Viabilizar a tecnologia "plantio direto na palha" (SPD) e propor uma ação concreta que possa servir de ponto de partida a quem interessar na condução de uma agropecuária, com sustentabilidade foi o objetivo do projeto "Integração Agricultura Pecuária no Oeste do Estado de São Paulo: produção de grãos, recuperação de pastagem e ganho de peso animal" financiado pela Fundação Agrisus. A proposta do trabalho caracterizou-se por apresentar uma sugestão em renovação de pastagem degradada, por meio da integração agricultura pecuária.
A condução da proposta levou em consideração a estrutura de exploração dos solos para a agricultura na região: exploração em sua maioria por arrendatários para cultivo de milho (grãos) e existência de imóveis rurais com pastagens com baixo rendimento, de forma a conciliar os interesses dos agricultores e pecuaristas.
Entendemos que sua exeqüibilidade é viável na maioria dos imóveis rurais que se enquadrassem no programa de recuperação de pastagem, respeitando as devidas adaptações de cada propriedade rural e interesse comercial dos envolvidos. Portanto a validação contemplou questões técnicas e econômicas na verificação de sua viabilidade, tendo em vista os benefícios que o SPD proporciona, tanto as culturas anuais como as forrageiras.
A incorporação do calcário e o preparo inicial do solo foi realizado para sistematização da área, que se encontrava com graves problemas como: alta infestação de plantas daninhas lenhosas (amendoim-do-campo, araticum, arranha-gato, etc..), trilhos de gado e ausência de técnicas de conservação do solo, como terraços.
Esta situação representa a realidade regional, onde as pastagens não estão apenas desgastadas, em solos com baixo teor de nutrientes, mas com degradação decorrente de erosão, proporcionando diminuição do índice de lotação animal.
Nesse sentido, houve dificuldade na dessecação da braquiária brizantha nos meses de novembro, principalmente em anos com chuva de alta intensidade, isto devido o rápido crescimento da forrageira, sendo em alguns casos necessárias duas aplicações de herbicida.
Preconizou-se, também, que a dessecação em pastos bem formados e com expressiva quantidade de forragem seja antecedida de um rebaixamento de até 10 cm através de roçada e que a dessecação seja realizada 15 dias antes da semeadura. Estas ações facilitam posteriormente a semeadura.
Neste projeto, utilizou-se a Multi-Semeadora (Semeato SAM 200), a qual possui caixa adicional de sementes de forrageiras para o plantio simultâneo com a cultura produtora de grãos. Desta maneira foi possível o estabelecimento da forrageira na linha e entrelinha, com a boa fertilização na cultura do milho e as condições climáticas favoráveis ao estabelecimento da cultura. Não foi necessário aplicação de sub doses de herbicida para retardar o crescimento da forrageira, a fim de evitar a competição entre as espécies.
Produtores que não possuem as Multi-Semeadoras podem estabelecer o consórcio de várias maneiras: semeadura da forrageira simultaneamente com a cultura produtora de grãos, na mesma linha de semeadura (semente misturada ao adubo), na entrelinha (utilizar carrinhos de soja com discos de sorgo e plantar-se a forrageira), ou na entrelinha semeada no momento da adubação de cobertura, sendo que esta ultima deve ser realizada no máximo 20 dias após a semeadura da cultura granífera.
É totalmente viável a implantação da forrageira mediante distribuição das sementes a lanço, antes da semeadura da cultura produtora de grãos, sendo possível na seguintes variações: semeadura da forrageira com semeadora em espaçamento de 17 a 21 cm entre linhas e, posteriormente, semeadura da cultura do milho; semeadura da forrageira a lanço imediatamente antes da semeadura do milho.
Outra possibilidade é a distribuição a lanço das sementes da forrageira simultaneamente à semeadura do milho, com o auxílio de semeadora adaptada com compartimento extra para armazenamento das sementes da forrageira.
Nestes tipos de implantações na maioria das vezes haverá a necessidade da aplicação de herbicida para retardar o crescimento da forrageira.
Um grande entrave para a adoção do sistema de integração lavoura-pecuária em plantio direto na região Oeste do Estado de São Paulo é que a agricultura é explorada por arrendatários e esses estão a mercê de pecuaristas que os utilizam somente para a reforma de pastagens. Assim, escolhem as piores áreas da propriedade e a disponibilizam para os agricultores².
Considerações finais
Em síntese, além das forrageiras nos sistemas de produção permitir efeitos benéficos nas características físicas, químicas e biológicas do solo, quando semeadas simultaneamente à cultura do milho geram receitas adicionais para o sistema, uma vez que, após a colheita da cultura do milho, produz-se carne ou leite.
O período de pastejo na área aconteceria nos meses de abril a outubro, época este que a oferta de massa de matéria seca das pastagens é muito baixa e o preço da arroba de carne é mais elevada. No mês de outubro retiram-se os animais e após uns 15 a 20 dias realiza-se a dessecação para possibilitar a semeadura da próxima cultura de verão sobre a palhada das forrageiras.
Referência
FUNDAÇÃO AGRISUS. Integração agricultura pecuária no oeste do Estado de São Paulo: produção de grãos, recuperação de pastagem e ganho de peso animal. Disponível em: http://www.agrisus.oarg.br/projetos.asp?cod=374. Acesso em: 01 nov. 2011.
² No dia de campo realizado com o objetivo de mostrar a possibilidade do consórcio, um agricultor disse: - Você deveria trazer os pecuaristas para entenderem esse sistema, pois se apresentar uma pastagem dessa, com certeza não deixará que desseque e plante novamente nesta área, ele irá me mandar para outro local da fazenda. Respondi que temos que trabalhar para que esta forrageira seja uma moeda de pagamento da renda da terra, uma vez que o próprio pecuarista poderá explorá-la durante a entressafra, reduzindo custos com confinamento e suplementação. Mas com certeza teremos que trabalhar muito neste tema para um consenso geral.
***O trabalho foi originalmente publicado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.