Introdução
As micotoxinas são substâncias provenientes do metabolismo secundário de alguns fungos filamentosos. E estes estão amplamente presentes em matérias primas destinadas à alimentação animal, como os grãos, e são responsáveis por causar grandes prejuízos de ordem econômica e sanitária (HAUSCHILD, 2007). A zearalenona (ZEA) é uma micotoxina produzida por fungos do gênero Fusarium, destacando-se as espécies F. graminearum e F. roseum, encontrados principalmente em cereais, em especial o milho. Em leitoas, a ZEA possui propriedades estrogênicas e pode causar um quadro clínico de vulvovaginite, incluindo intumescência e edema de vagina, aumento da glândula mamária, hiperemia vulvar e anestro. Por se tratar de uma toxina luteotrófica, pode acarretar em infertilidade e aborto no segundo e no terceiro trimestre de gestação (TEIXEIRA, 2010). Uma forma de solucionar o problema é o uso de aditivos anti-micotoxinas (AAM) incluídos na dieta, sendo uma medida corretiva, para reduzir a absorção gastrointestinal das micotoxinas. Aditivios anti-micotoxinas (AAM) são produtos que quando adicionados em alimentos para animais, sejam capazes de adsorver, inativar ou biotransformar as micotoxinas (TEIXEIRA, 2010). Entre os compostos orgânicos utilizados na fabricação de AAM encontram-se as paredes de leveduras, principalmente de Saccharomyces cerevisiae. Sua parede é constituída basicamente por dois carboidratos: β-glucanos e mananos, ambos demonstrando um importante papel de adsorção (GRAHAM, 2010). O estudo das micotoxicoses se torna importante, pois o consumo agudo pode ocasionar sinais clínicos e sintomas específicos e o consumo crônico acarreta uma redução da eficiência produtiva e reprodutiva (TEIXEIRA, 2010). O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de um aditivo à base de parede celular de levedura, em condição de intoxicação experimental por zearalenona em leitoas pré- púberes.
Material e Métodos
O núcleo de ZEA foi produzido a partir da fermentação controlada de F. graminearum, tendo como substrato o arroz polido, de acordo com Jiménez et al. (1996), com modificações. Todo o núcleo de ZEA foi autoclavado, seco a 50°C e triturado. A micotoxina foi extraida atraves da coluna de extração MYCOSEP® 226 AFLAZON (RomerLabs®) e quantificada por Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE). O núcleo foi acrescido a ração das leitoas em proporção conveniente a fim de se obter a concentração de 2 mg/Kg de ZEA na ração experimental. Utilizou-se o delineamento em blocos ao acaso, sendo os tratamentos constituídos por: T01 (dieta sem ZEA ou dieta base – DB) e T02 (DB + 0,2% de AAM), T03 (DB + 2 mg/Kg de ZEA + 0,2% de AAM) e T04 (DB + 2 mg/Kg de ZEA). O experimento foi realizado utilizando-se de 36 leitoas pré-puberes, da linhagem Topig, com peso médio inicial de 7 kg. Calculou-se o peso vivo (PV) e conversão alimentar (CA) de todas as leitoas aos 21 dias de experimento. E ainda, foi realizada vulvometria com paquímetro digital do volume vulvar (altura, largura e profundidade da vulva). No final do experimento todos os animais foram abatidos, cumprindo o período de 6 horas de jejum alimentar e insensibilizados por eletronarcose. O trato reprodutivo foi pesado e medido. Os resultados foram submetidos à análise de variância. O nível de significância para informar as diferenças foi de P 0,05. As comparações estatísticas foram realizadas entre controle e tratamentos segundo teste estatístico de comparação de Tukey para verificar diferenças entre as médias. Toda a análise estatística foi realizada no pacote estatístico R (R Development Core Team, 2009).
Resultado e Discussão
Os valores médios de PV, CA, vulvometria, comprimento e peso relativo do trato reprodutivo dos quatro tratamentos estão dispostos na tabela 1. Não foram observadas diferenças estatísticas de PV e CA entre os tratamentos. No entanto, foi observada diferença significativa nos valores de vulvometria, peso e comprimento do trato reprodutivo de T01 e T02 em relação aos demais tratamentos, e esta diferença foi ocasionada pela adição de ZEA, sendo que o AAM não pode reverter esse efeito. O presente estudo concorda com os resultados de Hauschild et al. (2007), onde a adição de ZEA na dieta não alterou a conversão alimentar, o consumo de ração, o ganho de peso e o peso vivo dos animais, pois esta micotoxina não altera a digestibilidade das dietas e o metabolismo protéico e energético de suínos. Teixeira (2010) evidenciou que o uso de AAM não reduziu os efeitos provocados pela ZEA em experimentação in vivo, o que coincide com o estudo em questão. Em acordo com Andretta et al. (2008), que relatou que a adição de 2 mg/Kg de ZEA nas dietas aumentou o volume vulvar, o peso e o comprimento do trato reprodutivo confirmando as manifestações estrogênicas da ZEA.
Tabela 1. Médias de peso vivo, conversão alimentar, vulvometria, peso relativo e comprimento do trato reprodutivo dos quatro tratamentos aos 21 dias de experimento.
Conclusão
A concentração de 2 mg/kg de ZEA acrescida na dieta não alterou o PV e a CA de leitoas pré-púberes, porém reproduziu os sinais clínicos de aumento da área vulvar, do peso e do comprimento do trato reprodutivo. O produto em questão não expressou o efeito anti-micotoxina desejado, por provável saturação da molécula adsorvente, por se tratar de uma alta concentração de ZEA. Devem ser realizados mais estudos acerca deste assunto, utilizando-se concentrações menores de ZEA, assim como ocorrem naturalmente.
Referências Bibliográficas
ANDRETTA, I.; LOVATTO, P. A.; HAUSCHILD, L.; DILKIN, P.; GARCIA, G. G.; LANFERDINI, E.; CAVAZINI, N. C.; MALLMANN, C. A. Alimentação de leitoas pré-púberes com dietas contendo zearalenona. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 60, n. 5, p.1227-1233, 2008.
GRAHAN, H.; SANTOS, T.; WADT, G. Modo de ação de produtos à base de leveduras na nutrição animal. Avisite, 2010. Disponível em: <http://www.avisite.com.br/cet/img/20091105_leveduras.pdf>Acesso em: 10 mar. 2012.
HAUSCHILD, L.; LOVATTO, P. A.; LEHNEN, C. H.; CARVALHO, A. V.; GARCIA, G. G.; MALMANN, C. A. Digestibilidade e metabolismo de dietas de suínos contendo zearalenona com adição de organoaluminossilicato. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42, n. 2, p. 219-224, 2007.
JIMÉNEZ, A.; MÁÑEZ, M.; HERNÁNDEZ, E. Influence of water activity and temperature on the production of zearalenone in corn by three Fusarium species. International Journal of Food Microbiology, v. 29, p. 417-421, 1996.
TEIXEIRA, L. C. Efeitos da zearalenona em leitoas pré-puberes e eficácia de aditivo anti-micotoxina na prevenção da micotoxicose. Curitiba, Paraná: Universidade Federal do Paraná, 2010. Originalmente apresentada como dissertação de Mestrado (Ciências Veterinárias). 100p
Esse artigo técnico foi originalmente publicado no VIII Fórum da Pós-Graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), RJ.