A cana-de-açúcar é uma cultura com características físicas e nutricionais muito peculiares, quando comparada a outras forrageiras utilizadas para a confecção de silagens. Muitos produtores e técnicos ainda resistem à idéia de ensilar cana, alegando ser uma "planta difícil", de corte complicado. No entanto, quando alguns cuidados básicos são observados no momento da decisão da confecção da silagem, pode-se evitar uma série de erros primários, porém muito comuns cometidos no meio rural.
O planejamento prévio
dos dias destinados a esse serviço é fundamental para o sucesso do trabalho final. Hoje, com as facilidades proporcionadas por programas de previsão meteorológica disponíveis na internet, até mesmo este fator pode ser controlado, reservando-se uma semana em que não haja previsão de chuvas na região, evitando contratempos e atrasos desnecessários.
O momento do corte
deve ser quando a planta estiver madura, com os teores de açúcares mais elevados, o que pode ser diferente de uma variedade para outra e também com a região geográfica da cultura. De maneira geral, no entanto, o produtor deve estar atento, pois quando ocorre o tombamento, o corte mecanizado fica praticamente inviabilizado e o corte manual demanda um maior número de pessoas.
O tamanho do corte
da partícula é outro fator de suma importância, pois está relacionado com a facilidade de compactação e com a ação do inoculante. De modo geral, esse tamanho deve ser inversamente proporcional ao teor de matéria seca do material a ser ensilado, ou seja, quanto maior o teor de matéria seca da cultura, menor deve ser o tamanho médio das partículas. Para a cana-de-açúcar, o ideal é que o de 80- 90% do total de matéria verde seja picado em partículas de tamanho médio de um a dois centímetros.
O tamanho do corte influencia no resultado finalA partir do momento em que se corta a planta, inicia-se o processo de fermentação do material, por isso é fundamental reduzir o tempo total da confecção da silagem, a fim de se preservar ao máximo o valor nutricional da forrageira e evitar contaminações por microrganismos indesejáveis, que podem alterar as características da fermentação, elevando as perdas do material e muitas vezes comprometendo a qualidade sanitária da silagem. O ideal é que o tempo gasto não ultrapasse 3 ou 4 dias.
Todo responsável pela ensilagem nas propriedades deve se programar com boa antecedência, alocando o maquinário necessário para o corte, transporte e compactação do material; adquirindo com antecedência o inoculante apropriado, ressaltando que muitos deixam para definir a compra do produto já nas vésperas da ensilagem, sem contar com possíveis atrasos ocasionados pelo transporte ou entrega do produto na propriedade rural. A máquina colheitadeira utilizada para cana é um ítem muito importante e negligenciado por alguns produtores. Caso não seja um maquinário específico para o corte da cana, este deve contar com um sistema redutor, suas lâminas devem ser previamente afiadas e deve-se sempre ter lâminas de reposição disponíveis, em caso de quebra.
Colheitadeira e carreta de transporte
A mão-de-obra também deve ser contratada com um espaço de tempo seguro e preferencialmente deve receber treinamento ou orientação específica para o corte e ensilagem da cana.
Para a compactação do material, o ideal é que se utilize o trator mais pesado da propriedade, facilitando a remoção de todo o ar residual. Atenção especial deve ser dada às bordas do silo, onde ocorrem as maiores contaminações por fungos.
Um inoculante específico é essencial para uma boa silagem de cana. Sua aplicação pode ser feita durante o corte, com um equipamento acoplado à colheitadeira ou diretamente no silo, com o auxílio de uma bomba costal, obedecendo às diluições recomendadas pelo fabricante. A planta da cana-de-açúcar contém uma flora microbiana específica, composta por leveduras que convertem o ácido lático produzido durante a fermentação dos açúcares, em álcool. Sendo o álcool muito volátil, ou seja, evapora com facilidade, sua presença vai representar grande perda de energia da silagem, perdas no volume final do material, além de comprometer a palatabilidade da silagem, sendo que silagens com alto teor alcoólico muitas vezes é refugada pelos animais.
Esta é, sem dúvida, a maior limitação para uma boa silagem de cana e um inoculante específico para cana-de-açúcar deve ser capaz de controlar a produção alcoólica, além de garantir proteção contra o ataque de fungos e leveduras após a abertura do silo para sua utilização, quando ocorre novamente o contato com o oxigênio. Dentre diversos inoculantes biológicos testados por Pedroso (2003), apenas os compostos pelo Lactobacillus buchneri se mostraram eficazes no controle da produção alcoólica em silagens de cana-de-açúcar, além de promoverem a estabilidade da silagem após abertura e melhor consumo pelos animais. A utilização de um produto inadequado pode comprometer todo o trabalho, por melhor que tenha sido o manejo.
A vedação do silo deve ser feita com lonas novas e com dupla face. Em geral são necessárias algumas semanas até que todo o processo de fermentação da cana se estabilize dentro do silo e o material esteja realmente preservado para alimentar os animais. Em casos específicos de necessidade de abrir o silo em poucos dias para fornecimento ao rebanho, não haverá prejuízo para a saúde dos animais, mas a silagem pode sofrer ataque de microrganismos deteriorantes.
Conclusão:
Planejamento antecipado, manejo adequado e utilização de um inoculante apropriado, podem garantir uma silagem de cana-de-açúcar com excelente qualidade, representando uma alternativa de baixo custo para alimentação do rebanho.