja utilizado o pedilúvio, no qual o animal deve passar, emergindo os cascos, pelo menos uma vez ao dia.
Outra alternativa contra o acúmulo de lama nos piquetes seria aumentar o tamanho dos mesmos, essa medida, apesar de fazer com que os animais gastem mais energia se deslocando, irá fazer com que os mesmos aproveitem melhor o espaço, selecionando sempre os locais mais secos para descansar, além de diminuir a densidade, pois altas densidades também podem contribuir de forma significativa para a disseminação de doenças.
Uma solução mais ousada seria soltar algumas categorias animais em áreas de pastagem, pois assim haveria uma grande redução do acúmulo de lama e proliferação de doenças. Contudo essa alternativa requer bastante cuidado e de preferência um acompanhamento técnico, pois deve ser feito de forma a não modificar muito a dieta que o animal estava acostumado a receber e avaliando-se sempre quais as categorias teriam condições de passar por essa mudança brusca de rotina. Pois corre-se o risco de em vez de amenizar os problemas causar uma queda acentuada no peso dos animais e na produção de leite.
Na época chuvosa é interessante também que não sejam utilizados equipamentos de climatização que poderão aumentar a umidade do ar, tais como aspersores e nebulizadores, pois estes, apesar de serem importantes para reduzir a temperatura do ambiente, vão acabar aumentando ainda mais a umidade relativa do ar no interior das instalações, prejudicando assim os processos de perda de calor pelos animais.
O uso de ventiladores nessa época é de grande eficiência, pois reduzem a umidade do ambiente, melhorando as perdas por evaporação e evitando também a proliferação de fungos, bactérias e moscas. Entretanto, para implantação de um sistema de ventilação, é importante que os detalhes de capacidade, quantidade, posicionamento e distanciamento entre os ventiladores sejam levados em consideração, pois esses sistemas são de custo elevado e atenção aos detalhes de projeto e instalação poderá evitar gastos desnecessários e futuras dores de cabeça.
Proporcionar conforto e bem-estar aos animais é fundamental para garantir a produção de leite, pois todo investimento no incremento do ambiente irá refletir diretamente nos resultados de desempenho produtivo dos animais. Apesar de ainda existirem poucos estudos voltados para as questões da ambiência na bovinocultura de leite nas regiões de clima tropical, existem alguns pesquisadores procurando solucionar esses problemas, através de atitudes que sejam práticas, viáveis e eficientes. Por fim, recomenda-se que sempre seja feito um planejamento prévio para cada época do ano, visando diagnosticar os principais agentes causadores de estresse nos animais, pois a produção de leite só pode ser sustentável e viável quando bem planejada.
***Texto originalmente publicado pelo site MilkPoint , na coluna “Radar Técnico” em março de 2012.