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Levantamento das Micotoxinas do Milho: Adisseo Brasil 2020

Publicado: 26 de novembro de 2020
Por: Julia Dvorska - Gerente Técnica e Científica Global em Gerenciamento de Micotoxinas da Adisseo
O objetivo das dietas dos animais de produção é satisfazer as suas necessidades nutricionais, mantendo a sua boa condição de saúde. No entanto, a maioria das culturas colhidas em todo o mundo está contaminada por metabólitos fúngicos, chamados micotoxinas, que podem prejudicar a vitalidade dos animais. Mais de 500 micotoxinas foram identificadas até agora, sendo classificadas em seis categorias: Aflatoxinas, Ocratoxinas, Fumonisinas, Zearalenona, Alcaloides de Ergot e Tricotecenos. Essas toxinas afetam negativamente o estado de saúde, a reprodução, o funcionamento dos órgãos, a imunidade e a digestão dos animais.
A maioria das micotoxinas é produzida por fungos nas plantas cultivadas no campo. O mais importante deles é o Fusarium, que pode produzir mais de 70 compostos tóxicos diferentes, incluindo fumonisinas, toxina T-2, DON e zearalenona. O Aspergillus também pode crescer nas plantações em climas quentes e produzir aflatoxina B1. Durante o armazenamento, o Aspergillus e Penicillium são os principais produtores de micotoxinas como aflatoxina B1, ocratoxina A, citrinina, ácido penicílico e outros.
A contaminação dos grãos recém-colhidos por micotoxinas é um parâmetro muito importante e que deve ser levado em consideração. Algumas vezes, estes grãos chegam a ser utilizados para alimentar animais durante longos períodos, até que uma nova safra esteja disponível. Como se costuma dizer: “Conhecer o inimigo é metade da batalha vencida”. Conhecendo o nível de contaminação, podemos pensar como devemos usar esse grão — a que espécie animal ele pode ser destinado (evitando os animais mais sensíveis em caso de alta contaminação ou diminuindo o nível de inclusão de um determinado grão na dieta) e, usando ferramentas como aplicativo MycoMan, analisar quais produtos devem ser usados para diminuir possíveis efeitos negativos da contaminação no desempenho e na saúde dos animal.
Assim como é importante saber qual é o verdadeiro desafio imposto pelas micotoxinas, também é fundamental realizar uma avaliação do risco gerado por estas toxinas para estabelecer um programa completo e abrangente de gerenciamento de micotoxinas. A avaliação do risco de micotoxinas é a avaliação científica da probabilidade de ocorrência dos efeitos adversos percebidos ou potenciais para a saúde resultantes da exposição dos animais às micotoxinas. Ela oferece informação sobre o desafio de micotoxinas, que pode ser: baixo, médio ou alto, dependendo da sensibilidade da espécie e da idade dos animais. Quando o desafio de micotoxinas é conhecido, a dosagem eficaz de um inativador de micotoxinas pode ser calculada de maneira mais adequada.

Resultados
Em 2020 analisamos 1.063 amostras da primeira e da segunda safra de milho no Brasil avaliando a presença de 9 diferentes micotoxinas: Fumonisinas (Fumonisina B1 (FB1) e Fumonisina B2 (FB2)), Aflatoxinas (Aflatoxina B1 (AFB1), Aflatoxina B2 (AFB2), Aflatoxina G1 (AFG1) e Aflatoxina G2 (AFG2)), Zearalenona (ZEA), Desoxinivalenol (DON), Ocratoxina A (OTA), Ácido ciclopiazônico (ACP), Nivalenol (NIV) Toxina HT-2 (HT-2), Toxina T-2 (T-2).
As amostras de milho foram coletadas diretamente das fazendas ou das fábricas de ração antes do armazenamento. Os provedores das amostras foram aconselhados a seguir os princípios da boa amostragem. Todas as micotoxinas foram analisadas por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas sequencial (LC MS/MS) no LAMIC, Brasil.
Para efeitos da análise dos dados, os níveis de não detecção foram baseados nos limites de quantificação (LQ) do método de ensaio para cada micotoxina: AFB1 <1 μg/kg; FB1 <125 μg/kg; FB2 <125 μg/kg; ZEA <20 μg/kg; DON <200 μg/kg; OTA <2,5 μg/kg; ACP <5 μg/kg; NIV <100 μg/kg; Toxina HT-2 <100 μg/kg e Toxina T-2 <100 μg/kg.
Os resultados mostraram que 80% das amostras de milho estavam contaminadas com Fumonisina B1 sendo a maior concentração encontrada em uma única amostra de 16.614 μg/kg. A concentração média de FB1 foi de 1.275 μg/kg, que é uma concentração relativamente baixa mas, quando fornecida para espécies sensíveis como suínos ou equinos, por exemplo, pode levar a consequências negativas (Tabela 1, Figura 1).
Levantamento das Micotoxinas do Milho: Adisseo Brasil 2020 - Image 1
Outro dado interessante é que 21% das amostras estavam contaminadas com Zearalenona, uma micotoxina conhecida pelo seu potencial de afetar o desempenho reprodutivo de animais reprodutores. A concentração média de ZEA detectada foi de 98 μg/kg, considerada uma contaminação média. Porém, estes níveis podem ser suficientes para gerar problemas reprodutivos em espécies sensíveis, como suínos. O nível máximo detectado foi de 1.163 μg/kg.
Tabela 1. Níveis de contaminação do milho no Brasil e avaliação de risco.
Levantamento das Micotoxinas do Milho: Adisseo Brasil 2020 - Image 2
A ocorrência de Aflatoxinas foi baixa — 17% apenas, mas os níveis médios de contaminação foram bastante elevados — 6 μg/kg, o que apresenta risco médio para vacas leiteiras, por exemplo. A concentração máxima de AFB1 recuperada foi de 21,2 μg/kg.
Dentre as amostras analisadas, 15% estavam contaminadas com Nivalenol, o nível de contaminação foi baixo com concentração média de 135 μg/kg e o nível máximo foi de 257 μg/kg. Apenas 4% das amostras continham DON, a concentração média foi baixa — 340 μg/kg, mas a maior concentração encontrada em uma das amostras para DON foi 2.058 μg/kg. Assim, o nível de contaminação por estes Tricotecenos (DON+NIV) apresenta risco médio para espécies animais mais sensíveis, como suínos e cavalos.
Percebemos que o milho das duas primeiras safras de 2020 apresentou níveis baixos ou médios para 5 micotoxinas: AFB1, FB1, ZEA, DON e NIV - contaminação por múltiplas micotoxinas. É necessário levar em conta o possível efeito aditivo das micotoxinas ou sinergismo. Diversas micotoxinas em níveis baixos a médios podem ter efeito negativo na saúde, reprodução e desempenho de animais quando estão presentes ao mesmo tempo que outras micotoxinas.
Levantamento das Micotoxinas do Milho: Adisseo Brasil 2020 - Image 3
A Figura 2 mostra a ocorrência de micotoxinas no período entre 2018 e 2020. Em 2020 o número de amostras de milho contaminadas com ZEA, DON e AFB1 foi maior do que em anos anteriores — uma tendência de ocorrência aumentando ano a ano durante estes três anos. Apenas o número de amostras contaminadas com FB1 em 2020 foi menor do que em 2019 (80 e 94% correspondentes). 
Levantamento das Micotoxinas do Milho: Adisseo Brasil 2020 - Image 4
Se compararmos a concentração média de amostras positivas em µg/kg (FB1, ZEA, DON e AFB1) em 2018, 2019 e 2020, podemos ver tendência semelhante - a concentração média de ZEA e AFB1 em amostras positivas foi significativamente menor em 2020 do que em 2019 e 2018. O nível médio de FB1 este ano foi menor do que em 2018, mas superior ao ano passado (2.660 μg/kg em 2018, 1.085 μg/kg em 2019 e 1.275 μg/kg em 2020). A média de AFB1 em 2020 foi de 6 μg/kg, menor que em 2019 (15 μg/kg) e 2018 (10 μg/kg).
Conclusões
Como comentado, observamos que o milho das duas safras de 2020 apresentou níveis baixos ou médios para 5 micotoxinas: AFB1, FB1, ZEA, DON e NIV. A contaminação múltipla por micotoxinas deve ser levada em conta devido ao possível sinergismo observado quando diferentes tipos de micotoxinas estão presentes, mesmo em níveis baixos a médios, podendo gerar efeitos negativos na saúde, reprodução e desempenho dos animais. 
Com base nos resultados desta pesquisa, o milho colhido no Brasil em 2020 não deve ser automaticamente considerado seguro para inclusão em rações para todas as espécies animais. Deve ser dada especial atenção à concentração média de FB1 (1.275 μg/kg), que foi encontrada em 80% das amostras com concentração máxima 16.614 μg/kg. O nível médio de DON e NIV de acordo com nossa tabela de avaliação de risco apresentam risco baixo a médio para animais sensíveis como leitões, suínos reprodutores e equinos. A AFB1 foi encontrada em nível médio de 6 μg/kg, o que apresenta risco médio para vacas leiteiras. Os níveis de ZEA foram baixos e representando um baixo risco para a saúde e desempenho animal.
Considerando as micotoxinas presentes e seus níveis, existe uma maior probabilidade de se observar efeitos negativos causados por coquetéis de micotoxinas (FUM, AFB1, ZEA, DON e NIV) especialmente quando o milho é utilizado em níveis de inclusão superiores a 50% da ração.
Os resultados das análises realizadas em 2020 em amostras do milho colhido no Brasil concluem que a safra deste ano é de qualidade ainda preocupante em relação à contaminação por micotoxinas. Uma adequada estratégia de gerenciamento das micotoxinas, assim como a inclusão de inativadores de micotoxinas na ração, são importantes ferramentas para evitar os diversos efeitos negativos das micotoxinas na saúde e no desempenho dos animais.
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Autores:
Júlia Dvorska
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Comentário
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Helio Antônio da Silva
5 de febrero de 2021
As micotoxinas, principalmente as Aflatoxinas, causam os mesmos efeitos no ser humano, apesar de não termos trabalhos científicos que abranjam os seres humanos, problemas no fígado, inclusive câncer, problemas de reprodução humana etc. Concluo, pensando, que todos esses efeitos analisados pelo ponto de vista "ração para animais" também se desdobram por analogia para os seres humanos.
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