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Resultados laboratoriais aves

Interpretação de resultados laboratoriais

Publicado: 17 de setembro de 2012
Por: Carlos Tadeu Pippi Salle, Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária (CDPA), Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), RS.
A avicultura brasileira é um dos setores da pecuária mais permeáveis à absorção de novas tecnologias. Esta característica, aliada ao trabalho árduo dos avicultores, contribuiu muito para levar o Brasil à importante posição que ocupa hoje no cenário internacional. Partindo de uma atividade de cunho doméstico, onde os grandes astros eram os frangos de peito duplo, os produtores organizaram-se em empresas, sejam elas integrações ou cooperativas, e alcançaram as bolsas de valores. Foi um progresso fantástico em um curto espaço de tempo. Resumindo, hoje partem de um animal com 40 gramas e entregam o produto a ser abatido com 50 vezes este peso, em menos de 45 dias. As inovações tecnológicas baixaram os custos e levaram este alimento a ser o símbolo de programa econômico do governo brasileiro, o Plano Real, e chegar á mesa das camadas menos favorecidas da população.
Dentre os distintos componentes que caracterizam a avicultura, atualmente um recebe destaque especial, a sanidade. O mundo descobriu que a garantia sanitária é fundamental para preservar a saúde pública e a dos plantéis. Assim sendo, criaram-se regras sanitárias para a comercialização e punições, ou barreiras, para aqueles que as violam. Neste ponto, foi percebido que o diagnóstico correto, clínico e laboratorial, e as monitorizações sanitárias assumem importância crucial. Decorrente disto, os laboratórios, oficiais e privados, desempenham a função de garantidores da qualidade sanitária dos produtos avícolas comercializados interna e externamente. Mais ainda, são fontes geradoras de uma infinidade de dados, os laudos laboratoriais, que devem servir como suporte à decisão relacionada à manutenção ou às modificações nos programas sanitários. Freqüentemente, estas decisões estão associadas a investimentos vultosos na preservação da saúde das aves.
As monitorizações que a avicultura, freqüentemente, realiza são as sorológicas. Elas visam conhecer o estado imunológico das aves, principalmente as reprodutoras, frente aos agentes infecciosos responsáveis pelas doenças mais comuns que acometem estes animais. Neste caso, um número de amostras representativo do lote é fundamental para que os resultados gerados tenham representatividade. Também é necessário planejar a tomada das amostras de acordo com as distintas idades dos animais, com o intuito de estabelecer uma relação entre a idade e a resposta imunológica obtida. Esta associação entre as duas variáveis citadas é expressa sob a forma de uma curva e pode ser explicada através de modelos matemáticos específicos (Salle et al., 1998b; Salle et al, 1998; Salle et al., 1999). Outros objetivos das monitorizações são avaliar a qualidade das vacinas empregadas, o método de vacinação utilizado e os possíveis desafios por agentes patogênicos, presentes no campo. Ainda, a monitorização poderá vislumbrar as interrelações entre os títulos de anticorpos e os parâmetros de produção (Salle ; Silva, 2000).
Com os modelos matemáticos calculados, é possível saber qual o título de anticorpos esperados em cada semana de vida dos animais. Para isto, a equação resultante pode ser transferida para uma planilha eletrônica e, uma vez digitada a idade desejada, será revelada qual o título esperado para esta semana de idade. A figura seguinte exemplifica o escrito acima para aves com 32 semanas de idade. Se outro número for digitado na casela correspondente á idade, os títulos esperados serão modificados automaticamente.
Figura 1. Exemplo de títulos de anticorpos esperados em matrizes de corte para doença de Newcastle, Bronquite infecciosa e doença de Gumboro
Interpretação de resultados laboratoriais - Image 1
Depois de conhecidos os resultados esperados é necessário compará-los com aqueles contidos no laudo remetido pelo laboratório e concluir se os animais apresentam algum problema, ou não.
A doença de Gumboro ocorre mundialmente e tem se constituído em preocupação constante para os veterinários. A vacinação é uma excelente alternativa no controle da enfermidade. Porém, a escolha da vacina a ser usada deve ser criteriosa, pois, algumas delas, podem causar dano histologicamente indistinguíveis do vírus de campo (Moraes et al., 2004). Outro fator a ser considerado, neste caso, é a presença de anticorpos maternos. Estes, por sua vez e nas circunstâncias experimentais usadas, foram capazes de proteger contra o desafio com vírus altamente patogênico, pelo menos, na primeira semana de vida. Porém, quando foram comparados os resultados de duas grandes integrações brasileiras o nível de proteção de cada uma delas era diferente, ou seja, enquanto na primeira a proteção durava sete dias, na outra os animais eram capazes de resistir ao desafio por 12 dias. Assim sendo, uma recomendação geral, ou única, de vacinação acabaria prejudicando uma delas (Moraes et al., 2005). A solução para este impasse é a construção de modelos matemáticos que reflitam o status imunológico contra Gumboro nas primeiras semanas de vida, em cada uma das empresas, e ajustar os programas de vacinação de acordo com as necessidades apuradas. A Figura 2 demonstra o relatado anteriormente, considerando um título protetor de 3,4 log10.
Figura 2. Relação entre idade e títulos de anticorpos maternos de duas empresas avícolas brasileiras, capazes de resistir ao desafio com vírus altamente patogênico da doença de Gumboro.
Interpretação de resultados laboratoriais - Image 2
A fórmula de Daventer foi desenvolvida por de Wit e é amplamente conhecida pelos profissionais da avicultura. No trabalho em questão, é apresentado ao leitor uma série de alternativas para serem ajustadas à realidade do usuário. Apesar de ser um bom guia para orientar o momento da vacinação, ainda se constitui um modelo geral e não oferece a alternativa de conhecer o título de anticorpos contra Gumboro nos distintos dias de idade das aves. Porém, em nenhum momento o autor cogita a vacinação contra essa doença no primeiro dia de vida frente às maiores quantidades de anticorpos maternos.
Outra fonte de preocupação para os profissionais da avicultura são as micotoxinas, principalmente as aflatoxinas. São bem conhecidos os prejuízos que elas causam às aves e, freqüentemente, são realizadas monitorizações para verificar a quantidade desta toxina nos alimentos ou nas vísceras dos animais. Estas verificações devem servir ao propósito de decidir se os animais correm risco e, se assim o for, estabelecer a relação entre o investimento a ser realizado em medidas que combatam as aflatoxinas e o benefício esperado. Quando os exames laboratoriais detectam altas quantidades da toxina a interpretação dos resultados fica facilitada e a predição dos prejuízos, mesmo que empiricamente, é bem realizada. No entanto, na maioria das vezes os resultados não são tão fáceis de interpretar, pois as quantidades podem ser, por exemplo, de 10 a 15 ppb. Também é conhecido que existe uma relação entre a quantidade de aflatoxinas e os prejuízos que trazem aos parâmetros produtivos dos animais (Salle et al., 1998a) Nestas quantidades exemplificadas, valeria a pena o uso de adsorventes como inibidores da absorção da toxina e, usando-os, resultaria em uma esperada redução do dano aos animais? Para responder a estas questões é necessário a construção de modelos que relacionem as quantidades de toxinas presentes no alimento e os reflexos nos parâmetros de produção. Quando isto é realizado, são obtidas equações que permitem inferir os malefícios e simular situações distintas da vivida naquele momento, tanto para melhor quanto para pior. Ao ser realizada a simulação fica mais fácil compreender, decidir e sustentar, com argumentos compreensíveis, a todos a razão para investir em um tratamento, que pode ser dispendioso, em momentos nos quais a palavra de ordem dentro das empresas é "redução de custos". A Figura 3 pretende demonstrar, com dados simplificados, como é possível realizar esta tarefa, quando se dispõem dos modelos apropriados a este fim. Neste exemplo, foram utilizados os modelos gerados anteriormente (Salle et al., 1998a) e foi arbitrada uma quantidade de aflatoxina de 12 ppb. O preço da carne fixado em R$ 1,00 por quilograma de peso vivo e em R$ 0,30 o custo aproximado do quilograma de ração. Também foi estabelecido em R$ 21.731,00 o custo com um adsorvente que, obedecendo uma expectativa deliberadamente pessimista, impede a absorção de somente 80% da toxina presente no alimento. Conseqüentemente, 20% da aflatoxina continuará exercendo o seu efeito deletério, mesmo na presença do tratamento. Foram consideradas somente duas variáveis: peso médio e índice de conversão alimentar. Este custo foi dimensionado para um módulo de um milhão de frangos de corte. A pergunta que se impõe é: usaria, ou não, o tratamento sugerido? Os números apresentados nas Figuras 3a e 3b ajudarão a respondê-la.
Figura 3a. Simulação simplificada de perdas por aflatoxinas (12 ppb) usando, ou não, adosrventes na ração de um milhão de frangos de corte.
Figura 3b. Simulação simplificada de perdas por aflatoxinas (12 ppb) usando, ou não, adosrventes na ração de um milhão de frangos de corte.
Ressalte-se que os modelos aqui apresentados são específicos e tem objetivo meramente ilustrativo. Não devem ser usados em outra situação que não aquela para a qual foram criados. Assism sendo, demonstra-se que é possível criar modelos para cada situação específica.
 
REFERÊNCIAS
1. MORAES, H. L. S.; SALLE, C. T. P.; PADILHA, A. P.; NASCIMENTO, V. P.; SOUZA, G. F.; PEREIRA, R. A. et al. Infectious bursal disease: evaluation of pathogenicity of commercial vaccines from Brazil in specific pathogens free chickens. Brazilian Journal of Poultry Science, v. 6, n. 4, p. 243-247, 2004.
2. MORAES, H. L. S.; SALLE, C. T. P.; NASCIMENTO, V. P.; SALLE, F. O.; ROCHA, A. C. G. P.; SOUZA, G. F. et al. Infectious bursal disease: evaluation of maternal immunity and protection by vaccination of one-day old chicks against challenge with a very virulent virus isolate. Brazilian Journal of Poultry Science, v. 7, n. 1, p. 51-57, 2005.
3. SALLE, C. T. P.; CÉ, M. C.; LORENZINI, G.; SFOGGIA, M. V. B.; GUAHYBA, A. S.; MORAES, H. L. S. et al. Correlation between aflatoxin and ocratoxin levels with production parameters in a poultry company. Abstracts of the IV Asia-Pacific Poultry Health Conference, Melbourne - Australia, p. 131-131, 1998a.
4. SALLE, C. T. P.; CÉ, M. C.; WALD, V. B.; SANTOS, C. H. C.; NASCIMENTO, V. P.; CANAL, C. W. et al. Estabelecimento de critérios de interpretação para os resultados sorológicos de matrizes de corte através de modelos matemáticos. Brazilian Journal of Poultry Science, v. 1, n. 1, p. 61-65, 1999.
5. SALLE, C. T. P. ; SILVA, A. B. Prevenção de Doenças / Manejo Profilático / Monitorização. In: A.BERCHIERI JUNIOR ; M. MACARI (Eds.). Doenças das Aves 2000. p. 03-12.
6. SALLE, C. T. P.; SOARES, R. B.; CÉ, M. C.; SILVA, A. B.; MORAES, H. L. S.; NASCIMENTO, V. P. et al. Modelos matemáticos para avaliar a resposta imune de aves à doença de Newcastle. A Hora Veterinária, v. 17, n. 102, p. 41-44, 1998b.
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Autores:
Tadeu Salle
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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Enesia abadia ferreira vilas boas
8 de marzo de 2016
Mais aqui não fala o remédio que eu posso dar pro Frago emalaia
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