Durante os últimos anos, os problemas reprodutivos em aves de ciclo longo (machos e fêmeas), tem tido um aumento considerável se os compararmos com a casuística respiratória apresentada neste tipo de aves. O objetivo principal do produtor é o de ter os índices de produção das suas aves altos, com ótima qualidade e gerando uma progênie saudável e que terá um excelente comportamento zootécnico no campo; no entanto, problemas de queda de fertilidade e alteração da qualidade do ovo e do pintinho estão sendo cada vez mais e mais freqüentes, quebrando o elo principal da criação das aves.
Neste sentido, apresentaremos algumas teorias e dados que sugerem a relação do vírus da bronquite infecciosa das galinhas (VBIG) e do pneumovírus aviário (aMPV) com os problemas descritos anteriormente. É importante considerar que, embora estejamos apresentando a relação direta destes vírus com esta sintomatologia, os mesmos são apenas uma das causas deste tipo de patologias, não se podendo, portanto, descartar outras etiologias (sejam infecciosa ou não).
O vírus da Bronquite infecciosa (VBIG) é um vírus epiteliotrópico que causa doença aguda e, em alguns casos, severa nos tratos respiratório, renal, reprodutivo e entérico de galinhas (6, 8, 12). A replicação no oviduto resulta em declínio da produção e da qualidade dos ovos (13, 14, 21). Este VBIG (um coronavírus) causa, portanto, consideráveis perdas econômicas à indústria avícola.
Por sua vez, o pneumovírus aviário (Metapneumovírus aviário, aMPV) pertence à família
Paramyxoviridae. Com base em padrões de neutralização utilizando anticorpos monoclonais e análise molecular, os pneumovírus são subdivididos em quatro subtipos diferentes (A, B, C e D) (3, 15, 17). Em poedeiras comerciais, a infecção por aMPV pode afetar a qualidade dos ovos (11) e causar uma ampla gama de anormalidades reprodutivas incluindo peritonite por ovos, queda de produção, ovos com alteração no formato da casca e regressão do ovário e do oviduto (15). As infecções por aMPV também são associadas com a síndrome da cabeça inchada em galinhas.
Em estudos anteriores em machos, demonstrou-se que vários fatores podem alterar a produção de esperma fértil, o que pode levar à presença de cálculos na região epididimária, mais especificamente nos ductos deferentes (21). Alguns autores demonstraram que galos com cálculos podem ter testículos com tamanho e peso menor e diminuição da produção diária de esperma (4). Embora o VBIG e o aMPV já tenham sido sugeridos como possíveis causas de formação de pedras de cálcio no epidídimo, uma associação definitiva ainda não foi estabelecida (Villarreal, et al 2007).
Um fato interessante é que a vacinação com vacina viva atenuada de bronquite infecciosa já foi associada com o desenvolvimento de pedras testiculares e, portanto, com problemas de redução da fertilidade (4). No entanto, Mahecha
et al. (2002) demonstrou que não existe uma relação definitiva entre a vacinação com vacina viva de VBIG e a ocorrência de cálculos, uma vez que lotes que não receberam nenhum tipo de vacinação de BIG também apresentaram tal lesão.
É importante que lembremos que o papel do VBIG e o aMPV na patogenia reprodutiva da fêmea se deriva da replicação destes vírus no epitélio ciliado do trato reprodutivo, resultando em perda de cílios, degeneração e necrose das células epiteliais e glandulares (Pradhan et al, 1982; Wilding et al, 1986). Da mesma forma, o epitélio dos ductos eferentes dos testículos dos machos também consiste de células ciliadas e não ciliadas, sendo estas, portanto, bastante susceptíveis à replicação destes dois vírus.
A região epididimária dos galos consiste de uma rede testicular, ductos eferentes, ductos conectores e o ducto epididimário. Uma das principais estruturas dos testículos são exatamente os ductos eferentes e a sua função primária inclui reabsorção de fluidos, transporte e concentração de esperma, fagocitose do esperma e secreção de proteínas (21).
Já é bem estabelecido que uma das anormalidades que podem levar à baixa de fertilidade em galos é a formação de pedras de cálcio nos ductos deferentes. Uma vez que os cálculos são formados nos ductos deferentes na região epididimária, a produção e a viabilidade do esperma são seriamente comprometidas, uma vez que os ductos deferentes são responsáveis pela reabsorção de fluido dos testículos e qualquer dano desta função leva a acúmulo e refluxo de fluidos, atrofia testicular e infertilidade.
A associação entre infecção por IBV e aMPV em testículos de galos com lesões epididimárias microscópicas associadas com baixa fertilidade e problemas respiratórios em lotes de reprodutores com baixa performance reprodutiva é um fato conhecido. A relação entre a replicação do VBIG e a queda de fertilidade é explicada pela capacidade deste vírus em destruir os ductos eferentes, o epidídimo, os túbulos seminíferos e por ser uma das causas que levam ao aparecimento de cálculos epididimários (Figura 1) Boltz et al. (2004) e Villarreal et al (2007).
Como exposto anteriormente, o aMPV tem tropismo por células epiteliais ciliadas do trato reprodutivo das fêmeas, e é, portanto, bastante provável que este vírus tenha um papel principal na patogenia reprodutiva em machos.
Outras infecções (bactérias como
Chlamydophila) e agentes tóxicos (aflatoxinas) não devem ser descartados, uma vez que estes também podem suprimir a espermatogênese, levando a anormalidades dos espermatozoides e atrofia dos testiculos e, além disso, tais eventos já foram também associados com calcificação, urolitíase e cálculos.
Falhas de manejo, incluindo estimulo de luz e alimentação, são também fatores diretamente responsáveis por alteração na multiplicação das células de Sertoli, as quais determinam o potencial de fertilidade dos machos, fatores este que devem também ser levados em conta.
Concluindo-se, o VBIG e o aMPV são altamente sugestivos de possuir um papel importante em complicações reprodutivas nos machos e devem ser considerados sempre como agentes etiológicos neste tipo de alterações. Avaliações dos programas vacinais utilizados, assim como manejo e outros possíveis agentes devem estar sob constante monitoramento na granja.
Figura 1: A e B. Calculos testiculares na região dos ductos deferentes, evidenciados em machos apresentando queda acentuada da fertilidade.