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Sistema plantio direto e a conservação dos recursos naturais

Publicado: 19 de junho de 2013
Por: Gustavo Pavan Mateus, Eng. Agr., Dr., PqC do Polo Regional Extremo Oeste, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA-, SP, e Neli Cristina Belmiro dos Santos, Eng. Agr., Dr., PqC do Polo Regional do Extremo Oeste, APTA, SP.
O sistema plantio direto (SPD) adota tecnologias de conservação e melhoria da qualidade dos recursos naturais tendo como reflexo o aumento da eficiência da utilização de insumos e da mão-de-obra. O SPD é fundamentado no não revolvimento do solo, na manutenção da cobertura permanente e na rotação de culturas.
 
Instrumento de sustentabilidade
- Redução das perdas de solo por erosão
O solo cultivado fica exposto às chuvas, recebendo grande parte de sua energia, que promove a quebra dos agregados. Assim, as partículas menores em suspensão penetram e obstruem os poros, diminuindo a permeabilidade e formando o selamento superficial, influenciando a infiltração de água no solo. O fenômeno de selamento superficial é decorrente da formação de uma camada superficial de maior densidade, pela destruição dos agregados do solo causada pelo impacto das gotas de chuva, dispersão e entupimento dos poros.
O uso apropriado de resíduos vegetais (cobertura verde ou morta sobre a superfície do solo) é uma técnica altamente eficiente no controle das perdas de água e solo, reduzindo o transporte de sedimentos das áreas agrícolas. A cobertura morta tem efeito direto na interceptação da gota da chuva, dissipando energia cinética das mesmas e reduzindo a desagregação do solo que é a fase inicial do processo erosivo. Mesmo com a ocorrência de enxurradas, a cobertura morta reduz sua velocidade e aumenta a probabilidade da água infiltrar no solo. O favorecimento do processo de infiltração e retenção de água da chuva possibilita também um melhor crescimento radicular pela maior umidade e pelo maior período em que a mesma permanece em condições de disponibilidade às plantas.
- Armazenamento de nutrientes e corretivos
As plantas de cobertura ou recuperadoras da fertilidade do solo, utilizadas em rotação de cultura, de maneira geral, são espécies agressivas e rústicas. Por possuírem, normalmente, sistema radicular profundo e ramificado, retiram de camadas subsuperficiais e de maneira mais eficiente os nutrientes que são liberados gradualmente nas camadas superficiais durante o processo de decomposição, ficando disponíveis para as culturas subsequentes.
Entre as vantagens da presença da cobertura vegetal na superfície do solo destaca-se o aumento da eficiência da ciclagem dos nutrientes, seja do fertilizante aplicado, bem como do solo. Os resíduos vegetais aumentam o nível de nutrientes disponíveis, mantém ou elevam o teor de matéria orgânica do solo.
O não revolvimento do solo e a manutenção da palha na superfície têm demonstrado aumento na camada superficial dos teores de matéria orgânica, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, maiores valores de pH, da CTC efetiva e do teor de micronutrientes, assim como diminuição do Al trocável.
- Efeito na temperatura do solo
Os resíduos vegetais na superfície protegem o solo do aquecimento excessivo e da perda de água, devido à alta refletividade da radiação solar e baixa condutividade térmica destes, proporcionando menor amplitude térmica diária.
- Supressão das plantas daninhas
Outro efeito benéfico da manutenção de palha na superfície do solo é a supressão no estabelecimento de plantas daninhas à cultura cultivada. Em regiões produtoras de grãos sob sistema de plantio direto na qual os produtores proporcionam adequada rotação de culturas e manutenção permanente de palhada na superfície do solo, a incidência de planta daninhas tem sido significativamente reduzida com reflexo no gasto com herbicidas de pré e pós-emergentes.
-Rotação e diversificação de culturas
A rotação de culturas, que é a sequência planejada de culturas, desenvolvendo-se em uma mesma área, permite a combinação de espécies com exigencias nutricionais, produção de fitomassa e sistema radicular diferenciados, visando ao melhor controle de plantas daninhas, à diminuição de doenças e pragas, e ao melhor aproveitamento de fertilizantes residuais das culturas comerciais. Assim, a rotação de culturas como prática corrente na produção agrícola tem recebido ao longo do tempo o reconhecimento, do ponto de vista técnico, como um dos meios indispensáveis ao desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável.
O sistema plantio direto tem abrigado diversas culturas, como milho, soja, sorgo, algodão e feijão. Pesquisadores do Grupo de Pesquisa SPDireto/IAC/APTA tem se dedicado ao plantio direto de oleaginosas em áreas de renovação de canavial, sendo também a cultura da cana-de-açúcar estabelecida neste sistema. Outros estudos realizados pelo grupo possibilitaram o plantio direto de milheto com as braquiárias e panicuns (Tanzânia, Mombaça, Aruana) para fins de formação de pastagem.
 
- Requisitos para o SPD
Para a implantação e condução do sistema de maneira sustentável, é indispensável a rotação de culturas de forma à proporcionar a manutenção permanente de uma quantidade mínima de massa vegetal na superfície do solo. O efeito positivo dos resíduos vegetais é aumentado conforme seu tempo de permanência. Este tempo é dependente do resíduo, grau de trituração, quantidade, composição química (principalmente a relação C/N) e grau de contato com o solo.
 
- Limitações do SPD
A maior limitação para o sucesso do plantio direto na maior parte do Brasil Central é a baixa produção de palhada no período de outono/inverno e inverno/primavera, tanto das espécies utilizadas para adubação verde e cobertura do solo, como das culturas produtoras de grãos, em razão das condições climáticas desfavoráveis, notadamente baixa disponibilidade hídrica, caracterizando essas regiões como de inverno seco. Assim, devido a rápida decomposição da palhada de plantas graníferas leguminosas como a soja e o feijão, principalmente em cultivos de verão, e a alta probabilidade de insucesso das culturas de safrinha, muitas áreas, nessas regiões, ficam ociosas durante sete meses do ano e com baixa cobertura vegetal, comprometendo a viabilidade e sustentabilidade do plantio direto.
A utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas e a adoção da rotação de culturas utilizando espécies não hospedeiras de doenças devem ser obrigatórias no SPD. Com isto, evita-se a introdução de patógenos em campos de cultivo instalados neste sistema, bem como a sua reintrodução em áreas cultivadas em SPD nas quais a doença já ocorreu, uma vez que não há restos culturais infectados servindo como fonte de inóculo.
Outro fator que limita a persistência da palha na superfície do solo é o manejo inadequado dos resíduos culturais que acaba acelerando a degradação da palhada e, consequentemente, aumentando o insucesso do sistema de plantio direto, levando alguns agricultores a abandoná-lo, pois não desfrutaram dos benefícios desse sistema de produção agrícola.
 
- Perspectivas
Uma das modalidades de integração lavoura-pecuária (ILP) que tem aumentado significativamente nos últimos anos, é o cultivo consorciado de plantas produtoras de grãos com forrageiras tropicais em SPD. O cultivo consorciado de culturas como o milho e sorgo, com plantas forrageiras, notadamente a Brachiaria brizantha e Panicum maximum, é uma ótima alternativa para produção de forragem no período de menor disponibilidade hídrica e de palha para o SPD para a safra seguinte. Nesse sistema a forrageira é manejada como cultura anual.
A inclusão de gramíneas forrageiras tropicais por intermédio da ILP, além de proporcionar a manutenção de quantidade adequada de palha na superfície do solo, durante todo o ano, altera a dinâmica e ciclagem de nutrientes, bem como os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, e, consequentemente, a nutrição e a produtividade das culturas sucedâneas.
No relatório Rally da última safra apresentado pela Fundação Agrisus (2011) constata-se que os produtores rurais citaram como motivos para adoção do SPD o aumento da produtividade (63%), a conservação do solo (88%) e a redução de custos (49%).
 
Considerações Finais
Atualmente o SPD é considerado como o maior projeto ambiental dos trópicos em termos de extensão, sendo o Brasil um país de destaque em termos de conservação e preservação ambiental pela adoção dessa técnica.
O SPD reduz em 75% as perdas de solo e 20% de água por erosão, quando comparado ao sistema convencional. O benefício ambiental é amplo, pois não havendo remoção de partículas de solo, há menor perda de fertilizantes e agroquímicos, o que se traduz em menor poluição das águas superficiais. Com a rotação de culturas e o elevado aporte de resíduos ocorre o acúmulo de grande quantidade de carbono orgânico no solo, tornando-o um importante dreno de CO2 da atmosfera, contribuindo para a mitigação do aquecimento global, conhecido como efeito estufa.
 
Referências
OLIVEIRA, F.H.T. et al. Fertilidade do solo no sistema plantio direto. In: ALVAREZ, V.H. et al. (Ed.). Tópicos em Ciência do Solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2002. Volume 2. p.393-486.
FUNDAÇÃO AGRISUS – AGRICULTURA SUSTENTÁVEL. Relatórios de projetos. Disponível em: <http://www.agrisus.org.br>. Acesso em: 26/7/2011
GOULART, A.C.P. O Sistema Plantio Direto e as doenças de plantas. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/SPDdoencas/index.htm>. Acesso em: 26/7/2011

***O trabalho foi originalmente publicado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. 
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Autores:
Gustavo Pavan Mateus
APTA
Neli Cristina Belmiro dos Santos
Universidad Autónoma de Chihuahua - Mexico
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Romão Miranda Vidal
19 de junio de 2013

Srs.
Considerando que o SPD é uma prática adotada há alguns anos, nas regiões sul e parte da sudeste, ainda fica desejar em termos da sua aplicabilidade. As questões relativas ao SPD mais comumente podem-se se classificar como as que confundem plantio direto e plantio na palha. Afora esta confusão, há se levar em conta a regulagem das máquinas, em épocas de terrenos com fator de umidade elevado. De fato é um sistema que veio para ficar, iniciado no Paraná se espalhou por boa parte do Brasil. Em relação ao plantio de culturas que possam fornecer massa significativa de palhadas, na região do cerrado, este problema é facilmente resolvido, pela adoção do plantio de culturas no Sistema ILPF. Quando não ILP. Não citam no trabalho exposto as vantagens relacionadas com o aumento da microbiologia e matéria orgânica, da micorrisas, do aumento dos rizóbios e em especial, da Fixação Biológica de Nitrogênio.
No mais o artigo é pertinente.
Atenciosamente.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.

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