Introdução
As técnicas de manejo de pastagens tem permitido ao animal consumir forragem de alto valor nutritivo. Por outro lado, a proteína suplementar é o nutriente de mais alto custo na dieta e, quando fornecida em excesso, torna os animais menos eficientes no uso do N dietético. Os dados disponíveis de composição de plantas tropicais são resultado de amostras de plantas sem adubação, em estágio fisiológico avançado e colhidas ao nível do solo, material muito diferente do que é efetivamente consumido pelo animal. Dessa forma, a criação de um banco de dados com a caracterização do capim manejado intensivamente é necessária para que seja possível predizer com maior precisão o desempenho animal. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi estudar a cinética de degradação ruminal da MS, PB e FDN de capim elefante manejado intensivamente em vacas consumindo concentrados com diferentes níveis e fontes de nitrogênio.
Material e Métodos
Foram utilizadas 4 vacas secas holandesas, distribuídas em quadrado latino 4x4 , mantidas em pastagens de capim elefant (Pennisetum purpureum, cv Cameron) e submetidas a quatro concentrados experimentais com as seguintes composições: 1) milho e minerais (8,7%PB); 2) milho, farelo de soja e minerais (13,4%PB); 3) milho, farelo de soja e minerais (18,1%PB); e 4) milho, uréia e mineral (13,4%PB). O experimento durou 48 dias, subdivididos em 4 períodos de 12 dias, sendo 7 foram para adaptação e 5 para incubação do capim. A amostra de capim foi composta por amostras semanais de pastejo simulado colhidas durante o verão de 2008/09, em área manejada sob pastejo rotacionado manejado por altura (1m) e adubação de 50 kg N/ha por ciclo. As amostras foram moídas a 5mm, acondicionadas em sacos de nylon e incubadas no rúmen por 0, 3, 6, 12, 24, 48, 72, 96 e 120 horas. Após a retirada do rúmen, os sacos foram secos em estufa a 55ºC por 72 horas, pesados, moídos a 1mm e analisados para MS, PB e FDN (com sulfito e amilase). O desaparecimento da MS, PB e FDN foi ajustado com o PROC NLIN do pacote estatístico SAS para determinação das frações A, B e C, taxa de degradação da fração B (kd) e fase de latência discreta ("lag time"). A degradabilidade potencial foi calculada como a soma das frações A e B. A degradabilidade efetiva (DE), foi calculada como DE = a + (b.c) / (c + kp), levando-se em conta taxas de passagem (kp) de 2, 5 e 8% h-1.
Resultados e Discussão
A cinética de degradação ruminal da MS, PB e FDN não foi afetada pelo teor de PB do concentrado, portanto, os valores médios dos parâmetros estão apresentados na tabela 1. Dessa forma, a importância deste ensaio é muito maior na caracterização mais precisa da planta forrageira tropical manejada intensivamente, de modo que esses dados possam ser utilizados para abastecer as bibliotecas dos programas de avaliação de dietas e, com isso, melhorar suas predições de desempenho. A degradabilidade potencial (DP) da MS, de 83,5%, representa todo material que poderia ser degradado no rúmen. No entanto, dificilmente o alimento fica no rúmen por tempo suficiente e, portanto, sua degradabilidade efetiva será sempre menor. Martinez (2008) obteve taxa de passagem (kp) de 3,66% h-1 para o mesmo capim manejado de forma muito semelhante a do presente estudo. Aplicando-se este valor ao kp da fórmula da DE, obtém-se o valor médio de 58,5% de desaparecimento ruminal da MS. Os dados de degradação de FDN não apresentam fração A, uma vez que o FDN não possui fração solúvel e, por isso, o modelo utilizado para o ajuste dos parâmetros não contemplou essa fração. Os resultados das frações, kd, DP e DE, obtidos neste estudo corroboram com os encontrados por Martinez (2008) e Romero (2008), que também incubaram amostras de capim elefante cv Cameron manejado sob lotação rotacionada com altas doses de adubação. O período de latência discreta (lag time) consiste no tempo em que os microrganismos ruminais colonizam o alimento e penetram suas barreiras físicas, antes de efetivamente começarem a degradá-lo. O lag time da MS apresentou valor médio muito inferior ao obtidos pelos experimentos de Martinez (2008), de 15,8 horas, e de Romero (2008), de 12,5 horas. Como a composição bromatológica do material incubado nos 3 trabalhos foi muito semelhante, assim como os demais parâmetros de cinética ruminal, a diferença entre os valores de lag time decorre, provavelmente, de diferentes metodologias de cálculos.
Tabela 1. Cinética de degradação ruminal de MS, FDN e PB de amostras de pastejo simulado de capim elefante
kd: taxa de degradação da fração B; DP: degradabilidade potencial; DE2: degradabilidade efetiva (DE) na taxa de passagem (kp) de 2%/h; DE5: DE na kp de 5%/h; DE8: DE na kp de 8%/h.
Conclusões.
A PB do capim elefante manejado sob altas taxas de lotação e altas doses de adubação nitrogenada foi suficiente para maximizar a degradação ruminal da forragem. A inclusão de fontes de nitrogênio no concentrado, nessa situação de manejo do pastejo, aumenta o custo da dieta e não resulta em nenhum benefício nutricional.
Referências Bibliográficas.
MARTINEZ, J.C. Avaliação de co-produtos na alimentação de vacas leiteiras mantidas em pastagens tropicais durante a estação chuvosa e alimentadas no cocho durante a estação seca do ano. 2008. 351p.Tese de (Doutorado em Ciência Animal e Pastagem) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo,Piracicaba, 2008.
ROMERO, J.V. Compostos nitrogenados e de carboidratos em pastos de capim elefante (Pennisetum purpureum) cv. Cameron manejados com intervalos de desfolhação fixos e variáveis. 2008. 99 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal e Pastagens) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba,2008.