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USO DA AVEIA COMO PLANTA FORRAGEIRA.

Publicado: 15 de outubro de 2012
Por: Armindo Neivo Kichel; Cesar H. Behling Miranda.
INTRODUÇÃO
As forrageiras mais comumente usadas na região dos Cerrados são do gêneros Brachiaria e Panicum, que por sua vez fornecem apenas entre 30% e 50% das exigências nutricionais do potencial de desempenho de animais em pastejo. Aliado a essa situação, existe também o efeito negativo da sazonalidade de produção que, no período seco (maio-setembro), é de apenas 20% do total de produção de forragem, tornando-as com baixos teores de proteína e carboidratos solúveis, bem como com altos teores de fibra. Nessa situação o desempenho animal é influenciado, principalmente, pela baixa ingestão de matéria seca, e conseqüentemente de proteína e energia. Se o objetivo é aumentar a precocidade da pecuária de corte, há necessidade de alternativas forrageiras que complementem essas deficiências. Alternativas para reverter este quadro é a utilização da aveia, tanto para o pastejo, como para silagem e fenação.
A aveia é uma forrageira de clima temperado e subtropical, anual, de hábito ereto, com desenvolvimento uniforme e bom perfilhamento. A produção de sementes varia de 600 quilos/hectare a 1.600 quilos/hectare. Apresenta excelente valor nutritivo, podendo atingir até 26% de proteína bruta no início de pastejo, com boa palatabilidade e digestibilidade (60% a 80%). É uma planta atóxica aos animais em qualquer estádio vegetativo. A produtividade varia de 10 t a 30 t de massa verde/hectare, com 2 t/ha a 6 t/ha de matéria seca. Adapta-se bem a vários tipos de solo, não tolerando baixa fertilidade, excesso de umidade e temperaturas altas. Responde muito bem à adubação, principalmente com nitrogênio e fósforo. Suporta o estresse hídrico e geadas.
Algumas cultivares são susceptíveis a doenças, principalmente a ferrugem. Quanto às pragas, tem-se verificado danos causados por lagartas e pulgões. As cultivares mais utilizadas atualmente são: aveia preta (aveia comum), UPF 16 e São Carlos. O cultivo da aveia pode ser encontrado em toda a região Sul do país, centro-sul do Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
 
1 ÉPOCA DE PLANTIO
Recomenda-se o plantio da aveia de 15 de março a 15 de abril quando o objetivo for o pastejo e até 15 de junho para produção de grãos e/ou sementes. O plantio pode ser feito por sistema convencional ou plantio direto.
1.1 Taxa de semeadura
No sistema convencional, com um bom preparo de solo, a semeadura pode ser feita em linha ou a lanço. Para o plantio em linha recomenda-se um espaçamento de 17 cm a 20 cm entre linhas, numa profundidade de 2 cm a 5 cm, com taxa de semeadura em torno de 75 quilos de semente por hectare. Para plantio a lanço aumenta-se a taxa de semeadura para 80 quilos de semente por hectare, incorporando-a com uma gradagem leve.
Para o plantio direto, o espaçamento e a profundidade da semeadeira são os mesmos do plantio em linha, aumentando-se a quantidade de sementes para 85 kg/ha a 90 kg/ha.
1.2 Adubação
Apesar de ser uma espécie adaptada a solos de média fertilidade, a aveia alcança altos índices de produtividade quando cultivada em solos férteis ou adubados.
Praticamente todo cultivo de aveia no Brasil é realizado após a colheita das culturas de verão, como arroz, feijão, milho, sorgo e, principalmente, a soja. Apesar de serem solos já corrigidos, há a necessidade da aplicação de nitrogênio (50 kg/ha a 100 kg/ha) para se aumentar a produção, especialmente para feno e silagem.
A adubação de correção e manutenção é necessária quando a aveia é cultivada em solos de média a baixa fertilidade. Assim, sugerem-se os seguintes níveis: elevar o pH para uma faixa entre 5,5 e 6,0; a saturação de bases entre 45% e 55%, com teores de alumínio próximos a 0; para o potássio, cerca de 60 ppm, e 6 a 8 ppm de fósforo; 50 a 100 kg de nitrogênio e diminuir o alumínio próximo a zero.
1.3 Controle de invasoras
As principais invasoras da aveia são as de folha larga, as quais devem ser controladas com o uso de 1 litro/ha a 1,5 litro/ha de herbicida pós-emergente à base de 2-4D, quando as mesmas apresentarem de 4 a 6 folhas.
1.4 Controle de pragas
As principais pragas que atacam a aveia são as lagartas e pulgões. Para o seu controle são utilizados inseticidas com curto período de carência, em torno de 10 a 15 dias, para não retardar o início de pastejo e não deixar resíduo do inseticida para os animais.
 
2 PRINCIPAIS USOS DA AVEIA NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL
2.1 O uso da aveia para pastejo
A aveia é de grande importância para a pecuária de corte, uma vez que está disponível aos animais entre maio e agosto, período de maior deficiência de forragem tanto em quantidade como em qualidade. Nessa época as braquiárias podem apresentar teores de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) de 5,8% e 47% respectivamente, enquanto que a aveia pode alcançar valores de 25% a 75%, respectivamente. Esta diferença qualitativa entre forragens permite alterar uma situação de pouco ganho ou perda de peso, para ganhos de até 900 gramas/animal/dia.
Para maximizar o seu uso, o pastejo deve iniciar quando a aveia atingir aproximadamente 30 cm de altura, o que deve ocorrer entre 30 e 40 dias após emergência, dependendo das condições climáticas.
O início do pastejo deverá ocorrer sempre antes do emborrachamento, estimulando assim a emissão de novos perfilhos e conseqüente aumento do período de pastejo. O sistema de pastejo pode ser contínuo ou rotacionado. No pastejo contínuo, a altura mínima de pastejo fica em torno de 15 cm a 20 cm, o que normalmente resulta num pastejo desuniforme, com menor aproveitamento da forragem.
Esse problema pode ser evitado com o pastejo rotacionado. A área é dividida em 4 a 8 piquetes com pastejo de 3 a 5 dias e período de descanso de 15 a 21 dias, podendo-se realizar entre 2 a 4 ciclos de pastejo. Os animais iniciam o pastejo com 30 cm de altura e trocam de piquete quando a mesma for rebaixada para 15 cm.
O período de utilização pode variar de 30 a 80 dias, dependendo das condições climáticas, por isso recomenda-se o plantio escalonado.
A taxa de lotação em ambos sistemas de pastejo podem variar de 0,5 a 2,0 UA/ha, com ganho médio diário de 700 g a 1.000 g de peso vivo com produtividade variando de 50 kg a 210 kg de peso vivo/ha no período. Estes resultados são mais facilmente atingidos quando utilizam-se animais na fase de recria e com alto potencial genético para ganho de peso.
Em experimento realizado na Fazenda Remanso, município de Rio Brilhante, MS, com renovação de pastagem degradada de Brachiaria decumbens por B. brizantha, com integração agricultura-pecuária, obteve-se uma produtividade média (3 anos de observação) de 180 kg de peso vivo/ha com a aveia após colheita da soja. Comparado com apenas a produção de grãos, verifica-se que o cultivo da aveia após a soja, e posterior pastejo por animais cruzados, na fase de recria, resultou em um aumento médio na receita bruta de R$ 200,00/hectare/ano, e uma receita líquida de R$ 120,00/hectare/ano. Ou seja, 35% da receita líquida do sistema. Além disso, deve-se considerar os ganhos indiretos obtidos em função da melhor alimentação, resultando em uma pecuária de ciclo mais curto.
A substituição da B. decumbens degradada que produzia 2 arrobas/hectare/ano resultou em aumento de 650% na produção de carne no primeiro ano com animais cruzados na fase de recria.
Em trabalho realizado na Agropecuária Maragogipe, município de Itaquiraí, MS, foi renovada uma pastagem degradada de B. humidicola, ou seja, substituída por Panicum maximum cv. Mombaça, por meio do cultivo de aveia. O solo foi preparado e corrigido de acordo com as exigências nutricionais da pastagem a ser implantada (capim-mombaça) nos meses de fevereiro e março de 1998. Em abril foi realizado o plantio da aveia, com pastejo de fins de maio a julho, ou seja, por um período de 70 dias, com uma taxa de lotação média de 2,5 animais cruzados de recria/ha. O ganho médio diário foi de 900 g/animal, perfazendo um total de 157 kg de peso vivo/ha ou 5,2 arrobas/ha de carcaça
Em outubro do mesmo ano foi novamente preparado o solo com apenas uma gradagem leve e implantada a pastagem da cultivar Mombaça, que produziu, de janeiro de 1998 a janeiro de 1999, aproximadamente 20 arrobas/ha. Anteriormente, a B. humidicola degradada produzia apenas 3 arrobas de carcaça/ha/ano.
O custo total da correção do solo, implantação da aveia e do capim-mombaça foi de R$ 360,00/hectare, ou aproximadamente o custo de 12 arrobas/ha. Portanto, a produtividade da aveia amortizou em 44% o custo total e ainda, devido ao seu efeito alelopático na supressão ou controle de invasoras e resistência a geadas, contribuiu para a troca da espécie de gramínea.
2.2 O uso da aveia para feno
Em regiões que apresentam clima mais seco durante o inverno pode-se confeccionar o feno da aveia, um alimento de grande utilidade no sistema produtivo pecuário, especialmente onde não se tem infra-estrutura para pastejo como cerca, água e animais.
Na confecção do feno o critério mais importante a ser observado é o ponto em que a cultura atinge o seu melhor equilíbrio entre produtividade e qualidade da forragem. Assim, a aveia deve ser cortada quando atingir a fase de emborrachamento, podendo ser obtidos de 3 t a 6 t de feno/ha com 14% a 17% de proteína bruta e digestibilidade de 58% a 60%. Devido a sua ótima qualidade, o mesmo deverá ser utilizado estrategicamente na propriedade, no final do inverno, quando ainda não se tem uma forrageira perene em boas condições de pastejo, e as anuais alcançaram seu final de ciclo. Seu uso é mais recomendado para animais com maior exigência nutricional, tais como animais de reprodução.
2.3 O uso da aveia para silagem
A silagem da aveia é pouco utilizada, devido ao seu maior uso para pastejo e baixa produtividade de massa seca/hectare. Entretanto, em áreas com muita precipitação no inverno e sem infra-estrutura para pastejo e nas quais se necessita armazenar forragem, seu feito é recomendável. Neste caso, deve-se usar uma adubação mais elevada, com vistas a se aumentar a produtividade da aveia e reposição dos nutrientes extraídos do sistema.
O corte da aveia deverá ser feito no estádio de floração, pois esta é a fase na qual a mesma apresenta um maior equilíbrio entre os teores de açúcares, matéria seca, proteína bruta e digestibilidade.
Em regiões onde o clima permitir, é recomendável a ensilagem de aveia pelo sistema de pré-murchado ou pré-secagem, quando se eleva o teor de matéria seca para 34% a 40%, além de reduzir as perdas por excesso de umidade, melhorando-se a fermentação, o tempo de conservação e a qualidade da silagem. Neste caso, pode-se cortar a aveia em um estádio mais jovem, ou seja, com maior teor de umidade e melhor valor nutritivo.
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • Comparativamente à maioria das forrageiras tropicais perenes, a aveia é uma boa alternativa para melhorar a qualidade alimentar de bovinos. Apresenta alta produtividade e rápido crescimento, durante períodos de escassez de forragens (inverno), abrindo espaço para seu uso estratégico nas fases de cria, recria e engorda, repercutindo em sistemas mais precoces da pecuária de corte. A pastagem anual de aveia pode funcionar como um suplemento protéico/energético, principalmente durante o inverno, intercalando-a com as outras pastagens de menor valor nutritivo.
  • A recuperação ou renovação de pastagens degradadas com o cultivo da aveia, pode amortizar parcial ou totalmente os custos variáveis do sistema.
  • O cultivo da aveia após as colheitas de verão (soja e milho) é de fundamental importância para o sucesso da integração agricultura x pecuária em regiões com ocorrência de geadas.
  • A aveia é uma excelente alternativa para a produção de feno de ótima qualidade, principalmente em áreas sem infra-estrutura para o pastejo.
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