Introdução
a prática de jejum alimentar no período de pré-abate é bastante comum na avicultura de corte. O objetivo principal dessa prática é reduzir o conteúdo intestinal de modo a minimizar contaminações oriundas das fezes dos animais durante o transporte, reduzir a excreção fecal durante o período de peri mortem (insensibilização e sangria), e reduzir contaminação cruzada durante o processo de evisceração (3). Durante o jejum pré-abate, as aves ficam sem alimentação por um período que varia de 6 a 12 horas até o momento do abate. Até que sejam transportados ao abatedouro, os animais são mantidos no galpão, onde a ausência de alimento estimula a ingestão de cama, promovendo um conseqüente aumento na ingestão de patógenos como Salmonella spp e Campylobacter spp, os quais são disseminados pelas aves nas fezes e consequentemente prevalentes na cama. Vários trabalhos demonstram que o período de jejum pré abate é crítico no que diz respeito à exposição dos animais à colonização por patógenos, especialmente em se tratando de papo, que é um importante local relacionado à contaminação de carcaças (1). Devido a isso, conduziu-se o presente trabalho para verificar a efetividade do uso de Acidal®ML na redução da contagem de Salmonella Enteritidis em papo de aves no período de jejum pré-abate. Acidal® ML é um produto desenvolvido pela Impextraco N.V., Bélgica, para o uso em água de bebida de aves e suínos. Trata-se de uma mistura sinérgica de ácidos orgânicos e extrato vegetal que tem por finalidade melhorar as condições da água de bebida dos animais e atuar para que esta não seja um meio de veiculação de patógenos, bem como reduzir a carga bacteriana ingerida pelos animais.
MATERIAL E MÉTODOS
Este teste foi realizado na unidade experimental 1 da Impextraco Latin America, em parceria com o Laboratório de Micotoxinas e Ornitopatologia da Universidade Federal do Paraná. Foram adotados dois tratamentos (T1 e T2), cada um composto por 24 aves de 38 dias de idade. Cada grupo foi mantido separado em Box telado de 2mx2m. Desde então, as aves do grupo T2 receberam água tratada com Acidal® ML, enquanto que as do grupo T1 receberam água sem tratamento. Aos 43 dias de idade, todos os animais foram inoculados com 108UFC de Salmonella Enteritidis diretamente no papo. Aos 45 dias de idade, ambos os tratamentos foram submetidos a jejum alimentar. Nesse dia, 6 aves de cada tratamento foram submetidas à eutanásia após 0h, 4h, 8h e 12h do início do jejum. Durante o intervalo de 8h e 12h, os animais foram transportados em gaiolas plásticas até o local de eutanásia de modo a reproduzir a condição de stress de transporte (em que há também jejum hídrico). Os papos das aves foram assepticamente dissecados e seu conteúdo lavado com 25ml de água destilada estéril. A solução resultante foi utilizada para realização do isolamento e quantificação bacteriana de acordo com o procedimento adaptado de Desmidt et al. (2) Os resultados das contagens nos dois grupos foram expressos em logaritmo de base 10 e comparados utilizando-se o teste t de Student com p≤0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As contagens bacterianas nos dois grupos (tabela 1) revelaram que no momento da retirada do alimento, não houve diferença (p>0,05) na recuperação de Salmonella nos dois grupos. Já após 4, 8 e 12 horas de jejum, em que a ingestão de cama é estimulada, houve redução significativa (p<0,05) na contagem bacteriana em papo dos animais do grupo T2.
Tabela 1. Contagem bacteriana (em log UFC) nos diferentes tempos de coleta, nos dois tratamentos estudados (média ± desvio padrão). Letras diferentes em uma mesma coluna indicam significância estatística.
O aumento relativo na contagem bacteriana entre os intervalos de 8 e 12 horas, em ambos os tratamentos, sugere que há maior multiplicação da bactéria quando se restringe também o consumo de água. Dessa forma, a redução da contagem bacteriana após 12hs sugere que mesmo após interrupção da administração de Acidal® ML, ainda se verifica efeito sobre o patógeno.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos demonstram que o uso de Acidal® ML via água de bebida na última semana de vida dos animais, incluindo o período de jejum pré-abate, foi efetivo em reduzir a contagem de Salmonella em papo. Por isso, sua utilização pode ser uma ferramenta efetiva na prevenção de contaminações pelo patógeno estudado durante o processo de abate de frangos de corte.
BIBLIOGRAFIA
1. Barnhart, E.T.; Caldwell, D.J.; Crouch, M.C.; Byrd, J.A.; Corrier, D.E.; Hargis, B.M. Poultry Science 1999 78:211-214
2. Desmidt M, Ducatelle R, Haesebrouck F. Veterinary Microbiology 1998; 6:259-269.
3. Hinton, A. Jr.; Buhr, R.J.; Ingram, K.D. Poultry Science 2000 79:212-218
**Trabalho originalmente publicado na 27ª Conferência Facta de Ciência e Tecnologia Avícolas.