A presença de zearalenona na ração é inevitável e a toxicose por zearalenona é muito difícil de tratar. A maneira mais prática de evitar a toxicose por zearalenona é através da adição de um enteroadsorvente à dieta, impedindo a absorção intestinal e subsequente conjugação e formação de compostos de zearalenona, reabsorvidos via circulação entero-hepática. Devido à rápida absorção no intestino delgado, a inativação da zearalenona após sua ingestão torna-se extremamente crítica para evitar a toxicidade. Ao compreender o mecanismo de absorção e metabolismo da zearalenona, os produtores são capazes de selecionar os métodos mais adequados para controlar e tratar toxicose por zearalenona de maneira mais eficaz e econômica.
A observação de edema e eritema de vulva em leitoas e aumento da incidência de abortamentos e natimortos durante a gestação pode indicar contaminação da ração por zearalenona. A micotoxina zearalenona é o principal fator que contribui para os prejuízos econômicos relacionados à reprodução suína.1 É produzida por fungos tipo Fusarium e comumente encontrada em grãos em todo o mundo. Condições de produção, armazenagem e clima contribuem para o crescimento destes fungos.2 Considerando sua semelhança química com o estrógeno, a zearalenona exerce efeitos estrogênicos em suínos3 e afeta todas as faixas etárias, inclusive leitoas e fêmeas adultas, que são mais sensíveis. A Figura 1 ilustra os sintomas clínicos e subclínicos.
FIGURA 1. Efeitos Clínicos da Toxicose por Zearalenona
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Ao compreender o mecanismo de absorção e metabolismo da zearalenona, os produtores são capazes de selecionar os métodos mais adequados para controlar e tratar toxicose por zearalenona de maneira mais eficaz e econômica. A estrutura química da zearalenona é 6-(10-hidróxi-6-oxo-trans-1-undecenil)-b-ácido resorcíclico lactona (Figura 2). Seu isômero opticamente ativo na forma L é isolado dos micélios do
Fusarium graminearum. É um sólido cristalino incolor com ponto de fusão de 164-165° C, o que indica que a zearalenona é muito resistente a condições normais de processamento de ração e dificilmente é destruída. Na verdade, quando a zearalenona está presente em milho triturado, não ocorre decomposição após 44 horas a 150° C.
4 A zearalenona é ligeiramente solúvel em água e é mais solúvel em acetona, éter, benzeno, álcoois e álcalis aquosos. Dada sua semelhança com estrógeno, a zearalenona e seus metabólitos podem se ligar aos receptores de estrógenos, causando efeitos estrogênicos em suínos.
FIGURA 2. Estrutura da Zearalenona
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Leitoas alimentadas com ração contaminada por zearalenona podem apresentar intervalos de ciclo estral mais longos, redução da taxa de prenhez e retardo de desenvolvimento fetal. Por exemplo, o fornecimento de 20 mg de zearalenona/dia por 5 dias a leitoas durante a fase média ou final do ciclo estral alongou significativamente a duração do intervalo entre estros de 20 dias (normal) para até 74 dias (mais longo observado).
5 Em outro estudo, a taxa de pseudo-prenhez aumentou 25%, 88% e 88% com o fornecimento de 3, 6 e 9 ppm de zearalenona a leitoas, respectivamente, antes da inseminação artificial em comparação ao grupo controle.
6 Quando dietas contaminadas com 15 ou 30 ppm de zearalenona purificada foram fornecidas a leitoas inseminadas por 14 dias, o número de fetos vivos foi reduzido.
7 No mesmo estudo, não se observou desenvolvimento embrionário em leitoas que receberam 60 ou 90 ppm de zearalenona na dieta. Young et al. (1981) relataram edema e vermelhidão da vulva e redução de ganho de peso e de consumo de ração e piora da eficiência alimentar em leitoas que passaram a receber 9 ppm de zearalenona na dieta.
8 O mesmo grupo relatou que fêmeas alimentadas com uma dieta contendo 10 ppm de zearalenona demonstraram prolongamento do intervalo desmame-estro, redução de tamanho de leitegada e fertilidade e aumento do peso do útero e da espessura do epitélio vaginal.
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Yang
et al. (2008) relataram recentemente que o fornecimento de1 a 3 ppm de zearalenona purificada a leitoas jovens por 21 dias aumentou significativamente o tamanho da vulva e o peso de outros órgãos-alvo, como útero, ovário, rins e fígado.
10 O grupo também observou que o fornecimento de 1 ppm de zearalenona reduziu a digestibilidade aparente de proteína bruta e energia em porcas e que os efeitos negativos da zearalenona poderiam ser atenuados pela mistura de uma argila natural enteroadsorvente à raçào.
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A absorção de zearalenona no intestino delgado é muito rápida. Depois de uma dose única oral de zearalenona administrada a suínos, a micotoxina e seus metabólitos podem ser detectados em alguns minutos no sangue e mais de 85% da zearalenona são absorvidos pela luz intestinal em menos de 30 min.
12,13 A absorção de zearalenona segue uma cinética de primeira ordem, com Ka (constante cinética) igual a 9,3/horas em ratos.
14 Uma vez absorvida no organismo, enzimas como a CyP450 das células epiteliais do intestino delgado e fígado rapidamente convertem a zearalenona a α-zearalenol e b-zearalenol. O α-zearalenol tem potência estrogênica muito superior que seu precursor em suínos. No fígado, a zearalenona e seus metabólitos são conjugados com açúcares e podem ser excretados para o intestino delgado através da bile. Uma vez que os compostos conjugados de zearalenona percorrem o intestino delgado, parte é excretada através das fezes e outra fração é reabsorvida no organismo através de um ciclo conhecido com circulação entero-hepática (Figura 3).
FIGURA 3. Circulação Entero-hepática da Zearalenona
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Uma vez que a zearalenona seja absorvida no organismo, não existe um tratamento eficaz que reduza sua toxicidade em suínos. Entretanto, a inclusão de enteroadsorventes pode ligar estes compostos conjugados de zearalenona, evitando assim a reabsorção através da circulação ente
ro-hepática. Depois de uma única injeção intravenosa de zearalenona em leitões, a meia-vida da toxina no sangue foi determinada como sendo de 86,6 horas. Entretanto, quando se evitou que a bile chegasse ao intestino delgado através de canulação do colédoco (interrompendo a circulação entero-hepática), a meia-vida da zearalenona e de seus metabólitos foi significativamente reduzida para 3,3 horas.
15 Isto sugere que a recuperação da toxicidade por zearalenona pode ser acelerada quando se impede a 'reciclagem' da toxina no organismo. De maneira geral, dois terços da toxina absorvida são excretados nas fezes, principalmente na forma de compostos conjugados de zearalenona produzidos no fígado e excretados através da bile. Metabólitos hidrossolúveis de zearalenona são excretados através da urina e níveis traço de zearalenona e seus metabólitos são detectados no leite de porcas. A Figura 4 descreve o metabolismo da zearalenona no organismo de suínos.
FIGURA 4. Metabolismo da Zearalenona no Organismo do Suíno
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Evitar a ingestão inicial e absorção de zearalenona é fundamental para manter a produtividade do plantel suíno. A escolha de um produto que seja capaz de adsorver rapidamente a toxina é extremamente crítico para reverter a toxicidade da zearalenona. Ao conhecer os efeitos negativos da zearalenona e como este problema pode ser mitigado, os produtores poderão tomar decisões informadas quanto ao controle do problema.
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