INTRODUÇÃO
O crescente melhoramento genético do rebanho leiteiro vem propiciando produções de leite acima de 30 litros/vaca/dia e a alimentação desses animais requer o fornecimento de fontes protéicas menos degradáveis no rúmen. As novas normas de alimentação (NRC, 2001) sugerem para vacas em lactação, dietas com 18 a 19% de proteína bruta, sendo 35% proteína não degradável no rúmen (PNDR), o que requer emprego de alimentos protéicos que possibilitem atender estas exigências nutricionais. Alimentos como farelo de soja tratado com açúcares redutores e submetido a tratamento térmico (BIANCHINI et al., 1997) e grão de soja, submetido à tostadura, em diferentes temperaturas (FROSI & MUHLBACH, 1998; CARVALHO, 2001) tem propiciado o aumento da porção de proteína não degradável no rúmen. Testes de laboratório, como a liberação de amônia in vitro e o teste de degradabilidade ruminal in situ, permitem avaliar o efeito da proteção contra a degradação no rúmen, enquanto que a digestão in vitro com pepsina-pancreatina possibilita estimar a digestão abomasal (reversão da proteção contra a degradação) e digestibilidade intestinal dessas proteínas. Neste sentido, o presente trabalho visou testar a adequação da técnica de três estádios (CALSAMIGLIA & STERN,1995), como um método expedito para diferenciar efeitos de diferentes tratamentos térmicos e químicos do grão de soja sobre a degradação da proteína no rúmen e digestibilidade intestinal da proteína não degradada no rúmen, em comparação com o farelo de soja convencional, tomado como padrão.
MATERIAL E MÉTODOS
Os produtos avaliados, partiram de 12 amostras fornecidas pela empresa Bunge Alimentos S/A - Divisão Ceval, sendo uma amostra de farelo de soja convencional (extração por solvente), uma amostra de farelo de soja expeller e dez amostras de grão de soja submetido a diferentes tratamentos térmicos e/ou à ação de lignossulfonato de cálcio, conforme consta na Tabela 1. As avaliações de degradabilidade ïn situ e digestibilidade intestinal in vitro foram conduzidas no Laboratório de Ensino Zootécnico do Departamento de Zootecnia-Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
A PNDR foi estimada pela incubação ruminal em sacos de náilon com cerca de 5 g de material moído através de peneira de 2 mm (NOCEK,1988), durante 16 horas, em bovino fistulado no rúmen, alimentado com dieta de 60:40 volumoso:concentrado. A quantidade de material incubado de cada amostra permitiu um resíduo de incubação contendo um mínimo de 60 mg de N. Este procedimento foi repetido duas vezes (períodos 1 e 2). A simulação da digestão intestinal da PNDR foi realizada conforme CALSAMIGLIA e STERN (1995). A partir do percentual de digestão intestinal da PNDR, foram calculados a porcentagem e o teor de proteína não-degradada no rúmen digestível no intestino delgado (PNDRdig.). A adequação do método foi testada pela comparação dos valores obtidos entre os dois períodos através do teste t para médias pareadas descrito por MONTGOMERY (1984), utilizando o programa Statistix for Windows (1998).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A degradação no rúmen e a digestão intestinal da proteína não degradada no rúmen dos alimentos estudados são apresentados na Tabela 2 para os períodos 1 e 2. Não houve diferença significativa entre as médias das variáveis PDR, PNDR, DI e PNDRdig entre os períodos 1 e 2, (respectivamente, P=0,0436, P=0,0436, P=0,0045 e P=0,0118) indicando que a técnica possui boa repetibilidade, o que possibilita apenas uma única avaliação de degradabilidade ruminal e digestibilidade intestinal enzimática in vitro para detectar efeitos como os de tratamentos do presente estudo.
O farelo de soja utilizado como padrão apresentou uma digestibilidade intestinal (DI) média de 86,52%, valor similar ao encontrado por STERN et al. (1997), com a mesma técnica de três estádios in vitro. A variável nutricionalmente mais importante, a PNDR digestível no intestino delgado, apresentou praticamente o mesmo ranqueamento entre as amostras nos dois períodos. Houve coerência nos resultados, já que o grão de soja não tratado termicamente e/ou apenas prensado apresentou a maior degradação no rúmen, além de queda na digestibilidade intestinal (fatores antinutricionais), o que resultou em menos proteína não degradada no rúmen sendo digestível no intestino delgado. Por outro lado, os tratamentos T4-45min e T4-60min aumentaram a quantidade de proteína não degradada no rúmen que é digestivel no intestino, em comparação com o tratamento padrão, farelo de soja comum. O farelo de soja "expeller" apresentou valores similares ao do farelo de soja comum.
CONCLUSÕES
O método apresenta boa repetibilidade e permite um uso expedito na avaliação preliminar de fontes protéicas produzidas para uso como proteína "escape" em dietas para animais de alta produção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIANCHINI, R.F.; MÜHLBACH, P.R.F; OKADA, M. Liberação de amônia. in vitro do farelo de soja tratado com açucares redutores e submetidos a tratamento térmico. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 34., 1997, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: SBZ, 1997. p.121-123.
CALSAMIGLIA, S.; STERN, M.D. A Three-Step In Vitro Procedure For Estimating Intestinal Digestion Of Protein In Ruminants. Journal of Animal Science, Champaign, v.73, n.5, p.1459-1465, 1995.
CARVALHO, N.M.. Utilização do grão tostado de soja (Glycine max. (L) Merril) na alimentação de vacas em lactação. 2001. 158p. Tese (Doutorado em Zootecnia)- Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001
FROSI, R.A M.; MÜHLBACH, P.R.F. Tratamento térmico do grão de soja para ruminantes. 2. Efeitos na digestibilidade intestinal in situ da proteína. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu. Anais... Botucatu: SBZ, 1998b. p.251-253
MONTGOMERY, D.C. Design and Analysis of Experiments. 2 ed. 1984, p.538.
NOCEK, J.E. In Situ and Other Methods to Estimate Ruminal Protein and Energy Digestibility: a Review. Journal of Dairy Science, Champaign, v.71, n.8, p.2051-2069, 1988.
STERN, M.D.; BACH, A .; CALSAMIGLIA, S. Alternative Techniques for Measuring Nutrient Digestion in Ruminants. Journal of Animal Science, Champaign, v.75, n.8, p.2256-2276, 1997.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 7th rev. ed. Washington D.C.: National Academy , 2001. 381p.
Tabela 1 - Caracterização dos farelos e do grão de soja tratado termicamente e/ou com adição de lignosulfonato de cálcio – Bunge Alimentos S.A.
Tabela 2 - Percentagem de proteína degradada no rúmen (PDR) e proteína não-degradada no rúmen (PNDR) , digestibilidade intestinal da PNDR (DI) e PNDR digestível no intestino delgado (PNDRdig.) em % do farelo de soja