4.4.3.1 Análise do microclima da carga durante o transporte das aves na fase verão
Fazendo-se uma análise geral dos 8 carregamentos monitorados durante a estação de verão, e com base na Tabela 22, na qual é apresentada a ocorrência ou não da dependência espacial entre os pontos amostrados ao longo da carga para os turnos de transporte e as variáveis ambientais medidas, foi possível estabelecer um critério para a escolha dos dias mais interessantes para se proceder a análise do microclima da carga.
Tabela 22 – Ocorrência de dependência espacial entre os pontos amostrados ao longo da carga (L1, M e L2), em função dos turnos de transporte e das variáveis ambientais medidas
De acordo com o mencionado na fase inverno, com base na Tabela 22 e na ocorrência de dependência espacial entre os pontos amostrados ao longo da carga (L1, M e L2), optou-se pela escolha dos dias 2, 3 e 5 para se proceder a análise microclimática.
Com base na configuração de distribuição adotada para os loggers, foi possível traçar um perfil das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa) e do Índice Entalpia de Conforto ao longo da carga, que foi dividida em três partes, lateral 1 (L1), meio (M) e lateral 2 (L2). Sendo assim, são apresentados a seguir perfis do microclima da carga, para os três turnos avaliados (manhã, tarde e noite).
Os perfis apresentados na Figura 40 mostram o comportamento das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa) e do Índice Entalpia de Conforto ao longo da carga do caminhão para o dia 2 da fase verão, cujo transporte foi realizado no turno da manhã, e a distância granja-abatedouro classificada como longa (100Km).
Pelo perfil de temperatura apresentado na Figura 40, para a lateral 1 do caminhão (L1Temp.), é possível observar um comportamento de aumento desta variável na carga, conforme se avança para a parte traseira do caminhão. Sendo a região central e inferior a que apresenta as temperaturas mais elevadas.
Conforme mencionado nos estudos de Mitchell e Ketllewell (1994), esta região pode ser considerada como um “bolsão de calor” ou “núcleo térmico” da carga, descrito como uma região com pouca ventilação e com temperaturas mais elevadas.
Verifica-se também que, neste perfil, os valores de temperatura ficaram entre 22,4 e 26,8°C, com uma amplitude térmica de 4,4°C ao longo da carga. Sendo a região central e inferior desta lateral a parte com temperaturas que ultrapassam os limites de conforto térmico para aves na sexta semana, Macari e Furlan (2001).
Figura 40 – Perfis geoestatísticos dos comportamentos das variáveis ambientais: temperatura (L1Temp.), umidade relativa (L1UR) e do Índice Entalpia de Conforto (L1H) ao longo da Lateral 1, para o dia 2 (fase verão, distância longa, turno da manhã e sem molhamento da carga)
Quanto ao perfil da umidade ao longo da lateral em questão (L1UR), o que se verifica, além dos baixos valores desta variável, devido à ausência do molhamento da carga, é um comportamento bem uniforme da distribuição. Mas há uma tendência das partes frontal e traseira da carga apresentarem valores mais elevados de umidade. No entanto, estes ainda se encontram dentro da faixa de conforto mencionada por Macari e Furlan (2001).
O perfil do Índice Entalpia de Conforto ao longo da carga para lateral 1 (L1H) se mostra, quase que em sua totalidade, dentro de uma condição ideal de conforto térmico (região verde). Na parte central e inferior da carga, aparecem regiões classificadas como locais de alerta (amarelo), o que indica que estas seriam as regiões com microclima menos favorável às aves, com base em suas características térmicas.
A porcentagem de mortes na chegada para este dia foi de 0,35%, valor que pode ser considerado alto para um transporte realizado no turno da manhã. No entanto, a distância granja-abatedouro (100 km), o grande tempo de transporte (01h50min) e a velocidade média de 55 Km/h certamente contribuíram para a grandeza deste valor.
Para a fileira do meio da carga, são apresentados, na Figura 41, somente os perfis da temperatura e do Índice Entalpia de Conforto, isso devido a problemas de dependência espacial com a variável umidade relativa, verificados durante a análise geoestatística dos dados (Tabela 15).
Sendo assim, o que se pode observar, para o perfil de temperatura na parte do meio da carga, é uma semelhança com o perfil da lateral 1. Ou seja, a parte da frente da carga apresenta valores de temperatura mais baixos, com relação à parte central e traseira da mesma. Mesmo assim, a amplitude térmica, que variou de 22 a quase 25,7°C, se encontra muito próxima à faixa de conforto térmico, Macari e Furlan (2001).
Figura 41 – Perfis dos comportamentos da variável ambiental temperatura (MTemp.) e do Índice Entalpia de Conforto (MH) ao longo da fileira do meio, para o dia 2 (fase verão, distância longa, turno da manhã e sem molhamento da carga)
Quanto ao perfil do Índice Entalpia de Conforto ao longo da fileira central da carga, observa-se que, a exemplo do comportamento da temperatura, a parte da frente da carga pode ser classificada como uma região de conforto (verde), seguida de uma pequena região de alerta (amarela), sendo o restante da carga classificado como região crítica (laranja), conforme as Tabelas de Entalpia (Anexo A).
A Figura 42 apresenta os perfis das variáveis ambientais para a lateral 2 (L2) e mostra uma semelhança com os perfis da lateral 1 (L1). O comportamento da temperatura, por exemplo, segue a mesma tendência apresentada na lateral 1, ou seja, regiões de temperaturas mais amenas na parte da frente da carga e regiões mais quentes nas partes central e inferior da carga.
Quanto à variável Umidade Relativa, o perfil também é semelhante ao da lateral 2, ou seja, bem uniforme e com valores baixos de umidade relativa ao longo da carga.
No que se refere ao perfil do Índice Entalpia de Conforto ao longo da lateral 2 (L2H), observa-se um comportamento bem próximo ao verificado na lateral 1, ou seja, a parte da frente da carga pode ser classificada como uma região de conforto térmico (verde), e a medida que se avança para o centro e para o fundo da carga, as condições ambientais se alteram, mudando a classificação para uma condição de alerta (amarela), conforme as Tabelas de Entalpia.
Figura 42 – Perfis geoestatísticos dos comportamentos das variáveis ambientais: temperatura (L2Temp.), umidade relativa (L2UR) e do Índice Entalpia de Conforto (L2H) ao longo da Lateral 2, para o dia 2 (fase verão, distância longa, turno da manhã e sem molhamento da carga)
A Figura 43 mostra a distribuição e o posicionamento dos loggers ao longo da carga do caminhão. Como mencionado na fase inverno, os quadrados amarelos representam as caixas com os loggers e a numeração em cada um deles diz respeito à identificação destes aparelhos.
Figura 43 – Posicionamentos dos loggers ao longo da carga do caminhão
A Figura 44 é apresentada como forma de validação dos perfis das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa). Sendo possível, assim, comprovar quais as características das regiões em que os loggers se encontravam.
Pela análise conjunta das Figuras 43 e 44, foi possível constatar, por exemplo, que os loggers de número 04, 07, 18 e 19 estão situados em regiões de temperaturas mais amenas e localizados na parte da frente da carga. Já os loggers de número 35, 40 e 41, estão situados em regiões de temperaturas mais elevadas e na parte central ou traseira da carga do caminhão.
Figura 44 – Representação da distribuição dos loggers ao longo da carga, por meio da análise de componentes principais
Sendo assim, com base nesta validação dos perfis das variáveis ambientais, no perfil do Índice Entalpia de Conforto e na porcentagem de perdas para este dia (0,35%), é possível afirmar que a região com o pior microclima para as aves, nas condições de transporte do dia 2, é a região central inferior da carga, onde, provavelmente tenha ocorrido o maior número de perdas.
Os perfis apresentados na Figura 45 mostram o comportamento das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa) e do Índice Entalpia de Conforto ao longo da carga do caminhão, para o dia 3 da fase verão, em que o transporte foi realizado no turno da tarde, a uma distância granja-abatedouro considerada como média (50 km).
No perfil com o comportamento da temperatura ao longo da lateral 1 (L1Temp.), é importante chamar a atenção para a amplitude térmica do microclima da carga, pois os valores de temperatura oscilaram entre 27,4 e 31,4°C, valores considerados elevados e fora da faixa de conforto térmico para frangos de corte na sexta semana, Macari e Furlan (2001).
O perfil de temperatura mostra um comportamento bem homogêneo desta variável ao longo da carga, ficando praticamente na faixa dos 30°C, com exceção de algumas regiões no centro e topo da carga.
Figura 45 – Perfis geoestatísticos das variáveis ambientais temperatura (L1Temp.) e umidade relativa (L1UR) ao longo da Lateral 1, para o dia 3 (fase verão, distância média, turno da tarde e sem molhamento da carga)
Nesta data (dia 3), de acordo com a Tabela 9, a alta densidade de aves/caixa (8 aves/caixa) certamente contribuiu com estes elevados valores de temperatura no microclima da carga. Conforme verificado por Kettlewell (1989), a elevada densidade de aves por caixa comprometerá a perda de calor sensível, sendo que a única possibilidade que as aves terão de realizarem trocas térmicas durante o transporte será através da perda de calor latente, utilizando, para isso, o ar disponível a sua volta.
No entanto, para que isso ocorra, as aves terão que se posicionar de forma a conseguir encontrar locais mais ventilados dentro das caixas de transporte. Acontece que para as aves situadas no centro e no fundo da carga, isso será mais difícil, devido à pouca renovação do ar nestes locais, o que torna estas regiões as mais propensas à ocorrência de perdas.
Com relação ao perfil da umidade ao longo da lateral 1 (L1UR), o que se observa é a formação de um gradiente decrescente que vai da parte dianteira da carga até a parte traseira da mesma. Os valores de umidade relativa são baixos devido à ausência da prática do molhamento, sendo que o intervalo de valores apresentados para este perfil (60 a 67%) se encontra dentro da faixa de conforto para frangos de corte na sexta semana, Macari e Furlan (2001).
O perfil do Índice Entalpia de Conforto para a lateral em questão (L1H) não é apresentado por motivos de falta de dependência espacial entre os pontos amostrados, observada durante a análise geoestatística dos dados (Tabela 15).
Este mesmo problema pôde ser verificado também para os perfis de temperatura e do Índice Entalpia de Conforto na fileira do meio da carga (Figura 46). Sendo assim, é apresentado somente o perfil da variável ambiental umidade relativa.
Figura 46 – Perfil geoestatístico do comportamento da variável ambiental umidade relativa (MUR) ao longo da fileira do meio, para o dia 3 (fase verão, distância média, turno da tarde e sem molhamento da carga)
O que se observa no perfil da umidade relativa é que houve um aumento na amplitude dos valores desta variável, quando comparado com a lateral 1 (L1UR). Isso, certamente, se deve ao fato desta região da carga receber menos ventilação que as partes laterais, o que acaba dificultando a dissipação da umidade e promove uma maior desuniformidade na distribuição desta ao longo do perfil.
Além disso, conforme verificado por Mitchell e Kettlewell (1994),em condições de baixa ventilação e alta temperatura, o acúmulo de vapor de água resultante dos efeitos da polipnea respiratória ou da ofegação compromete a eficiência das perdas evaporativas de calor e aumenta efetivamente a carga térmica sobre as aves.
É sabido também que, quando os valores de umidade relativa aumentam de 20 para 80% a uma temperatura de 28°C, dentro de uma caixa de transporte, isso resultar á em um aumento de 0,42°C por hora na temperatura corporal das aves, Mitchell e Kettlewell (1994).
Quanto à Figura 47, com o perfil de temperatura ao longo da lateral 2 (L2Temp.) o que se observa é um comportamento semelhante ao apresentado para a lateral 1, ou seja, valores elevados (28 a 32°C) e comportamento bem homogêneo da variável ao longo do perfil, com valores praticamente constantes (por volta de 30°C) e alguns pontos isolados de temperaturas mais amenas.
Devido à não dependência espacial durante a análise geoestatística dos dados para o dia em questão, não foi possível obter o perfil da variável ambiental Umidade Relativa para a lateral 2.
No entanto, o perfil do Índice Entalpia de Conforto para a lateral 2 apresenta regiões de entalpia elevada nas partes central e traseira da carga, podendo ser considerados, de acordo com a classificação das Tabelas de Entalpia, como regiões críticas (laranja), quanto aos riscos de ocorrência de estresse térmico. Já a parte dianteira pode ser classificada como uma região de alerta (amarela).
Figura 47 – Perfis geoestatísticos dos comportamentos da variável ambiental temperatura (L2Temp.) e do Índice Entalpia de Conforto (L2H) ao longo da Lateral 2, para o dia 3 (fase Verão, distância média, turno da tarde e sem molhamento da carga)
Certamente, devido a característica da parte traseira da carga do caminhão receber menor ventilação durante a viagem favoreceu o aumento da temperatura nesta região, o que por sua vez, fez com que os valores da entalpia também fossem mais elevados nesta parte da carga, ultrapassando o limite (75,9 kJ/kg ar seco), entre a faixa crítica (amarela) e a letal (vermelha), para frangos na sexta semana, Barbosa Filho et al. (2007).
A Figura 48 mostra a configuração de distribuição dos loggers ao longo da carga do caminhão de transporte das aves, sendo que os quadrados amarelos representam o posicionamento das caixas contendo estes equipamentos de coleta, e a numeração dentro dos quadrados mostra a identificação de cada aparelho.
Figura 48 – Posicionamentos dos loggers ao longo da carga do caminhão
Na Figura 49, é apresentado o resultado da análise de componentes principais, como uma forma de validação dos perfis apresentados anteriormente.
A análise conjunta das Figuras 48 e 49 indica, por exemplo, que os loggers de número 10, 12, 13 e 43 estão situados em regiões de elevadas temperaturas e também nas partes dianteira e traseira da carga. Já os loggers de número 3, 4, 7, 19 e 30, estão localizados em regiões de temperaturas mais amenas.
Figura 49 – Representação da distribuição dos loggers ao longo da carga, por meio da análise de componentes principais
Com base na validação dos perfis das variáveis ambientais (Figura 49), bem como pelos perfis do Índice Entalpia de Conforto e, considerando também a alta mortalidade deste dia (0,51%), é possível afirmar que, apesar da distância granja-abatedouro ser média (50 km), o elevado tempo de transporte (1h10 min), a elevada densidade de aves por caixa e as condições térmicas desfavoráveis do turno da tarde contribuíram para o agravamento do microclima às aves.
A Figura 50 apresenta os perfis das variáveis ambientais e do Índice Entalpia de Conforto térmico para a lateral 1 do transporte realizado no dia 5, com distância longa (100 km) e durante o turno da noite.
Figura 50 – Perfis geoestatísticos dos comportamentos das variáveis ambientais: temperatura (L1Temp.), umidade relativa (L1UR) e do Índice Entalpia de Conforto (L1H) ao longo da Lateral 1, para o dia 5 (fase verão, distância longa, turno da noite e com molhamento da carga)
Como se pode observar pelo perfil da variável ambiental Temperatura ao longo da carga (L1Temp.), existe uma região com temperaturas mais amenas nas partes central e superior da carga. No entanto, a amplitude térmica continua alta, com temperaturas que chegam a 30°C em alguns locais (parte inferior dianteira).
Como comentado no caso do turno da tarde, e de acordo com Mitchell e Kettlewell (1994), a combinação de valores elevados de temperatura e umidade relativa, neste caso em que a carga foi molhada antes do transporte, poderá afetar negativamente os mecanismos de trocas térmicas das aves, interferindo nas perdas de calor latente, o que poderá ocasionar maiores perdas.
Quanto ao perfil da umidade relativa, o que se nota, primeiramente, são os elevados valores desta variável ao longo da lateral em questão, ficando fora da condição de conforto para frangos de corte na sexta semana, Macari e Furlan (2001). Sendo que os valores mais baixos desta variável estão localizados ao longo da parte inferior da carga.
Quanto aos elevados valores de umidade relativa, além de poder causar problemas devido ao comprometimento de trocas térmicas das aves, conforme mencionado por Mitchell e Kettlewell (1994), ainda poderão resultar em condições severas de estresse térmico, Hunter et al. (1999) e Bayliss e Hinton (1990), onde maiores perdas poderão ocorrer.
Para o perfil do Índice Entalpia de Conforto ao longo da lateral 1 (L1H), o que se observa são os elevados valores deste índice ao longo de todo o perfil. Sendo praticamente toda a lateral classificada, de acordo com as Tabelas de Entalpia, como região crítica (laranja), sob o ponto de vista microclimático para frangos de corte na sexta semana.
A Figura 51 mostra os perfis das variáveis ambientais para a fileira do meio da carga, considerada como a região mais crítica, devido às elevadas temperaturas, à pouca circulação de ar e às altas concentrações de umidade.
O que se observa, pelo perfil da temperatura ao longo da parte central da carga (MTemp.), é a presença nítida de duas regiões de concentração de temperaturas mais elevadas. Uma delas localizada na parte superior e dianteira e a outra na parte inferior traseira. Próximas as regiões mais quentes, estão também regiões de temperaturas mais amenas (entre 23 e 25°C), o que faz com que o perfil mostre de forma clara os chamados “bolsões de calor” ou “núcleos térmicos”, conforme descrito por Mitchell et al. (1992); Kettlewell e Mitchell (1993); Mitchell e Ketllewell (1994).
Figura 51 – Perfil geoestatístico das variáveis ambientais: temperatura (M1Temp.), umidade relativa (M1UR) e do Índice Entalpia de Conforto (M1H) ao longo da fileira do meio, para o dia 5 (fase verão, distância longa, turno da noite e com molhamento da carga)
Quanto ao perfil da umidade (MUR), o que se pode notar são regiões com valores relativamente mais baixos desta variável na parte central da carga (inferiores a 70%). Acima desse valor, a umidade passa a ser nociva para as aves, que terão o seu sistema de trocas térmicas afetado, Bayliss e Hinton (1990); Warriss et al. (2005).
Analisando-se o perfil do Índice Entalpia de Conforto para a fileira do meio da carga (MH), é possível notar que, a exemplo da lateral 1 (Figura 49), este perfil pode ser classificado em sua totalidade como uma região crítica (laranja), do ponto de vista do estresse térmico para frangos de corte na sexta semana, Barbosa Filho et al. (2007).
Essa classificação, por sua vez, coloca esta parte da carga (fileira do meio) como uma região mais propensa à ocorrência de perdas devido a problemas de estresse térmico.
Na Figura 52, são apresentados os perfis da variável ambiental Temperatura e do Índice Entalpia de Conforto para a lateral 2 do caminhão de transporte das aves. Não foi possível de construir o perfil da umidade relativa devido a não dependência espacial entre os pontos amostrados nesta pesquisa.
Quanto ao comportamento da temperatura ao longo da carga para a lateral 2, é possível notar duas faixas com temperaturas mais elevadas que avançam por toda a lateral, no sentido vertical e que se localizam na parte central da mesma. Por outro lado, as partes dianteira e traseira da carga apresentam regiões com temperaturas mais amenas.
É interessante também observar a queda na amplitude térmica ao longo da carga. a lateral 2 quando comparada com a fileira do meio ou com a lateral 1, que apresenta valores de temperatura bem mais elevados (Tabela 24), no que diz respeito a amplitude térmica.
Figura 52 – Perfis geoestatísticos da variável ambiental temperatura (L2Temp.) e do Índice Entalpia de Conforto (L2H) ao longo da Lateral 2, para o dia 5 (fase verão, distância longa, turno da noite e com molhamento da carga)
No perfil do Índice Entalpia de Conforto para a lateral 2, o que se observa é que, a exemplo dos casos anteriores, praticamente toda esta lateral pode ser classificada como região crítica (laranja) para frangos de corte na sexta semana, conforme as Tabelas de Entalpia (Anexo A), o que coloca o microclima desta lateral como prejudicial às aves nestas condições de transporte.
A Figura 53 apresenta o esquema de distribuição dos loggers ao longo da carga do caminhão de transporte para o dia 5. Sendo os quadrados amarelos indicativos das caixas que continham os loggers e os números dentro deles representam a identificação de cada aparelho.
Figura 53 – Posicionamentos dos loggers ao longo da carga do caminhão
A Figura 54 indica as características térmicas das regiões em que os loggers estão situados e serve como uma forma a validar o que foi mostrado pelos perfis de temperatura e umidade relativa ao longo da carga.
Analisando conjuntamente as Figuras 53 e 54, é possível verificar a localização de cada logger na carga, bem como as características térmicas da região onde estes se encontram. Por exemplo, os loggers de número 6, 18, 30 e 35 estão situados em regiões de elevadas temperaturas, já os loggers 3, 4, 22 e 24 se localizam numa região de temperaturas mais amenas.
Figura 54 – Representação da distribuição dos loggers ao longo da carga, por meio da análise de componentes principais
Com base na validação dos perfis das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa), do perfil do Índice Entalpia de Conforto e, ainda, com a informação da porcentagem de perda para este dia (0,57%), é possível afirmar que, para as condições em que foi realizado o transporte em questão, fatores como a alta umidade presente na carga, a distância granja-abatedouro (100 km), e elevadas temperaturas durante a viagem contribuíram para agravar o microclima a que as aves foram submetidas.
Considerando-se a variação do microclima da carga para estas três situações apresentadas (dias 2, 3 e 5) durante a estação de verão, foi possível observar a diferença em relação à estação de inverno, devido ao aumento nas porcentagens de mortes na chegada, principalmente nos turnos da tarde e noite.
Conforme observado por Hunter et al. (2001), as perdas ocorridas durante o transporte, devido ao estresse por frio não são vistas pela indústria como um problema sério. No entanto, a preocupação é principalmente quanto as perdas devido ao estresse por calor, que são vistas como uma barreira contra as metas para se atingir a eficiência máxima no processo.
Sendo assim, é preciso que se atente para o fato de que transportar aves durante a época de verão, principalmente no turno da tarde, poderá resultar em maiores índices de perdas. Além disso, pontos críticos deste processo, tais como a densidade de aves por caixa e o tempo de viagem também deverão receber atenção especial durante essa época do ano.
Na Tabela 23, são apresentadas as médias gerais das variáveis ambientais dos transportes realizados durante o verão. Estes valores foram obtidos considerando-se as médias dos 47 loggers espalhados ao longo do perfil da carga, que, por sua vez, sintetizaram em um único número as condições ambientais da carga no momento do transporte e servem como parâmetro de comparação entre os turnos.
Tabela 23 – Médias das variáveis ambientais da carga para cada turno, verificadas durante o transporte das aves
Na Tabela 23, é apresentada a quantidade de calor presente na carga (HCarga) dos caminhões durante os transportes realizados neste estudo. É possível verificar que, de forma geral, os turnos da manhã e noite são os mais indicados para se realizar o transporte das aves, sendo o turno da tarde o menos recomendado devido às suas condições microclimáticas inadequadas às aves, conforme a classificação das Tabelas de Entalpia (Anexo A).
Quanto à prática da realização do molhamento, novamente se verifica um aumento nos valores de umidade relativa da carga, bem como é nítida a diferença nos valores de quantidade de calor (HCarga) no turno da tarde, quando é feito o molhamento.
A Tabela 24 apresenta as amplitudes de variação das variáveis ambientais e do Índice Entalpia de Conforto para os dias de transporte analisados, em função dos turnos de transporte e da ocorrência ou não da prática do molhamento da carga antes do transporte.
Tabela 24 – Amplitudes das variáveis ambientais (Temp. e UR) e do Índice Entalpia de Conforto (H) para cada parte da carga (L1, M e L2), em função dos turnos de transporte
Observando-se a Tabela 24, é possível verificar uma variação menor nos valores de temperatura para os turnos da manhã e tarde, com relação ao da noite, o que pode caracterizar uma mudança em decorrência da realização ou não da prática do molhamento da carga.
Quanto à amplitude dos valores de umidade relativa, tem-se novamente uma forte influência da prática do molhamento da carga na alteração destes valores. O que se observa é uma grande variação da amplitude da umidade para o turno da noite, em comparação como os da manhã e tarde, devido a alta umidade relativa agregada a pratica do molhamento da carga.
Para as amplitudes do Índice Entalpia de Conforto (IEC), o que se nota, apesar de no turno da tarde não ter sido possível verificar tais valores, é que, a exemplo do ocorrido para a umidade, há uma diferença entre os valores do IEC para os turnos da manhã e tarde, em relação ao da noite.
Esta diferença indica que molhar a carga antes do transporte durante o turno da noite poderá trazer problemas, devido aos elevados valores que a variável ambiental umidade Relativa poderá atingir, fato que dificultará as trocas térmicas das aves e tornará o microclima da carga inadequado ao transporte das aves.
A Tabela 25 apresenta os locais de microclima menos adequado as aves durante o transporte, considerando as regiões da carga avaliadas nesta pesquisa (L1, M e L2), baseando-se nos resultados apresentados pelos perfis das variáveis ambientais e pelo Índice Entalpia de Conforto.
Tabela 25 – Regiões de microclima menos adequado as aves ao longo da carga do caminhão em função dos turnos de transporte, para a estação de verão
A exemplo do apresentado na fase inverno, pela Tabela 25, é possível verificar que, para as partes da carga avaliadas neste estudo (L1, M e L2), a região central ainda continua sendo a de pior condição microclimática para as aves.
4.5 Espera para o abate
A Tabela 26 apresenta as principais características encontradas durante a etapa de espera das aves. Como se pode observar, somente para a fase inverno é que foi possível acompanhar a etapa de espera das aves. Durante o verão a espera foi realizada de tal maneira que os caminhões que chegavam ao abatedouro já eram encaminhados quase diretamente para a linha de abate, com o intuito de evitar maiores perdas durante a espera.
No entanto, para a estação de inverno, vários tempos de espera foram monitorados, desde períodos longos (duas horas e meia), até o tempo zero de espera, ou seja, sem espera nenhuma.
Tabela 26 – Panorama geral da operação de espera das aves