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Efeitos dos taninos condensados no controle de nematódeos gastrintestinais parasitas de ovinos

Publicado: 6 de novembro de 2008
Por: Alessandro P. Minho, Instituto Agronômico do Paraná –IAPAR-, Área de Sanidade Animal – Laboratório de Parasitologia, PR, e Adibe Luiz Abdalla, Universidade de São Paulo –USP-, Centro de Energia Nuclear na Agricultura – Laboratório de Nutrição Animal, SP.
A infecção por nematódeos gastrintestinais é uma das principais limitações ao desenvolvimento dos ovinos em sistema de produção baseados no pastoreio (URIARTE; WALDERRÁBANO, 1990). Os nematódeos acarretam altas perdas econômicas, seja em criações extensivas (KOHLER, 2001) ou intensivas, como observado por Niezen et al. (1998) na Nova Zelândia, que consideram os parasitas gastrintestinais o maior impedimento ao aumento da taxa de crescimento animal.
Nematódeos como Haemonchus spp, Ostertagia spp, Trichostrongylus spp ou Cooperia spp são responsáveis por diminuição no desempenho dos animais infectados, com redução na produção de carne e leite em ruminantes, além de lã em ovinos, com aumento da mortalidade nos animais jovens (MOLENTO; PRICHARD, 1999). No Brasil, os gêneros mais importantes nos ovinos são Haemonchus contortus, Trichostrongylus axei e T. colubriformis (AMARANTE, 2001).
Haemonchus contortus é o parasita mais patogênico para pequenos ruminantes em regiões tropicais e sub-tropicais em todo o mundo. O parasita adulto é hematófago, causa gastropatias e perdas protéicas, e tem seu efeito exacerbado pela anemia (STRAIN; STEAR, 2001).
Gray (1997) relata que a característica da resistência do indivíduo ao parasitismo é geneticamente determinada e passível de ser selecionada, colaborando no controle dos nematóides. A resistência aos parasitos seria a capacidade de o hospedeiro suprimir o estabelecimento e/ou subseqüente desenvolvimento da infecção. Outro termo que vem sendo amplamente utilizado é resiliência, que é a capacidade do animal infectado manter níveis de produção relativamente normais (BISSET; MORRIS, 1996).
Atualmente, o controle dos parasitas nematódeos ainda é baseado em tratamentos com drogas anti-helmínticas. Esse tratamento reduz de forma significativa o nível de infecção por helmintos gastrintestinais nos animais (KAWANO; YAMAMURA; RIBEIRO, 2000), porém a identificação cada vez mais freqüente de cepas resistentes aos anti-helmínticos tem reduzido drasticamente a eficiência dessas drogas no controle de infecções por nematódeos (WALLER, 1997).
Em várias regiões tropicais e subtropicais, as drogas anti-helmínticas são tão intensivamente utilizadas que geram resistência múltipla, tornando-se ineficazes (BUTTER et al., 2000). A resistência aos anti-helmínticos caracteriza-se pelo declínio da eficiência de uma droga contra uma população de parasitos, anteriormente suscetível àquele tratamento (SANGSTER; GILL, 1999). A resistência contra todos os grupos de drogas utilizadas é uma realidade mundial (MOLENTO; PRICHARD, 1999), e um importante problema, principalmente em ovinos e caprinos (GOPAL; POMROY; WEST, 1999).
O fenômeno de multirresistência às drogas (MRD) anti-helmínticas está associado à expressão de glicoproteínas de membrana (P-gp), que reduzem a concentração intracelular das drogas antiparasitárias (MOLENTO; PRICHARD, 2001), e indivíduos que manifestam a MRD dentro de uma população podem transmitir seu fenótipo para as gerações futuras (MOLENTO; PRICHARD, 1999).
O aparecimento da resistência aos anti-helmínticos e a tendência dos últimos anos de mudança para sistemas de produção orgânicos, requerem alternativas para redução ou até exclusão das drogas anti-helmínticas no controle parasitário (ATHANASIADOU et al., 2000a). Em resposta a essa resistência, novas pesquisas estão sendo realizadas com o intuito de descobrir pontos vulneráveis na biologia ou ecologia desses parasitos (TYRREL et al., 2002).
Alguns dos controles parasitários alternativos incluem o uso de vacinas contra nematódeos (MEEUSEN, 1996), controle biológico (LARSEN, 1999) e o uso de forragens com propriedades anti-helmínticas (BUTTER et al., 2000). Em relação a este último, os Taninos Condensados (TC), oriundos de plantas forrageiras ou dos extratos de Quebracho e Acácia, vêm sendo utilizados no controle de nematódeos gastrintestinais de ovinos, entre eles T. colubriformis (ATHANASIADOU et al., 2000a,b) e H. contortus(NIEZEN et al., 2002a).
Os taninos compreendem um grupo de compostos fenólicos encontrados principalmente em frutos verdes e plantas da família Graminae. O termo tanino origina-se da expressão "tanning" que significa curtir a pele dos animais transformando-a em couro. Isso é possível porque os taninos se ligam ao colágeno que é uma proteína constituinte da pele dos animais (HAHN; ROONEY; EARP, 1984).
Os taninos são classificados conforme sua estrutura molecular em taninos hidrolizáveis (TH), ou taninos condensados (TC), e os condensados são mais conhecidos como proantocianidinas. Os TC são os taninos mais comumente encontrados em plantas forrageiras, árvores e arbustos (BARRY; MCNABB, 1999). Estruturalmente os TC são polímeros de unidades de flavonóides unidos por ligações carbono-carbono (HAGERMAN; BUTLER, 1981).
TC são formados por 10 a 12 oligômeros de flavan-3-ol (catequinas) ou flavan-3,4- diol (epitacatequinas), e se apresentam nas forrageiras com massa molecular variando entre 2000 e 4000 Daltons (FOO et al., 1986). Essa grande potencialidade de combinações pode gerar uma infinidade de estruturas moleculares, com propriedades físico-químicas variadas.
Forrageiras com alto teor de TC, quando fornecidas a ovinos e bovinos, melhoram a digestão e absorção do nitrogênio (N). A essa maior absorção é atribuída ao melhor crescimento da lã, maior secreção protéica no leite e melhora na taxa de ovulação, além do desenvolvimento de um sistema de controle parasitário ecologicamente sustentável (BARRY; MCNABB, 1999). O estado nutricional do indivíduo é considerado como importante fator de equilíbrio na relação parasita-hospedeiro, assim como na patogênese da infecção parasitária (VALDERRÁBANO; DELFA; URIARTE, 2002).
Segundo Athanasiadou et al. (2000a), duas hipóteses procuram explicar o efeito antihelmíntico dos TC contra uma população de T. colubriformis em ovinos. A primeira é o efeito direto dos TC sobre larvas infectantes (L3) e parasitas adultos, com a diminuição da fecundidade das fêmeas. A segunda hipótese sugere o efeito indireto dos TC, melhorando a utilização protéica pelo hospedeiro e, conseqüentemente, melhor resposta imune deste aos parasitas.
TC têm a capacidade de se ligarem às proteínas da dieta, formando complexos (tanino-proteína), que protegem essas proteínas da degradação no rúmen, e esses complexos são dissociados no intestino delgado, local de absorção dessas proteínas. Tem-se observado que animais com dietas suplementadas em proteína têm maior resiliência, suportando de melhor forma os efeitos das infecções por parasitos (BUTTER et al., 2000; STRAIN; STEAR, 2001).
Em ovinos, a dieta tem significante impacto sobre a eclosão dos ovos e subsequente desenvolvimento larval de T. colubriformis, no laboratório e a campo. Niezen et al. (2002b), utilizando a forrageira Dorycnium rectum, que possui alta concentração de TC, e comparando-a com outras forrageiras com menor ou nenhuma porcentagem de TC, relataram consistente redução no desenvolvimento larval de T. colubriformis em ovinos.
A eliminação da carência protéica rapidamente melhora a expressão da imunidade contra nematódeos em ovelhas lactentes, e a excreção de ovos de helmintos é sensivelmente afetada pela carência de proteínas metabolizáveis. Esses dados podem ser úteis para reduzir a contribuição das fêmeas parturientes na contaminação das pastagens por ovos de nematódeos, apenas com o aumento da absorção protéica (HOUDIJK et al., 2001).
Ovinos experimentalmente infectados com T. colubriformis, que receberam suplementação protéica diária, obtiveram significativa queda na contagem do número de ovos do parasita, assim como maior ganho de peso, quando comparados a outros animais sem suplementação (VAN HOUTERT et al., 1995).
A diminuição na contagem de ovos por grama de fezes (OPG) em animais que receberam fontes de TC pode provir de duas origens: pela diminuição da carga parasitária, ou por redução da fecundidade das fêmeas de nematódeos. Paolini et al. (2003a,b) relataram diminuição da fecundidade das fêmeas de H. contortuse T. colubriformis, porém, o efeito direto sobre o parasito depende do estágio de evolução em que este se encontra. Segundo os mesmos autores, o efeito do extrato de quebracho pode durar 18 dias, após sua administração.
Dieta baseada na forrageira sulla (Hedysarum coronarium), que contém alta concentração de TC, foi associada à redução no número de T. colubriformis no intestino de ovelhas (NIEZEN et al., 2002a, 1995, 1998). Da mesma forma, Athanasiadou et al. (2000b) relatam que ovinos jovens ao receberem uma solução de extrato de quebracho (fonte de TC) demonstraram redução na carga parasitária de T. colubriformis.
Athanasiadou et al. (2001) analisaram o efeito dos TC sobre diferentes nematódeos gastrintestinais de ovinos, fornecendo a esses animais dietas com 4%, 8% e 16% de extrato de quebracho (EQ). Demonstrou-se que a contagem de OPG de T. colubriformis nos ovinos que receberam 16% de EQ foi menor que a das outras dietas (P< 0,001). Já os animais que ingeriram dieta com 8% de EQ apresentaram menor carga parasitária (P<0,05). Conclui-se que os TC, provenientes do EQ, reduziram o nível de parasitismo intestinal, quando administrados aos ovinos por um período de três dias. Entretanto, cinco dos seis animais que receberam a dieta com 16% de EQ apresentaram anorexia ao 30º dia do experimento (3º dia de fornecimento do EQ).
No Brasil, o extrato de acácia, também conhecido como tanino altamente concentrado (TAC), é utilizado como fonte de TC. Minho et al. (2004), trabalhando com cordeiros mantidos a campo, suplementaram o concentrado fornecido aos animais, dois dias durante a semana, com sorgo taninífero (2% TC) e TAC (15%TC). Após 10 semanas de tratamento, houve diminuição significativa no OPG dos grupos suplementados com TC (p<0,05), em relação ao grupo controle.
Trabalhando com cordeiros experimentalmente infectados com Haemonchus contortus, os quais receberam três fontes de TC (Sorghum vulgare, Leucaena leucocephala e TAC, com 3, 4 e 15% de TC, respectivamente), Minho, Abdalla e Gennari (2005) relataram diferença no OPG do grupo tratado com TAC, em relação aos demais (p<0,05). No último dia do experimento, a média de OPG do grupo controle foi de 1.540, e a média no grupo tratado com TAC foi de apenas 60. Devemos ressaltar, entretanto, que alguns animais tratados com 50g de TAC /dia manifestaram reações indesejáveis, como diarréia e anorexia.
A utilização dos TC, principalmente na forma de TAC, continua sendo testada, como potencial tratamento alternativo contra as parasitoses gastrintestinais de ovinos. Algumas das reações ocorridas após o fornecimento deles foram minimizadas e quase abolidas após a administração de TAC por peso vivo do animal. A ação direta dos TC sobre os parasitos ainda é motivo de estudos, porém há uma tendência de ação maior dos TC sobre parasitas intestinais, como o Trichostrongylus colubriformis, quando comparados aos de abomaso, como o Haemonchus contortus (MINHO et al., 2006 a,b).
Minho et al. (2006c) relataram o efeito anti-helmintico dos TC's proveniente do extrato de Acácia mearsii, fornecido por via oral (1,6 g kg –1 PV), no primeiro e segundo dia experimental e após 30 dias (31° e 32° dias), a cordeiros naturalmente infectados com Haemonchus contortus e Trichostrongylus colubriformis.
O problema da multirresistência contra as drogas anti-helmínticas deve ser analisado por equipe multidisciplinar, com a participação de diversos cientistas, interpretando o problema sobre diferentes pontos de vista, já que o estudo do controle parasitário nos animais auxilia na prevenção de problemas similares no homem (SANGSTER; GILL, 1999). Ressaltase também a atual tendência pela produção dos animais chamados "orgânicos". Esses animais, criados em "fazendas orgânicas", não possuem resíduos de fármacos na carcaça, ou em qualquer outro subproduto animal destinado ao uso ou consumo humano, já que não utilizam nenhum tipo de droga na fase de produção.
O conhecimento do conteúdo de compostos fenólicos, de sua composição química e do efeito desses compostos no valor nutritivo das plantas para a fermentação no rúmen pode contribuir para melhorar o manejo e o aproveitamento dessas forragens para a nutrição animal. O interesse no efeito direto desses compostos (TC) sobre ruminantes traz grandes perspectivas para o controle de nematódeos e redução na ocorrência da resistência de cepas às drogas anti-helmínticas, assim como um grande avanço na cadeia de produção dos animais "orgânicos".
 
REFERÊNCIAS
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Capítulo 8 - Livro “Alternativas de controle da verminose em pequenos Ruminantes” Coordenação de Cecília José Veríssimo (Médica Veterinária; Pesquisadora Científica VI) Instituto de Zootecnia (IZ-APTA da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo), 2008.
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