O Bacillus amyloliquefaciens CECT 5940 (Ecobiol®) isolado ou em combinação com antibióticos promotores de crescimento melhora o desempenho em frangos de corte com desafio entérico

A coccidiose é endêmica na avicultura comercial e é causada pelo desenvolvimento e reprodução de espécies de Eimeria, que podem infectar segmentos específicos do intestino e causar danos nos tecidos das células epiteliais intestinais (Ritzi et al., 2014; Ritzi et al., 2016). A destruição das células epiteliais intestinais prejudica a absorção de nutrientes e abre caminho para outras doenças entéricas, como a enterite necrótica, causada pelo crescimento excessivo da bactéria Clostridium perfringens (Awad, 2017). Na produção de aves, é comum o uso de anticoccidianos para o controle de Eimeria spp e de antibióticos para o controle de bactérias patogênicas, evitando o desenvolvimento de doenças entéricas. Os antibióticos promotores de crescimento (AGP) têm sido utilizados para controlar bactérias patogênicas e melhorar o desempenho e a saúde das aves, mas preocupações com a resistência a antibióticos levaram à proibição da inclusão de AGP em rações para aves em várias regiões do mundo. Portanto, o uso de probióticos tem recebido atenção especial, como substitutos ou em conjunto com os AGP (em países onde os AGP na ração ainda são permitidos) para ajudar a diminuir a inclusão de AGP nas rações. Os probióticos são microrganismos vivos fornecidos na ração capazes de reduzir a carga de patógenos por diferentes mecanismos de ação, melhorando a absorção de nutrientes e a saúde do hospedeiro. O Ecobiol® é um probiótico que contém a cepa CECT 5940 do Bacillus amyloliquefaciens, cepa de ocorrência natural com característica de crescimento rápido e alta tolerância às secreções gástricas e à bile. O Bacillus amyloliquefaciens CECT 5940 é capaz de melhorar a conversão alimentar e reduzir bactérias patogênicas no intestino (Facts & Figures n.15160). Considerando os benefícios do probiótico para a saúde intestinal e seu potencial como substituto dos AGP, foi levantada a hipótese que o Bacillus amyloliquefaciens CECT 5940 pode melhorar o desempenho dos frangos de corte reduzindo os mpactos negativos das infecções, e tem o potencial de substituir os AGP ou ter ação sinérgica quando fornecido com os AGP. Portanto, este estudo foi realizado para avaliar o efeito da inclusão do Bacillus amyloliquefaciens CECT 5940 (Ecobiol®), isolado ou em combinação com um AGP no desempenho de frangos de corte desafiados com um patógeno entérico. O estudo foi conduzido pela Dra. Nilva Kazue Sakomura, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Brasil.

Mil quinhentos e trinta (1530) pintos Cobb 500, machos de um dia de idade, com peso médio inicial e 50,2 ± 0,1 g, foram distribuídos aleatoriamente em cinco tratamentos dietéticos, com nove repetições de 34 aves cada. As dietas basais, à base de milho, farelo de soja e farinha de carne e ossos, foram formuladas para atender às recomendações de aminoácidos da Evonik (AMINOChick® 2.0) para as fases inicial (1-13 dias), crescimento I (14-21 dias), crescimento II (22-35 dias) e terminação (36-42 dias). Todas as dietas foram fornecidas na forma farelada. Os tratamentos consistiram de um grupo não desafiado alimentado com a dieta basal sem aditivos; grupo desafiado alimentado com a dieta basal sem aditivos; desafiado + 0,05g/kg de BMD (bacitracina metileno dissalicilato); desafiado + 1 g/kg de Ecobiol® (1 x 106 UFC/g de Bacillus amyloliquefaciens CECT 5940/g de ração); e desafiado + 0,05g/kg de BMD + 1g/kg Ecobiol®. Todas as aves foram desafiadas por inoculação oral no dia 17 com 1 mL de Eimeria maxima (5,0 X 104 UFC/g) e Clostridium perfringens (2,5 x 106 UFC/g) nos dias 18, 19 e 20. As rações e a água foram fornecidas à vontade durante todo o período experimental.

O peso corporal e o consumo de ração foram registrados nos dias 21, 35 e 42 do período experimental para calcular o ganho de peso e a conversão alimentar. A causa, a data e o peso das aves mortas foram registrados diariamente. No dia 28, foram avaliados o escore de umidade da cama (0 = seca e friável; 1 = seca com textura muito fina; 2 = pegajosa ao comprimir ou com pelotas; 3 = formando torrão ao comprimir; 4 = molhada; 5 = quando comprimida, sai água); o escore fecal (0 = sólidas com cobertura branca; 1 = volumosas e úmidas, 2 = aquosas, 3 = sem consistência, aquosas, com presença de muco, ração não digerida, descamação da mucosa e espuma) e escore de descarga cecal (0 = preta a marrom e textura firme, 1 = amolecida e espumosa; 2 = aquosa e espumosa; 3 = altamente espumosa, diluída e líquida). Duas aves por repetição foram selecionadas aleatoriamente e sacrificadas nos dias 21 e 28 para avaliar a saúde intestinal geral e coletar amostras da digesta do íleo e do ceco para análises. A avaliação do escore da saúde intestinal considerou a presença (1) ou ausência (0) dos seguintes parâmetros: timpanismo, tônus muscular, mucosa fina ou frágil, conteúdo anormal (excesso de muco, água, gás, aspecto gorduroso ou a combinação destes), edema ou eritema, descamação da mucosa ou presença de ração não digerida. Os conteúdos do íleo e do ceco foram coletados e armazenados a -20°C para a contagem de Clostridium perfringens, por meio de PCR quantitativo onde os genes 16S rRNA do C. perfringens foram utilizados na quantificação. Aos 42 dias, foram avaliados a uniformidade do peso corporal, escore de pododermatite (0 = ausente; 1 = leve; 2 = moderada; 3 = grave; 4 = gravíssima), escore de lesão do jarrete (0 = ausente; 1 = leve; 2 = moderada; 3 = grave; 4 = gravíssima) e rendimentos de carcaça e de carne de peito. Os dados foram analisados estatisticamente pelo procedimento one-way ANOVA do so ware SAS v9.4 e as médias comparadas pelo teste SNK (Student-Newman-Keuls) a 5% de probabilidade. A frequência dos escores foi analisada pelo teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, seguido pelo teste de Dunn-Bonferroni a 5% de probabilidade.

Os resultados do desempenho são apresentados na Tabela 1. O consumo de ração foi maior no grupo desafiado e alimentado com ração sem aditivos em comparação ao grupo não desafiado e ao grupo que recebeu Ecobiol® (P<0,05), mas não foi significativamente diferente em comparação aos grupos que receberam BMD ou sua combinação com Ecobiol® (P >0,05). Aos 21 dias, isto é, no dia seguinte ao desafio, a conversão alimentar e o ganho de peso não foram significativamente diferentes entre os tratamentos (P >0,05). No entanto, aos 35 e 42 dias, o consumo de ração e o ganho de peso foram significativamente menores nos grupos desafiados em comparação com o não desafiado (P<0,05). Nos dias 35 e 42, as aves desafiadas com o patógeno apresentaram conversão alimentar significativamente melhor quando receberam Ecobiol®, BMD ou sua combinação em comparação àquelas que não receberam qualquer aditivo alimentar (P <0,05), mas a melhora não foi suficiente para obter a mesma conversão alimentar que o grupo não desafiado. A mortalidade não foi significativamente diferente entre os tratamentos (P >0,05).

Geralmente, em condições de desafio subclínico, as aves que recebem probióticos recuperam o desempenho após determinado período e apresentam desempenho semelhante ao das aves não desafiadas devido à melhora do estado de saúde e da utilização de nutrientes. Apesar da melhoria observada na conversão com o uso de aditivos, a ausência de coccidiostáticos pode ter tido um grande impacto no desempenho das aves e elas não puderam atingir o mesmo desempenho que o grupo não desafiado.

Os resultados de uniformidade e rendimento de carcaça e de peito são apresentados na Tabela 2. A uniformidade do peso corporal e os rendimentos de carcaça e de carne de peito foram melhores nos grupos desafiados que receberam Ecobiol®, BMD ou sua combinação em comparação ao grupo desafiado que não recebeu aditivos (P <0,05) e não foram estatisticamente diferentes do grupo não desafiado (P >0,05). Isso pode indicar uma melhor utilização de nutrientes para deposição de tecido magro, embora o peso das aves que receberam aditivos não tenha sido tão bom quanto os do grupo não desafiado aos 42 dias (Tabela1), os valores de rendimento de carcaça e de carne de peito foram semelhantes.

Os resultados da avaliação de escores estão na Tabela 3. Os escores médio de descarga cecal e de lesão do jarrete não foram significativamente diferentes entre os tratamentos (P >0,05). Os grupos desafiados que receberam Ecobiol® ou sua combinação com BMD apresentaram menores escores de umidade da cama em comparação ao grupo desafiado e alimentado com ração sem aditivos ou ao grupo desafiado recebendo apenas BMD (P <0,05). Estudos indicam que a suplementação de BMD diminuiu a altura das vilosidades (Miles et al., 2006; Koltes et al., 2017) e isso pode ter contribuído para piorar o escore de umidade da cama no presente estudo. O escore fecal no grupo desafiado foi maior em comparação ao grupo não desafiado e aos grupos que receberam Ecobiol®, BMD ou sua combinação (P <0,05). Os escores de umidade da cama e fecal obtidos podem estar relacionados aos escores observados de pododermatite, que foram mais altos no grupo desafiado e alimentado com ração sem aditivos em relação aos demais tratamentos (P <0,05).

Os resultados das análises de PCR estão indicados na Tabela 4. Os resultados das análises de rt-qPCR indicam que tanto o Ecobiol®, o BMD ou a sua combinação foram capazes de reduzir a contagem de Clostridium perfringens no íleo aos 21 e 28 dias. No entanto, a contagem de Clostridium perfringens no ceco nos dias 21 (P = 0,060) e 28 (P = 0,076) tendeu a ser mais baixa nas aves alimentadas com Ecobiol®, BMD ou sua combinação do que no grupo desafiado e não suplementado.´

Os escore de saúde intestinal observados estão na Tabela 5. Aos 21 dias, a frequência de conteúdo anormal (excesso de muco, água, gás, aspecto gorduroso ou sua combinação) foi semelhante entre os grupos desafiados. No entanto, aos 28 dias, houve redução significativa da frequência de conteúdo anormal nas aves que receberam Ecobiol®, BMD e sua combinação (P <0,05). Aos 21 dias, não houve diferença significativa entre os tratamentos para a frequência de timpanismo, espessura da mucosa, edema intestinal ou descamação da mucosa (P >0.05). Aos 28 dias de idade, os grupos desafiados que receberam Ecobiol®, BMD e sua combinação apresentaram frequência significativamente menor de conteúdo anormal e edema intestinal em comparação ao grupo desafiado e alimentado com ração sem aditivos (P <0,05). Com exceção do grupo desafiado recebendo apenas BMD, houve uma frequência significativamente menor de timpanismo nos grupos que receberam Ecobiol® ou sua combinação com BMD (P <0,05) em comparação ao grupo sem aditivos.

As principais observações nas necropsias apresentadas na Tabela 5 são comuns nnas disbacterioses e estão relacionadas à agentes infecciosos como o Clostridium perfringens, que pode agravar as infecções por Eimeria (Chapman et al., 2002; De Gussem, 2007). Portanto, a redução da contagem de C. perfringens mostrada na Tabela 4 é uma das principais causas da menor frequência de conteúdo anormal, timpanismo e inflamação intestinal observada aos 28 dias de idade.

Em conclusão, a suplementação de Ecobiol® na ração pode substituir total ou parcialmente os AGP, tendo em vista que as aves que receberam apenas Ecobiol® apresentaram resultados comparáveis ao grupo com BMD ou sua combinação, em termos de conversão alimentar, redução da contagem de C. perfringens no íleo, uniformidade de peso corporal e rendimentos de carcaça e de carne de peito em condições de desafio com patógeno entérico. Além disso, este melhor desempenho pode ser atribuído aos melhores escores de saúde intestinal e umidade da cama.