Dr Romão, tenho visto vários comentários seus sobre o SISBOV, todos, sem exceção, críticos. Acredito que o SISBOV ainda tem muito a crescer, muito a melhorar. Ele foi uma reação ao problema de exportação da carne, surgiu em resposta a um acontecimento e não por objetivo da classe produtora brasileira. Os produtores, por bem ou por mal precisamos cumprir regras para podermos atingir mercados VIP para nossos produtos, também acho que a melhor alternativa seria munir o IMETRO para essa incumbência mas temos que nos adequar para tal. Contamos com especialistas para melhorar o SISBOV mas precisamos dele, senão não conseguimos atingir os mercados europeus. Vejo no SISBOV muitas virtudes principalmente no campo do profissionalismo da gestão, sou convicto que sua implantação traz mais benefícios que malefícios. Vou implanta-lo, vou reforça-lo com tecnologias que melhorarão minha gestão. Acho que agregando a ele as melhores praticas de manejo - da concepção até o abate humanitário - dando mais humanidade no trato do animal, em toda a sua vida, isso qualificara minha produção. Quero ser referência, quero ser modelo de produção de carne de qualidade, respeitando o animal. Que caminho devo trilhar para tal? Acho que criticar por criticar não nos leva a lugar algum. Qual suas sugestões para que eu possa ser referência e atingir os melhores mercados do mundo?
Senhor Oswaldo José Ribeiro.
Há não mais que 4 anos, participei de um evento promovido pelo Jornal Valor Econômico, em São Paulo, o qual tratava entre vários temas sob a Rastreabilidade. Quem abriu o ciclo de palestras foi o Ministro Roberto Rodrigues. Quem encerrou o ciclo fui eu. A temática da minha palestra era Rastreabilidade. Primeiro slide projetado: A RASTREABILIDADE NO BRASIL, NÃO É CRÍVEL. Imagine o senhor o mal estar que causei aos componentes da mesa: MAPA, EMBRAPA, CNA, SNA, UNICAMP, JORNAL VALOR ECONÔMICO, CATI, FAESP. Segundo slide: PALAVRAS DO MINISTRO ROBERTO RODRIGUES – A RASTREABILIDADE NO BRASIL, NÃO É CRÍVEL. Revista.....
Então se um Ministro do porte do Dr. Roberto Rodrigues faz uma declaração destas e é publicada como manchete em uma revista especializada, o que diria eu?
De outro lado o estrago feito pelo SISBOV seria algo de uma investigação do M.P.F. para averiguar na primeira semana da publicação das normativas do SISBOV, qual foi a primeira “certificadora” a ser credenciada pelo MAPA/SISBOV? E quantas foram a seguir credenciadas a operar e quantas existem nos dias atuais? Pior ainda. Como ficaram os pecuaristas que obedeceram tais exigências?
Senhor Oswaldo José Ribeiro. Com todo o respeito que sempre tive e tenho para com os colegas do Engormix, o que se tem na realidade no Brasil é uma constante NÃO CONFORMIDADE.
A Rastreabilidade é algo tão sério que o Brasil, antes de iniciar este processo, deveria buscar nas indústrias automobilísticas, aeronáuticas, farmacêuticas, tecnologia da informação, algo a respeito do que é Rastreabilidade. Um só exemplo. De tempos em tempos, indústrias automotivas informam da necessidade de RECALL em um dos seus veículos. Como isto é possível? Fácil identificado os chassis e pronto. Mas não é só isso é muito, mas muito mais do que se pensa. É um tipo de Engenharia Reversa.
Na pecuária de corte bovina, a Rastreabilidade verdadeira não suporta sequer um dos 19 Protocolos.
Para o senhor saber estou com os 19 Protocolos prontos, inclusive aplicáveis para um projeto: ZEPC – ZONA DE EXCELÊNCIA EM PECUÁRIA DE CORTE -, que lógico não os coloco a disposição do público. Implanto-os.
A sua intenção é nobre e merecedora não só da minha humilde admiração, mas de todos os que labutam na pecuária bovina de corte.
O que nós temos hoje em dia: MONTANA, NELORE, DELTA, ANGUS, CARREFOUR, EXTRA e outras empresas que comercializam cortes de carne bovina, como RASTREADA. O que é uma tremenda farsa. Propaganda enganosa.
Uma pergunta: O senhor conhece alguma propriedade que adota a Rastreabilidade e tem como um dos seus escopos da ISO 26000?
Se a resposta for não...
Um abraço respeitoso e sempre a sua disposição.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.
Dr Romão, primeiro devo agradecê-lo por responder à minha questão. Se a resposta me agradou, aí são outros 500 cruzeiros... O que tenho percebido nessa celeuma toda é que é ruim com o SISBOV mas é pior sem ele. Apesar de estar militando na área pecuária sou oriundo da área de TI, implantei projetos de rastreabilidade em atacadista, usando RFid. No projeto minha necessidade era de armazenar os diversos produtos e depois, em tempo de expedição, identificá-lo. Armazenava em grandes volumes - pallets - e os "pickings" (as expedições) eram em pequenas quantidades. A coisa sempre funcionou! Quero levar isso para a fazenda. Aplicando um transpoder no animal, consigo rastreá-lo sempre, se esse transponder tiver um termômetro, consigo monitorar a temperatura do animal de forma que consiga melhor performance na monta ou consigo identificar possíveis doenças pela variação da temperatura. Todas os manejos são identificados, assim meu processo de gestão fica perfeito, além de respeitar todas as demandas para a rastreabilidade. Devo seguir um protocolo, acho que o SISBOV pode me atender, porém percebo que pessoal enfronhado na pecuária não vê dessa forma, estou perdido, quero e preciso melhorar a gestão da fazenda.
Continuando: Já há diversos aplicativos no mercado (o Pecuarius é um deles), que me permitem essa alavancagem na minha gestão, eles se baseiam no SISBOV. Não preciso da certificação, ela poderá ser acionada simplesmente para auditar meus processos, se assim eu vir a necessitar. A vantagem seria para explorar a exportação, explorar os "premium price", tenho que conseguir vantagens tangíveis para pagar o projeto. Fico num mato sem cachorro... Meu interesse em se tornar referência é que quando sou referência dito regras de comercialização, sou melhor remunerado. Posso "vender" esses serviços para meus parceiros. Em paralelo à criação de gado - cria, recria e engorda - temos a exploração de melhoria de plantel, nossa expectativa é tornar osda nossa região em parceiros, meus serviços seriam disponibilizados a eles, transformando-os quase em franqueados... Está difícil, não a aplicação da tecnologia mas a inserção no negócio, parece que caminhamos pra trás... Um pouco do depoimento é uma forma de extravazar essa percepção, ainda aprendo... Abraços