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Perfil da cadeia de bovinocultura leiteira do Município de Votuporanga, SP

Publicado: 2 de julho de 2013
Por: Giane Serafim da Silva, Zoot., PqC do Polo Regional Noroeste Paulista, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA-, SP; Solidete de Fátima Paziani, Zoot., PqC do Polo Regional Centro Norte/APTA, SP, e Adelina Botelho Azevedo, Adm., PqC do Polo Regional Leste Paulista/APTA, SP.
Nos agronegócios, conhecer as diferentes metodologias, composição dos custos e indicadores econômicos e técnicos se torna primordial na gestão dos sistemas produtivos e na determinação de políticas públicas municipais voltadas para o setor.
A inexistência de fontes de informações confiáveis leva os produtores rurais à tomada de decisão condicionada à sua experiência, à tradição e à disponibilidade de recursos financeiros e de mão-de-obra. Quando a rentabilidade é baixa, o produtor percebe, mas tem dificuldades em quantificar e identificar os pontos de estrangulamento do processo produtivo.
Ademais, a falta de conhecimento de parâmetros que refletem a própria realidade por parte dos produtores faz com que a participação dos mesmos em conselhos municipais, para definição de planos diretores do município, e em audiências públicas que envolvam assuntos da esfera rural torne-se ineficaz.
Assim, os resultados de indicadores econômicos, indicadores produtivos e custos unitários de produção servem para estimar a rentabilidade econômica da atividade, além de avaliar a viabilidade econômica em diferentes sistemas produtivos. Portanto, as ferramentas de gestão disponíveis na administração rural são fundamentais quando se busca aliar eficiência produtiva à eficiência econômica.
A utilização de indicadores/índices zootécnicos por parte de produtores familiares envolvidos na cadeia de bovinocultura leiteira do município de Votuporanga, Estado de São Paulo, foi investigada.
Para tanto, foi realizada pesquisa de campo em 21 propriedades rurais familiares produtoras de bovinos de leite (8,5 a 111,32 hectares) no município. A seleção das propriedades foi baseada em informações do Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuário do Estado de São Paulo (LUPA 07/2008).
Entrevistas e aplicação de questionários foram realizadas de forma a possibilitar que os entrevistados relatassem os tópicos selecionados durante a entrevista (forma semi-estruturada) e os dados registrados nos questionários foram alocados em planilhas adequadas a possibilitarem a análise do perfil da atividade.
O estudo revelou que a análise de custo de produção e a utilização de indicadores técnicos não eram realizados pela maioria dos produtores do município, sendo o custo da produção estimado por apenas cinco dos produtores rurais entrevistados (23,8%).
Ao mesmo tempo, a participação dos produtores em programas de apoio direcionados à bovinocultura leiteira, oferecidos por diferentes instituições, como SEBRAE, CATI, SENAR, dentre outras, não se mostrou expressiva, uma vez que 71% dos produtores consultados não participavam de nenhum programa técnico.
Com relação à assistência técnica, embora a Secretaria da Agricultura do Estado, por meio da CATI, disponibilize programas como "Programa de Microbacias Hidrográficas" e "CATI Leite", o estudo mostrou não haver participação significativa das propriedades focadas, sendo a CATI responsável por apenas 14% deste trabalho no município.
As propriedades que revelaram fazer o custo de produção foram, justamente, as que estavam inseridas no programa "CATI Leite", no qual são considerados índices econômicos tais como despesas e receitas oriundas da atividade leiteira, produção diária de leite, controle de cios e cobertura, partos, secagem de vacas, parições, casos de mastite, desenvolvimento de animais jovens e comercialização do leite.
Por outro lado, 38% das propriedades não recebiam nenhum tipo de assistência técnica. Estas informações colaboram no entendimento da baixa utilização de índices para tomadas de decisão na propriedade, confirmando a necessidade de definição de metas e índices zootécnicos e econômicos no trabalho de assistência técnica à propriedade, ou seja, disponibilidade e ação ligadas à políticas públicas municipais.
Os dados obtidos permitiram, ainda, registrar aspectos de ordem sócio-econômicos, os quais mostraram que 95% dos produtores mantinham a posse das propriedades em que atuavam e, embora tenha ocorrido êxodo rural, aproximadamente 50% dos produtores de leite ainda residiam na propriedade e estavam inseridos a mais de dez anos na atividade.
Observou-se, ainda, que mais de 60% daqueles produtores não exerciam outra profissão, sendo que 24% utilizavam exclusivamente a mão-de-obra familiar e 29% mão-de-obra familiar acrescida de terceiros.
Pelo fato da maioria dos produtores residirem nas propriedades rurais e ser esta atividade zootécnica a principal fonte de renda, torna-se claro a importância sócio-cultural da manutenção desta população no campo e de sua valorização, confirmando a necessidade do estabelecimento de programas de políticas públicas direcionadas a este setor agropecuário do município.
O acesso à informações, a utilização de tecnologias apropriadas, o controle de custos, a busca da verticalização da produção, dentre outros, devem ser a base dos processos produtivos, gerenciais e comerciais de qualquer atividade produtiva.
Este processo deve ser oferecido à comunidade permanentemente, e suas metodologias devem ser adequadas às suas necessidades. A promoção de uma dinâmica econômica interligada de base local deve estimular a diversidade e a complementaridade de empreendimentos, de forma a gerar uma cadeia sustentável de iniciativas.
A presença de agentes de desenvolvimento governamentais, empresariais e da sociedade civil é fator indispensável para a promoção do desenvolvimento local integrado e sustentável.
 
Referências
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Agradecimentos
À FAPESP, pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa (Proc. 2006/51735-7)
Aos funcionários do Pólo Noroeste Paulista/APTA, Daiane M. Romera, Natalino S. Brito e Salvador T. Barbosa, pelo apoio e dedicação nas atividades de campo.
 
***O trabalho foi originalmente publicado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. 
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Autores:
Giane Serafim da Silva
APTA
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