É grande a contribuição do ser humano, ou ainda, suas atividades desenvolvidas no planeta Terra em mudar o clima, que dentre eles podem ser citadas a produção de gases estufa causando desequilíbrios ambientais. Dentre os gases estufa pode-se citar o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Estima-se que 18% das emissões anuais de gases estufas são provenientes dos processos fermentativos dos ruminantes que representam 37% do metano que contribuem potencialmente para o aquecimento global.
Animais ruminantes são, há muito tempo, os grandes vilões nas emissões dos gases estufa. Porém, é importante salientar que a queima de combustíveis fósseis é a principal fonte de emissões de CO2, enquanto que as atividades da agricultura e pecuária são os principais contribuintes da emissão global de CH4 e N2O (WHEELER et al., 2008).
De modo geral as florestas apresentam uma elevada taxa de fixação de carbono, quando comparado com outras espécies vegetais. Segundo Baird (2002), a queima de combustíveis fósseis e a produção de cimento liberaram 5,5 Gigatoneladas (Gt) de carbono por ano, das quais 3,3 destas não encontraram um sumidouro, ou sejam, permanecem no ar. As camadas superficiais dos oceanos absorveram cerca de 92 Gt, mas liberaram 90, tendo uma absorção de 2,0 Gt, e destas apenas 1,6 é removida das camadas superficiais para as camadas intermediárias e profundas. Em se tratando de estoque de carbono global, assunto muito discutido ultimamente, as florestas são importantes para o equilíbrio deste estoque pois armazena, principalmente na formade celulose como “corpo” e no solo, como material decomposto (folhas e outros) mais carbono doque o existente atualmente na atmosfera (HOUGHTON, 1994).
A produção de metanos pelos ruminantes é parte do processo digestivo que ocorre no rúmen. É um processo anaeróbio efetuado pela população microbiana ruminal, que converte os carboidratos celulósicos provenientes da dieta em ácidos graxos de cadeia curta, principalmente ácidos acético, propiônico e butírico. Nesse processo digestivo, parte do carbono é concomitantemente transformada também em CO2. A emissão de CH4 varia entre 4% e 9% da energia bruta do alimento ingerido, e a média encontrada é de 6%. A emissão global de CH4 pelos processos entéricos correspondendo somente com 22% da emissão total de CH4 gerada por fontes antrópicas, e a emissão proveniente de dejetos animais correspondem a 7% da emissão total (ESTADOS UNIDOS, 2000).
No Brasil, a maior parte do efetivo da pecuária é representada por bovinos (87%) representado por gado de corte e 13% por gado de leite), com cerca de 200 milhões de cabeças (LIMA et al., 2001), com o maior rebanho bovino do mundo com fins comerciais, tendo portanto, grande potencial na contribuição da emissão de metano pelos ruminantes. Para tanto, a adoção de práticas agrícolas, pecuárias e tecnológicas destinadas especificamente a reduzir as emissões nestes setores terá um impacto significativo na produção de gases estufas, dentre eles o metano.
Dentro deste contexto, a dinâmica do aproveitamento de nutrientes no retículo rúmen e da digestão no intestino são importantes determinantes da utilização dos componentes da dieta por ruminantes. A dinâmica da digestão deveria ser conhecida e controlada para melhorar a digestibilidade ruminal e total da dieta, melhorando a produção de carne. Além disso, a fonte e oprocessamento de alimentos podem ser usados para manipular as características de degradação de nutrientes no rúmen e do sítio de digestão.
Algumas variáveis influenciam a produção de metano em ruminantes. Dentre elas, podemos citar fatores nutricionais, que estão relacionados com a quantidade e tipo de carboidratos na dieta, nível de ingestão de alimento, presença de lipídios e fatores metabólicos, como: a taxa de passagem da digesta, fatores ambientais, manejo dos animais, além de estado fisiológico, tamanho corporal e principalmente a população de microrganismos ruminais como protozoários e bactérias (PRIMAVESI et al. 2004). Sendo assim, o uso de maiores quantidades de alimentos volumosos ou de alimentos concentrados, levando em conta a qualidade destes, pode apresentar impacto sobre a produção de metano pelos bovinos.
Alguns trabalhos conduzidos por (GASTALDI, 2008) mostram que as relações entre volumosos (70%, 50% e 30% na matéria seca) de feno de capim coastcross (melhor e pior qualidade) e concentrados,quando comparadas a rações com relação volumoso:concentrado de 30:70 resultaram em menores proporções de metano comparando com relações de 50:50 e 70:30.
Dessa forma, a relação volumoso:concentrado pode influenciar a fermentação ruminal, sendo que a relação positiva para produção de metano com menor proporção de volumoso, pode ser devido a redução de fibra o que aumenta a energia digestível do alimento e diminui o consumo.
O perfil de fermentação exerce um papel de grande importância sobre a emissão de gases como o metano, pode este variar de alta emissão, caracterizado por uma alta relação acetato:propionato, a uma baixa emissão, caracterizado por uma baixa relação acetato:propionato (JOHNSON E JOHNSON, 2005). Ainda segundo a literatura, rações ricas em cereais que gerariam relações distintas de acetato:propionato:butirato formariam diferentes fontes de metano.
O aumento nos níveis de concentrado na dieta dos bovinos pode ser uma estratégia para diminuição na produção de metano. Também, o correto manejo das pastagens, bem como aumento da sua produtividade implicará em menores emissões de metano, uma vez que tambémo pasto é grande fonte de seqüestro de carbono, ou ainda em outras palavras, beneficiador da diminuição do metano no ar.
Assim, a melhoria na qualidade da alimentação, relacionado aos níveis dos alimentos bem como a alteração da micro-flora ruminal permitem maior retenção de energia, diminuindo as perdas por metano, o que proporciona melhor desempenho animal e, consequentemente, menor produção de metano por unidade de produto (metano/ kg carne, leite, etc.) o que pode ser propiciado através de sistemas intensivos de confinamento, bem como em sistemas de produção a pasto onde o manejo da forragem e a utilização de suplementos são otimizados.
Ainda, pensamentos que visassem novos índices de medição do metano, dentre eles a produção de metano por unidade produzida (ex: “unidades” de metano/kg de carne) seria uma forma mais justa de avaliarmos os verdadeiros produtores de metanos e verdadeiros responsáveis por este fato.
- Pós Doutorando do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal /UNESP-Botucatu
- Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UNESP-Botucatu
- Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UNESP-Botucatu
Referências bibliográficas:
BAIRD, C. Química ambiental. 2a ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
ESTADOS UNIDOS. Enviromental Protection Agency. Evaluating ruminant livestock efficiency projects and programs. In: PEER review draft. Washington: Enviromental Protection Agency, 2000. 48p. Gastaldi K. A. Produção “in vitro” de metano, dióxido de carbono e oxigênio utilizando líquido ruminal de bovinos alimentados com diferentes rações. Tese de Doutorado – Universidade Estadual Paulista: Faculdade De Ciências Agrárias e Veterinárias Campus De Jaboticabal. 95 f. 2008.
HOUGHTON, R. A. As florestas e o ciclo de carbono global: armazenamento e emissões atuais. In: Emissão x seqüestro de CO2 – uma nova oportunidade de negócios para o Brasil, 1994.
JOHNSON K. A, JOHNSON D. E. Methane Emissions from Cattle . Journal of animal science. v.73, p.2483-2492; 1995.
LIMA, M.A.; BOEIRA, R.C.; CASTRO, V.L.S.S.; LIGO, M.A.; CABRAL, O.M.R.; VIEIRA, R.F.; LUIZ, A.J.B. Estimativa das emissões de gases de efeito estufa provenientes de atividades agrícolas no Brasil. In:
LIMA, M.A.; CABRAL, O.M.R.; MIGUEZ, J.D.G. (Ed.). Mudanças climáticas globais e a agropecuária brasileira. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2001. p.169-189.
PRIMAVESI O., FRIGHETTO R.T.S, PEDREIRA M.S. Metano entérico de bovinos leiteiros em condições tropicais brasileiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.3, p.277-283. 2004.
WHEELER, D.M.; LEDGARD, S.F.; de KLEIN, C.A. Using the overseer nutrient budget model to estimate on-farm greenhouse gas emissions. Australian Journal of Experimental Agriculture, v.48, p.99-103, 2008.