Introdução
A integração lavoura pecuária (ILP) tem surgido como uma alternativa muito eficiente de manutenção da produtividade de grãos e da produção animal (MACEDO, 2009). Esse sistema de exploração agrícola é caracterizado por integrar as duas atividades com os objetivos de maximizar racionalmente o uso da terra, da infraestrutura e da mão de obra, diversificar, verticalizar a produção e minimizar custos. Os efeitos dos animais nos sistemas de ILP dependem principalmente do manejo da intensidade do pastejo o qual influencia a produção animal, das condições de solo e da quantidade de palhada transferida à fase agrícola seguinte (CARVALHO et al., 2005). A presença do animal na pastagem pode alterar a produtividade do ecossistema para uma direção positiva ou negativa. A magnitude das alterações é responsável por afetar o desenvolvimento das culturas de grãos e estão na dependência do manejo que é aplicado nas áreas sob pastejo (AGUINAGA et al., 2009).
Dessa forma, uma das alternativas seria o cultivo de plantas de cobertura e/ou forrageiras no período do inverno, visto que muitas áreas são mantidas em pousio devido aos riscos da semeadura de culturas produtoras de grãos. A possibilidade de uso de cereais de inverno na produção de bovinos nos meses de inverno em áreas tradicionais de agricultura tem conduzido à atividade de ILP (BORTOLINI et al., 2004). Dentre as culturas que podem ser manejadas em sistema de duplo propósito, no período de inverno, podemos citar a aveia, o triticale e o trigo (ASSMANN et al., 2008).
Devido à necessidade de manutenção de grande quantidade de biomassa para assegurar o bom uso do sistema de plantio direto, a implantação da ILP sobre essas áreas pode parecer conflitante, uma vez que grande parte da biomassa da pastagem produzida no inverno, que serviria de cobertura de solo para semeadura das culturas de verão, será ingerida pelos animais (ASSMAN, et al., 2008). Porém, o sucesso do sistema de ILP depende de diversos fatores, que são dinâmicos e interagem entre si, e entre os componentes do sistema, destacam-se o solo, a planta e o animal (AGUINAGA et al., 2008). No entanto, estes sistemas devem ser economicamente eficientes, sem impacto ambiental nem incorrer em práticas que afetem sua sustentabilidade (ASSMANN et al., 2008).
O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito dos manejos sem pastejo, um pastejo e dois pastejos, na produção de massa seca e massa de mil grãos em três diferentes cereais de inverno.
Materiais e métodos
O trabalho foi desenvolvido no período de outono-inverno de 2012, na Fazenda Experimental “Professor Antônio Carlos dos Santos Pessoa” (latitude 24º 33’ 22’’ S e longitude 54º 03’ 24’’ W, com altitude aproximada de 400 m), pertencente à Universidade Estadual do Oeste Paraná - Campus Marechal Cândido Rondon, em LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico (LVef).
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso em esquema de faixas, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de três diferentes cereais de inverno (aveia IPR 126, triticale IPR 111 e trigo BRS Tarumã) nas faixas A (10 x 18 m) e os diferentes manejos nas faixas B (5 x 30 m): sem pastejo (SP), um pastejo (1P) e dois pastejos (2P). As parcelas foram formadas pela combinação das faixas A e B (5 x 10 m).
A semeadura dos cereais de inverno foi realizada no dia 24 de abril, com adubação de 16, 40 e 40 kg ha-1 de N, P e K, respectivamente. As adubações em cobertura foram realizadas com uréia, em duas etapas nas parcelas SP e 1P e três etapas nas parcelas 2P, nas quantidades 60 e 40 kg ha-1 de N, respectivamente. O primeiro pastejo foi realizado aos 60 dias após a emergência das culturas, e o segundo com intervalo de 33 dias, os animais permaneceram na área até a altura residual de 15 cm das plantas. Para o pastejo utilizou-se vacas da raça holandesa com peso médio de 663 kg.
A amostragem para a determinação da quantidade de palhada residual realizou-se após a colheita dos cereais de inverno, com auxílio de quadrado metálico com área conhecida (0,25 m²), que foi lançado aleatoriamente em cada parcela e toda a palhada da superfície do solo contida no seu interior foi coletada. Após a coleta o material foi submetido à secagem em estufa com ventilação forçada de ar sob temperatura de 55ºC por 72 horas, com posterior pesagem para a determinação da massa seca (MS). Após a pesagem foram estimadas as quantidades de palhada residual depositadas por hectare. O peso de mil grãos foi calculado por meio da pesagem dos grãos, colhidos na área útil da parcela, obtidos com trilha. A massa de 1000 grãos foi estimada a partir da contagem manual e pesagem de oito amostras de 100 grãos. A umidade das amostras foi corrigida para 13%. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística e as médias comparadas através do teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Houve diferença significativa (p<0,05) para as características agronômicas palhada residual e massa de mil grãos em função das culturas e do manejo adotado (Tabela 1).
Ocorreu maior palhada residual para aveia e triticale no tratamento SP e para o trigo nos tratamentos SP e 1P. A quantidade de palhada residual está diretamente relacionada com om número de pastejos da cultura, pois a cada pastejo ocorre a ingestão de forragem pelos animais e isso diminui a quantidade da matéria remanescente. A presença dos animais também pode acarretar a perda de perfilhos devido ao pastejo e pisoteio, e também ocorre o arranque da planta no momento do pastejo com consequente eliminação dos meristemas apicais e essas condições prejudicam a rebrota. Essas informações são similares às obtidas por FLORES et al. (2007), que trabalhando com diferentes pressões de pastejo obtiveram quantidades de palhada na superfície do solo variando entre 1.850 a 5.400 kg ha-1 de MS, da maior para a menor intensidade de pastejo, respectivamente, sendo observados 6.050kg ha-1 de MS na área sem pastejo.
Quanto à massa de mil grãos, houve diferença significativa entre os manejos e culturas, mostrando que os tratamentos sem pastejo ou um pastejo obtiveram as melhores médias, sendo que as médias referentes às massas de 1000 grãos são influenciadas pela cultura (Tabela 1). Esses resultados estão de acordo com os encontrados por BORTOLINI et al. (2004) que ao estudarem por dois anos as culturas da aveia branca (Avena sativa L.), trigo (Triticum aestivum), triticale (X. Triticosecale Witt), aveia preta (Avenastrigosa Schreb), centeio (Secale cereale L.) e cevada (Hordeum vulgare L.) visando sua condição para utilização em condições de duplo propósito com manejo sem pastejo, um pastejo e dois pastejo, concluíram que ocorre redução da massa de mil sementes quando se realizam cortes.
Tabela 1. Produção de palhada residual por hectare e massa de mil grãos de aveia IPR 126, Trigo BRS Tarumã e Triticale IPR 111 manejados sem pastejo, com um e dois pastejos no período de junho a agosto de 2012
Conclusão
A maior palhada residual e massa de mil grãos são obtidas quando não ocorre pastejo nas culturas da aveia IPR 126 e triticale IPR 111. Para o trigo de duplo propósito BRS tarumã, a maior palhada residual e massa de mil grãos são obtidas quando ocorre até um pastejo.
Literatura citada
AGUINAGA, A. A. Q.; CARVALHO, P. C. F.; ANGHINONI, I.; PILAU, A.; AGUINAGA, A. J. Q.; GIANLUPPI, G. D. F. Componentes morfológicos e produção de forragem de pastagem de aveia e azevém manejada em diferentes alturas. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 37, n. 9, p. 1523-1530, 2008.
ASSMAN, A. L.; SOARES, A. B.; ASSMANN, T. S. Integração lavoura-pecuária para a agricultura familiar. Londrina: IAPAR, 2008, 49p.
CARVALHO, P. C. F.; ANGHINONI, I.; MORAES, A.; et al. O estado da arte em integração lavoura-pecuária.. In: GOTTSCHALL C.S.; SILVA, J. L. S.; RODRIGUES, N. C. (Eds.). Produção animal: mitos, pesquisa e adoção de tecnologia. Canoas: Editora da ULBRA, p.7-44, 2005.
BORTOLINI, P. C.; SANDINI, I.; CARVALHO, P. C. F. et al. Cereais de Inverno Submetidos ao Corte no Sistema de Duplo Propósito. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.33, n.1, p.45-50, 2004.
MACEDO, M. C. M. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovação tecnológicas. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 38, p. 133-146, 2009.
FLORES, J. P. C.; ANGHINONI, I.; CASSOL, L. C.; CARVALHO, P. C. F.; LEITE, J. G. D. B.; FRAGA, T. I. Atributos físicos do solo e rendimento de soja em sistema plantio direto em integração lavoura-pecuária com diferentes pressões de pastejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo,Viçosa, v.31, n.4, p.771-780, 2007.
[1]TAFFAREL, L. E.; PIANO, J. T.; COSTA, P. F.; EGEWARTH, J. F.; SCHERER, T. L.; GODOY, G.; SONTAG, D. A.; OLIVEIRA, P. S. R. Produção de massa seca e massa de mil grãos das culturas de aveia, triticale e trigo pastejadas em sistema de integração lavoura pecuária. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ZOOTECNIA, 23., 2013, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: Associação Brasileira de Zootecnia, 2013.