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Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas

Publicado: 24 de abril de 2012
Por: Margarida Mesquita de Carvalho; Deise Ferreira Xavier; Maurílio José Alvim
No Brasil e em outros países de clima tropical e subtropi- cal, uma elevada proporção das pastagens constituídas por gramíneas exclusivas ficam degradadas poucos anos após o estabelecimento. Em muitos casos essas pastagens são formadas em solos de baixa fertilidade, nos locais menos apropriados à agricultura intensiva. As práticas agronô- micas usadas no plantio das forrageiras, como preparo do solo, correção da acidez do solo, adubação, e uso de sementes de boa qualidade, normalmente garantem um eficiente estabelecimento das pastagens. No entanto, se após essa fase o manejo não for adequado, o processo de degradação das pastagens é geralmente inevitável. Entre as principais causas de degradação de pastagens cultivadas incluem-se superpastejo e deficiência de nutrientes no solo, principalmente de nitrogênio (N), mas também de outros nutrientes como o fósforo (P).
A arborização de pastagens tem sido recomendada como um meio de se conseguir a sustentabilidade de pastagens de gramíneas, o que significa manter a longo prazo a produtividade e a persistência dessas pastagens. A produtividade está em parte relacionada com o efeito benéfico da sombra das árvores sobre os animais, garantindo conforto, favorecendo a reprodução animal, e a produção de leite, carne ou outros produtos. A influência direta das árvores sobre a pastagem se deve ao efeito conjunto da sombra e da adição de nutrientes ao solo, o que, em comparação com pastagens de gramíneas exclusivas nas mesmas condições ambientais, pode resultar em maior crescimento das gramíneas e de outras forrageiras componentes das pastagens, e melhor qualidade da forragem, por exemplo, com maiores teores de proteína bruta.
Outras importantes vantagens da arborização de pastagens são: auxiliar no controle de erosão, melhorar o aproveitamento da água das chuvas e melhorar a fertilidade do solo.
Árvores podem melhorar a fertilidade do solo em pastagens.
A capacidade das árvores para melhorar a fertilidade do solo em pastagens se deve em parte à possibilidade de aproveitar, para seu crescimento, nutrientes de camadas do solo que estão fora do alcance das raízes das forrageiras herbáceas (gramíneas e leguminosas); depois, esses nutrientes, contidos em estruturas vegetais como folhas, frutos, galhos pequenos e outras, são retornados ao solo, podendo ser reutilizados pelas árvores e pelas forrageiras herbáceas. A deposição gradativa dessas estruturas vegetais à pastagem concorre para melhorar a fertilidade do solo, e, dessa forma, contribui para eliminar uma das principais causas de degradação das pastagens que é a deficiência de nutrientes no solo.
Efeito mais pronunciado das árvores sobre a fertilidade do solo tem sido observado quando as espécies usadas são leguminosas com capacidade para fixar o N do ar atmosférico, como, por exemplo, as espécies nativas angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa), jacarandá- branco (Platypodium elegans), vinhático (Plathymenia foliolosa) e angico-mirim (Mimosa artemisiana), e exóticas como as acácias (Acacia mangium e Acacia auriculiformis). No Brasil, o efeito de árvores leguminosas melhorando a fer-tilidade do solo em pastagens de Brachiaria já foi comprovado em ecossistemas tão diferentes como a Amazônia, os Cerrados e as áreas montanhosas da Região Sudeste, na Mata Atlântica. Nos Cerrados, verificou-se que a espécie de leguminosa nativa baru (Dipterix alata) teve efeito muito mais marcante sobre a fertilidade do solo em uma pastagem de Brachiaria decumbens do que o pequi (Caryocar brasiliense), que é uma espécie nativa não-leguminosa.
Melhoramento da fertilidade do solo em pastagem de Brachiaria decumbens.
Um estudo sobre arborização de pastagens cultivadas foi iniciado há dez anos por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite em área montanhosa de influência da Mata Atlântica, localizada na Zona da Mata de Minas Gerais. Mudas de espécies nativas e exóticas de leguminosas arbóreas foram introduzidas em uma pastagem de Brachiaria decumbens que havia sido formada há mais de dez anos, em solo ácido de baixa fertilidade natural (Latossolo Vermelho-Amarelo). As mudas foram plantadas em toda a área da pastagem no espaçamento de 10 x 10 m, receberam adubação na cova e proteção individual contra os danos potenciais pelos animais em pastejo.
As espécies exóticas apresentaram crescimento inicial muito rápido, superando com vantagem as três espécies nativas testadas (Tabela 1).
Tabela 1. Altura média de espécies de leguminosas arbóreas introduzidas em uma pastagem de Brachiaria decumbens
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 1
As espécies exóticas Acacia mangium, Acacia auriculiformis e Acacia angustissima desenvolveram copa mais ampla bem mais cedo do que as nativas, e sua influência sobre a pastagem começou a ser observada entre quatro e cinco anos após o plantio das mudas no campo. Os primeiros sinais da influência das árvores sobre a pastagem foram visíveis na época seca, com a forragem de Brachiaria decumbens sob as copas mais desenvolvidas apresentando-se mais verde do que nas áreas sem árvores (Fig. 1). Em seguida esses efeitos passaram gradativamente a manifestar-se também na época das águas (Fig. 2).
Fig. 1. Pastagem de Brachiaria decumbens sob efeito de árvores de Acacia mangium na época seca.
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 2
Fig. 2. Pastagem arborizada de Brachiaria decumbens durante a época chuvosa.
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 3
A coloração mais verde da pastagem nas áreas sombreadas refletiu-se em melhor qualidade da forragem, em comparação com a forragem das áreas sem árvores. Os teores de proteína bruta na forragem foram mais altos sob as copas das três espécies exóticas de Acacia, as que estavam mais desenvolvidas, tanto na época seca como nas águas (Tabela 2). A digestibilidade da matéria seca (DIVMS, %) não diferiu entre as áreas com e sem sombra na época das águas, porém, na época seca, a forragem das áreas sombreadas manteve valores semelhantes aos observados nas águas, enquanto os das áreas sem sombra diminuíram (Tabela 3).
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 4
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 5
Os benefícios observados sobre a qualidade da forragem sombreada foram em parte facilitados pelas mudanças positivas verificadas na fertilidade do solo da pastagem arborizada. A análise química de amostras de solo coletadas sob as copas de Acacia mangium e em área sem árvores revelou que, sob as copas das árvores, houve aumento significativo nos teores de fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K) e na matéria orgânica (MO) em relação ao solo sem árvores (Tabela 4).
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 6
Além disso, verificou-se que o efeito das árvores melhorando as características químicas do solo ocorreu não apenas na camada mais superficial do solo (0-10 cm), mas também, para alguns elementos, em maior profundidade, na camada de 10-20 cm, e apresentou tendência de tornar-se mais pronunciado com o passar do tempo (Tabela 5).
Arborização melhora a fertilidade do solo em pastagens cultivadas - Image 7
Considerações finais.
A possibilidade de se conseguir melhorar a fertilidade do solo em pastagens cultivadas por meio da integração com árvores é altamente significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. A alternativa para se obter esse efeito, que é a adubação de manutenção, não é prática largamente adotada no Brasil, principalmente em sistemas extensivos de produção animal a pasto. As causas para o pouco uso dessa prática incluem o alto custo dos fertilizantes, a grande extensão das áreas normalmente envolvidas, e, em alguns casos, dificuldades de aplicação dos fertilizantes, entre outras.
As pesquisas desenvolvidas na Embrapa Gado de Leite e em outras instituições de pesquisa indicam que o efeito benéfico das árvores sobre a fertilidade do solo em pastagens aumenta com o tempo, à medida que as árvores crescem e desenvolvem mais suas copas, e tende a manifestar-se a longo prazo, desde que o sistema seja adequadamente manejado. Já nas pastagens em monocultura manejadas com uso de adubação química, há necessidade de aplicações periódicas de fertilizantes, o que implica novos gastos com insumos e mão-de-obra.
Em sistemas silvipastoris formados em solos de baixa fertilidade, a adubação com P e outros elementos (dependendo da análise do solo), é normalmente necessária no estabelecimento da pastagem, e, em alguns casos, durante os primeiros anos enquanto as árvores crescem.
Com a arborização, não há os riscos de contaminação de cursos d’água que podem ocorrer em pastagens manejadas com o uso de fertilizantes químicos. Além disso, o bom aproveitamento dos nutrientes do solo pelas árvores, tende a promover melhor balanço nutricional no sistema solo/ planta e a melhorar a qualidade da forragem sombreada.
Dessa forma, a arborização se constitui em um meio natural de se fornecer nutrientes ao solo de pastagens cultivadas, e, em conseqüência, manter a sua persistência e produtividade, e evitar os processos de degradação da pastagem.
Aliado às vantagens econômicas e ambientais da arborização de pastagens cultivadas, relacionadas com o suprimento de nutrientes ao solo, outros benefícios que ocorrem simultaneamente, como o conforto animal, controle de erosão e embelezamento da paisagem, são importantes aspectos que devem ser considerados e que deveriam servir para motivar os produtores rurais a adotá-la em suas propriedades.
Leitura recomendada.
CARVALHO, M. M. Arborização de pastagens cultivadas. Juiz de Fora, MG: EMBRAPA-CNPGL, 1998. 37p. (EMBRAPA-CNPGL. Documentos, 64).
CARVALHO, M. M.; ALVIM, M. J.; XAVIER, D. F.; YAMAGUCHI, L. C. T. Estabelecimento de sistemas silvipastoris: ênfase em áreas montanhosas e solos de baixa fertilidade. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2002. 12 p. (Embrapa Gado de Leite. Circular Técnica, 68).
CARVALHO, M. M.; XAVIER, D. F.; ALVIM, M. J. Uso de leguminosas arbóreas na recuperação e sustentabilidade de pastagens cultivadas. In: CARVALHO, M. M.; ALVIM, M. J.; CARNEIRO, J. C. (Ed.). Sistemas agroflorestais pecuários: opções de sustentabilidade para áreas tropicais e subtropicais. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite; Brasília: FAO, 2001. p. 189-204.
CARVALHO, M. M.; XAVIER, D. F.; ALVIM, M. J. Características de algumas leguminosas arbóreas adequa- das para associação com pastagens. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 24 p. (Embrapa Gado de Leite. Circular Técnica, 64).
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Margarida Mesquita de Carvalho
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