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Características morfológicas, agronômicas e de valor nutritivo no período de estabelecimento das gramíneas forrageiras Marandu, Setária e Tanzânia

Publicado: 21 de fevereiro de 2013
Por: Luciana Gerdes do Departamento de Zootecnia, ESALQ, Universidade de São Paulo - USP -, SP; Joaquim Carlos Werner, Maria Tereza Colozza, Dora Duarte de Carvalho e Paulo Bardauil Alcântara do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Nutrição Animal e Pastagens, Instituto de Zootecnia, SP, e Eliana Aparecida Schammass do Centro de Genética e Reprodução Animal, Unidade Laboratorial de Referência de Metodologias Aplicadas à Pesquisa, Instituto de Zootecnia, SP.
Sumário

RESUMO: No Instituto de Zootecnia, Nova Odessa/SP realizou-se um experimento em blocos ao acaso, com 12 repetições, para avaliar os capins marandu (Brachiaria brizantha Stapf. cv. Marandu), setária (Setaria sphacelata (Schum.) Moss var. sericea (Stapf.) cv. Kazungula) e tanzânia (Panicum maximum Jacq. cv. Tanzânia-1) quanto ao número de plantas/m linear aos 7, 14 e 21 dias e número de perfilhos/m linear aos 21, 28 e 35 dias após a semeadura, e a produção de matéria seca, altura do relvado e % de lâminas foliares. Também foram estimados os teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e digestibilidade "in vitro" da matéria seca, no corte de estabelecimento (145 dias após a semeadura). Setária e tanzânia apresentaram os maiores número de plantas/m linear até 14 dias, enquanto o tanzânia, o maior número de perfilhos/m linear a partir dos 21 dias do plantio. Os capins marandu e tanzânia apresentaram produções, teores de matéria seca e porcentagens de lâminas foliares significativamente maiores do que os da setária. Esta, porém, apresentou os mais altos teores de proteína. Os valores de FDN foram maiores no tanzânia, com DIVMS semelhante à da setária e menor que a do marandu.

Palavras -chave: digestibilidade in vitro da matéria seca, fibra em detergente neutro, lâminas foliares, perfilhamento, proteína bruta.

INTRODUÇÃO
O estabelecimento é uma etapa de grande importância na implantação de uma pastagem cultivada, ponto de partida do manejo que poderá torná-la persistente e produtiva. O seu sucesso depende de conhecimentos prévios sobre as características do ambiente e da existência de espécies ou cultivares de forrageiras adaptadas às condições prevalescentes (CARVALHO e CRUZ FILHO, 1985 e ZIMMER et al., 1986).
O insucesso no estabelecimento, utilização e persistência da pastagem é causado, basicamente, pela forma extrativista e imediatista, como foram e são tratadas a grande maioria das nossas pastagens. Com mau manejo e, também, falta de adubação, chega- se ao esgotamento do solo.
Nas décadas de 60 e 70 teve início, no Brasil Central, a utilização da Setaria sphacelata (cultivares kazungula, narok e nandi), seguidos pela utilização das braquiárias, como a B. decumbens IPEAN e Basilisk, B. ruziziensis e B. humidicola. Já, nas décadas de 80 e 90 passaram a ser utilizadas, respectivamente, duas novas forrageiras, B. brizantha Stapf. cv. Marandu e P. maximum Jacq. cv. Tanzânia-1 (ZIMMER e CORREA, 1993).
VALLE et al. (1996) estudaram o estabelecimento de 21 acessos do gênero Brachiaria que foram comparados com as testemunhas B. brizantha, B. decumbens e B. humidicola, na busca de novas espécies que assegurassem rápida formação (com base no número de plantas germinadas e/ou cobertura do solo), rápido crescimento e acúmulo de matéria seca, e rápida rebrota. A B. brizantha destacou-se, com bom desempenho no estabelecimento.
Contagem de perfilhos basilares da setária, em quatro estádios de crescimento, em experimento em vasos, foi efetuada por HERLING et al. (1991), constatando- se o máximo número de perfilhos por volta de 49 dias, logo após, entretanto, ocorreu um decréscimo, provavelmente em razão de morte de alguns perfilhos.
Os resultados para número de perfilhos de capim- colonião e capim-tobiatã, aos 56 dias de crescimento, obtidos por ANDRADE (1987), foram, respectivamente, de 245 e 323 em 0,50 m2.
O presente trabalho teve como objetivo comparar algumas características morfológicas, agronômicas e do valor nutritivo do capim-marandu (Brachiaria brizantha Stapf. cv. Marandu), do capimsetária (Setaria sphacelata (Schum.) Moss var. sericea (Stapf.) cv. Kazungula) e do capim-tanzânia (Panicum maximum Jacq. cv.Tanzânia-1) no período de estabelecimento, aproveitando a instalação de um trabalho de pesquisa no qual se ia comparar a aceitabilidade relativa destes três capins por búfalos jovens.
 
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em área experimental do Centro de Forragicultura e Pastagens do Instituto de Zootecnia, situado no Município de Nova Odessa – SP, a 22°47' de latitude (S) e 47°18' de longitude (W), a uma altitude média de 528 m acima do nível do mar.
Estudaram-se as gramíneas forrageiras marandu (Brachiaria brizantha Stapf. cv. Marandu), setária (Setaria sphacelata (Schumach) Moss var. sericea (Stapf.) cv. Kazungula) e tanzânia (Panicum maximum Jacq. cv. Tanzânia-1), plantadas em parcelas experimentais de 50 m2 (6,25 m x 8,00 m) cada, dispostas em blocos ao acaso, com 12 repetições.
A área experimental está num solo classificado como Podzólico Vermelho-Amarelo, variação Laras. A sua topografia é ligeiramente ondulada e de boa drenagem. Originalmente estava coberta de Brachiaria decumbens e plantas invasoras. Para erradicação destas espécies, o preparo do solo foi feito com uma gradagem em toda a área e, com as primeiras rebrotas após as chuvas de primavera, foi aplicado o herbicida Roundup (3,0 l/ha) para eliminação das espécies acima mencionadas.
Com base em resultados de análise de solo foi feita uma calagem para elevar a saturação por bases a 50 % e a seguinte adubação de plantio: 100 kg de P2O5/ha, usando-se 556 kg/ha de FOSMAG-464.
Misturou-se o adubo fosfatado com as sementes das espécies forrageiras no momento da semeadura. Nitrogênio (100 kg N/ha) e potássio (60 kg k2O/ ha) foram aplicados em cobertura trinta dias após o plantio, como sulfato de amônio e cloreto de potássio, respectivamente.
A densidade de semeadura foi baseada no valor cultural (VC %) de cada espécie, usando-se 12, 8 e 16 kg de sementes/ha respectivamente para o capim- marandu, capim-setária e capim-tanzânia. As gramíneas foram semeadas manualmente em sulcos espaçados de 31 cm, no dia 21 de fevereiro/97.
Cada parcela, com sua respectiva gramínea, era constituída de vinte linhas de 8m de comprimento. Além destas vinte linhas, foram semeadas duas linhas externas, uma de cada lado, denominadas de "bordadura" que não receberam adubo fosfatado no plantio e que não entraram nas avaliações.
Após o plantio iniciaram as avaliações de velocidade de emergência de cada gramínea e seu desenvolvimento, através de contagens de plantas e de número de perfilhos por metro linear. Estas medições foram feitas em pontos sorteados ao acaso nas trinta e seis parcelas experimentais.
As contagens de plantas individuais, ainda não perfilhadas, começaram sete dias após o plantio, quando iniciou sua emergência, estendendo-se por mais duas semanas. Na terceira semana, foi iniciada a contagem de perfilhos/m linear, estendendose por mais duas semanas, totalizando três avaliações para plantas/m linear e três para perfilhos/ m linear.
O primeiro corte nas parcelas consideradas completamente estabelecidas (80 % da área coberta com as respectivas gramíneas), foi realizado em 16 de julho/97 ( 145 dias após o plantio), em quatro pontos dentro de cada parcela, através do lançamento, ao acaso, de um quadrado de 0,5 x 0,5 m (0,25 m2). Antes do corte, mediu-se a altura média de planta (distância do solo à altura máxima do relvado), com a mínima manipulação possível das plantas.
As variáveis medidas foram: produção de matéria seca (PMS), teor de matéria seca (MS), porcentagem de lâminas foliares na planta (L), altura do relvado (AR) e as seguintes determinações químicas: teor de proteína bruta (PB), fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e digestibilidade "in vitro" da matéria seca (DIVMS) na planta inteira e nas frações lâminas e hastes das três gramíneas.
O corte foi feito à altura de 15 cm do solo. O material verde, colhido nos quatro pontos de cada parcela, foi juntado (1 m2) e pesado. Do mesmo, foi retirada amostra para pesagem e secagem em estufa regulada a 65°C. Após secagem, até peso constante, as amostras foram novamente pesadas, para determinação do teor de matéria seca (% MS 65°C) da planta inteira. Para a porcentagem de lâminas foliares, foram retiradas outras amostras do material verde colhido, para separação de lâminas e hastes de cada perfilho e foram colocadas em estufa para secagem (65°C), sem, contudo, avaliar o seu peso verde.
Em seguida, estas amostras foram moídas, em moinho tipo Willey, com peneira de 40 mesh, etiquetadas e encaminhadas ao laboratório para as determinações do teor de matéria seca a 105°C (SILVA, 1981), proteína bruta pelo método do N total multiplicado pelo fator 6,25 (SARRUGE e HAAG, 1974), fibra em detergente neutro (GOERING e VAN SOEST, 1970) e digestibilidade "in vitro" da matéria seca segundo o método proposto por TILLEY e TERRY (1963), modificado por TINIMIT (1974).
Os delineamentos experimentais adotados foram de blocos ao acaso, para as variáveis do modelo matemático 1 e blocos ao acaso, em esquema de parcelas subdivididas no tempo, para as variáveis do modelo matemático 2, nos quais as parcelas eram representadas pelas gramíneas forrageiras (modelos 1, 2) e as sub-parcelas, pelas idades das gramíneas (modelo 2), como demonstrado a seguir:
Yij = m + gi + bj + eij, onde: (modelo matemático 1)
Yij = variáveis dependentes: produção de matéria seca1, teor de matéria seca1, altura do relvado1, porcentagem de lâminas foliares1, teor de proteína bruta2, fibra em detergente neutro2 e digestibilidade "in vitro" da matéria seca2, no corte de estabelecimento da gramínea i, no bloco j,
m = média da população,
gi = efeito da gramínea i,
i = 1, 2, 3,
bj = efeito do bloco j,
j1 = 1, 2, ..., 12,
j2 = 1, 2, ..., 6,
eij = erro aleatório associado a cada observação ij ~ N (0, s? 2).
Yijk= m + gi + bj + eij + pk + bpjk + gpik + eijk, onde (modelo matemático 2)
Yijk = variáveis dependentes: número de plantas1/ m e número de perfilhos2/m no estabelecimento da gramínea i, no bloco j, na idade k,
m = média da população,
gi = efeito da gramínea i,
i = 1, 2, 3,
bj = efeito do bloco j,
j = 1, 2, ..., 12,
eij = erro aleatório associado a cada observação ij ~ N (0, s? 2),
pk = efeito da idade k,
k1 = 1, 2, 3,
k2 = 1, 2, ..., 5,
bpjk = efeito da interação entre bloco j e idade k,
gpik = efeito da interação entre gramínea i e idade k,
eijk = erro aleatório associado a cada observação ijk ~ N (0, s? 2).
Os dados foram analisados com o programa estatístico SAS-Institute (1989).
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As contagens de número de plantas por metro linear das gramíneas marandu, setária e tanzânia, aos 7, 14 e 21 dias após o plantio, são mostradas no Quadro 1.
Quadro 1. Número de plantas por metro linear no estabelecimento das gramíneas marandu, setária e tanzânia aos 7, 14 e 21 dias após o plantio. Médias de doze repetições
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Na contagem de plantas a interação gramíneas x idades foi significativa (P<0,05). No seu desdobramento, para o estudo de gramíneas em cada idade, verificou-se que o número de plantas de setária e de tanzânia, aos 7 e 14 dias, foi significativamente maior (P<0,05) em relação ao do marandu. Já, aos 21 dias o tanzânia apresentou maior (P<0,05) número de plantas que o marandu, porém este não diferiu (P>0,05) do número de plantas da setária.
Em ensaios de avaliação de uma ampla coleção de acessos de Brachiaria, no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC)- Campo Grande, MS e no Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC)- Planaltina, DF, com o objetivo de identificar os mais produtivos, VALLE et al. (1996) verificaram que o cultivar marandu apresentou menor número de plantas por metro quadrado que a B. decumbens e do que outros seis acessos da coleção, aos 28 e 42 dias após o plantio.
No estudo de idades para cada capim, também se verificou efeito significativo (P<0,05) das idades nos três capins (Quadro 1), sendo que, em qualquer dos casos, a resposta à idade se ajustou a modelos quadráticos com as seguintes equações: Y= 1,58 + 0,1428X – 0,0042X2 (R2= 1,00), Y= 2,50 + 0,0980X – 0,0033X2 (R2=1,00), Y= 2,55 + 0,0943X – 0,0030X2 (R2=1,00), respectivamente para marandu, setária e tanzânia.
De acordo com estas equações o maior número de plantas/m linear ocorreu aos 17, 15 e 16 dias após o plantio, na mesma sequência. A queda no número de plantas nas idades subsequentes deve-se à morte de algumas delas quando, devido ao início do perfilhamento, a partir do 14º dia, plantas mais vigorosas começaram a competir significativamente com as demais. Com efeito, comparando-se os Quadros 1 e 2, verifica-se que o número de plantas começou a declinar a partir da segunda avaliação, enquanto o número de perfilhos continuou aumentando linearmente.
LO (1965) testou as distâncias de 30, 50 e 100 cm entre linhas e 15, 25 e 50 cm dentro das linhas no plantio da Setaria sphacelata e observou que, nos primeiros sete cortes realizados, durante o primeiro ano após o plantio, os tratamentos com menor espaçamento entre linhas e, consequentemente, com maior quantidade de plantas por hectare, produziram mais do que os tratamentos mais espaçados.
Porém, a partir do oitavo corte, devido ao mais intenso perfilhamento das plantas, em espaçamentos mais largos, a produção foi mudada em favor destes. O número de perfilhos/planta foi maior em espaçamentos maiores e aumentou rapidamente depois do oitavo corte, em torno dos 400 dias após o plantio, depois diminuiu nitidamente no décimo corte.
O número de perfilhos por metro linear das três gramíneas em estudo e em cinco idades de amostragem encontra-se no Quadro 2.
Nas idades de 7 e 14 dias o número de perfilhos/ m linear, na verdade, corresponde ao número de plantas/m linear já comentado, porque, até esta data as plântulas resultantes da germinação das sementes ainda não haviam começado a perfilhar. Isto coincide com o obtido por PEDREIRA (1975) que, em estudo de hábito de crescimento estacional do capimcolonião (Panicum maximum Jacq.), relatou que o surgimento de perfilhos na base dos colmos deu-se após cerca de 15 dias, na estação de primavera.
Houve interação significativa (P<0,05) gramíneas x idades. Aos 7 e 14 dias após o plantio, setária e tanzânia não diferiram (P>0,05) quanto ao número de perfilhos, mas foram diferentes do marandu, que apresentou menor (P<0,05) número de perfilhos. Dos 21 dias em diante o tanzânia apresentou maior (P<0,05) número de perfilhos em relação ao marandu e à setária, que não diferiram entre si (P>0,05). Em cada gramínea (Quadro 2), o perfilhamento mostrou acréscimo linear com o aumento das idades dentro do período estudado (0- 35 dias), representado pelas seguintes equações: Y= 1,97 + 0,0539X (R2= 0,98), Y= 2,71 + 0,0361X (R2=0,94), Y= 2,62 + 0,0555X (R2=0,98), respectivamente para marandu, setária e tanzânia.
O alto potencial de produção de gramíneas forrageiras tropicais e a alta capacidade de perfilhamento conferem a tais plantas excelentes atributos forrageiros (HODGSON, 1990). Segundo JEWISS (1972), a alta capacidade de perfilhamento dos capins auxilia o estabelecimento e assegura a perenidade da pastagem.
Quadro 2. Número de perfilhos por metro linear no estabelecimento das gramíneas marandu, setária e tanzânia aos 7, 14, 21,28 e 35 dias após o plantio. Médias de doze repetições
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Quadro 3. Produção de matéria seca (PMS), teor de matéria seca (MS), porcentagem de lâminas (L) e altura do relvado (AR) das gramíneas marandu, setária e tanzânia aos 145 dias de crescimento (21/02/97 a 16/07/97). Médias de doze repetições
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O Quadro 3 mostra as produções médias e teores de matéria seca, altura do relvado e porcentagens de lâminas foliares das três gramíneas estudadas, avaliadas 145 dias após o plantio. Após o plantio ocorreram chuvas normais que permitiram um bom início de estabelecimento. Mas houve, a seguir, um período de intensa estiagem (Figura 1), o que retardou as avaliações do corte de estabelecimento.
A análise de variância para a produção de matéria seca mostrou diferenças significativas (P<0,05) entre as espécies estudadas. As produções do marandu e do tanzânia não diferiram (P>0,05), sendo significativamente maiores (P<0,05) do que a da setária (Quadro 3). RUGGIERI et al. (1997), entretanto, encontraram maior produção de matéria seca do tanzânia, comparado com o colonião e o marandu.
Segundo MOLAS BUSCIO, 1986, SAVIDAN et al., 1990, HERLING et al., 1991, COSTA, 1995, as variações nas produções de matéria seca dos capins são dependentes de fatores edafoclimáticos, cultivares, adubações (principalmente a nitrogenada), entre outros.
Com relação aos teores de matéria seca e porcentagens de lâminas foliares, marandu e tanzânia apresentaram maiores (P<0,05) valores do que a setária (Quadro 3). Resultados de EUCLIDES et al. (1995), em estudo com sete ecotipos de P. maximum, comparados com o cultivar Tobiatã e a B. brizantha cv. Marandu, ambos como testemunha, verificaram que a porcentagem de folhas do marandu, tanto no período das águas quanto no das secas, foi menor que a dos cultivares de Panicum maximum. No presente trabalho, entretanto, o marandu apresentou a mesma porcentagem de lâminas foliares que o tanzânia, demonstrando que condições experimentais específicas exercem influência marcante nesta variável.
Figura 1. Dados de precipitação pluviométrica no ano de 1997
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Nas três espécies estudadas o tanzânia apresentou a maior (P<0,05) altura do relvado, enquanto que setária e marandu não diferiram (P>0,05) quanto a esta característica. Possivelmente, a menor produção de matéria seca observada para a setária devese muito mais ao seu menor teor de matéria seca (maior conteúdo de água) do que à sua altura de relvado(Quadro 3).
A menor porcentagem de lâminas foliares e produção de matéria seca da setária, apesar de apresentar a mesma altura de relvado que o marandu se deve, provavelmente, à sua mais rápida elongação do meristema apical em relação aos outros dois capins.
HERLING (1987), analisando o efeito do intervalo entre cortes sobre a relação haste/folha do capimsetária cv. Kazungula, verificou diminuição nesta relação com diminuição de intervalo entre cortes obtendo as seguintes relações: 2,10, 1,33 e 0,92 para os intervalos de 35, 42 e 49 dias, respectivamente. Esses resultados coincidiram justamente com a época de floração da gramínea, estádio de crescimento no qual, segundo ANSLOW (1966), ocorre a elongação das hastes.
Teores de proteína bruta e fibra insolúvel em detergente neutro de planta inteira, lâminas e hastes e digestibilidade "in vitro" da planta inteira das três gramíneas são apresentados no Quadro 4.
Os teores de proteína bruta das lâminas e hastes do capim-setária foram maiores (P<0,05) que os do tanzânia e do marandu, enquanto os de planta inteira não diferiram (P>0,05) do marandu e foram significativamente maiores (P<0,05) que os do tanzânia; este, por sua vez, não diferiu (P>0,05) do marandu. Os teores mais elevados na setária podem ser explicados, em parte, pelo efeito de concentração, desde que este capim apresentou menor produção de forragem que os outros dois, como mostrado no Quadro 3.
Também, os teores de proteína relativamente altos, nos três capins, podem ser explicados por se tratar de primeiro corte e de efeito de adubação nitrogenada (100 kg N/ha) 30 dias após a semeadura.
A digestibilidade in vitro do marandu não diferiu (P>0,05) à da setária e foi superior à do tanzânia (P<0,05), enquanto os teores de FDN do tanzânia, independentemente da parte da planta, foram maiores (P<0,05) que aqueles da setária e do marandu. O crescimento mais rápido do tanzânia (maior produção de matéria seca e altura do relvado) pode ter acarretado envelhecimento fisiológico mais rápido e maior diluição do nitrogênio absorvido, refletindo- se nos mais altos valores de parede celular (FDN) e menores valores de proteína e DIVMS deste capim.
EUCLIDES et al. (1993a) estudaram o valor nutritivo do tanzânia, em estádio vegetativo, e encontraram 16,1 % de proteína bruta e 61,3 % de digestibilidade "in vitro" da matéria seca. Para o marandu EUCLIDES et al. (1993b) encontraram 9,3 % de proteína bruta e 61,2 % de digestibilidade "in vitro" da matéria seca, quando esta gramínea se encontrava no estádio vegetativo. Segundo EUCLIDES (1995), a espécie Panicum maximum, comparada à Brachiaria, apresenta valor alimentício superior.
Quadro 4. Teores de proteína bruta e de fibra em detergente neutro de planta inteira (PI), lâminas (L) e hastes (H) e digestibilidade "in vitro" da matéria seca (DIVMS) de planta inteira das gramíneas marandu, setária e tanzânia aos 145 dias de crescimento (21/02/97 a 16/07/97). Médias de seis repetições
Características morfológicas, agronômicas e de valor nutritivo no período de estabelecimento das gramíneas forrageiras Marandu, Setária e Tanzânia - Image 5
Os teores de proteína relativamente altos nos três capins, conjugados com boas produções e teores de digestibilidade razoáveis a bons, dão uma indicação de que qualquer dos três capins, quando bem adubados e manejados, são capins com grande potencial como fonte de alimento para a nossa pecuária.
 
CONCLUSÕES
Setária e tanzânia apresentaram maior número de plantas estabelecidas até 14 dias e o tanzânia o maior perfilhamento a partir dos 21 dias da semeadura.
Marandu e tanzânia apresentaram produções, teores de matéria seca e porcentagens de lâminas foliares significativamente maiores do que os da setária.
A setária apresentou os mais altos teores de proteína bruta.
Tanzânia apresentou os teores de FDN mais elevados e DIVMS foi semelhante à da setária e menor do que o do marandu.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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**O trabalho foi originalmente publicado no Boletim da Indústria Animal (BIA), do Instituto Zootecnia (IZ/APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Brasil. Citação Bibliográfica: B. Indústr.anim., N. Odessa,v.59, n.2, p.147-155, 2002.
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Autores:
Luciana Gerdes
USP -Universidade de São Paulo
Joaquim Carlos Werner
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
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