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Silagem mista de amoreira com cana-de-açúcar ou capim-guaçu.

Publicado: 15 de outubro de 2012
Por: Josiane Aparecida de Lima, Eduardo Antonio da Cunha, Gabriela Aferri, Fumiko Okamoto.
Sumário

Resumo: Desenvolveu-se o estudo para avaliar algumas características nutricionais de silagens de cana-de-açúcar e de capim-guaçu enriquecidas com amoreira. Os tratamentos foram: T1=50% cana-de-açúcar + 50% amoreira; T2= 50% capim-guaçu + 50% amoreira; T3=amoreira pré-secada + com 5% de rolão de milho. Determinaram-se os teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo, nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade in vitro da matéria seca. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com oito repetições. A silagem de amoreira exclusiva apresentou valor de pH de 5,04, considerado acima da faixa preconizada. Os teores de matéria seca das silagens mistas foram de 34% (50% cana-de-açúcar + 50% amoreira) e 35 % (50% capim-guaçu + 50% amoreira) e da silagem de amoreira exclusiva foi de 43,4%. Os teores de proteína bruta foram de 11,7%, 12,9% e 17,8%, respectivamente para os tratamentos 50% cana-de-açúcar + 50% amoreira, 50% capimguaçu + 50% amoreira e amoreira pré-secada + com 5% de rolão de milho. Os menores teores de FDN e de FDA foram observados para a silagem exclusiva de amoreira, 36% e 30%, respectivamente. A amoreira apresenta características viáveis para ensilagem, seja exclusiva ou associada a gramíneas e, quando adotada essa prática, contribui para elevar a qualidade nutricional das silagens por conferir maior teor protéico e menor teor de fibras na silagem.

Palavras-chave: forragem conservada, Morus alba, valor nutritivo

Introdução
Diante dos elevados custos com suplementação protéica dos ruminantes torna-se prioritário estudar alternativas que possibilitem ao setor pecuário produzir alimentos que atendam à demanda protéica do rebanho ou reduzam a quantidade de concentrados na dieta. Sabe-se que, em geral, as gramíneas tropicais não atendem às necessidades nutricionais de animais em fase de crescimento e, por essa razão, a alimentação destes deve ser suplementada principalmente no tocante à proteína bruta. E, ainda, a suplementação do rebanho embasada na produção de fonte protéica produzida na propriedade pode ser empregada para minimizar também os efeitos sazonais sobre a disponibilidade de forragem, visando manter a produtividade zootécnica durante todo o ano. Dessa forma, torna-se imprescindível realização de pesquisas para avaliar alimentos volumosos alternativos de baixo custo e com boa qualidade nutricional. Uma estratégia pode ser a ensilagem das gramíneas associadas com planta forrageira rica em proteína e, neste contexto, a amoreira pode ser uma alternativa interessante. Esta espécie, além de muito palatável, possui elevado teor de proteína bruta e elementos minerais, além melhor digestibilidade em relação algumas leguminosas. Diante do exposto, o estudo foi realizado com o objetivo de avaliar algumas características nutricionais de silagens mistas compostas por cana-de-açúcar ou capim-guaçu associados com amoreira no momento da ensilagem.
 
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Instituto de Zootecnia/APTA/SAA, em Nova Odessa-SP. O capim-guaçu (Pennisetum purpureum Schum cv. Guaçu) foi colhido aos 60 dias de rebrota, a amoreira (Morus alba) aos 90 dias e a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) com um ano de crescimento. As forrageiras foram fragmentadas separadamente em picadeira estacionária regulada para corte com tamanho aproximado de 1 cm. Após a fragmentação foram misturadas nas devidas proporções, com base no peso verde, perfazendo os seguintes tratamentos: T1=50% de cana-de-açúcar + 50% de amoreira; T2= 50% de capim-guaçu + 50% de amoreira e T3=amoreira pré-secada por 4h e enriquecida com 5% de rolão de milho no momento da ensilagem. A respectivas forragens foram ensiladas em baldes de plástico com capacidade para 3l. Os silos experimentais foram abertos após 40 dias de fermentação sendo retiradas duas amostras de cada repetição, uma para avaliação do pH e outra submetida à pré-secagem até peso constante em estufa de circulação forçada de ar, regulada a 60°C. Após este procedimento as amostras foram moídas em moinho tipo Wiley e devidamente acondicionadas. Foram analisados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), conforme metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002). O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com oito repetições. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%.
 
Resultados e Discussão
Os dados relativos a análise bromatológica das forragens antes da ensilagem são apresentados na Tabela 1 e, na Tabela 2, são apresentadas as médias das variáveis concernentes às silagens. Com exceção da silagem de amoreira pré-secada, as demais apresentaram valores de pH dentro da faixa ideal, 3,8 a 4,2, conforme proposto por McDonald et al. (1991). O valor elevado de pH da silagem de amoreira (5,4) pode estar relacionado ao alto teor de proteína bruta, que resulta em maior poder tampão e redução da taxa açúcar:proteína, que influencia o valor de pH da silagem. E, também, este fato pode ter ocorrido em função do maior teor de MS desta silagem, em relação às demais, o que, conforme McDonald at al. (1991) leva a menor produção de ácidos orgânicos em função do aumento da pressão osmótica. Vale ressaltar que o pH isoladamente não deve ser considerado como fator indicativo da qualidade da silagem.
O teor de matéria seca das silagens (Tabela 2) reduziu em relação ao da forragem original (Tabela 1) o que pode ser explicado, em parte, pelas perdas de matéria seca que normalmente ocorrem durante o processo de fermentação. O teor médio de matéria seca da silagem de amoreira pré-secada foi superior aos das silagens mistas, cujos valores não diferiram entre si.
A silagem exclusiva de amoreira apresentou teor de proteína bruta superior às demais, as quais não diferiram entre si. Por outro lado, o elevado teor protéico das silagens mistas realça a eficácia da estratégia de associar a amoreira à gramíneas com baixo teor protéico, como é o caso da cana-de-açúcar (2,5%) e do capim-guaçu (7%). Este fato evidencia a utilização desta prática na ensilagem, pois certamente resultará em vantagens econômicas em relação à ensilagem da cana-de-açúcar ou capim-guaçu exclusivos, em razão do maior teor de proteína bruta, nutriente este de elevado custo na dieta de ruminantes.
As silagens mistas, por serem compostas por gramíneas, apresentaram teor superior de FDN, o que já era esperado em razão do elevado teor de fibras destas, em relação a amoreira (Tabela 1). Sabe-se que o consumo é inversamente relacionado ao teor de constituintes indigestíveis da parede celular da forragem, pois esse material ocupa espaço no rúmen e, conforme Zanine e Macedo (2006) reduz a taxa de passagem e o consumo. Neste contexto, Cruz et al. (2001) menciona que valores de FDN nas silagens devem ser inferiores a 50%. Sendo assim, as silagens mistas apresentaram teores de FDN ligeiramente superiores aos 50% sugeridos por Cruz et al. (2001). Por outro lado, apesar de maior teor de FDN das silagens mistas, a DIVMS não diferiu (P<0,05) entre as silagens. Possivelmente, o elevado teor protéico das mesmas tenha contribuído para melhor atividade dos microrganismos ruminais.
Houve diferença entre os teores de FDA das silagens, sendo o menor valor, a exemplo da FDN, observado para silagem exclusiva de amoreira (30%). Ressalta-se que altos teores de FDA são indesejáveis, uma vez que indicam a presença de constituintes lignocelulósicos, pouco aproveitados pelos animais, sendo negativamente correlacionados com a digestibilidade da matéria seca.
Embora tenha ocorrido diferença relativa ao teor de EE entre as silagens, os valores não são elevados. Vale lembrar que, desde que considerado no momento do balanceamento da dieta para ruminantes, o maior teor de EE é um fator positivo, pois os lipídeos constituem boa fonte de energia para os ruminantes.
O teor de NDT foi maior para silagem exclusiva de amoreira e isto pode ser devido aos maiores teores de EE e de PB desta forrageira, em relação às gramíneas. Conforme Keplin (1992) para ser considerada de boa qualidade uma silagem deve apresentar de 64 a 70% de NDT e, considerando essa suposição, a única que se enquadra dentro dessa faixa é a silagem de amoreira exclusiva (68,4% de NDT). As silagens mistas apresentaram teores um pouco abaixo do valor mínimo sugerido; no entanto, vale ressaltar que os teores de NDT foram estimados por meio de equação de predição, a qual não apresenta 100% de acurácia. De qualquer forma, os resultados observados devem ser considerados e o maior valor de NDT obtido para silagem de amoreira é indicativo de boa qualidade nutricional.
 
Conclusão
A amoreira apresenta características viáveis para ensilagem, seja exclusiva ou associada a gramíneas e, quando adotada essa prática, contribui para elevar a qualidade nutricional das silagens por conferir maior teor protéico e menor teor de fibras na silagem.
 
Referências Bibliográficas
CRUZ, J.C.; PEREIRA FILHO, I.A.; RODRIGUES, J.A.S. et al. Produção e utilização de silagem de milho e sorgo. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2001, p.11-37.
KEPLIN, L.A.S. Recomendação de sorgo e milho (silagem) safra 1992/93. Encarte Técnico da Revista Batavo. CCLPL, Ano I, n.8, p.16-19, 1992.
McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage. 2.ed. Mallow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.
SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análises de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3ª ed. Viçosa:Imprensa Universitária, UFV, 2002. 235 p.
ZANINE, A.M.; MACEDO, J.G.L. Importância do consumo da fibra para nutrição de ruminantes. Revista Eletrónica de Veterinária, v.7, n.4, p.1-12, 2006.
 
Tabela 1. Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) das forragens antes da ensilagem
Silagem mista de amoreira com cana-de-açúcar ou capim-guaçu. - Image 1
Tabela 2. Valores de pH, teores de matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HEM), extrato etéreo (EE), extrato não nitrogenado (ENN), nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS)
Silagem mista de amoreira com cana-de-açúcar ou capim-guaçu. - Image 2
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Autores:
Josiane Aparecida de Lima
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
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