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Salmonella gallinarum ovos

Infecção experimental de Salmonella gallinarum em ovos embrionados de aves de postura

Publicado: 19 de outubro de 2011
Por: F Prosdócimo, J Mauro, N Oliveto, M Miglioranza, H Barrios e M De Franceschi, Universidad Nacional de Luján, Luján, Buenos Aires, Argentina.
Sumário

A Salmonella gallinarum (SG) subsiste em explorações comerciais da América Latina. Na Argentina, o Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria (SENASA) a coloca entre as doenças de monitoração rotineira em reprodutores. O objetivo do trabalho foi estudar a infecção da SG em ovos embrionados de aves de postura, para realizar propostas de prevenção e controle. Foram inoculados ovos embrionados de poedeiras de 11 dias de idade, com uma unidade formadora de colônia da SG. Estes ovos foram incubados experimentalmente. As amostras de diversos órgãos e anexos embrionários foram tomadas aos 14, 18 e 21 dias de incubação. Foi detectado que com um inóculo de tão somente uma unidade formadora de colônia da SG foi suficiente para desenvolver a infecção, o que parece ser responsável pela mortalidade embrionária que aconteceu nos últimos dias de incubação, como também por aqueles embriões picados não nascidos. Aos 21 dias, evidenciou-se uma elevada porcentagem de eliminação da SG em matéria fecal e o isolamento em 100% em anexos embrionários, enquanto que sua presença nos diferentes órgãos foi superior a 50%. Estes resultados se diferenciam com o que foi detectado em idades inferiores, em que a recuperação do micro-organismo, nos diferentes órgãos, foi menor; não obstante, o isolamento nos anexos embrionários foi de 90%. Concluímos que a procura rotineira da SG em anexos embrionários permitiria a detecção precoce da bactéria em plantas de indústria de incubação.
Palavras-chave: Infecção, Salmonella Gallinarum, Embriões, Poedeiras.

Introdução
A salmonelose é uma doença produzida pelas enterobactérias do gênero Salmonella. A sorovariedade específica das aves é a Salmonella Gallinarum que compreende dois biótipos: S. gallinarum e S. pullorum, descritos como agentes etiológicos do tifo e pullorose aviária respectivamente (Colusi et al., 1984; Shivaprasad, 2003).
A Salmonella gallinarum subsiste em explorações comerciais da América Latina (Chacana & Terzolo, 2003). Neste sentido, na Argentina, depois do lançamento do Plano Nacional de Sanidade Avícola, o Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria (SENASA) coloca-a  entre as enfermidades de monitoração rotineira, em plantéis de matrizes, em função da magnitude que, para sua disseminação, adquire a transmissão vertical (SENASA, 2004). Embora, neste tipo de via, o número de ovos infectados só seja de 3%, os pintos nascidos agem como vetores e multiplicadores  da doença. Por outro lado, a via horizontal também acontece quando as aves sadias se contaminam com fezes infectadas e através do canibalismo entre plantéis (Chacana & Terzolo, 2003). Na indústria avícola, não deve ser descuidado o controle e a prevenção do tifo produzido pela Salmonella Gallinarum, já que sua importância epidemiológica e produtiva assim o exige. Por isso, o objetivo do trabalho foi estudar a infecção da SG em ovos embrionados de aves de postura, para realizar propostas de prevenção e controle. 
Materiais & Métodos

Ovos embrionados
Foram utilizados 90 ovos embrionados de aves de postura comerciais livres da Salmonella spp., que foram incubadas num equipamento automático elétrico de marca Yonar, de fabricação argentina, modelo 300AD, com volteio automático cada sessenta (60) minutos, a uma temperatura de 36,5 ºC e com 70 % de umidade relativa. A prova foi realizada no biotério avícola do campo experimental da Universidade Nacional de Luján.
Inoculação
Para a infecção se inocularam embriões de onze dias de idade via cavidade alantoideia, (representando a infecção vertical) com 1 x 10 unidade formadora de colônia (UFC) por ovo. Para realizar este processo, foram observados no ovoscópio noventa ovos dos quais só se infectaram quarenta e cinco, sendo determinados dois tratamentos: testemunha e infectado. Neles se distinguiu uma zona da membrana alantoideia, distante do embrião e livre de vasos sanguíneos na parte lateral do ovo, a qual foi desinfetada com álcool, foi introduzida uma seringa de tuberculina com o propósito de inocular 0,1 ml de uma solução contendo SG, sem dilacerar a membrana interna, e o orifício foi fechado com adesivo líquido. 
A linhagem utilizada foi a SG INTA 91 (cedida pelo Dr. Horacio Terzolo da Estação Experimental Agropecuária do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária de Balcarce, INTA-EEA Balcarce, Argentina).
Desenho experimental
O ensaio constou de 2 tratamentos, com 45 repetições distribuídas aleatoriamente.
T1: Tratamento sem inocular (Testemunha) T2: Tratamento inoculado com a SG.
Coleta de amostras
Para observar a presença ou ausência, foram coletadas amostras de fígado, intestino, coração e saco vitelino aos 14 dias de idade do embrião e se realizou uma recontagem somente neste último. Aos 18 dias, foi repetida a coleta de amostras, incluindo estômago e baço.
Ao nascimento, foram incorporadas à avaliação as seguintes amostras: matéria fecal, união cecal, rim, pulmão e ceco. Em cada uma das amostragens foram utilizados dez indivíduos tomados aleatoriamente.
Detecção da SG
A metodologia utilizada para a detecção e isolamento da SG consistiu em colocar as amostras em 10 ml de água peptonada bufferada (APB) e incubá-las a 37°C por 24± 2h. Posteriormente, se transferiu 0,1ml de APB a 10 ml de caldo Rapapport-Vassiliadis com soja (RVS), para seu enriquecimento, que se incubaram por 24 ±1 h a 42°C. Logo após, se semeou num meio seletivo e diferencial, ágar Xilosa Desoxilato (XLD), o que se incubou por um período de 24±1h a 37°C. Para a quantificação das salmonelas nas aves se colocou 1g de matéria fecal em 10 ml de APB que se agitou vigorosamente durante 30 segundos e logo se semeou em superfície em meio seletivo e diferencial. Este mesmo procedimento foi realizado para a recontagem da Salmonella em anexos embrionários.
Resultados
A 21 dias de incubação, nasceram 40 pintinhos do tratamento testemunha e 32 do infectado, observando-se uma diferença de 17,78% entre ambos. Os embriões infectados apresentaram mortalidade em todas as etapas da incubação e, além disso, houve 6,67% de embriões picados não nascidos (Tabela 1). 
Tabela 1. Porcentagens de mortalidade embrionária ao longo da incubação
Tratamento
Mortalidade até 18 dias
Mortalidade depois 18 dias
Picados não nascidos
Testemunha
0
11,11
0,00
Infectados
6,67
15,56
6,67
Num só embrião não foi isolada a bactéria em nenhuma das amostras a 14 dias de incubação. A recontagem da SG em anexos embrionários só foi possível só em 4 embriões. Foi detectada a presença da SG num elevado número de órgãos (Tabela 2).
Tabela 2. Recontagens e isolamentos da SG nos diferentes órgãos, a 14 dias
Aves
Recontagem
Anexos embrionários
Estômago
Fígado
Intestino
Coração
Anexos embrionários
1
0
1
1
0
0
1
2
0
0
0
0
0
1
3
0
0
0
0
0
0
4
0
1
0
1
0
1
5
0
1
0
0
0
1
6
0
1
1
1
1
1
7
2x103
1
1
1
1
1
8
1,2x104
1
1
1
1
1
9
6,5x106
1
1
1
1
1
10
3x105
1
1
1
1
1
Referências: 0 ausência da SG. 1 presença da SG.
Aos 18 dias de incubação, assim como se observou aos 14 dias, num só embrião não se isolou a bactéria em nenhuma das amostras. A recontagem em anexos embrionários foi de 1x103 a 5x105  UFC. No entanto, num dos embriões, a SG foi isolada em anexos embrionários, apesar de que a recontagem resultou negativa. 50% dos animais apresentaram isolamento no estômago e intestino e em nenhum se isolou a SG em fígado, baço e coração (Tabela 3).
Tabela 3. Recontagens e isolamentos da SG nos diferentes órgãos, a 18 dias
Aves
Recontagens
Anexos embrionários
Estômago
Fígado
Intestino
Coração
Baço
Anexos embrionários
1
0
1
0
0
0
0
1
2
2x105
0
0
1
0
0
1
3
4x103
0
0
1
0
0
1
4
5x105
1
0
0
0
0
1
5
1x103
0
0
0
0
0
1
6
0
0
0
0
0
0
0
7
1x103
1
0
1
0
0
1
8
2x105
1
0
0
0
0
1
9
1x103
1
0
1
0
0
1
10
1x104
0
0
1
0
0
1
Referências: 0 ausência da SG. 1 presença da SG.
Todos os embriões infectados apresentaram ao nascimento a SG em anexos embrionários, mas só foi possível contabilizar, com a metodologia utilizada, em duas das aves em valores de 5x108 e 3x104 UFC.
Uma alta porcentagem (80%) foi detectada em matéria fecal, enquanto que nos diferentes órgãos foi isolada em níveis que foram de 50 % a 70 % (Tabela 4).
Tabela 4. Recontagens e isolamentos da SG nos diferentes órgãos, a 21 dias
Aves
Recontagem
Anexos embrionários
AE
E
F
I
C
B
MF
UC
R
P
Ce
1
0
1
0
1
1
0
1
1
1
0
1
1
2
0
1
1
1
0
1
1
1
1
1
1
1
3
0
1
1
0
1
1
0
1
1
1
1
0
4
0
1
1
0
1
1
0
1
1
0
0
1
5
0
1
1
0
1
1
1
1
1
1
1
1
6
5x108
1
0
1
1
1
1
0
0
1
1
0
7
0
1
0
1
1
1
1
0
0
1
1
0
8
3x104
1
0
1
1
1
1
1
0
0
1
1
9
0
1
1
1
0
0
0
1
0
0
0
0
10
0
1
0
0
0
0
0
1
1
1
0
0
Referências: 0 ausência da SG. 1 presença da SG. AE: anexos embrionários; E: estômago; F: fígado; I: intestino; C: coração; B: baço; MF: matéria fecal; UC: união cecal: R: rim; P: pulmão; Ce: ceco.
Conclusões
A conclusão é que existiu uma porcentagem importante de embriões que morreram durante a incubação. Uma baixa concentração da SG foi suficiente para desenvolver a infecção, o que parece ser responsável pela mortalidade embrionária mencionada, como também daqueles picados não nascidos. A 21 dias, se evidenciou uma elevada porcentagem de eliminação da SG em matéria fecal e o isolamento em 100% em anexos embrionários, enquanto que sua presença nos diferentes órgãos foi superior a 50%. Estes resultados se diferenciam com o que foi encontrado em idades inferiores em que, entre outros órgãos, o isolamento nos anexos embrionários foi de 90%. 
A procura rotineira da SG em anexos embrionários permitiria a detecção precoce da bactéria em plantas da indústria de incubação.
Bibliografia
Chacana PA & Terzolo HR. 2003. Revisión sobre Pullorosis y Tifosis Aviar. Nuevos Enfoques para Viejos Conceptos. Rev. Med. Vet.84:14-20.
Colusi A, Romano R & Manetti J. 1984. Tifosis Aviaria en la República Argentina. Sanidad Aviar. 2:4-14
SENASA 2004. Manual de Procedimientos Operativos. Plan Nacional de Sanidad Avícola. Programa de Control de la Micoplasmosis y Salmonelosis de las aves. Programa de Vigilancia Epidemiología para la Influencia Aviar (SENASA, Argentina).
Shivaprasad HL. 2003. Pullorum Disease and Fowl Typhoid. pp. 568-582. In: Saif YM, Barnes HJ, Glisson JR, Fadley AM, McDougald LR, Swayne DE (Editors). Diseases of Poultry (11th ed.), Iowa State Press, Ames, IA.
 
 
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