Artigo escrito tendo como base as informações: G.C. Smith, K.E. Belk, J.A. Scanga, J.N. Sofos y J.D Tatum - Colorado Estado Universidad, Fuerte Collins, Colorado, EE.UU.
Definir "Retroinformação" a princípio se torna um pouco complicado, mas podemos então entender que são procedimentos que informam de onde surgiu determinado produto e que pode esta informação ser transferida e/ou utilizada do ponto onde ela se fez necessária e se encontra até o seu ponto de partida ou origem. Ou seja, em pecuária de corte, se fosse necessário obter uma determinada informação, por particular que seja, esta informação estaria presente com todos os dados que se fizessem necessários, sem que fosse necessário acionar todo o processo produtivo. Vejamos um exemplo. Busca-se uma Retroinformação relativa ao uso de uma cobertura vacinal. Estes dados, se devidamente armazenados, estarão disponíveis em um Sistema de Rastreabilidade sem que se faça necessário abrir todo o Programa do Sistema de Rastreabilidade. Seria como um "mini menu", que armazena todas as informações da cobertura vacinal.
No entender de Smith (Smith, 1999), "pode-se entender como um agrupamento de ações, em que a Retroinformação, a Rastreabilidade e a Certificação de Origem, termos estes usados mundialmente e que se referem à possibilidade de identificar os animais em relação a sua origem e toda a sua seqüência produtiva, são imprescindíveis, e têm a finalidade de assegurar que foram cumpridas todas as exigências e etapas. Além disso, torna-se fundamental que estas informações informem com a devida fidelidade e segurança tudo sobre certo produto (carne), ou seja, como foi produzido, assim como a sua situação química e biológica".
Este processo de Retroinformação é um tanto complicado e pode gerar alguma confusão no meio produtivo, como é o que acontece nos Estados Unidos. Os pecuaristas americanos entendem ser esta metodologia como uma faca de dois gumes. A Retroinformação e a Rastreabilidade têm uma aceitação pouco reservada neste momento, pois no entender dos pecuaristas americanos ela pode servir como um fator de recompensa, mas pode também servir como um elemento de penalização.
Já no que se trata da Rastreabilidade, ela é no entender do autor americano Smith, importante porque enfoca o seguinte:
- Ela é um fator que avaliza e responsabiliza o pecuarista a quem este animal pertence: (*)
- Ela é um elemento essencial para identificar os progenitores deste animal:
- Pode identificar em termos de Qualidade, quais os animais que produzem carnes mais saborosas, palatáveis, macias, tenras, com menor índice de gordura, com melhor marmoreio e etc:
- Permite aumentar o grau de confiabilidade no alimento fornecido ao consumidor final, isto é, que este animal, por exemplo, está isento de contaminação por E.Coli 0157:H7:
- Para verificar se este animal, cuja carne está sendo adquirida, foi devidamente criado dentro do que se tem por estabelecido em termos de sanidade, alimentação, bem estar animal, meio ambiente e etc.
(*) Entende-se que esta responsabilidade é do único ou do último pecuarista, a quem este animal esteve sob responsabilidade.
Os consumidores americanos e as autoridades se utilizam de um sistema de identificação de grupos de animais - AGID - Animal Group Identification -, para na realidade, "marcar a carne", em especial a carne pertencente a grupos especializados na comercialização deste produto, ou em casos em que há as famosas e um tanto promissoras ofertas. Esta sistemática - AGID - tem a finalidade de verificar a origem, as formas de produção e os processamentos, tanto no frigorífico como nos distribuidores e comerciantes. Estes cuidados visam assegurar ao consumidor o que já foi citado acima, ou seja, o bom sabor da carne e a segurança alimentar, em especial a sanitária e química. Isto na realidade pode até soar como sendo um excesso de zelo, mas com o uso da Retroinformação e da Rastreabilidade, quando existe um caso de reclamação referente à carne, digamos, de parte de um país importador, os lotes (AGID) podem ser seguidos e identificados, mediante a Retroinformação para todos os cortes, exceção feita a carnes processadas. Devido às exigências e importância que os mercados exportadores apresentam, a indústria de vacinas dos Estados Unidos mantém uma enérgica política de controle de fabricação, distribuição, venda e até de aplicação de seus produtos, razão pela qual está em uso a IAID (individual animal identification), ou seja, identificação individual animal, que somada a AGID (Animal Group Identification), identificação animal em grupo, permite um controle quase que absoluto de todos os procedimentos até então feitos da produção, abate, comercialização e consumidor final.
Qual seja a somatória da RETROINFORMAÇÃO com RASTREABILIDADE.
Um dos melhores programas, senão o único existente e confiável no BRASIL, é operado pelo mestre DR. ANTONIO CARLOS LIRANI. Sem sombra de dúvida, se há um programa sério, este o é. Na sua plenitude. Quem bom que o BRASIL não fica nada a dever a ninguém neste segmento.
A RETROINFORMAÇÃO e a RASTREABILIADADE, quando operadas em conjunto, permitem avanços significativos em relação ao que se irá produzir futuramente. Não bastam hoje em dia só preocupar-se com a RASTREABILIDADE, a qual na realidade é um elo de todo um processo, há de se preocupar com novas exigências que se fazem sentir neste momento e no futuro também. De momento existem algumas exigências que nós brasileiros ainda não estamos acostumados a usufruir, como as são na Europa. Por exemplo, no BRASIL o abate clandestino é uma realidade, em que pese os esforços da comunidade veterinária gestionar para que se implantem condignamente os Serviços Estaduais de Inspeção. Na Europa não é aceita a carne oriunda de uma abate clandestino local. Não é aceita a carne produzida em um estabelecimento que provoque danos ao meio ambiente. Não se toleram maus tratos aos animais e nem manejo inadequado. Não se aceitam abates de animais que não se submeteram a um Sistema de Rastreabilidade Completo (*). As cadeias de supermercados estão contratando produções exclusivas, de acordo com a pesquisa feita e tabulada, junto a suas clientelas. Estes procedimentos antes citados, hoje são colocados em prática por parte da rede McDonald s Corporation, em qualquer país do mundo onde se faça presente a organização.
(*) Sistema de Rastreabilidade Completa = É a metodologia projetada, aplicada, com arquivamento de todos os dados, passível de ser auditada, para cada etapa do processo produtivo. O cliente (cadeia de supermercados) identifica propriedades, contrata a produção de acordo com a exigência de seus clientes, daí a pesquisa, credencia o Corpo de Médicos Veterinários, credencia uma Certificadora e um frigorífico.
Quando me referi ao mestre DR. ANTONIO CARLOS LIRANI, não o fiz no sentido de bajular o colega e nem é da minha personalidade fazê-lo, mas ao se analisar o hercúleo serviço que este profissional presta à pecuária nacional, pode-se comparar com o que há de melhor no mundo. Vejamos então. A RASTREABILIDADE está sendo aproveitada nos Estados Unidos como elemento melhorador do bom sabor da carne bovina. As investigações têm demonstrado que se pode assegurar uma adequada e exemplar palatabilidade destas carnes: pode-se melhorar muitíssimo estas qualidades através da seleção genética ao se refugar um animal ou até uma linhagem por má palatabilidade da carne, analisando-se seus progenitores tanto na linha superior como inferior. E isto tudo e mais um pouco está sendo feito também aqui no BRASIL. Portanto, fiquemos atentos.
A RETROINFORMAÇÃO e a RASTREABILIDADE passam a ser de agora em diante, mais um adicional para quem quer exportar. Não é só identificação animal que resolve. Vamos encerrando fazendo as seguintes indagações:
- O que necessitariam fazer os pecuaristas brasileiros, se fossem contratados para atender uma ou mais cadeias de restaurantes, cozinhas industriais, indústrias da carne, fast-food, no sentido de lhes fornecer animais para serem abatidos e utilizadas as carnes em seus estabelecimentos?
- Neste mesmo sentido, o que deveriam fazer os pecuaristas brasileiros, em relação a cadeias de supermercados?
- Qual seria a reação do pecuarista brasileiro, se o seu produto que foi submetido às exigências do SISBOV, fosse rejeitado por um importador europeu, asiático ou americano?
- Como procederia uma certificadora credenciada pelo SISBOV, se fossem encontrados resíduos proibidos, provenientes do uso de algum medicamento veterinário, contaminantes ambientais ou praguicidas, ou ainda, de elementos patógenos próprios da carne de animais por ela certificada?
Na realidade existem muito mais exigências ainda a serem levantadas e cumpridas, do que a simples aplicação de um brinco plástico numerado com o seu código de barras e sua conseqüente (?) certificação.