O sistema plantio direto (SPD) adota tecnologias de conservação e melhoria da qualidade dos recursos naturais tendo como reflexo o aumento da eficiência da utilização de insumos e da mão-de-obra. O SPD é fundamentado no não revolvimento do solo, na manutenção da cobertura permanente e na rotação de culturas.
Instrumento de sustentabilidade
- Redução das perdas de solo por erosão
O solo cultivado fica exposto às chuvas, recebendo grande parte de sua energia, que promove a quebra dos agregados. Assim, as partículas menores em suspensão penetram e obstruem os poros, diminuindo a permeabilidade e formando o selamento superficial, influenciando a infiltração de água no solo. O fenômeno de selamento superficial é decorrente da formação de uma camada superficial de maior densidade, pela destruição dos agregados do solo causada pelo impacto das gotas de chuva, dispersão e entupimento dos poros.
O uso apropriado de resíduos vegetais (cobertura verde ou morta sobre a superfície do solo) é uma técnica altamente eficiente no controle das perdas de água e solo, reduzindo o transporte de sedimentos das áreas agrícolas. A cobertura morta tem efeito direto na interceptação da gota da chuva, dissipando energia cinética das mesmas e reduzindo a desagregação do solo que é a fase inicial do processo erosivo. Mesmo com a ocorrência de enxurradas, a cobertura morta reduz sua velocidade e aumenta a probabilidade da água infiltrar no solo. O favorecimento do processo de infiltração e retenção de água da chuva possibilita também um melhor crescimento radicular pela maior umidade e pelo maior período em que a mesma permanece em condições de disponibilidade às plantas.
- Armazenamento de nutrientes e corretivos
As plantas de cobertura ou recuperadoras da fertilidade do solo, utilizadas em rotação de cultura, de maneira geral, são espécies agressivas e rústicas. Por possuírem, normalmente, sistema radicular profundo e ramificado, retiram de camadas subsuperficiais e de maneira mais eficiente os nutrientes que são liberados gradualmente nas camadas superficiais durante o processo de decomposição, ficando disponíveis para as culturas subsequentes.
Entre as vantagens da presença da cobertura vegetal na superfície do solo destaca-se o aumento da eficiência da ciclagem dos nutrientes, seja do fertilizante aplicado, bem como do solo. Os resíduos vegetais aumentam o nível de nutrientes disponíveis, mantém ou elevam o teor de matéria orgânica do solo.
O não revolvimento do solo e a manutenção da palha na superfície têm demonstrado aumento na camada superficial dos teores de matéria orgânica, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, maiores valores de pH, da CTC efetiva e do teor de micronutrientes, assim como diminuição do Al trocável.
- Efeito na temperatura do solo
Os resíduos vegetais na superfície protegem o solo do aquecimento excessivo e da perda de água, devido à alta refletividade da radiação solar e baixa condutividade térmica destes, proporcionando menor amplitude térmica diária.
- Supressão das plantas daninhas
Outro efeito benéfico da manutenção de palha na superfície do solo é a supressão no estabelecimento de plantas daninhas à cultura cultivada. Em regiões produtoras de grãos sob sistema de plantio direto na qual os produtores proporcionam adequada rotação de culturas e manutenção permanente de palhada na superfície do solo, a incidência de planta daninhas tem sido significativamente reduzida com reflexo no gasto com herbicidas de pré e pós-emergentes.
-Rotação e diversificação de culturas
A rotação de culturas, que é a sequência planejada de culturas, desenvolvendo-se em uma mesma área, permite a combinação de espécies com exigencias nutricionais, produção de fitomassa e sistema radicular diferenciados, visando ao melhor controle de plantas daninhas, à diminuição de doenças e pragas, e ao melhor aproveitamento de fertilizantes residuais das culturas comerciais. Assim, a rotação de culturas como prática corrente na produção agrícola tem recebido ao longo do tempo o reconhecimento, do ponto de vista técnico, como um dos meios indispensáveis ao desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável.
O sistema plantio direto tem abrigado diversas culturas, como milho, soja, sorgo, algodão e feijão. Pesquisadores do Grupo de Pesquisa SPDireto/IAC/APTA tem se dedicado ao plantio direto de oleaginosas em áreas de renovação de canavial, sendo também a cultura da cana-de-açúcar estabelecida neste sistema. Outros estudos realizados pelo grupo possibilitaram o plantio direto de milheto com as braquiárias e panicuns (Tanzânia, Mombaça, Aruana) para fins de formação de pastagem.
- Requisitos para o SPD
Para a implantação e condução do sistema de maneira sustentável, é indispensável a rotação de culturas de forma à proporcionar a manutenção permanente de uma quantidade mínima de massa vegetal na superfície do solo. O efeito positivo dos resíduos vegetais é aumentado conforme seu tempo de permanência. Este tempo é dependente do resíduo, grau de trituração, quantidade, composição química (principalmente a relação C/N) e grau de contato com o solo.
- Limitações do SPD
A maior limitação para o sucesso do plantio direto na maior parte do Brasil Central é a baixa produção de palhada no período de outono/inverno e inverno/primavera, tanto das espécies utilizadas para adubação verde e cobertura do solo, como das culturas produtoras de grãos, em razão das condições climáticas desfavoráveis, notadamente baixa disponibilidade hídrica, caracterizando essas regiões como de inverno seco. Assim, devido a rápida decomposição da palhada de plantas graníferas leguminosas como a soja e o feijão, principalmente em cultivos de verão, e a alta probabilidade de insucesso das culturas de safrinha, muitas áreas, nessas regiões, ficam ociosas durante sete meses do ano e com baixa cobertura vegetal, comprometendo a viabilidade e sustentabilidade do plantio direto.
A utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas e a adoção da rotação de culturas utilizando espécies não hospedeiras de doenças devem ser obrigatórias no SPD. Com isto, evita-se a introdução de patógenos em campos de cultivo instalados neste sistema, bem como a sua reintrodução em áreas cultivadas em SPD nas quais a doença já ocorreu, uma vez que não há restos culturais infectados servindo como fonte de inóculo.
Outro fator que limita a persistência da palha na superfície do solo é o manejo inadequado dos resíduos culturais que acaba acelerando a degradação da palhada e, consequentemente, aumentando o insucesso do sistema de plantio direto, levando alguns agricultores a abandoná-lo, pois não desfrutaram dos benefícios desse sistema de produção agrícola.
- Perspectivas
Uma das modalidades de integração lavoura-pecuária (ILP) que tem aumentado significativamente nos últimos anos, é o cultivo consorciado de plantas produtoras de grãos com forrageiras tropicais em SPD. O cultivo consorciado de culturas como o milho e sorgo, com plantas forrageiras, notadamente a Brachiaria brizantha e Panicum maximum, é uma ótima alternativa para produção de forragem no período de menor disponibilidade hídrica e de palha para o SPD para a safra seguinte. Nesse sistema a forrageira é manejada como cultura anual.
A inclusão de gramíneas forrageiras tropicais por intermédio da ILP, além de proporcionar a manutenção de quantidade adequada de palha na superfície do solo, durante todo o ano, altera a dinâmica e ciclagem de nutrientes, bem como os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, e, consequentemente, a nutrição e a produtividade das culturas sucedâneas.
No relatório Rally da última safra apresentado pela Fundação Agrisus (2011) constata-se que os produtores rurais citaram como motivos para adoção do SPD o aumento da produtividade (63%), a conservação do solo (88%) e a redução de custos (49%).
Considerações Finais
Atualmente o SPD é considerado como o maior projeto ambiental dos trópicos em termos de extensão, sendo o Brasil um país de destaque em termos de conservação e preservação ambiental pela adoção dessa técnica.
O SPD reduz em 75% as perdas de solo e 20% de água por erosão, quando comparado ao sistema convencional. O benefício ambiental é amplo, pois não havendo remoção de partículas de solo, há menor perda de fertilizantes e agroquímicos, o que se traduz em menor poluição das águas superficiais. Com a rotação de culturas e o elevado aporte de resíduos ocorre o acúmulo de grande quantidade de carbono orgânico no solo, tornando-o um importante dreno de CO2 da atmosfera, contribuindo para a mitigação do aquecimento global, conhecido como efeito estufa.
Referências
OLIVEIRA, F.H.T. et al. Fertilidade do solo no sistema plantio direto. In: ALVAREZ, V.H. et al. (Ed.). Tópicos em Ciência do Solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2002. Volume 2. p.393-486.
FUNDAÇÃO AGRISUS – AGRICULTURA SUSTENTÁVEL. Relatórios de projetos. Disponível em: <http://www.agrisus.org.br>. Acesso em: 26/7/2011
GOULART, A.C.P. O Sistema Plantio Direto e as doenças de plantas. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/SPDdoencas/index.htm>. Acesso em: 26/7/2011
***O trabalho foi originalmente publicado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.