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Eficiência da bovinocultura nos estados brasileiros: uma análise baseada nos dados censitários de 2006.

Publicado: 1 de novembro de 2012
Por: Oscar Tupy; Fernando Paim Costa.
Sumário

RESUMO

Com base nos dados do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, avaliou-se a eficiência da bovinocultura desenvolvida nos 27 estados brasileiros e descreveu-se alguns indicadores específicos. Bezerros/as produzidos/área de pastagem e bezerros/as produzidos/vaca foram os indicadores de eficiência tratados com o uso do Método de Envelopamento de Dados - DEA, de forma que o estado mais eficiente foi aquele que gastou a menor quantidade de fatores de produção para produzir uma unidade de produto. Quatro estados da região Norte, dois do Nordeste, três (incluso o DF) do Centro-Oeste e dois do Sudeste, somando onze, alinharam-se como os mais eficientes. A penúltima posição ficou com o Rio Grande do Sul e a última com o Piauí. A baixa lotação dos campos naturais gaúchos explicam essa menor eficiência? Essa e outras questões relacionadas a estrutura fundiária, perfil dos recursos usados, clima, tecnologia empregada e nível de gestão surgem com alvo de trabalhos complementares, de forma a melhor explicar as diferenças de eficiência encontradas. Além disso, vale tratar em separado a bovinocultura de corte e de leite, bem como verificar como a eficiência evoluiu ao longo do tempo.

PALAVRAS-CHAVE: economia, pecuária, geografia, produtividade

1. Introdução
A bovinocultura brasileira tem uma ampla dispersão territorial e uma grande heterogeneidade em suas formas de exploração. A despeito dessa heterogeneidade, interessa conhecer seu desempenho agregado para diferentes níveis geográficos, como os estados que compõem o País. Este tipo de informação constitui importante subsídio para o planejamento e a avaliação de políticas públicas e privadas voltadas para o setor.
Poucos são os trabalhos que buscam retratar a bovinocultura sintetizando o conteúdo de grandes bases de dados, como os censos agropecuários, podendo-se citar os anuários da AgraFNP como o ANUALPEC (2009). Ainda mais escassos são os estudos que analisam a eficiência dessa atividade.
Tendo em vista a recente divulgação dos resultados definitivos do Censo Agropecuário de 2006, realizou-se o presente trabalho, cujo objetivo foi analisar a eficiência da bovinocultura no âmbito dos estados brasileiros.
 
2. Material e métodos
Como indicadores de eficiência consideraram-se duas relações produto/fator: bezerros/as produzidos/ha de pastagem e bezerros/as produzidos/vaca. Nessa escolha levou-se em conta a relevância do capital imobilizado em pastagens e vacas, e as limitações impostas pelos dados disponíveis. Tais relações, calculadas para os 27 estados brasileiros a partir de dados do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2009 e IBGE, 2010), foram tratadas por meio do Método de Envelopamento de Dados - DEA (Coelli et al., 1998). Este método usa a programação matemática para criar uma fronteira de produção eficiente a partir de dados individuais. No caso, o estado mais eficiente é aquele que gasta a menor quantidade de fatores de produção para produzir uma unidade de produto. Uma aplicação do método pode ser vista em Tupy et al. (2003).
 
3. Resultados e discussão
A eficiência produtiva dos estados é apresentada, em ordem decrescente, na Tabela 1. A média de 93% indica que, no conjunto, os estados gastaram 7% a mais de fatores de produção, em relação à quantidade necessária. Onze estados alinham-se como os mais eficientes, sendo quatro da região Norte, dois do Nordeste, três (incluso o DF) do Centro- Oeste e dois do Sudeste. Dentre eles, destacam-se pela expressão de sua bovinocultura os estados do Pará, Rondônia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Mato Grosso do Sul, cuja economia é altamente dependente desta atividade, tem uma eficiência muito próxima da unidade. Chama a atenção a penúltima posição do Rio Grande do Sul, onde a bovinocultura é uma atividade tradicional. O Estado do Piauí tem o menor valor para a eficiência calculada.
Tabela 1. "Ranking" de eficiência na produção bovina dos estados brasileiros (2006).
Eficiência da bovinocultura nos estados brasileiros: uma análise baseada nos dados censitários de 2006. - Image 1
A Tabela 2 apresenta as estatísticas para o conjunto dos estados. Destacam-se os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com os máximos para a produção de bezerros/as, número de vacas e área de pastagem. Nesse caso, parece haver uma relação positiva entre dimensão absoluta e eficiência. Ao contrário do que se poderia esperar, o DF tem a menor área de pastagens, mas os menores rebanhos estão no Amapá.
Tabela 2. Descrição das variáveis empregadas no estudo.
Eficiência da bovinocultura nos estados brasileiros: uma análise baseada nos dados censitários de 2006. - Image 2
Na Tabela 3 vê-se as diferenças entre os valores observados e os valores ótimos estimados pelo DEA para cada estado, com relação às quantidades dos fatores empregados na produção. O estado ineficiente em menor grau, no caso Mato Grosso do Sul, tem um "desperdício" de pastagens insignificante (0,18%), e 3,22% de vacas em excesso. Já no Piauí os excessos são da ordem de 168% e 46%, para pastagens e vacas respectivamente.
Tabela 3. Valores observados e valores ótimos dos fatores empregados nos diversos estados.
Eficiência da bovinocultura nos estados brasileiros: uma análise baseada nos dados censitários de 2006. - Image 3
Dada a grande demanda por indicadores de desempenho da bovinocultura brasileira, calculouse ainda a relação entre número de bezerros/as e total de vacas para o Brasil como um todo. Supondo-se que esses bezerros/as ainda não sofreram a mortalidade ocorrente até a desmama, pode-se tomar essa razão como uma "proxy" da taxa de natalidade. O número encontrado para 2006 corresponde a 67%, representando uma significativa evolução do desempenho reprodutivo do rebanho, tendo em vista a taxa de 60% divulgada por Zimmer et al. (1998) há aproximadamente 10 anos.
 
4. Conclusões
A natureza exploratória (e preliminar) do presente estudo levanta uma série de questões a serem abordadas em trabalhos complementares. Que fatores melhor explicam as diferenças de eficiência entre os estados e alguns resultados particulares como a baixa eficiência do Rio Grande do Sul? Neste caso, seria devido à baixa lotação dos seus campos naturais?
Pode-se ainda perguntar: Que papel tem a estrutura fundiária, o perfil dos recursos usados, o clima, a tecnologia empregada e o nível de gestão ocorrentes em cada estado? Que quadro de eficiência se obteria analisando a pecuária de corte e a pecuária de leite em separado? Como a eficiência da bovinocultura tem evoluído ao longo dos anos censitários?
Entender melhor os resultados do presente trabalho, oferecendo subsídios para uma melhor interpretação do conceito de eficiência em sua aplicação na bovinocultura, é o desafio que se coloca aos estudiosos desta atividade.
 
5. Referências bibliográficas
ANUALPEC 2009. São Paulo: AgraFNP, 2009. 360 p.
COELLI,T.; RAO, D.S.P.; BATTESE,G.E. An Introduction to Efficiency and Productivity Analysis. Boston: Kluwer Academic Publishers, 1998. p.133-160.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006. Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 777 p.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA. Disponível em: < http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=925&z=p&o=2&i=P> . Acesso em: 01 abr. 2010.
TUPY, O.; VIEIRA, M. C.; ESTEVES, S. N.. Eficiência produtiva de laticínios do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.33, n. 7, p. 37-46, 2003.
ZIMMER, A. H.; EUCLIDES, V. P. B.; EUCLIDES FILHO, K.; MACEDO, M. C. M. Considerações sobre índices de produtividade da pecuária de corte em Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS : EMBRAPA-CNPGC, 1998. 53 p. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 70).
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