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Pecuária De Corte Brasileira: Impactos Ambientais E Emissões De Gases Efeito Estufa (Gee)

Publicado: 16 de fevereiro de 2009
Por: Dr. Sergio De Zen - Dr. Luis Gustavo Barioni - Dra. Daniela Bacchi Bartholomeu Bonato - Matheus Henrique Scaglia P de Almeida - Tatiana Francischinelli Rittl
I – EQUIPE DE TRABALHO

Prof. Dr. Sergio De Zen – Professor Doutor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP; pesquisador do Cepea/Esalq-USP
Dr. Luis Gustavo Barioni – Pesquisador da Embrapa Cerrados;
Dra. Daniela Bacchi Bartholomeu Bonato – Doutora em Economia Aplicada ESALQ/USP; pesquisadora do Cepea/Esalq-USP;
Matheus Henrique Scaglia P de Almeida – Mestrando em Economia Aplicada ESALQ/USP, bolsista do CNPQ - Brasil; pesquisador do Cepea/Esalq- USP;
Tatiana Francischinelli Rittl – Graduanda em Gestão Ambiental ESALQ/USP; estagiária do Cepea/Esalq-USP.

II – PARCERIA
A realização deste trabalho foi possível com o apoio financeiro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

III – RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar os principais problemas ambientais atualmente relacionados à pecuária bovina de corte, principalmente no que tange a emissões de gases efeito estufa (GEE). Através de uma revisão de literatura buscou-se a visão de especialistas sobre o impacto que a pecuária de corte causa ao meio ambiente e as possíveis formas de mitigar essas externalidades. Também foi feita uma criteriosa análise da metodologia utilizada para o cálculo das emissões de GEE da pecuária nacional.
Os principais problemas apontados pelos pesquisadores são degradação dos sistemas ambientais, degradação do solo, emissão de gases efeito estufa e poluição dos recursos hídricos. Com exceção dessa última, a subutilização dos recursos naturais (baixa concentração animal) é a principal responsável pelas externalidades negativas da atividade. Quanto às emissões de GEE, esta atividade contribui com cerca de 16% do total, segunda maior.
Apesar de grande emissora, a pecuária mostra ter um grande potencial de seqüestro de carbono, através de pastagens bem manejadas. A emissão nacional é um pouco maior que 1Mg CO2 eq/ha, enquanto o seqüestro pode atingir 0,78 Mg CO2 eq/ha. Assim como para os outros problemas citados acima, a melhor saída é a melhora da produtividade do setor. O investimento em pastagem poderia aumentar o rendimento animal e melhorar o trato digestivo animal, reduzindo assim a quantidade de GEE emitidos por quilo de carne produzida.

IV - SUMÁRIO EXECUTIVO
Este documento apresenta um levantamento dos principais problemas ambientais creditados à pecuária bovina - dando atenção especial às emissões de gases de efeito estufa (GEE) -, bem como algumas estratégias para reduzir tais problemas.
A elevada competitividade e a importância do setor em âmbito mundial, aliadas ao tamanho do rebanho bovino, chamam a atenção da comunidade internacional, que passa a exigir práticas cada vez mais responsáveis do ponto de vista ambiental e social.
A criação de gado no Brasil acontece majoritariamente de forma extensiva, muitas vezes em áreas com pastagem degradada e, portanto, de baixa produtividade. Esse fato possibilita à atividade uma grande oportunidade de redução do impacto causado ao meio ambiente, uma vez que ações tomadas no sentido de melhorar o rendimento animal devem resultar em um menor consumo de recursos naturais (ex. terra e água) e maior eficiência do sistema digestivo animal.
O trabalho está dividido em 4 partes, além da introdução, considerações finais e referências bibliográficas. Na primeira são apresentados os principais problemas ambientais relacionados à atividade pecuária, tais como a destruição de ecossistemas naturais, degradação do solo e poluição de recursos hídricos. A segunda parte ilustra o perfil das emissões de GEE pela pecuária no Brasil e no mundo e discute a metodologia de cálculo adotada para realizar o inventário das emissões, pontuando aqueles itens que podem ser motivo de questionamento devido ao elevado grau de incerteza ou mesmo à inexistência de dados concretos. Na terceira parte são apresentadas algumas alternativas para reduzir as emissões de GEE no campo da genética, no sistema produtivo, e nas pastagens. Finalmente, a ultima parte é dedicada a uma projeção do rebanho brasileiro e as expectativas de emissões para os próximos anos.


Problemas ambientais da pecuária
O rebanho bovino do Brasil é estimado em cerca de 170 milhões de cabeças de gado ocupando pouco mais de 172 milhões de hectares. Diante desses números, a pecuária tem sido apontada como uma das atividades que mais prejudicam o meio ambiente. As externalidades negativas causadas pela bovinocultura estão correlacionadas com o principal meio de produção adotado no Brasil, o sistema extensivo. Este se caracteriza pelo baixo investimento em formação (principalmente quando a terra adquirida já contém algum tipo de pasto) e manutenção de pastagem. Este sistema pode gerar:
  • Destruição de ecossistemas ambientais: uma vez que o esgotamento ou a baixa produtividade de determinadas áreas incentiva a expandir seus domínios sobre biomas naturais, destruindo os habitats naturais de várias espécies. Juntamente com outras atividades agrícolas e madeireiras, a pecuária é apontada como um dos principais vetores de expansão da fronteira agrícola, ameaçando biomas como Cerrado e Amazônia;
  • Degradação do solo: resultante do baixo investimento na manutenção de pastagens, podendo inclusive provocar compactação e erosão do solo;
  • Poluição dos recursos hídricos: através da carga de nutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio do esterco), hormônios, metais pesados e patógenos carregados para o leito dos rios pela lixiviação do solo.
Emissões de GEE
Outra externalidade negativa gerada pela atividade pecuária é a emissão de GEE. Com o aumento da preocupação mundial com o aquecimento global, esse assunto tem tomado destaque na mídia. Devido ao grande número de animais existentes no mundo todo, estimativas mostram que o rebanho bovino emite cerca de 9% do total desses gases gerados por ação humana. Essa participação é maior que setores visto como poluidores, como é o caso do setor de transportes. No Brasil, por exemplo, – se forem excluídas as emissões de GEE geradas pelas queimadas e desmatamentos – a pecuária (considerando gado de corte e de leite) torna-se a maior fonte emissora, com mais de 260 mil Gg de CO2eq., o que equivale a mais de 42% das emissões de GEE.

Matriz de emissões de CO2 por setor de atividade e participação no total sem considerar as emissões de mudança do uso do solo (em Gg de CO2 equivalente).

Pecuária De Corte Brasileira: Impactos Ambientais E Emissões De Gases Efeito Estufa (Gee) - Image 1


A tabela a seguir mostra a emissão de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) da pecuária e da agricultura em relação ao Produto Interno Bruto - PIB do setor em 1994, indicando que a primeira emite um volume de GEE cerca de 40 vezes maior para produzir uma unidade do PIB gerado. Assim, para cada bilhão de R$ que a pecuária gerou de PIB, naquele ano, foram emitidas 243 toneladas de CH4 e 6 toneladas de N2O. Já a agricultura como um todo emitiu 5,5 toneladas de CH4 e 3,5 toneladas de N2O para cada bilhão de reais produzidos.


Relação entre emissões e unidade de PIB da pecuária e da agricultura, para o ano de 1994

Pecuária De Corte Brasileira: Impactos Ambientais E Emissões De Gases Efeito Estufa (Gee) - Image 2

Neste mesmo ano, para se produzir um litro de leite foram emitidos aproximadamente 80 kg de CH4; a produção de uma tonelada de carne resultou na emissão de 1,3 t de CH4.

Relação entre emissões e unidade de produção da pecuária de leite e de carne, para o ano de 1994

Pecuária De Corte Brasileira: Impactos Ambientais E Emissões De Gases Efeito Estufa (Gee) - Image 3

As emissões brasileiras foram estimadas pela Embrapa de acordo com a metodologia sugerida pelo IPCC e estão expressas no documento “Emissões de Metano da Pecuária – Relatórios de Referência” (Embrapa, 2006). Destaca-se o elevado grau de incerteza das estimativas decorrente da imprecisão ou mesmo da ausência de alguns dados considerados relevantes. O quadro abaixo resume os principais pontos sujeitos a questionamento.

Incertezas acerca da metodologia utilizada para o cálculo das emissões

Pecuária De Corte Brasileira: Impactos Ambientais E Emissões De Gases Efeito Estufa (Gee) - Image 4


Estratégia de mitigação dos impactos ambientais

A fermentação entérica é a responsável pela produção de gás metano no rumem do animal, eliminado através da eructação. A produção desse gás está muito ligada à qualidade da alimentação que o animal ingere, sendo que quanto melhor a digestibilidade do alimento, maior a emissão diária de metano. Assim, estudos mostram que o primeiro passo na tentativa de diminuir a participação da bovinocultura no aquecimento da temperatura global seja o aumento da produtividade, através do fornecimento de alimentos de melhor qualidade. Apesar de o aumento das emissões diárias, essa ação diminuiria o tempo de vida de um animal e, segundo pesquisadores, poderia diminuir 10% da emissão de metano por quilo e carne produzida.
Com isso, torna-se importante o incentivo à adoção de sistemas mais intensivos de produção, podendo ser citados: melhoria de pastagens e implantação do sistema rotativo; semiconfinamento e confinamento; e sistemas alternativos como a integração lavoura-pecuária e sistemas silvipastoris.


Projeções
Para se ter uma idéia da relação entre aumento da produtividade e queda na emissão de GEE, Barioni et. al. (2007) mostrou que, se a eficiência produtiva continuar aumentando às mesmas taxas dos últimos 15 anos, é provável que em 2025 a produção seja 25% maior, com os níveis de emissão de GEE apenas 3% maiores, com uma redução de 18% na relação kg CH4/ kg de carne produzida.
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