Introdução
As salmonelas paratíficas são as de maior interesse em saúde animal e saúde pública, e seu isolamento é frequente em produtos de origem aviária. Salmonella enterica sorovar Heidelberg tem sido isolada de aves e produtos derivados de aves no Brasil, e tem reconhecida importância para a saúde humana e em poedeiras comerciais na América do Norte. O consumo de ovos e frango contaminados pode resultar em doença em humanos, podendo ocorrer desde enterites até mortalidade em crianças e imunodeprimidos, devido à bacteremia causada por este micro-organismo. Em aves, esta bactéria pode persistir no intestino, sendo eliminada nas fezes e gerando riscos de contaminação das carcaças e ovos. Pode também se instalar nos ovários causando contaminação horizontal dos avos. Assim como a maioria dos sorovares existentes, pode colonizar o intestino das aves sem causar doença, porém em alguns casos as aves podem apresentar alguma sintomatologia. Este trabalho teve como objetivo relatar a ocorrência de Salmonella Heidelberg em uma granja de codornas (Coturnix coturnix), produtoras de ovos e aves para o abate, com problemas de queda na produção e mortalidade.
Material e Métodos
Foram analisadas amostras de suabes de arrasto dos galpões desta granja, avaliando dessa forma os micro-organismos do ambiente e aqueles excretados pelas fezes. A metodologia utilizada para a análise foi a de Isolamento de Salmonella spp., foi adaptada por Corrêa (2013) da portaria no 126, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 1995). Para pesquisa de Salmonella spp. procedeu-se com a inoculação do material coletado no caldo brain heart infusion e posteriormente incubado a 37 °C ± 1 °C em estufa bacteriológica por 18-24 horas a 37 °C ± 1 °C em estufa bacteriológica por 18-24 horas. Após foi realizado inoculação do crescimento bacteriano do BHI nos caldos Tetrationato e Rappaport – Vassiliadis em duplicata. Um dos tubos de caldo Tetrationato e Rappaport – Vasilliadis foi incubado a 37 °C ± 1 °C em estufa bacteriológica por 18-24 horas e o outro a 42 ºC ± 1 °C em banho-maria por 18-24 horas. Posteriormente, foi realizado o plaqueamento em meios sólidos seletivos – ágar Xilose Lisina Desoxicolato (XLD) e ágar Verde Brilhante (AVB), com incubação a 37 °C ± 1 °C em estufa bacteriológica por 18-24 horas. Após a obtenção das culturas puras, foi realizada a caracterização morfológica dos isolados (Salmonella spp. em AVB: colônias rosadas e mudança de coloração do meio de laranja para rosa escuro; Salmonella spp. em XLD: colônias transparentes com centro negro), bem como os testes bioquímicos convencionais para Enterobacteraceae (prova da descarboxilação da lisina, citrato de Simmons, sulfito indol motilidade, tríplice açúcar e hidrólise da uréia). Para os isolados com características bioquímicas compatíveis com as do gênero Salmonela, aplicou-se a prova sorológica utilizando o anti-soro polivalente O, e os anti-soros para os sorogrupos B e D. As amostras positivas nos testes sorológicos de triagem foram encaminhadas para sorotipificação na Fundação Oswaldo Cruz, onde através de testes sorológicos complementares identificou-se o sorovar.
Resultados e Discussão
A introdução de Salmonella spp. em granjas avícolas pode ocorrer de várias formas, como aquisição de aves portadoras, seres humanos, fômites, água e alimentos e que a transmissão e permanência desta bactéria nas granjas é favorecida pelas aves silvestres, roedores, animais domésticos e de produção, insetos e pelo sistema de criação intensivo. A interação entre estes agentes e os meios de transmissão dificultam a erradicação da infecção em aves criadas em escala industrial (ANGELA, 2011).
No Brasil, existem vários relatos da detecção de Salmonella spp. em carne de aves comercias e do envolvimento dessa carne com surtos de infecção em humanos. Em estudo epidemiológico realizado por Hofer et al., (1997) foram caracterizadas antigenicamente amostras de Salmonella isoladas de aves provenientes de diversas regiões do país durante o período de 1962 a 1991. Nas 2123 culturas analisadas, os sorovares classificados como muito frequentes nos três decênios, representando 65 a 67 %, dos isolamentos, foram S. Gallinarum, S. Pullorum, S. Typhimurium, S. Heidelberg, S. Enteritidis e S. Infantis. Poucos estudos relacionados à epidemiologia desta bacteria na produção de codornas foram realizados no nosso País. Angela (2011) identificou apenas oito sorovares na criação de codornas, que foram: S. enterica sub-espécie enterica 4, 5, 12, S. Corvalis, S. Give, S. Lexington, S.Minnesota, S. Schwarzengrund, S. Rissen e S. Typhimurium.
No nosso estudo ocorreu o isolamento de Salmonella spp. e esta amostra foi enviada para tipificação na Fundação Oswaldo Cruz, tendo sido classificada como Salmonella Heidelberg. Este sorovar apesar de ser frequente nas criações brasileiras de frangos de corte (Hofer et al., 1997) em codornas ainda não tinha sido relatado.
Conclusões
Este resultado sugere contaminação das aves por Salmonella Heidelberg, podendo este micro-organismo ser causador dos problemas de produção e mortalidade desta granja, além de gerar risco de contaminação dos ovos que podem atuar como fontes de infecção de doença transmitida por alimentos.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico através do Programa Rhae e a Fapergs.
Referências Bibliográficas
ANGELA, H. L. Pesquisa de Salmonella spp em codornas de corte (Coturnix coturnix japonica). 2011, 52f. Dissertação (Mestrado em Patologia Animal) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2011.
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA Normas de Credenciamento e Monitoramento de Laboratórios de Diagnóstico das Salmoneloses Aviárias (S. Enteritidis, S. Gallinarum, S. Pullorum e S. Typhimurium). Portaria N° 126, de 03 de novembro de 1995. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1995.
CORREA, I. M. O.; FLORES, F.; SCHNEIDERS, G. H.; PEREIRA, L. Q.; BRITO, B. G.; LOVATO, M. Detecção de fatores de virulência de Escherichia coli e análise de Salmonella spp em psitacídeos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 2, p. 241-246, 2013.
HOFER, E.; SILVA FILHO, S. J.; REIS, E. M. F. Prevalência de sorovares de Salmonella isolados de aves no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira. v. 17, n. 2, p. 55-62, 1997.
**O trabalho foi originalmente apresentado durante o XIII Congresso da APA – Produção e Comercialização de Ovos, “Ovo todos os dias: só faz bem!”, em Ribeirão Preto, entre os dias 17 e 19 de março.