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Estratégias de vacinação em criações de alta densidade. Experiências na Ásia, Europa e Estados Unidos.

Publicado: 5 de maio de 2015
Por: Marcelo Paniago *Director Global Veterinary Services - Poultry Ceva Santé Animale - France
Introdução
A avicultura de postura cresce em todas as partes do mundo. Entre 2000 e 2013, a produção mundial de ovos cresceu 31%, um aumento médio de 2,4% ao ano (Conway, 2014). Nesse período, a indústria de produção de ovos se modernizou e enfrentou demandas crescentes de consumidores.
Na Europa, as maiores mudanças foram consequências de pressões de associações de consumidores por bem-estar animal e pela qualidade dos ovos (microbiológica e ausência de resíduos de drogas antimicrobianas), o que resultou no banimento de gaiolas convencionais e o surgimento de legislação específica para essa indústria.
Nos Estados Unidos, depois do maior “egg recall” da indústria americana ocorrido em meados de 2010, em que mais de meio bilhão de ovos foram retirados das prateleiras, a preocupação com a qualidade microbiológica dos ovos aumentou significativamente e as empresas adotaram a vacinação contra salmonelose como um dos instrumentos de prevenção das consequências associadas a essa enfermidade. Além disso, na Califórnia, há atualmente discussões sobre o banimento de gaiolas convencionais.
Na Ásia, a constante pressão de doenças infecciosas e os altos custos de matéria prima foram alguns dos fatores que influenciaram as mais significativas mudanças recentemente observadas na indústria produtora de ovos. Esses fatores levaram produtores a investir em granjas maiores e mais modernas para otimizar os custos de produção e com maiores rigores de biosseguridade para diminuir os riscos sanitários.
Sem dúvida alguma, todos esses fatores têm influência sobre as estratégias de vacinação adotadas em diferentes partes do mundo. Este artigo abordará aquelas mais comumente adotadas por produtores de ovos de diferentes partes do mundo para aumentar as chances de que os lotes de poedeiras sejam adequadamente imunizados contra as doenças mais prevalentes em cada região.
Fatores que influenciam as estratégias de vacinação na avicultura de postura
É muito difícil, senão impossível, identificar todos os fatores que influenciaram e ainda influenciam as recentes mudanças na cadeia de produção de ovos em diferentes regiões do mundo. Entretando, alguns importantes vetores e suas consequências para a indústria são comuns a diversos países e serão, de forma resumida, discutidos a seguir.
Qualidade dos ovos de mesa
Na Europa ocidental, a pressão de grupos de consumidores levaram ao banimento das gaiolas convencionais em 2012. Entretanto, outro fenômeno vem sendo observado nos países da União Europeia (UE): o crescimento de produção de ovos em sistemas considerados alternativos. Em 2008, cerca de 25% das poedeiras eram criadas nesses sistemas alternativos. Em 2013, apenas 5 anos depois, 42% das aves estão alojadas fora das gaiolas (Tabela 1).
Tabela 1. Número de poedeiras por tipo de criação na União Europeia.
Estratégias de vacinação em criações de alta densidade. Experiências na Ásia, Europa e Estados Unidos. - Image 1Fontes: EC/PVE & Poultry Trends 2014.
Além da ênfase em bem-estar animal, existe forte pressão de associações de consumidores pela qualidade microbiológica dos ovos e ausência de resíduos de drogas antimicrobianas. Essas diretrizes norteiam a legislação e as ações dos produtores europeus.
De fato, os Estados-membros (EM) da União Europeia implementaram programas de controle de Salmonella Enteritidis and S. Typhimurium em granjas de poedeiras com o objetivo de fornecer ovos para consumo humano de acordo com o Regulamento “EC 2160/2003”. Posteriormente, o regulamento “EC 1168/2006”, com definição de amostragens e protocolos de testes para poedeiras, estabeleceu objetivos de redução da incidência de lotes positivos para SE e ST para menos de 2% do total.
Com metas ambiciosas e controle rígido, os produtores de ovos adotaram a vacinação contra a SE e ST como importante ferramenta para prevenção dessas enfermidades. É interessante observar que duas tendências da produção de ovos observadas na Europa não são necessariamente antagônicas ou mesmo incompatíveis. Como já foi mencionado anteriormente, existe clara tendência de adoção de sistemas considerados alternativos para produção de ovos. Entre 2008 e 2012, o percentual de aves de postura comercial criadas como “free range” passou de 8,8% para 12,6% do total (Tabela 1). Nesse mesmo período, na UE, a positividade de lotes para SE e ST decresceu de 3,5% para 1,3% dos lotes. Esses dados sugerem que aves criadas fora de gaiolas não terão, necessariamente, maior índice de contaminação por SE/ST.
Por fim, o mais recente relatório da European Food Safety Authority (EFSA), publicado em 2014 e com dados referentes ao ano de 2012, afirma que 24 EM e 3 não EM atigiram suas respectivas metas de redução de SE e ST. Somente a Bélgica, Chipre e Luxemburgo não atingiram seus respectivos objetivos de diminuição da prevalência desses serovars de Salmonella. Em geral, na UE, como já mencionado, a prevalência de positividade nos lotes testados no âmbito dos programas de controle obrigatórios foi de 1,3%.
A pressão de consumidores por ausência de resíduos de drogas antimicrobianas também teve impacto sobre os programas de vacinação na Europa. De fato, a proibição de intervenções terapeuticas durante o período de produção de ovos estimulou a utilização de algumas vacinas, como por exemplo contra Escherichia coli.
Assim como na Europa, a preocupação com a qualidade microbiológica dos ovos de mesa cresceu sobremaneira nos últimos anos nos Estados Unidos, principalmente depois da crise que abateu sobre o setor em meados de 2010 quando mais de meio bilhão de ovos foram retirados das prateleiras. Diante disso, empresas se viram obrigadas a revisar os procedimentos de bioseguridade e, apesar do tamanho dos lotes (Tabela 2) e as inerentes dificuldades para vaciná-los, adotar programas mais rigorosos de vacinação contra SE/ST.
Tabela 2. Porcentagem de granjas e porcentagem de aviários por capacidade máxima de alojamento.
Estratégias de vacinação em criações de alta densidade. Experiências na Ásia, Europa e Estados Unidos. - Image 2Fonte: Layers 2013 - Part I. USDA
Além disso, na Califórnia, há atualmente discussões sobre o banimento de gaiolas convencionais e isso também poderá ter impacto nas estratégias de vacinação de poedeiras.
Prevalência de doenças
É interessante notar que a prevalência de doenças tem impactos direto e indireto sobre indústria avícola. Além do impacto direto sobre a saúde dos lotes e consequentemente a adoção de vacinação como forma de reduzir as perdas relacionadas com a doença, em alguns países asiáticos, por exemplo, alta prevalência de doenças como Doença de Newcastle e Influenza Aviária tem estimulado produtores a investir em complexos de produção maiores e com melhor biosseguridade como forma de dimunuir os riscos de perdas em consenquência de tais doenças.
Entretanto, quanto maiores forem os complexos de produção de ovos, mais dificuldades haverá para que os lotes sejam adequadamente vacinados. Nesse contexto, se houver falhas nos procedimentos de biosseguridade e de vacinação, as perdas poderão ser enormes. Assim, as estratégias de vacinação tornam-se cruciais para o sucesso desse modelo de produção de ovos.
Crescimento das economias de países emergentes
É interessante notar que nem todos os fatores que influenciaram e influenciam as estratégias de vacinação têm relação direta com doenças ou com a qualidade microbiológica dos ovos de mesa. É interessante notar que o significativo crescimento das economias dos países emergentes observado na última década trouxe mudanças profundas em diversos setores produtivos e não foi diferente com o setor avícola.
De fato, esse crescimento trouxe oferta de empregos melhores e mais bem remunerados em centros urbanos. Assim, trabalhadores da indústria avícola com melhor qualificação tenderam a se mudar para centros urbanos maiores em busca de melhores oportunidades. Inegavelmente, essa situação tem levado à escassez aguda de mão de obra qualificada nas granjas e incubatórios.
Em alguns países, para minimizar esse problema (e para reduzir os gastos com salários e impostos), até mesmo imigrantes ilegais são utilizados nas empresas de produção de ovos. Isso acarreta, além dos problemas legais, dificuldades para o adequado treinamento desses empregados em função das barreiras de comunicação. Outra consequência observada foi a maior rotatividade de trabalhadores nas granjas avícolas. Não raramente, aqueles menos qualificados ou mais mal treinados são os que permanecem nas granjas.
Essa situação não deverá mudar nas próximas décadas. Segundo a FAO, aproximadamente 70% da população viverá em centros urbanos em 2050. Hoje, esse número atinge cerca de 49%.
Melhoramento genético
Um dos objetivos das casas genéticas tem sido aumentar o período produtivo das aves de postura e consequentemente existe pressão para selecionar aves com alto potencial de persistência de produção de ovos. Assim, num futuro próximo, será possível manter lotes produzindo eficientemente, sem sofrer muda forçada, por cerca de 100 semanas.
Obviamente, a maior permanência das poedeiras nas granjas tem impacto direto no programa de vacinação a que serão submetidas e a duração da imunidade passará a ter peso considerável na escolha das vacinas e nos desenhos dos programas de vacinação.
Aumento dos custos de produção
Um fator, entretanto, é comum a produtores de todos os lugares. O grande aumento dos custos de produção de ovos observado na última década em função dos crescentes aumentos dos preços dos insumos fez com que as empresas investissem em unidades de produção cada vez maiores com o objetivo reduzir o custo de produção por meio de ganhos de escala. A consequência imediata dessa concentração de aves numa mesma área (granja) para aumentar a eficiência do negócio é, sem dúvida, elevar o risco de perdas em caso de doenças.
Independentemente dos fatores que influenciaram as mudanças das operações avícolas, elas afetaram as estratégias para a adequada imunização dos plantéis avícolas.
Estratégias de vacinação
Fatores como a escassez de mão de obra e o aumento do número de aves alojadas por aviário aliados à possibilidade de reações pós-vacinais e à excessiva manipulação das aves que podem afetar negativamente a produtividade dos lotes contribuíram para que produtores de ovos tentassem reduzir o número de intervenções vacinais nas aves de postura.
Isso tem sido feito utilizando-se algumas estratégias simples como a otimização das intervenções vacinais (aplicação de diversas vacinas durante uma intervenção vacinal) e/ou utilização de vacinas com maior número de valências.
Sem dúvida, a forma mais simples para se reduzir o número de intervenções vacinais é adaptar o programa de vacinação de forma que várias vacinas possam ser aplicadas de uma só vez. Assim, duas vacinas inativadas poderiam ser aplicadas simultaneamente no músculo do peito (com seringa dupla ou equipamento automático para injeção intramuscular), seguidas por uma aplicação na membrana da asa e, por fim, vacina viva administrada por gota ocular.
Além disso, como a administração de vacinas inativadas requer grande aporte de mão de obra, existe clara tendência de se utilizar vacinas com diversas valências e assim diminuir o número de intervenções vacinais.
Ademais, com o aumento da vida útil das poedeiras, a duração da imunidade induzida por vacinas tem tido peso importante na elaboração de programas vacinais. Por esse motivo, a utilização de vacinas vetorizadas que têm o hespesvírus de peru (HVT) como vetor tem crescido em todas as partes do mundo. Palya e colaboradores (2014) demonstraram que um lote vacinado com uma vacina vetorizada contra a Doença de Newcastle ao primeiro dia de idade e desafiado com uma amostra velogênica do vírus da Doença de Newcastle às 72 semanas de idade apresentaram 100% de proteção clínica. A utilização desse tipo de vacina pode reduzir consideravelmente o número de revacinações contra a Doença de Newcastle que é feita hoje em várias partes do mundo.
Equipamentos
Não é surpresa que a indústria de produção de ovos tende a otimizar a mão de obra e consequentemente reduzir o número de intervenções vacinais durante a vida do lote. Entretanto, ao diminuir o número de vacinações para as frangas de reposição, a qualidade da administração das vacinas torna-se crítica, pois, se isso não for bem feito, corre-se o risco de que o lote não seja imunizado propriamente. Além disso, não haveria revacinações para que eventuais falhas pudessem ser corrigidas. Em outras palavras, diminuir o número de intervenções vacinais e não melhorar a qualidade de administração de vacinas pode levar a situações catastróficas.
Para minimizar esse problema, equipamentos para vacinação foram desenvolvidos para melhorar a qualidade de administração de vacinas. Equipamentos para injeção intramuscular, para punção na membrana da asa e mesmo para “spray” em gaiolas foram desenvolvidos e estão comercialmente disponíveis.
Conclusões
A avicultura de postura tem enfrentado desafios para produzir ovos de maneira eficiente e ao mesmo tempo atender às exigências relacionadas à qualidade microbiológica dos ovos de mesa e à pressão dos consumidores por redução do uso de antibióticos e por bem-estar animal.
Para atingir esses objetivos, a indústria se modernizou e hoje não é dificil de se encontrar aviários capazes de alojar dezenas de milhares de aves e com gaiolas com diversos níveis. Entretanto, essa concentração de aves num mesmo complexo de produção trouxe desafios adicionais para que as intervenções vacinais fossem bem feitas. Aliado a tudo isso, a escassez de mão de obra forçou os produtores a adotarem estratégias de vacinação que visam à redução do número de intervenções vacinais.
Isso tem sido feito otimizando-se as inevitáveis intervenções vacinais por meio da aplicação de diversas vacinas e/ou utilização de vacinas com maior número de valências. Além disso, a utilização de vacinas vetorizadas que têm o hespesvírus de peru (HVT) como vetor induzem imunidade de longa duração e reduzem a necessidade de revacinações nas granjas.
Agradecimentos
Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos aos professionais Andy Long, Ayatullah Natzir, Kobus van Heerden, Kreangkrain Sangthongdang, Pascal Paulet, Ramon Sales e Sunchai Leethochawalit que gentilmente responderam às minhas perguntas e me ajudaram a elaborar essa apresentação.
Referências
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). An Atlas of Salmonella in the United States, 1968-2011: Laboratory-based Enteric Disease Surveillance. Atlanta, Georgia: US Department of Health and Human Services, CDC, 2013.
2. Conway, A. Egg production growth expected from key players US, Asia. Poultry Trends 2014, p.26-34, 2014.
3. European Food Safety Authority (EFSA) reports 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012.
4. Global Agriculture towards 2050. FAO, 2009 (www.fao.org).
5. Hugas, M. and Beloeil, P.A. Controlling salmonella along the food chain in the European union - Progress over the last ten years. Eurosurveillance, Volume 19, Issue 19, 15 May 2014. European Food Safety Agency , Parma, Italy.
6. Palya, V.; Tatar-Kis, T.; Mató, T.; Felföldi, B.; Kovács, E. e Gardin, Y. Onset and log-term duration of immunity provided by a single vaccination with a turkey herpesvirus vector ND vaccine in commercial layers. Veterinary Immunology and Immunopathology , 158, 105–115, 2014.
7. Paniago, M. The occurrence of poultry respiratory diseases in Asia. Proceedings of the Poultry Respiratory Diseases in Asia – Diagnosis and Control Workshop, 17th & 18th June, Bangkok, Thailand, 2013.
8. The European Union Summary Report on Trends and Sources of Zoonoses, Zoonotic Agents and Food-borne Outbreaks in 2012 - European Food Safety Authority (EFSA) Journal 12(2), 3547, 2014. 
***O Trabalho foi originalmente apresentado durante o Congresso APA 2015, em Ribeirão Preto, de 17 a 19 de março.
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Autores:
Marcelo Paniago
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nivaldo guirau siqueira
29 de octubre de 2015
ola sou de bastos tenho uma empresa de debicagem e vacinaçao de aves de postura,moro em bastos sao paulo capital do ovo.tenho 20 anos de esperiençia pretendo trabalho nos estados unidos meu contato ,,,,,,e guirau {14} 997947355
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Diogo de Moraes Cardoso
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
18 de mayo de 2015
Parabéns pelo trabalho Marcelo. Observações muito pertinentes foram apresentadas.
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