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Uso do nitrogênio dietético por vacas leiteiras mantidas em pastagens com diferentes teores de proteína no concentrado

Publicado: 14 de maio de 2012
Por: Marina De Arruda Camargo Danés; Flávio A. P. Santos; Mariana P. C. Gallo; Lucas J. Chagas; João R. R. Dórea; Fernanda L. Macedo; Gerson B. Mourão
Sumário

Resumo

O excesso de proteína bruta (PB) na dieta aumenta o custo da dieta, reduz a eficiência de uso do nitrogênio (EUN) e pode gerar poluição ambiental devido à maior excreção de N. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de níveis crescentes de PB no concentrado de vacas em lactação mantidas em pastagens manejadas intensivamente sobre a utilização do nitrogênio. Os concentrados continham milho moído fino, minerais, vitaminas e os três níveis de proteína (T1: 8,7%; T2: 13,4%; T3: 18,1% MS) foram obtidos substituindo-se parte do milho por farelo de soja. O capim elefante apresentou 18,5% de PB. Foram determinados consumo de N, excreção no leite, fezes e urina e EUN. O aumento no teor de PB do concentrado não aumentou a produção de proteína do leite. Com isso, a EUN do tratamento 3 foi menor, já que o consumo de N nesse tratamento foi maior. A excreção de N nas fezes não variou entre tratamentos. Já a excreção de N na urina foi maior nos tratamentos protéicos (2 e 3), em relação ao concentrado energético (T1). A excreção total de N acompanhou numericamente o teor de PB do concentrado, apesar da diferença não ter sido significativa. O fornecimento de suplementos protéicos no concentrado não resultou em nenhuma vantagem produtiva e aumentou a excreção de N no ambiente.

Palavras-Chave:. eficiência de uso do nitrogênio, suplementação protéica, pastagens tropicais, impacto ambiental.

Introdução
A literatura é carente a respeito da adequação protéica de dietas para vacas leiteiras mantidas em pastagens tropicais manejadas intensivamente. Da mesma forma, são escassos os trabalhos sobre degradabilidade da PB do estrato pastejável de pastagens tropicais fertilizadas com doses altas de N. O fornecimento excessivo de PB no concentrado, além de aumentar o custo da alimentação, torna os animais menos eficientes no uso do N dietético. Além dos aspectos de produção, aumentam os problemas resultantes da excreção de doses excessivas de N para o ambiente. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de níveis crescentes de PB no concentrado de vacas em lactação mantidas em pastagens manejadas intensivamente sobre a utilização do nitrogênio dietético.
Material e Métodos
Foram utilizadas 33 vacas HPB e mestiças (HPBxJersey), no terço médio da lactação, produzindo em média 20 L/dia, agrupadas em 11 blocos, de acordo com raça, dias em lactação e produção, que receberam suplemento concentrado com três níveis de PB durante 76 dias. Os concentrados continham milho moído fino, minerais, vitaminas e os 3 níveis de PB (T1: 8,7%; T2: 13,4%; T3: 18,1% MS) foram obtidos substituindo-se parte do milho por farelo de soja. O capim elefante foi adubado com 50 kg N/ha por pastejo e apresentou teor médio de PB de 18,5%. Após 50 dias de experimento todas as vacas receberam óxido de cromo durante 12 dias, 20g/dia, divididas em dois fornecimentos diários, utilizado como marcador externo para determinação de produção total de fezes. Nos últimos 5 dias de administração do cromo, as fezes foram coletadas duas vezes ao dia, secas em estufa a 55oC por 72h, moídas a 1mm e compostas de modo a formar uma amostra por animal. A urina de todas as vacas foi coletada na forma spot, no último dia da coleta de fezes, acidificada e congelada. A produção total de urina foi estimada por meio da concentração de creatinina. O teor de N nas fezes foi determinado por combustão de Dumas e na urina por Kjeldahl. O consumo de MS e, conseqüentemente de N, foi estimado de acordo com a produção total de fezes e a digestibilidade in vivo dos alimentos. A digestibilidade foi determinada com uso do marcador interno MSi, após incubação ruminal dos alimentos e das fezes de cada animal por 240 horas. O leite foi coletado semanalmente e o teor de PB foi utilizado para calcular a excreção diária de N no leite. A eficiência de uso do N (EUN) foi calculada como a relação entre N excretado no leite e N consumido.
Resultados e Discussão
O consumo, excreção no leite, nas fezes e na urina e a eficiência de uso do nitrogênio dietético (EUN) das vacas em lactação estão apresentados na tabela 1. O consumo diário de nitrogênio foi maior (P<0,05) no tratamento 3 do que nos tratamentos 1 e 2, corroborando com o maior teor de PB deste tratamento. O N secretado no leite não foi alterado pelos tratamentos, portanto a EUN foi inversamente proporcional ao consumo de N. Como era esperado, o N total excretado por dia acompanhou numericamente o teor de PB das dietas. A excreção de N nas fezes (g/dia) não foi alterada pelos tratamentos. A excreção de N nas fezes é pouco alterada com a manipulação do teor protéico da dieta. A proporção média do N consumido excretada nas fezes foi de 35,1%, valores maiores do que o valor médio de 27,6% obtido pelos trabalhos de Bargo et al. (2002), Mulligan et al (2004). A maior participação do N consumido nas fezes pode indicar pior digestibilidade intestinal da PNDR do capim. A excreção de N na urina foi maior nas vacas recebendo concentrados com farelo de soja (T2 e T3). A urina é a principal via de excreção do N em excesso do organismo do animal. Do nitrogênio consumido, apenas 3,38%, na média dos três tratamentos, foi eliminado na urina. Esse valor é muito menor do que comumente se observa na literatura, entre 32 e 45% para vacas em lactação consumindo entre 486 e 671 g N/dia. Essa discrepância de valores está muito mais provavelmente relacionada à metodologia de coleta e análise do N na urina do que a razões biológicas.
Tabela 1. Consumo (g/d), excreção (g/d) e eficiência de uso do nitrogênio (EUN) (%) para vacas recebendo concentrado com três níveis de PB
Uso do nitrogênio dietético por vacas leiteiras mantidas em pastagens com diferentes teores de proteína no concentrado - Image 1
 
Conclusões.
O fornecimento de ingredientes protéicos no concentrado de vacas em lactação mantidas em pastagens tropicais manejadas sob altas taxas de lotação e altas doses de adubação nitrogenada provoca excesso de PB na dieta sem resultar em vantagens produtivas. Além disso, reduz a eficiência de uso do nitrogênio dietético e aumenta a excreção de N para o ambiente.
Referências Bibliográficas.
BARGO, F.; MULLER, L.D.; DELAHOY, J.E.; CASSIDY, T. W. Milk Response to Concentrate Supplementation of High Producing Dairy Cows Grazing at Two Pasture Allowances. Journal of Dairy Science, Lancaster, v.85, p.1777–1792, 2002.
MARINI, J; VAN AMBURGH, M. Partition of Nitrogen Excretion in Urine and the Feces of Holstein Replacement Heifers. Journal of Dairy Science, Champaign, v.88, p.1778-1784, 2005.
MULLIGAN, F.J., DILLON, P. CALLAN, J.J., RATH, M.;O´MARA, F.P. Supplementary Concentrates Type Affects Nitrogen Excretion of Grazing Dairy Cows. Journal of Dairy Science, Savoy, v.87, p.3451-3460, 2004.
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Autores:
Marina De Arruda Camargo Danés
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