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Programa integrado de monitoria do Sistema Imune

Publicado: 8 de agosto de 2006
Por: Méd. Vet. Alberto Bernardino. Gerente Técnico FDAH Brasil

A atividade avícola busca sempre a melhor performance possível e dentro deste conceito tudo o que possa impedir um bom desempenho se torna oneroso para o avicultor e para a empresa responsável.

São vários os fatores que podem interferir no ganho de peso e no bom resultado do lote mas um dos principais é o processo de imunossupressão/imunodepressão.
Desde o momento em que alojamos as aves já existem fatores que podem atingir seu organismo e levar a um mal desempenho.

A transmissão de agentes patogênicos via vertical já vai produzir aves contaminadas com vírus ou bactérias que além de afetar os que nascem positivos ainda são transmitidos destes para outras aves que inicialmente eram negativas mas que agora por contato direto vivendo no mesmo ambiente se tornam positivas e também irão sofrer uma perda de rendimento podendo levar à mortalidade dependendo da patogenicidade do agente envolvido.

Considerando os fatores de ambiente temos as falhas de manejo no que diz respeito à limpeza; desinfecção; temperaturas extremas, etc que vão causar desde a infecção por um ambiente contaminado como estresse ambiental levando ambos fatores ao processo de perda de resistência.

Um pinto vacinado com Marek, seja via ovo ou no primeiro dia, ainda não estaria protegido ao chegar ao galpão e entrar em contato com material contaminado de lotes anteriores devido a falhas na limpeza e desinfecção do galpão ou alojamento inadequado em cima de cama repisada. O vírus de campo é mais rápido que o vacinal e irá replicar-se primeiro nas células linfóides já causando em pouco tempo um processo de depleção linfóide e ficando latente para mais tarde poder levar à formação de processos neoplásicos, que no caso de frangos de corte será mais raro de se observar mas nas aves de vida longa poderá ser visto mais facilmente.

Falhas de vacinação já desde o incubatório, como é comum se diluir a vacina de Marek para uso em frangos de corte e algumas vezes trabalhando com doses abaixo do recomendado pelos produtores da vacina; falhas no programa de Gumboro a campo que depende do momento correto para se usar a vacina, de acordo com o tipo de vacina, para poder sobrepujar o nível de anticorpos maternos e chegar ao órgão alvo, a Bolsa de Fabrícius, onde poderá se replicar e induzir a formação de anticorpos protetores.
Falhas no manejo da vacinação de Gumboro considerando-se o tempo de vacinação; volume utilizado de solução vacinal; qualidade da água utilizada; distribuição, da vacina que se torna mais complicada quando do uso de dosadores em granjas com bebedouro tipo nipple e com uma caixa de água central que abastece vários galpões.

Falhas na alimentação, não pela falta de alimento mas pela qualidade da matéria prima utilizada e assim sendo torna-se uma realidade ter que utilizar um grão com pior qualidade, p.ex. maior carga de micotoxina e saber que teremos o efeito reflexo nos órgãos linfóides.

Falhas no controle da coccidiose que não irá afetar diretamente o componente linfóide mas causa uma perda de resistência orgânica das aves.

E o pior, que muitas vezes é a realidade, que vem a ser a somatória de um ou mais fatores de depressão sejam infecciosos, nutricionais ou ambientais.

O PROCESSO DE MONITORIA DO SISTEMA IMUNE
Há algum tempo o que era mais comum se fazer era enviar material para o laboratório apenas quando se tinha uma suspeita de problema de campo e na maioria das vezes se coletava apenas a bolsa de Fabricius, com isso o resultado era incompleto pois nos dava a informação se havia ou não depleção linfóide mas não o agente causal pois vários fatores produzem o mesmo efeito na bolsa. Outras vezes se mandava apenas soros do lote afetado e com isso tínhamos a resposta se o lote havia ou não sofrido desafio de campo há pelo menos 1 semana (soroconversão) mas não se o lote estava ou não protegido pois tanto aves bem vacinadas como mal vacinadas, após um desafio irão soroconverter e terão títulos mais elevados.

Outro ponto de vista é que tínhamos o resultado de um efeito que se passou no organismo da ave mas não tínhamos como precisar se este efeito já vinha ocorrendo há mais tempo ou se houve melhora numa idade posterior a da coleta.

Tudo isto nos levou a considerar uma melhor forma de trabalho no que diz respeito à eficácia da monitoria e como obter informações mais precisas sobre O QUÊ estaria afetando o organismo da ave e QUANDO isto estaria se passando.

O PROGRAMA INTEGRADO DE MONITORIA
No ano 2000, a Fort Dodge introduziu inicialmente para testes de pesquisa e depois em 2002 como prestação de serviço o chamado Sistema de Análise de Imagens (IPA), que já vinha sendo utilizado nos EUA desde o final de 1997. Este sistema computadorizado mede a % de linfócitos presentes na bolsa de Fabrícius (software desenvolvido em conjunto com a Univ. de Iowa –EUA) a partir de imagens capturadas de lâminas coradas pelo processo tradicional hematoxilina/eosina usado no exame histológico.

A idéia inicial era através de exames em diferentes idades do lote poder estimar o efeito de depleção linfocitária e assim correlacionar com o quê seria o padrão característico de cada tipo de vacina (intermediária; plus ou forte).

Vários testes foram realizados com diferentes tipos de vacina intermediária; plus e forte e assim obteve-se um padrão mais ou menos uniforme de ação do vírus vacinal na bolsa, de acordo com a característica da vacina.
O quê ficou ainda sem definição foi a determinação exata, quando do exame de amostras de lotes comerciais que haviam mostrado lesão superior ao padrão esperado para inclusive vacina tipo forte, de qual o fator que estaria causando essa imunodepleção, pois tanto poderia ser um desafio de Gumboro subclínico (visto que o lote não apresentara sintomas nem lesões) quanto problema de micotoxicose ou outro fator como Marek subclínica, etc.

Sendo assim, realizamos em conjunto com algumas empresas do mercado avícola um teste mais completo onde examinamos amostras coletadas em 3 a 4 diferentes idade nos lotes e submetemos a diferentes testes
de laboratório.
Os testes escolhidos foram: PCR para Gumboro; sorologia para Gumboro; exame histopatológico não somente da bolsa mas também de outros órgãos como fígado; rins e baço e o teste de IPA.

RESULTADOS OBTIDOS
Em uma das empresas foram escolhidas 4 granjas que possuíam 2 galpões cada. Em um dos galpões se utilizou o programa de Gumboro que vinha sendo utilizado que era uma dose de vacina intermediária no primeiro dia junto com Marek e outra entre 14 a 16 dias de idade; no outro galpão a única mudança foi a vacina de campo que ao invés de ser intermediária foi mudad para tipo plus.

Amostras coletadas de ambos galpões em cada uma das 4 granjas nas seguintes idades: no dia da vacinação de campo (amostras de bolsa e cama para PCR de Gumboro); e com 21; 28; 35 e abate, amostras para sorologia de Gumboro (28d e abate), para histopatológico da bolsa e IPA (todas idades) e histopatológico de outros órgãos (28 e abate).

De acordo com os resultados obtidos pudemos ver qual foi a evolução das lesões na bolsa de acordo com a idade e se estavam ou não compatíveis com o tipo de vacina utilizada; quando não, o resultado de sorologia nos mostrava se houve ou não desafio por vírus de campo e os de histopatologia se as lesões na bolsa estavam compatíveis com a análise de imagens realizada e se estavam dentro de um padrão esperado para a vacina utilizada (usamos o padrão da European Pharmacopea que varia de 0 a 5 de acordo com as lesões observadas na bolsa) e o histopatológico de outros órgãos que nos mostrava sobre efeitos que não os do vírus de Gumboro, por exemplo lesões em fígado, rins e baço que poderiam estar ligadas a outros problemas; o PCR vinha nos mostrar o tipo de vírus presente.

Classificação do exame histopatológico pela European Pharmacopea:

0 – bolsas normais;
1 – baixa depleção medular; infiltração de heterófilos no córtex; presença de focos necróticos na região medular;
2 – depleção linfocitária considerável na maioria dos folículos; muitos núcleos picnóticos nas camadas medular e cortical;
maior infiltração de heterófilos e macrófagos;
3 – formação intensa de cavidades císticas (ou pseudocísticas) na medular, debris celulares e edema; atrofia folicular e
aumento no espaço interfolicular; muitos corpos necróticos na cortical;
4 – severa depleção linfocitária da medular e cortical; núcleos picnóticos e eosinófilos remanescentes; aumento do espaço
interfolicular com tecido conectivo fibroso; perda da destruição entre córtex e camada medular;
5 – completa perda da arquitetura normal da bolsa; poucos linfócitos remanescentes.

Nesta empresa verificamos após analise criteriosa de todos os resultados obtidos que havia um processo de depleção infocitária em ambos os lotes vacinados seja com vacina intermediária ou tipo plus e isso nos levou a pensar em outro fator imunossupressor que não Gumboro pois além de não haver diferenças entre os tipos de vacina utilizada o padrão de depleção na IPA e no histopatológico apesar de estar acima do esperado para os tipos de vacina utilizados não estavam tão agressivos como seria de se esperar num desafio de Gumboro (o padrão histológico foi no máximo 3 e normalmente num caso de Gumboro se teria 4 e/ou 5); além disso os títulos sorológicos (kit ELISA Idexx) estavam baixos não indicando desafio de Gumboro mesmo no exame ao final do lote.

Pelo exame de histopatologia de outros órgãos foram encontradas lesões em fígado; rins e baço com as características de infecção pelo vírus de Marek (tanto que em alguns lotes foram enviadas amostras do nervo ciático por suspeita de estarem com aparência fora do normal e também neles se evidenciou lesões características de Marek).

O exame de PCR foi o que confundiu pois onde se usou a vacina intermediária obteve-se caracterização do vírus vacinal em pouco mais de 5% dos testes (5/96) e onde se utilizou a vacina tipo plus em pouco mais de 20% dos testes (20/96) ambos considerando as amostras antes da vacinação de campo. A grande maioria dos resultados exibia padrão molecular do grupo variante brasileira G-15.

Se fossemos nos basear apenas no resultado de PCR diríamos que o problema da empresa seria Gumboro de baixa patogenicidade G-15 mas ao considerarmos coleta de material e sabendo que o teste de PCR tem uma sensibilidade muito grande somente o fato de se usar a mesma tesoura e mão sujas entre lotes diferentes já seria o bastante para influenciar nos resultados de outros lotes, ou seja, basta uma ave positiva em um dos lotes primeiro necropsiados para que outras amostras teoricamente negativas, ao serem coletados com o mesmo material, venham exibir o padrão G-15.

Isso nos leva a um segundo experimento para futuro onde se faria uma comparação em resultados de PCR de amostras de lotes criados em granjas onde se troca a cama a cada lote e outras de granjas que reaproveitam cama de um lote para outro; as amostras todas coletadas individualmente com uma tesoura e uma luva para cada ave e as bolsas colocadas separadas umas das outras para um exame individual por bolsa, por ave, por galpão, por granja.

Sendo assim para este caso vimos que o problema em questão era Marek subclínica e não Gumboro.
Numa outra empresa com esquema vacinal diferente usando vacina intermediária no primeiro dia e forte no campo aos 14 dias realizamos o mesmo tipo de teste.
Nesse caso todos os testes indicaram apenas lesões dentro do psdrão esperado para o tipo de vacina (forte) e nenhum outro problema foi identificado no lote.
O teste de PCR apresentou 100% de caracterização para o vírus da vacina forte nas amostras enviadas após o uso da mesma.

CONCLUSÃO
Sem a combinação dos diversos exames jamais teríamos chegado a uma conclusão no caso da primeira empresa examinada pois somente os exames da bolsa e a sorologia e o PCR não nos dariam a resposta; o que só aconteceu com o exame dos outros órgãos enviados.

Além disso tem-se uma chamada “fotografia dinâmica” do que está se passando nos lotes examinados pois nas várias idade foi possível saber quando o problema se iniciava e se havia ou não regeneração pós lesão encontrada. O que é muito diferente de uma “fotografia estática” quando se manda material em apenas uma idade e para um único teste ou amostras somente da bolsa, por exemplo.

O PCR evidenciou que quanto mais forte a vacina maior chance de se encontrar este padrão na bolsa após a vacinação, uma informação que já havíamos recebido e que agora se comprovava em um teste feito aqui na nossa avicultura. Por outro lado dada a sensibilidade do teste é preciso trabalhar com critério na coleta e envio das amostras além de amostragem pois poderemos ter resultados surpreendentes. Achei válido o fato de que quando não se conhece o tipo de vírus desafio que existe na região este teste irá nos evidenciar isto, mas para acompanhamento de vacinação e identificação do v;irus vacinal, somente quando do uso das amostras de vacina tipo forte é que teríamos sucesso pois caso contrário a recuperação de vírus vacinal tipo plus ou intermediário é menor.

Por isso hoje indicamos sempre uma monitoria dos lotes da seguinte maneira:

- duas vezes ao ano (época mais fria e época mais quente) - pelo menos 5 a 6 granjas escolhidas na região a ser examinada;
- ao menos 3 coletas de material (e idades diferentes de acordo com o tempo de vida do lote, no caso de frangos, ou 21-25 dias; 31 s 35 dias e 41 a 45 dias para lotes que saem até esta idade ou mesmo lotes de poedeiras comerciais) e amostras de ao menos 5 aves por idade (histopatologia e IPA) e 15 soros na última idade.
- nas duas primeiras coletas somente amostras de bolsa; na última coleta amostras de bolsa e outros órgãos (baço; fígado e rins além de qualquer outro que possa apresentar alteraração) e amostras de soro.
- Enviar o material todo junto bem identificado (as amostras para histopatológico não devem ficar sob refrigeração, já os soros coletados serão congelados e enviados sob refrigeração)
Espero que o relato destes experimentos possam contribuir para uma melhor verificação quando da monitoria realizada e que se possa fazer o uso mais freqüente destes diferentes exames que estão disponíveis para uma conclusão mais próxima possível da realidade do que vem ocorrendo nos lotes a serem examinados.

REFERÊNCIAS:
Bernardino, A. (2002). O Sistema de Análise de Imagens. Boletim técnico da Fort Dodge Saúde Animal Ltda.
Bernardino, A. et all (2002). Image Processing Analysis (IPA) to differentiate vaccine vírus and a vvIBDV field isolate present in Brazil. COST 839 Immunosupressive viral diseases in poutry, proceedings and annual report 2002, 95-102.
Schröder, A. & Mundt, E. Are bursal lesions necessary to protect chicken from IBDV challenge Infection? COST 839 Immunosupressive viral diseases in poutry, proceedings and annual report 2002, 125.

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