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Eficácia da Vacinação contra Eimeria spp. em Aves de corte

Publicado: 13 de junho de 2022
Por: Gilberto Chiantelli Ferreira, Rodrigo Pereira Cassiano, Bruna Matarucco Sampaio Beretta, Rodrigo Antonio Fernandes e Katia Denise Saraiva Brescian
Sumário

A Eimeriose representa um considerável desafio enfrentado pela indústria avícola global em decorrência dos prejuízos que acarreta. Três espécies de Eimeria em galinhas, no caso, E. acervulina, E. máxima e a E. tenella tem potencial para afetar a ocorrência e extensão da resistência a medicamentos anticoccidianos e às futuras vacinas. Desta forma, fica claro que a vacinação contra eimeriose aviária tem papel importante na manutenção da biossegurança e produtividade em criações de aves, pois além de propiciar a imunização dos animais auxilia no aumento da eficiência terapêutica dos fármacos anticoccídianos. Neste estudo, nós investigamos a eficácia da vacinação contra a eimeriose em aves de corte. No total, foram compilados 589 artigos, em bases de dados de pesquisa e publicações científicas. Como filtro para evitar a duplicidade entre os trabalhos, foram obtidos 62 artigos. Destes, em apenas cinco observamos um grau de recomendação altíssima do uso da vacinação de DNA, que foi considerada mais eficaz na prevenção da eimeriose, com menor grau de efeitos colaterais.

Palavras-chave: Eimeriose; Aves de corte; Vacinação; Ensino em Saúde.

1. Introdução
Os protozoários do filo Apicomplexa do gênero Eimeria infectam células do epitélio intestinal de muitos hospedeiros (Kim et al., 2012), sendo pela doença chamada eimeriose (Fatoba & Adeleke, 2018). Para a indústria avícola, é um grande problema comercial (Sharman et al., 2010) e por muitos anos, tem sido usados meios de prevenção e controle da doença, além de ações profiláticas com drogas anticoccidianas específicas (Noack et al., 2019).
A infecção por Eimeria spp. causa a morte e baixa produtividade incluindo aproveitamento ineficiente da ração, baixo ganho de peso e redução da produção de ovos das galinhas infectadas (Shirley & Lillehoj, 2012). O uso em larga escala e a longo prazo de drogas anticoccidianas tem sido eficaz no controle da coccidiose por décadas, mas isso levou ao desenvolvimento inevitável de resistência do parasita a quase todas as drogas anticoccidianas, além de preocupações sobre resíduos de drogas na carne de aves quando um período de retirada de drogas não é estritamente observado (Peek & Landman, 2011). Em vez do controle por drogas, a vacinação com vacinas virulentas (por exemplo, Coccivac e Immucox) ou atenuados (por exemplo, Paracox e Livacox) é um dos mais métodos mais eficientes para a proteção de plantéis de matrizes e poedeiras contra a infecção por Eimeria, e a vacinação é de baixo risco para a saúde pública (Chapman et al., 2013).
A imunização é uma alternativa prática à quimioterapia para o controle da coccidiose. No entanto, a maioria das vacinas comerciais atuais que consistem em oocistos vivos de coccídios atenuados ou não atenuados são caras e difíceis de fabricar em larga escala. Além disso, as vacinas vivas apresentam risco de patogenicidade vacinal, potencial reversão à virulência e eclosão da coccidiose (del Cacho et al., 2016).
As espécies mais comuns descritas pela literatura que afetam as aves, são Eimeria acervulina, Eimeria maxima, Eimeria necatrix, Eimeria tenella e Eimeria brunetti. Estas espécies podem causar lesões intestinais que consequentemente resultam em redução do ganho de peso e mortalidade (McDonald & Shirley, 2009). O uso de drogas como uma ferramenta para o controle de coccídios foi a principal estratégia utilizada ao longo dos anos, reconhecendo também a existência de resistência a esses fármacos, além disso, as consequências do uso destes medicamentos ao longo da cadeia alimentar geram preocupação, pois resíduos são detectados em alimentos (Clark et al., 2012).
A imunização em frangos de corte contra a infecção de coccidiose pode ser provocada pela ingestão de oocistos do coccídeo do gênero Eimeria (Gazoni et al., 2020) e vacinas comerciais contra Eimeria estão disponíveis desde a década de 50 (Blake et al., 2015). No entanto, nos últimos anos, a indústria avícola baseou-se principalmente em drogas anticoccidiais e produtos químicos sintéticos (Peek & Landman, 2011), para controlar esta doença parasitária. Diante da maior resistência da Eimeriose aos medicamentos anticoccidianos (Chang et al., 2016) e da crescente demanda do consumidor por animais criados livres de antibióticos as vacinas contra coccidioses são cada vez mais usadas nas indústrias avícolas (M. Song et al., 2020).
Uma vacina prática contra a coccidiose deve proferir proteção estável entre os diferentes rebanhos, bem como proteção duradoura cobrindo todo o ciclo de produção dos frangos (Xu et al., 2008).
Nesta revisão da literatura, nós investigamos a eficácia de modelos de vacinação contra a eimeriose em frangos de corte.
2. Metodologia
2.1 Busca bibliográfica nas bases de dados
A revisão sistemática da literatura foi realizada pelas bases de dados no Portal Regional da BVS, Pubmed, Biblioteca Virtual da CAPES e Google Acadêmico, sendo utilizado alguns filtros como, as palavras chaves padronizadas para indexar a pesquisa: Eimeria, Vaccination and Chicken e o período da publicação entre 2015 a 2020. A obtenção dos artigos incluiu os idiomas inglês e português, publicados nos últimos cinco anos e excluindo-se as revisões de literatura e os textos duplicados. A pré-seleção dos dados foi realizada inicialmente pela análise dos títulos pertinentes, ao objetivo da revisão, a leitura do resumo e posteriormente selecionado por meio do estudo do texto completo.
Os artigos selecionados foram avaliados conforme os critérios do Centro Oxford de Medicina Baseada em Evidências (MBE) como seguimento dos desfechos a serem observados em um estudo e desta forma, consideramos o nível de evidência máxima (1) e mínima (5).
2.2 Classificação dos estudos dos Artigos
Um valor denominado score de qualidade (0-5) para os estudos randomizados, sendo consideradas de boa qualidade para classificar as publicações com valor ≥ 3 (Jadad et al., 1996). O grau de recomendação das vacinações aplicadas em cada artigo é classificado como A, B, C e D, sendo A o grau de boa evidência para apoiar a recomendação, o grau B são de evidências razoáveis e o grau C de evidência insuficiente (contra ou favor), o grau D descartou a recomendação.
As variáveis de interesse foram: o tipo de estudo, o nível de evidência, o ponto determinado de escala Jadad, a avaliação do ensaio clínico, a quantidade de espécime tratada e a porcentagem das aves de cortes com mais de 50% de melhora e por fim, os efeitos colaterais.
3. Resultados e Discussão
No total foram 589 artigos, buscado no Portal regional da BVS, Pubmed, biblioteca virtual da CAPES e Google scholar. A ferramenta Mendeley foi utilizada e foram obtidos um total de 62 artigos, filtrando a duplicidade entre os trabalhos. Após isso, foram verificados os tipos de vacina, a relevância dos artigos referentes aos filtros e se os artigos relatavam os testes de uma nova vacina, bem como a resistência das mesmas e suas respectivas eficácias (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma da sistemática de seleção de artigos.
Figura 1. Fluxograma da sistemática de seleção de artigos.
Os resultados foram mostrados em duas Tabelas. A Tabela 1, é referente ao resumo de quatro estudos de qualidade na escala Jadad com valores superiores ou iguais a três, sobre a eficácia da vacinação contra eimeriose nas aves.
Tabela 1. Nível de evidência e grau de recomendação da vacinação em Aves com eimeriose.
Tabela 1. Nível de evidência e grau de recomendação da vacinação em Aves com eimeriose.
No período de 2015 a 2020, nove artigos foram selecionados e em nenhum foi obtida nível de evidência acima de quatro, contando apenas com séries de casos, relatos de caso e estudos experimentais in vivo (Tabelas 1 e 2). Isso mostra que existe carência de estudos de maior confiabilidade sobre esse assunto. Entretanto, em todos os artigos foi verificado que a vacinação ou o método de imunização contra eimeriose é na grande maioria eficaz contra três espécies mais comuns desse coccídeo, a E.tenella, E. maxima e E. acervulina, e, portanto, para o controle dessa enfermidade, o que gerou um grau de recomendação nível 1 dos artigos selecionados, conforme a Tabela 1.
A vacina com o antígeno Em14-3-3 pode notadamente amenizar as lesões do jejuno e a perda de peso corporal, com redução da taxa de eliminação de oocistos do protozoário, bem como produzir um índice anticoccidiano. No teste dos grupos imunizados com o antígeno Em14-3-3 e pVAX1-14-3-3, quando comparados aos controles negativos (P < 0,05), demonstrou que poderia ser usado como candidato promissor contra o antígeno de E. máxima (Wang et al., 2017).
Em investigação comparativa do efeito de glutamina isolada, e associada a glutamina ácida e levedura junto com à vacinação para a coccidiose, foi observado o desempenho e morfometria do intestino delgado de frangos de corte, sendo constatado que o grupo alimentado com glutamina apresentou melhor recuperação de perdas epiteliais da mucosa intestinal em relação aos controles. Assim, foi notado que este tipo de suplementação alimentar, pode ser uma estratégia para melhorar o desenvolvimento de frangos submetidos ao estresse vacinal (Liu et al., 2018).
A clonagem molecular, a purificação e a eficácia da vacinação, mostrou um novo candidato à vacina para eimeriose em frangos de corte, o fator de alongamento-1a (EF-1a). Com duas imunizações subcutâneas com uma semana de diferença com a proteína EF-1α recombinante expressa por plasmídeo de E. coli (r) EF-1α e avaliadas quanto à proteção contra infecções provocadas por E. tenella ou E. maxima. As galinhas vacinadas com rEF-1α exibiram aumento no ganho de peso corporal, menor produção de oocistos fecais e maiores níveis séricos de anticorpos anti-EF-1α após infecção por desafio com E. tenella ou E. maxima em comparação com controles não imunizados. Deste modo, a vacinação com EF-1α pode representar uma nova abordagem para induzir imunidade de proteção cruzada contra a coccidiose aviária (Lin et al., 2017).
A   vacina de DNA Pvax1.0-ta4-il-2 foi inoculada por via intramuscular, em galinhas de duas semanas de idade com a função de investigar a duração da sua proteção imunitária e mostrou potencial para ser desenvolvida como vacina eficaz contra a coccidiose em geral (X. Song et al., 2017).
A Tabela 2 refere-se ao nível de evidência e grau de recomendação desses quatro estudos discutindo sobre as vacinações empregadas com melhor avaliação, empregado no modelo do Centro Oxford de Medicina Baseada em Evidências (MBE).
Tabela 2. Compilação dos estudos sobre a eficácia da vacinação em frangos contra eimeriose, de acordo com a escala JADDAD et al., 1996.
Tabela 2. Compilação dos estudos sobre a eficácia da vacinação em frangos contra eimeriose, de acordo com a escala JADDAD et al., 1996.
4. Conclusão
As vacinas são sem dúvida alguma, a melhor e mais eficiente alternativa para imunização, porém seu alto custo dificulta sua utilização nas criações de frango de corte no Brasil. Por meio da metanálise de múltiplos estudos controlados e analisados neste trabalho, nós concluímos que quatro tipos de vacinação empregadas, foram as que mostraram maior resultado eficaz no combate a infecção de eimeriose e com menos efeitos colaterais segundo seus autores, mas a vacinação de DNA é considerada mais eficaz na prevenção da eimeriose em frangos de corte, com menor grau de efeitos colaterais. O impacto produtivo e econômico da coccidiose em aves, destaca a importância da vacinação para prevenir a ocorrência da doença, reduzindo as perdas. Em alguns países a vacina se torna uma das barreiras na utilização, porém em outros, ela é amplamente utilizada, estudos futuros são necessários para dizer que os anticoccidianos deixarão de ser utilizados e as vacinas se tornarão a única forma segura alternativa.
Esse artigo foi originalmente publicado em Research, Society and Development, v. 11, n.7, e14711729738, 2022(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i7.297382 | https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/29738/25722. Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Blake, D. P., Clark, E. L., Macdonald, S. E., Thenmozhi, V., Kundu, K., Garg, R., Jatau, I. D., Ayoade, S., Kawahara, F., Moftah, A., Reid, A. J., Adebambo, A. O., Zapata, R. Á., Rao, A. S. R. S., Thangaraj, K., Banerjee, P. S., Dhinakar-Raj, G., Raman, M., & Tomley, F. M. (2015). Population, genetic, and antigenic diversity of the apicomplexan Eimeria tenella and their relevance to vaccine development. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 112(38), E5343–E5350. https://doi.org/10.1073/pnas.1506468112.

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