Introdução
O sistema de produção de ruminantes no Brasil é, em sua imensa maioria dependente da ação de pastejo pelos animais, tanto em pecuária de corte, quanto de leite. O consumo de forragem é influenciado por inúmeros fatores importantes, incluindo: espécie e tamanho do animal, estrutura e qualidade da pastagem, condição fisiológica e potencial de produção do animal, suplementação alimentar e fatores ambientais (Lyons et al., 1995).
Enquanto em sistemas de produção confinados o desempenho de um animal é quase conseqüência direta da concentração de nutrientes da dieta oferecida, nos Ecossistemas Pastoris variáveis associadas ao processo de pastejo dos animais em resposta à estrutura da vegetação explicam e determinam os seus níveis de produção, tanto em termos de produção primária quanto secundária (Briske & Heitschmidt, 1991).
Conhecer as relações vigentes no ambiente pastoril, mais precisamente na interface planta-animal é, portanto, de fundamental importância para a otimização do uso da pastagem. Uma vez conhecidas essas variáveis determinantes pode-se planejar e criar ambientes pastoris que não venham a limitar o animal no emprego de suas estratégias de pastejo (Provenza & Launchbaugh, 1999), potencializando suas ações (Carvalho et al., 2001). Allden & Whittaker (1970) foram os primeiros a considerar o consumo diário de forragem (CD) de um animal em pastejo como o produto de três variáveis: massa do bocado média (MB), taxa de bocado durante o pastejo (TB) e tempo diário de pastejo (TP). Considerando-se que o consumo diário é um processo que depende de inúmeras variáveis, a taxa de bocado passa ter um papel de destaque na "construção" de um bocado , pois, os animais freqüentemente são obrigados a executarem milhares de bocados por dia, ao redor de 30-70 bocados/min (Carvalho, 1997).
Para os animais, a altura significa quantidade de biomassa disponível. A preferência por altura significa oportunidade de alta ingestão na medida em que a altura potencializa a profundidade do bocado, que por sua vez é o principal determinante da massa do bocado (Carvalho, 2001).
Materiais e Métodos
Este trabalho foi resultado de parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e a EMBRAPA, CPPSul, de Bagé/RS, local onde o mesmo foi realizado, distante 400 km de Porto Alegre. A área experimental foi de dois hectares, sendo utilizadas quatro vacas da raça Holandes Preta e Branca (HPB), multíparas e em lactação. A área da pastagem foi implantada em meados de Janeiro de 2008, com semeadura direta, recebendo 20 kg de sementes de milheto/ha, e a fertilização aplicada foi de 100 kg/ha de adubo formulado (NPK) e mais 100 kg/ha de N em cobertura, na forma de uréia após o primeiro ciclo de pastejo.
A caracterização da forragem foi feita através de medidas de altura com bastão graduado (sward-stick), cujo marcador corre por uma "régua" até tocar a primeira lâmina foliar, procedendo-se então a leitura (Barthram, 1985) e cortes de quadrados medindo 0,25 m2 pré e pós período de pastejo dos animais nos piquetes para determinação da massa de forragem. As medidas das alturas também foram realizadas a cada dez minutos para caracterizar o processo de rebaixamento do pasto até atingir a altura desejada, quando o teste era encerrado. Os períodos de avaliação foram de 50 minutos. As avaliações foram divididas em dois blocos, manhã e tarde, denominados bloco 1 e 2, respectivamente, e em dois ciclos de avaliação, março e abril de 2008.
O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados, com quatro tratamentos e duas repetições. Os testes de pastejo foram realizados em 14.03.08 e 18.04.08, sendo os animais equipados com coletores de fezes e urina. A determinação do consumo foi estimada pela técnica da dupla pesagem (Penning & Hooper,1985) e os movimentos mandibulares foram determinados com o auxílio de registradores automáticos (Behaviour recorder, IGER; Rutter et al., 1997).
Foram aplicados quatro tratamentos, onde se observou o comportamento ingestivo dos animais em pastagem de milheto com duas alturas de entrada, e duas de saída sendo dispostos da seguinte forma: BB = entrada com 40 cm e saída com 10 cm; BA = entrada com 40 cm e saída com 20 cm; AB = entrada com 60 cm e saída com 10 cm e, AA = entrada com 60 cm e saída com 20 cm. (40-10= BB; 40-20= BA; 60-10= AB e 60-20= AA), e com duas repetições no tempo e no espaço.
Resultados e Discussão
Pelos resultados obtidos, pode-se observar que houve um acréscimo linear na massa do bocado (Figura 1), conseqüência do aumento da altura do pasto e da possibilidade de maior profundidade do bocado. Com respeito à profundidade do bocado existe abundante evidência experimental, a qual defende a hipótese de que a diminuição é de uma proporção constante próxima a metade da altura da pastagem (Galli & Cangiano, 1998).
Figura 1 - Relação entre a massa do bocado (MB) e os níveis de rebaixamento, referente aos tratamentos BB (40-10 cm), BA (40-20 cm), AB (60-10 cm) e AA (60-20 cm.)
Segundo Gordon e Illius (1992), a taxa de consumo de forragem aumenta com a altura ou biomassa da planta até atingir uma assíntota, decorrente da saturação em que é processado o alimento. E este fator é de importância ainda maior quando se trabalha com vacas em lactação, pois, trata-se de animais de alta exigência nutricional e seu tempo de pastejo é limitado pelos períodos em que está em processo de ordenha. Enquanto vacas secas pastejam 451 min/dia, vacas em lactação passam 583 min/dia pastejando (Penning et al., 1998).
Por outro lado, também se observou o aumento na taxa de bocados (Figura 2) na medida em que a altura da pastagem foi sendo reduzida, justamente pela tentativa dos animais de compensarem a menor profundidade do bocado. Fato que se mostrou mais evidente nos tratamentos em que os animais foram forçados a rebaixar até 10 cm (BB e AB). Estes resultados estão de acordo com Barrett et al. (2001), que descobriu que o efeito da rápida mudança morfológica é uma mudança relativamente rápida no comportamento de pastejo, principalmente massa de bocado (MB), taxa de bocado (TB) e taxa de consumo (TC.)
Figura 2 - Relação entre a tax a de bocado (TB) e as alturas da forragem, referente aos tratamentos BB (40-10 cm), BA (40-20 cm), AB (60-10 cm) e AA (60-20 cm.)
No processo de pastejo, a apreensão de forragem equivale ao grau de facilidade da ação do bocado e, conseqüentemente, o momento máximo da interação planta-animal (Carvalho et al., 1999). A baixa apreensibilidade de uma determinada pastagem faz com que a massa do bocado seja diminuída, forçando o animal a uma modificação também nos outros componentes do pastejo (Penning et al., 1991) e na sua seletividade (Ganzábal, 1997), visando buscar a manutenção da ingestão de nutrientes de acordo com os seus requerimentos fisiológicos, o que é alcançado somente em determinadas ofertas de forragem (Penning, 1991; Hodgson, 1990). Por outro lado, o aumento da densidade da forragem nos horizontes mais próximo ao solo não compensa a redução nas dimensões do bocado, resultando em bocados mais leves (Gonçalves, 2007).
Conclusão:
Os animais utlizam-se de diferentes estratégias para tentar adaptar suas exigências nutricionais diárias frente às diferentes estruturas da forragem quando em processo de pastejo. Em condições de elevada oferta de forragem, mesmo que isto proporcione maior produção de MS total, a eficiência do processo de pastejo pode ser limitada pela dificuldade de apreensão das lâminas foliares, assim como comprometer a rebrotação futura da forragem, por favorecer o aumento da participação de colmos no dossel.
A necessidade de forçar os animais a consumirem até as porções mais baixas da forragem, com o objetivo de aumentar a eficiência de pastejo e permitir uma maior renovação da forragem poderá levar ao comprometimento da taxa de consumo e conseqüentemente redução do consumo total de MS diária por parte de vacas de alta produção. Os resultados apontam para a necessidade de mais estudos para determinar qual tipo de manejo a ser empregado na pastagem proporcionaria ambientes pastoris mais adequados à otimização do processo ingestivo, sem comprometimento da produção e estrutura de forragem.
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