A redução ou até mesmo a proibição do uso de antibióticos na avicultura é um tema bastante relevante e que vem sendo discutido com muita ênfase. Uma série de fatores vêm contribuindo para que este cenário esteja cada vez mais presente em nossa realidade, especialmente devido às exigências do consumidor, que tem optado por uma alimentação cada vez mais saudável. Além disso, o uso, muitas vezes indiscriminado, dos antibióticos no setor produtivo pode ter contribuído para o surgimento de bactérias resistentes tornando o tratamento médico para humanos bastante complicado. Para atender a essa necessidade, as agroindústrias têm colocado na ponta do lápis a inclusão de tecnologias mais sustentáveis, sem abrir mão da qualidade dos produtos e da rentabilidade, especialmente quando seu objetivo é exportar para os mercados mais exigentes como, por exemplo, o mercado europeu e/ou para as grandes redes multinacionais de supermercados e fast food que são bastante rigorosos quanto à existência de resíduos de antibióticos nas carnes.
A crescente resistência bacteriana aos antibióticos acendeu um sinal vermelho fazendo com que os órgãos reguladores passem a ser mais rigorosos com relação ao uso de antibióticos na alimentação animal, uma vez que resíduos destes medicamentos presentes nas carnes podem ser transferidos para os humanos por meio da alimentação. Estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que a resistência aos antimicrobianos causa a morte de 700 mil pessoas por ano em todo mundo, sendo que, o uso em alta escala pode resultar em 10 milhões de óbitos até 2050. O assunto preocupa também a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que se medidas importantes não forem tomadas para conter a situação, as superbactérias serão mais letais do que o câncer em 2050.
Países da União Europeia não utilizam antibióticos melhoradores de desempenho na nutrição dos animais desde 2006. Sendo a União Europeia um dos principais destinos das exportações do mercado de aves brasileiro, se faz necessária a adequação das empresas nacionais a essa nova demanda. Além disso, tendo a União Europeia como referência, outros mercados importantes estão também restringindo o consumo de produtos alimentícios de animais que receberam antibióticos em suas dietas. Assim, a adequação a este novo formato de produção se faz necessário visto que o Brasil é um dos principais exportadores de carne de frango do mundo, embarcando o produto para mais de 160 países. Em 2018, a receita brasileira obtida com os embarques foi de US$ 1,2 bilhão, apontou os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDCI). O Paraná é responsável por cerca de 38% de toda a carne que é produzida e exportada, conforme dados do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar).
No Brasil, normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), já proíbem a utilização de alguns tipos de antibióticos como promotores de crescimento e estabelecem regras dessa utilização para garantir a qualidade final do produto. Além disso, a instituição criou o Programa Nacional de Prevenção e Controle de Resistência aos Antimicrobianos na Agropecuária (AgroPrevine), justamente para capacitar e conscientizar sobre a urgência em combater a Resistência aos Antimicrobianos (RAM).
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) apontam que a carne de frango é a proteína animal mais consumida no Brasil e está em constante crescimento. Por se tratar de uma carne com baixo teor de gordura, ser nutritiva e rica em proteínas, ela é apontada por especialistas como indispensável para uma alimentação saudável. Por isso, os produtores precisam se preparar para iniciar um processo de redução do uso de antibióticos em suas granjas pensando também no mercado interno.
Em um primeiro momento, o avicultor pode encontrar dificuldades para se adaptar a essa nova realidade. Inicialmente, para auxiliar nessa transição, os cuidados na forma de trabalho podem ser uma iniciativa preliminar. Também é eficiente buscar aprimorar o manejo, melhorar a ambiência, fazer uso de equipamentos de alta tecnologia nos aviários, bem como fazer uso de programas de vacinas eficientes e de alta qualidade, entre outros. Isso tudo contribuirá para que o uso de antibióticos se torne cada vez menos necessário.
Concomitantemente a estes cuidados, há no mercado um vasto número de alternativas naturais para tornar essa adequação possível. Pesquisadores têm trabalhado fortemente na busca de ferramentas que não são prejudiciais à saúde humana, mantendo a qualidade e produtividade esperada dos produtos de origem animal. Em parceria com empresas, universidades ao redor do mundo têm desenvolvido estudos em busca de soluções naturais que sejam alternativas ao uso de antibióticos.
Entre os focos das pesquisas estão os probióticos, que são microrganismos “benéficos” e que ajudam a manter saudável o intestino e o desenvolvimento das aves; os prebióticos, que dificultam a instalação das bactérias danosas ao animal; os minerais orgânicos, que são primordiais ao desenvolvimento geral dos animais; entre outros.
Em um dos estudos recentes realizados pela Alltech, foi feita uma análise sobre dois grupos de criação de aves: um com uso de antibióticos em sua dieta, e, o outro, livre desses componentes e com uma dieta apenas com soluções naturais à base de leveduras. No segundo grupo, os resultados foram equivalentes aos encontrados no primeiro grupo. Além disso, as aves livres de antimicrobianos apresentaram um aumento significativo de peso, um melhor funcionamento intestinal e ainda uma menor taxa de mortalidade.
A inclusão dessas soluções naturais na alimentação dos animais mostrou que é possível reduzir o uso de antibióticos, mantendo a qualidade, a sanidade e até mesmo a produtividade e a rentabilidade do processo. É importante que o avicultor, ao optar pela não utilização de antibióticos como melhoradores de desempenho, realize um mapeamento de todas as variáveis de sua produção (ambiência, qualidade do ar, água, ração, programas de vacinas, entre outros), buscando sempre o auxílio de profissionais técnicos para obter o suporte necessário nesta transição, evitando qualquer problema sanitário em sua granja.
Esses resultados provam que é possível reduzir o uso de antibióticos na produção avícola e que isso pode ser benéfico para a produtividade do plantel. Os fatos mostram que essa não é mais uma mera tendência do mercado e sim uma mudança inevitável, que irá se tornar cada vez mais presente em nosso cotidiano. É fato que os avicultores precisam se adequar a esta nova realidade, sempre visando tornar seu produto ainda mais competitivo nos mercados interno e externo.