A audição
Os animais que são mantidos em regime de pastagens, livres e com movimentação tranqüila, são muitos sensíveis ao som de alta freqüência. Nota-se esta situação em animais mantidos em confinamentos e animais criados a campo, e esta sensibilidade é aumentada quando os animais bovinos são criados em regimes extensivos e em ambiente muito próximo ao natural.
Se formos fazer uma comparação entre a capacidade e sensibilidade de audição entre humanos e bovinos, teremos a seguinte situação:
- O ouvido humano tem uma capacidade de audição entre 1.000 e 3.000 Hz, enquanto nos bovinos, essa capacidade é de 8.000 Hz. Mas podem ouvir com facilidade até 21.000 Hz. No entanto caprinos e bovinos apresentam uma dificuldade em localizar os sons em relação aos demais mamíferos. Mas tal deficiência é recompensada pelo fato dos bovinos e caprinos apresentarem uma maior facilidade em cobrir todo o campo visual, razão pela qual não necessitam de um aprimoramento visual.
Em termos de BEM-ESTAR ANIMAL, os bovinos são muito sensíveis a ruídos extremos, que provocam um considerável estresse. Animais levados à exposições em recintos fechados são muito sensíveis a ruídos intermitentes (apitos: microfonia aguda e alta), o que lhes deixam bastante nervosos e indóceis, dificultando a sua apresentação em pistas.
Os efeitos das novidades súbitas
Os bovinos, assim como todos os ungulados, se assustam com maior freqüência ante novidades súbitas, ou seja, reagem de forma violenta a qualquer modificação no ambiente ao qual estão acostumados. Estas modificações podem ser observadas quando os animais se deparam com a mudança repentina. Por exemplo: pintura com outra cor das ripas de madeira de uma central de manejo, por menor que seja, os animais sentem estas modificações, assim como na textura do piso. Exemplos podem ser observados em relação as sombras. Os animais sentem-se incomodados com a presença súbita de sombras, que antes não existiam. Exemplo: uma construção nova que projete a sua sombra sobre o local onde os animais estão estacionados, e que antes não existia.
Outros fatores que tornam os animais mais ariscos são algumas práticas em relação aos pastos. Um pasto encharcado por necessidade de fazer uma irrigação, que antes não existia, praticamente imobiliza os animais. Assim como valas para drenar ou conduzir a água para irrigar uma pastagem bloqueiam os animais, que param e se negam a caminhar.
Voltando à central de manejo. A iluminação deve ser contínua, ou seja, a mesma graduação em toda a área onde os animais estão sendo manejados, evitando-se ao máximo a projeção de sombra. Em relação a cores. Sempre que possível evitar contrastes de cores ou várias cores, pois tal situação provoca contrastes visuais, o que deixa os animais indóceis. Exemplificando. Animais localizados próximos a rodovias não atravessam pistas asfaltadas ou concretadas, caso estas forem pintadas com faixas transversais em branco, contrastando com o preto do asfalto ou com, faixas pretas contrastando com o cinza do concreto.
(*) Aqui vamos entender: se uma porteira acidentalmente ficasse aberta, a prática de se pintar a pista com faixas brancas faria com que os animais não atravessassem a pista.
O gado leiteiro que é manejado diariamente, que faz rotineiramente o seu caminho do pasto para o estábulo, já esta acostumado com fatores existentes, como a sombra das árvores, um tronco de árvore caído, um tambor ou uma carreta estacionada e pintada com a mesma cor. Mas se neste caminhar para o estábulo, encontrar uma lona de plástico preta ou amarela, inevitavelmente irá parar a sua marcha. Por que esta atitude? É algo novo, uma situação que irá provocar medo e curiosidade, com repercussão no rendimento na hora da ordenha.
Um outro exemplo. Se os animais estão entrando na sala de ordenha, onde se tem o piso forrado com serragem ou aparas de madeira e esta prática é comum, os animais se encaminham normalmente. Qualquer alteração ou mesmo a ausência destes materiais provocam uma parada repentina na sua locomoção, a tal ponto de se negarem a prosseguir.
Outro fator que influencia o comportamento dos animais: os estampidos provocados pelos chicotes. Isto irrita em demasia os animais, assim como o ato de gritar ou espantar os animais com o chapéu. Mas por outro lado, o som emitido por um berrante de forma grave faz com que os animais tendam a se comportar de forma mais harmônica e calma em função da intensidade dos Hz.
Acidentes provocados por ruídos muito intensos tendem a provocar movimentação muito rápida e até desordenada dos animais. Por exemplo, em uma noite o fato de um raio cair próximo ao local onde os animais estão estacionados, pode provocar uma reação de pânico. Outro fator que chega à beira da total irresponsabilidade é o uso de fogos de artifício de intenso colorido ou de forte estampido, quando usados próximos a confinamentos, em especial à noite. Esta situação chega a ser fatal, certamente.
Estudos realizados em 1996, por LeDoux, informam que objetos que se movimentam rapidamente provocam mais medo nos animais. Isto se deve ao fato de que estes movimentos captados pela visão, apresentam um efeito ativador das amígdalas (localizadas na parte mediana central do cérebro), ao contrário de movimentos lentos que pouco ou quase nada interferem neste processo. A prática do uso de cães provoca duplo estresse nos animais, como latidos agudos e movimentos muito rápidos deixam os animais estressados.
As práticas de comportamento animal nos informam que toda e qualquer movimentação de animais para áreas nunca antes disponibilizadas, ou seja, áreas novas de pastoreio, em especial para terneiros desmamados, causa um forte desgaste nos animais. Uma das práticas seria a condução dos terneiros a serem desmamados com suas mães para a nova área para um período de adaptação, o que resultaria em menor estresse, para depois efetuar a desmama.
Alguns comentários finais
A Natureza dotou os animais de uma sensibilidade natural. No aprimoramento das raças, no surgimento de novas raças e dentre elas as sintéticas, este atavismo de ser um animal de presa ainda continua na sua carga genética. Razão pela qual antes de se realizar movimentações com animais, sejam elas na especialidade que forem, assim como no seu estado físico (gestantes, amamentando, no cio), deve-se ter o máximo cuidado nas operações de manejo e condução dos animais.
O fato de se utilizar cães na condução de rebanhos pode ser uma prática ideal, desde que se disponha de cães especialistas no assunto. Matrizes gestantes e ou em amamentação ficam muito estressadas ao latido e com repercussões negativas no seu sistema hormonal e produtivo. Sempre que uma matriz bovina recém parida nota a presença de um ou mais cães, ela entra em estado de defesa. E este desgaste emocional da matriz repercute na produção de leite e na digestão deste leite pela cria.
Os animais se acostumam com os seus tratadores e ou com o pessoal de campo. Assim como se acostumam com horários. Exemplos inúmeros têm-se com o gado de leite que se posta na porteira de acesso à central de ordenha, assim como com animais em regime de pastoreio rotativo, que se postam rente à porteira como que sabendo que serão transferidos para outra parcela.
O uso de música, desde que entendida como normal (rock pauleira não serve), quando usada em salas de ordenha resultam em boas produções. A mesma sistemática para confinamentos. Outro fator que influencia muito na condução de bovinos é o uso de cavalos já domados e acostumados com estas lidas. Potros recém domados podem complicar estas práticas e deixar os animais estressados.
Estas então são algumas informações que estamos colocando à disposição das pessoas interessadas em Comportamento Animal.