O assunto comportamento e bem-estar animal é um tema relativamente novo no Brasil, sendo mais difundido à partir da década de 80. Nesse momento ocorreu uma maior utilização dos animais pelo homem em vários seguimentos, como no ramo da alimentação, do vestuário, do lazer e até mesmo das pesquisas.
O comportamento pode ser um indicador de alto ou baixo grau de bem-estar em qualquer animal e para que ele possa ser alcançado devemos adotar boas práticas de criação. As boas práticas consistem em conhecer os animais, saber como responder ao seu comportamento e saber identificar os seus problemas. Nesse sentido, surgiu uma especialidade da biologia que estuda o comportamento dos animais, a Etologia.
O bem-estar animal não é mais opcional, e sim uma exigência regulatória de mercado. Segundo Broom e Fraser (1986), o bem-estar (BEA) de um indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente. Para Hanne Martine Strabursvik, especialista em saúde e produção animal, BEA é a “ciência que estuda o efeito do manejo e tratamento dado ao animal e busca efetivas soluções para evitar o sofrimento desnecessário, e também limitar perdas econômicas.” Um conceito mais voltado para a realidade quando falamos de animais de produção.
Seguindo esses pensamentos surge o que chamamos de manejo racional, no qual consiste em ser um manejo baseado nos princípios de comportamento dos bovinos, objetivando mais segurança para as pessoas e animais, maior eficiência na atividade diária na fazenda, e minimização do estresse do gado e das pessoas envolvidas no trabalho de lida, que de certa forma é o que estabelece a normativa nº 56 de 2008. Um manejo inadequado ou até mesmo agressivo poderá acarretar em sérios prejuízos na atividade pecuária, como: contusões dos animais; diminuição do ganho de peso; menor qualidade da carne; queda da performance reprodutiva; baixa resistência a doenças; acidentes com funcionários.
O manejo racional preconiza instalações conservadas e bem adequadas, como curral de confinamento, corredores e currais de manejo, contemplando algumas estruturas menores, assim, vários cursos sobre manejo racional de bovinos têm sido oferecidos com o objetivo de capacitar as equipes dentro do curral.
Para verificar se o conceito de manejo racional é bem aceito pelos pecuaristas e/ou responsáveis técnicos, bem como pelos peões, e se ainda a propriedade obteve algum aumento em algum dos seus índices de produção, alunas do curso de zootecnia da Universidade Estadual de Maringá, visitaram propriedades nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, acompanhadas do um médico veterinário Renato dos Santos para obter essas respostas. Todas as propriedades visitadas foram de alta produção, onde o sistema de criação variou entre, confinamento, semi-confinamento e à pasto e todos os responsáveis técnicos e peões realizaram o curso de Manejo Racional.
Essa pesquisa foi realizada com a aplicação de um questionário onde os entrevistados deram a sua opinião sobre as possíveis melhoras e ou mudanças após a realização do curso Manejo Racional de Bovinos. De forma geral, todos os entrevistados disseram que houve uma melhora muito positiva após a realização do curso. Muitos relataram sobre uma melhora no entrosamento entre as equipes, gerando um ambiente mais calmo e tranquilo, que de certa forma acaba por refletir de forma muito positiva no comportamento dos animais. Isso contribui para um manejo mais rápido, diminui animais estressados dentro do curral e acaba por refletir dentro da produção individual de cada animal.
Para manejar um bovino muitos peões utilizam como ferramentas ferrão, pedra, pedaço de madeira, vara, entre outros. O manejo racional visa eliminar essas ferramentas, afim de diminuir a agressão ao animal, bem como o estresse, assim muitas propriedades deixaram de utilizar essas ferramentas e acabaram por aderir o uso da bandeira como forma de defesa (caso seja necessário) e para facilitar a visualização dos animais em relação ao peão. Essa técnica passa a explorar mais os sentidos dos animais, como por exemplo chamar a atenção dos animais para uma determinada ação (abrir ou fechar a porteira) sem que seja necessário gritar ou punir o animal.
Os principais impactos observados após a utilização das técnicas sobre manejo racional foram: aumento nítido nas taxas de prenhez; animais menos reativos; diminuição na danificação das carcaças; melhor aplicação de medicamentos e/ou vacinas. A quantidade de pessoas por equipe pode ser decidida à partir do trabalho a ser realizado dentro do curral, se for um manejo de rotina as equipes podem ser menores, caso seja feito carregamento o número de pessoas na equipe pode aumentar.
Houve uma forma diferente de manejar os animais pelas equipes, as mudanças principais foram o tempo de espera e quantidade de animais a serem manejados dentro do curral, os peões passaram a ter mais paciência, sem gritar ou agredir os animais. O instrumento a ser utilizado durante o manejo passou a ser a bandeira de modo que os peões se sentem mais seguros caso algum animal seja reativo.
Ainda perguntou-se a opinião sobre a realização do manejo Sem nada nas mãos. Todos os entrevistados não concordaram com esse tipo de manejo, mencionaram que ficam sem proteção caso alguma eventualidade ocorra e que só funcionaria caso o manejador conseguisse entender o que os animais querem, e isso necessitaria de muita prática e conhecimento.
O que todo produtor deseja é ter um bom rendimento e obter lucros satisfatórios com o seu negócio. A adesão das práticas ofertadas no curso sobre manejo racional traz um retorno que poderá ser a curto ou a médio prazo, assim algumas propriedades relataram que a mudança ocorre de forma gradativa, onde a realização do curso mais de uma vez se torna relevante e bem mais aproveitável, uma vez que os peões já tiveram um primeiro contato com as mudanças.