Parte 3 -
Escolha das espécies forrageiras
Agora vamos entrar em uma área de altíssima tecnologia que é de custo zero! Altíssima tecnologia sim, porque são anos e mesmo décadas na identificação, coleta, avaliação e seleção de cultivares de várias espécies de alguns gêneros, e depois muita pesquisa sobre os mais diferentes aspectos destas forrageiras.
Entretanto é uma tecnologia de custo zero para o produtor pois a escolha da forrageira mais indicada a ser implantada não demanda nenhum custo monetário, mas bastante conhecimento.
A forrageira ideal deveria ter alta produção de MS, não apresentar estacionalidade produtiva, ser pouco exigente em condições físico-químicas de solo, ser resistente a pragas e doenças, tolerante à falta e ao excesso de umidade e aos extremos de temperatura, ter alto valor nutricional e mantê-lo por logo tempo, ter alta palatabilidade, não permitir o crescimento de invasoras, ser persistente ao longo do tempo, ter baixo custo de implantação, ser extremamente plástica para se adaptar aos mais diferentes manejos e deixar de ser um sonho! Sim, pois tal forrageira não existe e pelo que conhecemos hoje de biologia e fisiologia, dificilmente se tornará uma realidade.
Portanto não existe forrageira ideal, mas aquela que melhor se adapta às condições adafoclimáticas locais, topografia, capacidade de suporte desejada, nível tecnológico a ser empregado no manejo e tipo de produto animal a ser produzido sobre esta pastagem.
Não vamos aqui ficar citando forrageira por forrageira e fornecendo dados como produtividade, valor nutritivo, resistências e tolerâncias, etc pois acreditamos que a internet é rica nestes dados e os técnicos os conhecem, e mesmo porque na maioria das vezes eles não se aplicarão a cada caso, pois o manejo implementado à cada forrageira em um dado sistema interfere e muito nestes parâmetros.
Aqui trabalharemos com linhas gerais, dado as características desejáveis para uma dada situação, ficando a escolha por conta do técnico ou produtor com conhecimento para tal.
Ao contrário do que muitos produtores pensam, em uma pastagem bem manejada não é a semente produzida anualmente ( naquelas forrageiras que sementeiam ) que é responsável pela perenidade da pastagem, mas sim o perfilhamento.
Perfilhamento nada mais é que a capacidade da planta de emitir um clone seu, ou seja, é o famoso "broto" ou mudinha que nasce na touceira. Ele pode ser basal, quando vem da região próxima ao solo ou sob este e possui sistema radicular próprio. ou aéreo ou lateral quando nasce ao longo do colmo ou caule da forrageira e não possui sistema radicular próprio.
No manejo de pastagem extensivo, deve-se priorizar aquelas forrageiras que preferencialmente tenham hábito de crescimento estolonífero ou prostrado, e o por que disto?
Porque estas forrageiras mantêm seu meristema apical protegido próximo ao solo. Meristema apical é o ponto de crescimento da forrageira e ele exerce a chamada dominância apical, ou seja, enquanto ele não for eliminado há uma inibição do perfilhamento. Em muitas situações de pastejo é interessante se manter o meristema apical protegido da excisão/corte pela boca do animal, pois assim o crescimento se dará a partir do ponto onde foi feito o corte na forrageira, acelerando o processo de recuperação da pastagem no pós pastejo.
Como identificar se o meristema apical está presente ou não? Simples, corte o colmo ou caule de uma forrageira e observe se na porção que permaneceu na planta há a presença de uma estrutura semelhante a uma série de tubos ou canos uns dentro dos outros, como na estrutura de uma cebola. Se houver, o meristema apical continua lá, e o crescimento se dará a partir daquele ponto cortado. Por outro lado se for encontrada uma estrutura "maciça", como uma esponja ou um tubo oco, então o meristema apical terá sido eliminado e crescimento se fará com novos perfilhos, basais ou laterais.
E porque no manejo extensivo se deseja tal característica? Porque como não se tem controle estrito do que o animal vai pastejar, o fato da manter o seu meristema apical à salvo do corte, evita de levar esta planta á exaustão, já que normalmente nesta situação restará um resíduo de folha com capacidade fotossintética para produzir energia que propiciará novo ciclo de crescimento. Quando o meristema apical é eliminado a tendência é que não restem folhas fotossinteticamente ativas capazes de suprir energia e a forrageira deverá lançar mão de suas reservas para tal e se isso se repete em curtos períodos a planta irá a exaustão e morrerá.
No manejo extensivo áreas de morros ou mais aclivadas obrigatoriamente deveriam ser vegetadas com forrageiras de hábito de crescimento estolonífero ou prostrado por apresentarem melhor cobertura de solo e por conseqüência maior proteção a este.
Para diferentes tipos de gramíneas forrageiras serão utilizados diferentes tipos de leguminosas, de modo a favorecer a leguminosa no sistema e que a mesma não acabe sendo "abafada" ou suplantada pela gramínea.
No manejo semi-intensivo a coisa é semelhante ao manejo extensivo, entretanto deve-se usar espécies mais produtivas, podendo ser decumbentes, estoloníferas, semi-decumbentes e inclusive cespitosas, porém a recomendação para áreas aclivadas permanece.
No manejo intensivo e super-intensivo a preferência recairá em espécies mais produtivas, normalmente cespitosas ( exceção feita aos cynodons, que são estoloníferos e/ou rizomatosos ), podendo inclusive se usar espécies cespitosas em áreas aclivadas ( não muito ), onde foram empregadas técnicas de conservação de solo e água como terraceamento, curvas de nível, etc e há que se dar especial atenção ao manejo com entrada e saída dos animais no momento certo e de forma a manter sempre o solo recoberto pela liteira ( resíduos de forrageiras não pastejados, senescentes, mortos, etc, ou seja, matéria orgânica ). Aqui irá se trabalhar com eficiências de pastejo da ordem de pelo menos 60 por cento ou mais...
Vamos abrir um parêntesis aqui para falarmos de capineiras de corte para fornecimento de capim picado no cocho. Na maioria absoluta dos casos a forrageira de eleição será um pennisetum purpureum ( capim elefante ) ou um de seus híbridos interespecíficos com o pennisetum glaucum ( milheto ) devido ao seu alto potencial de produção de MS e também à sua boa qualidade nutricional além da persistência. Há alguns anos também era muito usado o tripsacum laxum ou capim guatemala, que tinha como vantagens manter o valor nutritivo por mais tempo e praticamente não apresentar colmos/caules fibrosos, entretanto possui menor capacidade de produção de MS e tem uma palatabilidade baixa, não sendo muito apetecido pelos animais.Em propriedades com maiores extensões de terra elas podem ser totalmente dispensáveis, já que na maioria das vezes são manejadas de forma incorreta resultando em um volumoso de baixa qualidade.
Em propriedades pequenas entretanto, chega a ser imprescindível ter uma capineira manejada de modo mais intensivo, já que uma série de fatores interfere na produção de MS da pastagem intensivada, e caso haja um déficite na produção, a capineira suprirá o volumoso complementar. Em uma propriedade maior os animais sempre podem ser soltos para a pastagem "comum" caso haja insuficiência de MS nos módulos intensivados, estratégia esta impossível quando não se dispõe de mais área de pasto "extra", que é o caso das pequenas propriedades. Mas para que se mantenha o binômio alta produção com alta qualidade, a capineira deverá ser manejada no verão com cortes a cada 45/50 dias ou 1,8m de altura, o que chegar primeiro e no inverno com 60/65 dias ou 1,6m de altura, novamente o que chegar primeiro.
Notem que atingidos um dos dois parâmetros, dias ou altura, aquela parcela da capineira deverá ser impreterivelmente cortada e fornecida aos animais, quer sejam os animais em pastejo nos módulos intensivos, ou a categorias menos exigentes, como novilhas, vacas secas, eqüinos, etc.
Por isso toda e qualquer capineira deverá ser dimensionada para suprir um dado montante de volumoso diário, a ser calculado caso a caso.
Lembrar que está espécie, o pennisetum purpureum ( algumas cultivares ) tem potencial de produzir com qualidade até cerca de 65.000 kg/MS/ha/ano quando manejado intensivamente com adubação e irrigação.
Uma dica: as cultivares roxas são mais palatáveis que as verdes, entretanto não produzem tanta MS quanto as cultivares verdes.
Existem algumas regras estabelecidas para determinadas cultivares ou espécies de forrageiras, do tipo: tal e qual forrageira não suporta áreas mais úmidas ou então áreas encharcadas por mais de mês, etc. Entretanto existe uma coisa chamada ecótipo, que nada mais é que uma população especializada ou diferenciada de determinada forrageira, por exemplo o pennisetum purpureum, que é bastante intolerante a encharcamentos. Entretanto, dentro de uma comunidade de plantas de capim napier cana fina ( uma cultivar de pennisetum purpureum ) implantada há vários anos onde periodicamente acontece da área ficar encharcada, por seleção natural algumas plantas mais tolerantes a este encharcamento podem sobreviver e passarão com o tempo a dominar a área.
Com isso se terá uma situação onde o pennisetum purpurem cultivar napier de cana fina, reconhecidamente intolerante ao encharcamento, tem uma população vegetando bem em uma área encharcada. Um claro caso de um ecótipo adaptado àquela situação especifica.
Cada forrageira tem suas peculiaridades que são determinadas por sua carga genética e fisiologia. Algumas tem pouca plasticidade morfogênica, que é a capacidade de por exemplo, modificarem o tamanho das folhas e a quantidade de perfilhos emitidos, de modo a se adaptarem a pastejos mais intensos. Tudo isso deverá ser levado em conta pelo técnico quando da recomendação de tal ou qual espécie ou tal ou qual cultivar dentro daquela espécie.
Uma propriedade heterogênea, com diferentes tipos de solo, diferentes categorias animais, diferentes topografias, etc, forçosamente deverá ter diferentes tipos de forrageiras, pois cada uma se adaptará melhor a uma dada situação.
Uma coisa que se deve evitar é ter 2 ou mais tipos de forrageiras em um mesmo módulo intensivo, pois bovinos por exemplo são animais metódicos e de hábitos arraigados, e irão apresentar predileção ou rejeição por esta ou por aquela forrageira quando estiverem misturadas em um mesmo módulo ou pior ainda, em um mesmo piquete ou pasto, emperrando o sistema.
Módulo nada mais é que um conjunto de pastos ou piquetes utilizados em um dado ciclo pastejo, podendo ser contínuo ou rotacionado. Por exemplo se há na propriedade uma área do lado da outra, uma empastada com brachiaria e a outra com panicum, pode-se fazer dois módulos de pastejo rotacionado, o da brachiaria com por exemplo 10 piquetes com 3 dias de ocupação cada e um ciclo de 27 dias e o de panicum com 11 piquetes com 2 dias de ocupação e ciclo de 20 dias. Os animais que usarem o módulo de brachiaria devem permanecer neste módulo, ou passar por um período de adaptação ao mudar para um módulo com forrageira diferente e a mesma coisa deve se dar com os animais do módulo de panicum.
Muitas propriedades irão optar pela cana de açúcar como recurso forrageiro estratégico para contornar a estacionalidade produtiva das pastagens e suprir volumoso aos animais. A escolha da cultivar de cana deverá recair sobre aquela mais utilizada pela usina de açúcar e álcool mais próxima na região, por conjugar boa produtividade com altos índices de sacarose ( brix ). Fugindo um pouco a esta regra há no mercado uma cultivar de cana chamada IAC86-2480, que tem características muito interessantes do ponto de vista forrageiro: não florescer e não "isoporizar", ter um brix constante no inicio, meio e fim do período seco, despalhar naturalmente, apresentar digestibilidade cerca de 20 por cento superior às demais cultivares e ter boas produções de MS. Havendo disponibilidade de mudas na região a um preço acessível, seria uma opção.
Como dica final, muitas vezes se ouve o produtor falar em trocar o capim que ele já tem implantado na propriedade para poder intensivar o uso da pastagem. Isso além de uma grande besteira é também uma imensa perda de dinheiro!
Por exemplo, uma vez um produtor me perguntou se poderia trocar sua pastagem de brachiaria decumbens por uma de panicum maximum cultivar Tanzânia, para aumentar sua lotação e produzir mais leite. Entretanto sua pastagem de "braquiarinha decumbens" estava com excelente stand, sem invasoras e sem áreas descobertas, mas com uma capacidade de suporte de apenas 1 UA/ha/ano. Ou seja, ele poderia aumentar em 3,5 vezes a lotação de sua pastagem antes de atingir o potencial máximo daquela gramínea. E dois detalhes eram muito importantes: o primeiro é que a decumbens é mais tolerante a erros de manejo inicias que podem ocorrer no processo de intensificação e segundo que ele nem teria capital necessário para aquisição do número de animais que aquela forrageira tinha capacidade de suportar, caso ele resolvesse explorar seu máximo potencial.
Existem diferenças nutritivas entre diferentes forrageiras? Existe sim, mas isto não é o mais importante, já que o potencial produtivo com qualidade é mais importante! E vejam porque : uma brachiaria humidicola cv ( cultivar ) comum pastejada com 20 dias de descanso tem valor nutritivo semelhante a um panicum maximum cv tanzânia pastejado com 33 dias de descanso, entretanto este último chega a ter uma produtividade de MS ( capacidade de suporte ) de 2 a 3 vezes maior que a da humidicola.
A escolha da forrageira correta é meio caminho andado para o sucesso do manejo intensivo de pastagem ou para qualquer sistema de pastagem.
Apenas para descontrair gostaria de fazer um comentário: a única forrageira que não recomendo a utilização é o paspalum mandiocanum ( grama pernambuco ou grama macaé ), pelo simples fato de que esta forrageira apresenta baixíssima capacidade de suporte aliada a um baixo valor nutritivo, mas para quem tem uma terra que já está degrada e é muito pobre em nutrientes, ela pode ser uma excelente opção de proteção e lenta recuperação deste solo. Tirando isso, é muito boa para campos de futebol, jardins gramados, praças, contenções de taludes, etc. Muito rústica e tolerante ao pisoteio.
Parte 4 -
Manejo, adubação e irrigação
Agora chegamos à parte mais importante do manejo intensivo de pastagens tropicais! Ao contrário do que muitos técnicos acreditam, o fator mais importante na produção e qualidade das forrageiras não é o binômio adubação/irrigação, mas sim o manejo correto!
Apenas com o manejo, é possível aumentar em 50 por cento e até dobrar a capacidade de suporte de uma pastagem, sem se adicionar um único grama de fertilizante ou uma única gota de água via irrigação. Claro que tais aumentos só são possíveis quando os erros no manejo das forrageiras são tão gritantes, que o simples fato de corrigi-los já implica em ganhos expressivos; e infelizmente, boa parte das pastagens se enquadra nesta categoria de mal manejadas.
A grosso modo poderíamos dizer que em pastagens o manejo seja responsável por 60 por cento da produção, enquanto adubação/irrigação seriam responsáveis pelos restantes 40 por cento.
Outro erro relativamente comum, é irrigar-se pastagens sem o devido aporte de nutrientes pelo menos na forma de reposição. Irrigar-se sem monitorar os nutrientes no solo e repor estes nutrientes sempre que necessário, acelera a degradação desta pastagem e também do solo.
Outro erro comum é intensificar a produção da pastagem e não ser eficiente em coletar/pastejar este aumento de produção; isto resulta em prejuízos!
Não iremos aqui mencionar doses de adubos a serem usados, pois isto é feito caso-a-caso e não existe uma receita de bolo.
Todos os macro e micro nutrientes são importantes para a produção de forrageiras, mas alguns são notoriamente reconhecidos como muito aquém do necessário para altas produções, ao menos em solos brasileiros: N -nitrogênio e P- fósforo.
Muita atenção é dada ao N, e com razão, pois ele é o nutriente que "turbina" a produção de uma pastagem ( claro que com os demais nutrientes em equilíbrio ). Os números costumam variar bastante, mas considera-se que para cada kg de N aportado a uma pastagem, há relatos de retornos de produção de MS desde valores tão baixos como 10kg até valores impressionantes da ordem de 150 kg de MS de pastagem para cada kg de N aplicado.
Em pequenas propriedades e com muito conhecimento e técnica é possível atingir a produção de 100kg de MS de pasto para cada kg de N aplicado, até um valor ao redor de 500 ou 600kg de N.
Em se tratando de adubação, usar um mix de nutrientes é sempre interessante quando se trata de adubações em cobertura. Mas há situações peculiares, como no caso do P aplicado como super fosfato simples ( uma das formas mais utilizadas deste nutriente ), que deve ser aplicado ao solo apenas quando este apresentar uma farta cobertura de liteira ( restos de folhas, colmos e outros detritos orgânicos ), pois como este elemento praticamente não tem mobilidade no perfil do solo, a presença deste material orgânico sobre o solo, permite que as raízes das forrageiras tenham acesso ao P, além dos ácidos orgânicos desta liteira propiciarem uma maior solubilidade do P do super simples.
Há um conceito errado de que solos arenosos não podem receber maiores doses de adubos; isso só é verdade para a quantidade instantânea de adubo aplicada, principalmente aqueles com muita mobilidade como N e K. O que isso quer dizer? Significa que solos arenosos, mistos e argilosos podem por exemplo receber cerca de 500kg de adubos nitrogenados por ha por ano, como volume total, porém se em solos mistos este adubo é parcelado em 5 aplicações de 100kg/ha, em solos arenosos este parcelamento terá que se dar em 10 vezes de 50kg por aplicação.
Manejos intensivos requerem análises de solos anuais para se manter a otimização do sistema em níveis elevados.
Quanto à irrigação, este é o último passo em direção à intensivação de pastagens tropicais. Não entrarei aqui na armadilha de sugerir lâminas d'água a serem aplicadas em uma pastagem, pois a necessidade irá variar muito em função da forrageira, estado fenológico desta pastagem, temperatura e umidade relativa do ar, topografia, etc, etc, etc.
Existem soluções para se determinar quando e quanto se irrigar, que vão deste o simplório método de se enfiar uma haste de aço no solo, levando em consideração a facilidade de penetração e a marca de umidade na mesma até técnicas bem mais complexas e elaboradas como mini estações metereológicas com tanques classe A, tensiômetros, etc.
Vou aqui sugerir um método que considero além de altíssima confiabilidade, extremamente simples e de baixíssimo custo, que é um sistema de cápsula cerâmica porosa enterrada, que foi desenvolvido pela EMBRAPA e que se chama IRRIGÁS.
Não irei aqui descrever em pormenores o sistema em si e seu funcionamento, pois qualquer pesquisa no Google com o termo Irrigás e Embrapa irá levar à links com completas explicações e imagens do mesmo.
Mas vou lhes dizer que recomenda-se um sistema deste para cada ha de pasto, entretanto eu fiz um similar com um custo de um quinto do sistema da Irrigás ( que já é muito barato ) e com o funcionamento exatamente igual!
Aqui no Brasil é muito comum o uso dos chamados filtros de água de barro, que nada mais são do um sistema de filtragem de água em que a mesma é colocada em um recipiente de cerâmica ( de barro ) cozida, composto de duas partes, uma superior onde vai a água a ser filtrada e uma inferior com um ou duas "velas" ( filtros cerâmicos de cápsula porosa - notaram alguma semelhança com o Irrigás? ).
Quando comprei o Irrigás para testá-lo, ele veio com um selo da Embrapa, porém ao remover o selo de papel, pude perceber a marca do fabricante do mesmo, que no caso do Irrigás que adquiri era da empresa comercial Pozzani. Liguei para o fabricante em São Paulo e fui muito bem atendido pelo engenheiro responsável pela produção do Irrigás e dos filtros cerâmicos "comuns". Além de me fornecer todas as especificações de ambos, deixou claro que eram exatamente o mesmo produto, com diferença apenas no acabamento plástico que ia fixado à cápsula cerâmica porosa para adaptação ao filtro de "barro" ou ao Irrigás. Ambos tinham a mesma especificação e eram calibrados para 25kpa de tenção.
Vale notar que esta tenção de 25kpa é válida para solos mistos. Solos mais argilosos precisam de uma tenção maior, cerca de 40 a 45kpa e solos mais arenosos demandam tenções menores, na casa de 15 a 18kpa.
Mas como fazer em casa um sistema extremamente eficaz e que já é barato, mas que pode ainda custar um quinto do preço? Simples: comprando a "vela" ou "filtro cerâmico poroso" e adaptando em seu bico uma mangueirinha de parede um pouco mais grossa para não se dobrar facilmente e na outra ponta desta mangueirinha eu usei um bebedouro de passarinho ( daqueles do tipo de tubo, que se encaixam nas grades da gaiola ) com uma bolinha de isopor dentro. Pode-se também usar tubos de plástico transparente com uma extremidade vedada ( onde será feito o furo para se adaptar a mangueirinha ) como estes tubos de PET não expandidos, que se parecem com tubos de ensaio.
Pode parecer um pouco confuso, mas quando acessarem o Google com os termos Irrigás e Embrapa, ficará tudo muito claro, pois há inclusive desenhos esquemáticos e fotos do sistema.
O mais importante deste sistema, é que com ele, só se molha o perfil de solo que se deseja. Se ele estiver enterrado a 20cm ( onde se encontram 80 por cento do volume das raízes de uma pastagem recém implantada ), só se molhará com irrigação esta exata quantidade de solo. Em pastagens com manejos mais antigos, pode ser interessante instalar um sensor ( cápsula porosa cerâmica ) a 20cm e outro a 40cm de profundidade.
Com isso se consegue uma economia de energia ( bombeamento da água ), uma economia de água, pois só se irrigará quando o solo estiver secando e só se molhará a profundidade que realmente interessa e se evitará que os adubos aplicados sejam perdidos por lixiviação e percolação profunda ( serem carreados juntamente com a água para partes mais profundas do solo, fora do alcance do sistema radicular ).
Nos sites sobre o Irrigás também encontraram um modo de "automatizar" o sistema com "compressores solares de garrafa PET", que eu usava e era muito prático. O sistema me saia tão barato, que eu usava um para cada piquete de 360 metros quadrados; um luxo!
E finalmente o manejo em si das forrageiras, a jóia da coroa!
Muitos sistemas de pastejo intermitente ( rotacionado ) se baseiam em dias fixos de descanso ou de intervalos fixos entre pastejos, o que na maioria das vezes implica em uma entrada dos animais quando a forrageira já apresenta um decréscimo em seu valor nutricional com maior participação de material senescente e talos e colmos mais lignificados na MS total.
Idealmente forrageiras devem ser manejadas para pastejo levando-se em conta a conjugação de seu máximo potencial produtivo aliado à máxima qualidade nutricional. E este ponto exato já foi comprovado por inúmeras pesquisas que se dá no chamado IAFcrítico, que é o índice de área foliar crítico, que é quando 95 por cento da luz incidente na pastagem é interceptada antes de atingir o solo sem provocar sombreamento nas folhas mais baixas ( IL-95 ). Isso parece e é muito técnico, mas tem uma correlação altíssima com um parâmetro muito fácil do produtor rural identificar e controlar, que é a altura das plantas forrageiras.
Cada forrageira tem um IAFcrítico em uma altura própria e para algumas forrageiras isto já está bem estabelecido.
Vamos a alguns números ( válidos para sistemas intensivos ):
Tanzânia - altura de entrada dos animais com 70cm e saída com 25/30cm
Mombaça - altura de entrada dos animais com 90cm e saída com 30/40cm
Massai - altura de entrada dos animais com 50/55cm e saída com 20/25cm
Brachiaria brizantha cv marandú ( braquiarão ) - altura de entrada dos animais com 30cm e saída com 15/20cm
Brachiaria xaraés/MG5 - altura de entrada dos animais com 25/30cm e saída com 15/20cm
Brachiaria decumbens ( braquiarinha ) - altura de entrada dos animais com 25cm e saída com 12/15cm
Brachiaria humidicola cv comum - altura de entrada dos animais com 20cm e saída com 8/10cm
Pennisetum purpureum ( capim elefante/napier/cameroon/etc ) - altura de entrada dos animais com 110/120cm e saída com 40cm
Cynodons ( tifton-85, coast-cross e grama estela ) - altura de entrada dos animais com 20/25cm e saída com 12cm
Estes valores são os recomendados para os períodos quentes e úmidos. Nos períodos frios e secos os valores de entrada dos animais são um pouco menores ( mais ou menos 10 por cento a menos na altura, em média ).
Normalmente se dá muita atenção à altura de saída dos animais, o que realmente é importante, pois rebaixar além da altura recomendada pode levar a um período de crescimento mais lento e com menor produção de MS, o que no final das contas significa prejuízo. E se repetida tal prática consecutivamente fatalmente irá levar a planta à exaustão e por fim à sua morte!
Mas a altura de entrada dos animais também é extremamente importante e deve ser observada com muito cuidado, pois a entrada além do ponto ideal, irá implicar em um primeiro momento até em aumento na quantidade de MS instantânea produzida, mas também a uma queda na qualidade nutricional, e o que é pior, a uma elevação na altura dos colmos e hastes e em uma maior participação destes, juntamente com folhas senescentes na MS total. Com isso haverá maior quantidade de material forrageiro rejeitado pelos animais ou pisoteado e tombado e necessidade de promover roçadas de rebaixamento, o que quer dizer aumento de mão de obra, custo e até prejuízo!
Sempre que as condições forem favoráveis à intensivação do manejo de pastagens, ela deverá ser aplicada. Normalmente a forma mais rentável de se fazê-lo é intensivando cerca de 10 a 15 por cento da área total da propriedade, semi-intensivando cerca de 30 a 40 por cento da área total e deixando o restante com o manejo normal. Este modelo "escalonado" é particularmente indicado para médias propriedades.
A intensivação do manejo de pastagens tropicais é economicamente viável e ambientalmente correta e sustentável, pois tira a pressão por expansão de mais áreas de pasto sobre os ambientes com vegetação natural. E além disso ainda libera áreas de pastagens para outras atividades agrícolas, diminuindo ainda mais os impactos ecológicos das atividades humanas em ambientes naturais!
Caso haja alguma dúvida ou questionamentos sobre o que foi escrito, teremos o maior prazer em tentar responder.