Introdução
Embora as gramíneas forrageiras tropicais possuam elevado potencial de produção de forragem, no Brasil Central cerca de 80% dessa produção ocorre no período das águas e apenas 20%, na seca.
Dessa forma, dentre as características desejáveis na escolha da espécie forrageira tropical, a boa distribuição de produção ao longo do ano foi sempre procurada por pesquisadores e por produtores, uma vez que a reduzida produção de forragem no período da seca é uma das principais causas da baixa produtividade da pecuária brasileira. No entanto, a busca por espécies forrageiras com esse objetivo não tem apresentado resultados satisfatórios, pois a estacionalidade da produção de forragem é em grande parte devida a fatores climáticos, tais como temperatura, luminosidade e disponibilidade hídrica. De acordo com Maldonado (1997), a estacionalidade de produção é também causada pela exaustão energética das plantas após o estádio reprodutivo. Essa mudança para a fase reprodutiva pode ser observada no início da seca, principalmente em cultivares de Panicum maximum, como o capimtanzânia e o capim-mombaça, cujo florescimento se concentra em abril e maio.
Algumas técnicas têm sido utilizadas para a redução do problema da estacionalidade, com variações na intensidade da aplicação, de acordo com a região e o sistema de produção animal. Dentre as tecnologias disponíveis, estão o pastejo diferido, que pode estar associado ou não à adubação nitrogenada no final do período das águas; o uso de capineiras; o uso de forragem conservada, na forma de silagem ou de feno; o cultivo de cana-de-açúcar; e a irrigação de pastagens.
Produção de forragem em pastagens irrigadas
Em razão da escassez de chuva durante o inverno do Brasil Central, pensou-se que o fator limitante ao crescimento das plantas forrageiras tropicais fosse a deficiência hídrica. Todavia, trabalhos de pesquisa pioneiros de irrigação de pastagens associada à adubação mostraram que, mesmo na ausência de déficit hídrico, a estacionalidade de produção era bastante acentuada (Ghelfi Filho, 1972), em conseqüência do menor fotoperíodo e da temperatura mais baixa no inverno.
De modo geral, nas regiões tropicais e nas regiões subtropicais, o fator temperatura parece ser o mais importante, embora a separação dos efeitos dos dois fatores, temperatura e fotoperíodo, seja dificultada pela interdependência deles. A radiação solar também é importante, pois constitui a fonte de energia a ser convertida em biomassa. Essa radiação é o fator desencadeador da fotossíntese, mas os passos bioquímicos dependem também da temperatura, que influencia, por exemplo, a atividade das enzimas e o transporte de compostos fotoassimilados.
De acordo com Corsi (1976), a baixa temperatura noturna nas regiões dos trópicos e dos subtrópicos é o principal fator causador da estacionalidade de produção das plantas forrageiras. Rolim (1980), em revisão de experimentos de cultivo de gramíneas forrageiras tropicais sob condições controladas, constatou que, embora a duração do fotoperíodo tenha influenciado positivamente a produtividade, o efeito da temperatura foi mais acentuado (Figura 1).
Observa-se na Figura 1, no comprimento de dia de 11 horas, queda mais acentuada de crescimento relativo de todas as gramíneas quando houve redução da temperatura diurna e da temperatura noturna de 26ºC e de 15ºC para 20ºC e para 6ºC, respectivamente, do que quando houve redução do comprimento do dia de 14 para 11 horas na temperatura diurna e noturna de 26ºC e de 15ºC.
As gramíneas forrageiras tropicais do tipo C4 apresentam taxa fotossintética máxima entre 30 e 35ºC e a temperaturabase inferior (temperatura abaixo da qual não há crescimento) varia entre 12 e 17ºC (Tabela 1).
Já existem modelos matemáticos para estimar a produção de forragem em função da quantidade de unidades fototérmicas do período (Villa Nova et al., 1999). A unidade fototérmica é a variável que associa fotoperíodo e temperatura. De modo geral, em regiões de menor latitude (mais próximas do Equador), com deficiência hídrica, o efeito da irrigação na redução da estacionalidade de produção de forragem será mais acentuado.
Pinheiro (2002) desenvolveu um modelo matemático com base na unidade fototérmica, por meio do qual estimou a produção do capim-tanzânia adubado e irrigado de 25 municípios brasileiros. A produção de forragem estimada variou em função principalmente da localização, com incrementos na produção à medida que ocorria redução da latitude. Assim, por exemplo, em Piracicaba, SP (L 22º 33´S), a 490 m de altitude, a produção de matéria seca (em kg/ha por ano) foi de 17.386; em Aragarças, GO (L 15º 45´S), a 345 m de altitude, de 31.915; e em Morada Nova, CE (L 5º 05´S), de 37.018.
Resultados de trabalho realizado na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP (L 22º 01´S), na altitude de 836 m, em que se avaliou o capim-tanzânia adubado irrigado, sob pastejo com vacas leiteiras, mostraram que a irrigação de pastagens não altera a estacionalidade de produção nesta região, porém promove aumento da taxa de acúmulo de forragem na primavera e no outono (Figura 2 – Silva, 2005). O controle da irrigação foi feito segundo o método EPS (Rassini, 2002). Segundo o autor, a baixa temperatura mínima prevalecente no inverno, que ficou sempre abaixo de 17ºC, limitou o crescimento do capim-tanzânia nesse período, mesmo sob irrigação.
Em outro experimento conduzido na Embrapa Pecuária Sudeste, Corrêa et al. (2006), utilizando o capim-mombaça adubado, sob pastejo rotacionado com bovinos de corte, encontraram resultados semelhantes no crescimento das plantas, no inverno e na primavera (Tabela 2). O controle da irrigação foi feito segundo o método EPS (Rassini, 2002), sendo aplicados 392 mm em trinta aplicações ao longo do ano.
Verifica-se na Tabela 2 que a irrigação promoveu incrementos na taxa de acúmulo de forragem, mas não eliminou totalmente a estacionalidade de produção de forragem. Nos períodos mais favoráveis para o crescimento das plantas, houve elevadas taxa de acúmulo de forragem nos dois tratamentos. Todavia, a partir de julho, quando a precipitação foi escassa, observa-se efeito (P < 0,05) da irrigação, mas com incrementos reduzidos na taxa de acúmulo de forragem, em função da temperatura mínima prevalecente nesse período (Tabela 2), que ficou abaixo de 17,5ºC, crítica para o crescimento de capimmombaça (Tabela 1). Observa-se efeito mais acentuado (P < 0,05) da irrigação a partir de setembro e, principalmente, de outubro, quando a precipitação ainda não é suficiente, porém, as condições de temperatura e de fotoperíodo já são mais favoráveis.