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Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 5)

Publicado: 7 de janeiro de 2008
Por: José Antonio Delfino Barbosa Filho (Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Agronomia. Área de concentração: Física do Ambiente Agrícola - Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”)
4.3 Carregamento das aves
Durante esta etapa das operações pré-abate, foram monitoradas, para os 16 carregamentos, as variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa), o tempo gasto na realização desta operação, os turnos de execução, a densidade de aves por caixa e a ocorrência ou não da prática de “molhamento” da carga antes do transporte.
A Tabela 6 apresenta as principais características encontradas durante a operação pré-abate de carregamento das aves para este estudo.
 
Tabela 6 – Panorama geral da operação de carregamento das aves
Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 5) - Image 1
 
Como as operações de pega e carregamento acontecem simultaneamente, elas possuem as mesmas características; tais como: tempo de duração da operação, número de trabalhadores envolvidos, densidade de aves por caixa e características ambientais, conforme se pode verificar nas Tabelas 3 e 6.
A coluna Aves/caixa (Tabela 6), talvez seja a mais importante dentre as informações apresentadas nesta etapa, uma vez que remete à densidade de aves que serão colocadas em cada caixa de transporte. De acordo com Petracci, et al. (2006), esta densidade, por sua vez, será um dos principais fatores que poderá influenciar na redução de perdas nas operações pré-abate das aves.
A densidade de aves por caixa deverá estar sempre adequada ao peso e idade das mesmas, bem como às condições ambientais durante o transporte. No entanto, como se pode observar na Tabela 6, não existe um controle no transporte das aves no sentido de tentar adequar este fator às condições ambientais (temperatura e umidade relativa) no momento do carregamento e transporte.
Com isso, de acordo com Kettlewell e Turner (1985), aumentam-se as chances de ocorrerem perdas durante as viagens até o abatedouro, principalmente se estas forem realizadas nos turnos da tarde e durante a estação de verão, situações nas quais os altos valores das variáveis ambientais poderão trazer prejuízos. Sendo assim, a recomendação é a de sempre tentar adequar a densidade de aves por caixa com as condições ambientais verificadas no momento do carregamento e do transporte.
A Figura 16 apresenta, para cada fase avaliada (inverno e verão), os valores médios de densidade de aves por caixa dentro de cada turno pesquisado. Neste gráfico, é possível observar certa constância nos valores de densidade para a fase verão (7 aves/caixa), ao contrário do inverno, em que este valor variou para cada turno analisado, entre 6 a 8 aves/caixa.
 
Figura 16 – Valores médios de densidade de aves por caixa para cada turno avaliado durante as fases da pesquisa (inverno e verão)
Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 5) - Image 2
 
Quanto à variação da densidade de aves por caixa na fase inverno, é possível notar também que a menor quantidade de aves por caixa aconteceu no período da tarde (6 aves/caixa), o que pode estar indicando uma possível preocupação com este turno, em especial devido ao seu maior potencial em causar estresse térmico às aves.
Dessa forma, de acordo com a Tabela 6, no que diz respeito ao tempo de duração do carregamento, a medida que as aves vão sendo carregadas e a carga do caminhão vai ficando completa, as primeiras aves que foram carregadas já estarão, há um certo tempo, expostas às condições ambientais externas.
Estas condições, por sua vez, de acordo com Turner e Kettlewell (1983), poderão ser prejudiciais às aves, sendo que na maioria das vezes estas estarão expostas durante todo o período do carregamento à ação direta do sol e, provavelmente, à pouca ventilação, principalmente nas caixas situadas no fundo e no centro da carga, sendo que, sob estas condições, a perda de calor sensível será reduzida drasticamente.
Uma proposta para tentar diminuir os efeitos nocivos da exposição direta das aves às condições ambientais durante o carregamento, conforme mencionado por Kettlewell e Turner (1985), seria proporcionar uma área sombreada próxima aos galpões das aves, onde os caminhões pudessem parar enquanto o carregamento fosse sendo realizado e eles não ficassem expostos ao sol. Esta área de sombra, por sua vez, poderá ser proporcionada de forma simples, montando-se uma espécie de abrigo para os caminhões coberto com tela negra.
Analisando a Tabela 6 com relação ao tempo de duração da etapa de carregamento, é possível constatar que para a estação de inverno o maior tempo de carregamento (01h10min) ocorreu no turno da tarde, no entanto, pra essa data (dia 5), a densidade de aves por caixa foi uma das menores (6 aves/caixa), o que de certa forma poderá ter contribuído para uma redução nas perdas.
Para a estação de verão, o maior tempo de carregamento também ocorreu no período da tarde (uma hora). No entanto, ao contrário do inverno, nesta data (dia 3), ocorreu uma maior densidade de aves por caixa (8 aves/caixa), o que parece incoerente, uma vez que, esta combinação de alta densidade de aves por caixa e turno da tarde, sob o ponto de vista bioclimático, pode ser considerada como a mais desfavorável aos animais.
Sendo assim, é sempre importante ressaltar que cuidados durante o estabelecimento do número de aves a serem colocadas por caixa, bem como a observação das condições ambientais durante a etapa de carregamento são imprescindíveis para que se possa alcançar menores percentuais de perdas ao final das operações pré-abate de frangos de corte.
Ainda quanto à Tabela 6, a última coluna apresenta a informação que diz respeito à prática de molhar ou não as aves antes do início do transporte, este “molhamento” da carga é realizado com o objetivo de resfriar as mesmas e evitar problemas de estresse térmico durante o transporte até o abatedouro. No caso da presente pesquisa, foi solicitado à empresa integradora que não realizasse esta prática em alguns dias para que fosse possível quantificar a perda de peso das aves durante o trajeto da viagem granja-abatedouro.
4.3.1 A operação de carregamento das aves durante a fase inverno
Durante esta fase da pesquisa, registrou-se os dados dos mesmos 8 carregamentos avaliados na etapa de pega das aves. O número de pessoas envolvidas no carregamento foi o mesmo durante as duas fases da pesquisa (inverno e verão), e a densidade de aves por caixa variou de, no máximo, 9 a no mínimo 6 aves/caixa, com média final de aproximadamente 7 aves/caixa, sendo as maiores densidades verificadas nos turnos da manhã e noite.
A Tabela 7 apresenta uma visão geral do comportamento das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa), durante a estação de inverno para a operação pré-abate de carregamento das aves.
 
Tabela 7 – Médias das variáveis ambientais internas (Galp) e externas (Ext), do galpão e da carga do caminhão (Cam) para cada turno em que foi realizado o carregamento das aves
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Analisando-se a Tabela 7 é possível observar que, além dos valores médios das variáveis ambientais coletadas no ambiente interno e externo do galpão das aves, são apresentados também os valores de temperatura e umidade relativa medidos na carga do caminhão (Cam). Estes valores, por sua vez, são resultantes da média das variáveis ambientais medidas pelos Loggers distribuídos ao longo da carga.
Comparando-se os três valores de temperatura nos três ambientes avaliados (Tabela 7), é possível observar que os valores médios de temperatura para o ambiente da carga do caminhão (TempCam), foram bem semelhantes aos valores médios medidos no ambiente interno do galpão das aves (TempGalp), principalmente no turno da tarde. Isso pode indicar que, apesar do ambiente onde estava situado o caminhão ser aberto, a configuração das caixas na carroceria acabou criando uma espécie de barreira à ventilação, o que, certamente, prejudicou a circulação de ar entre as caixas, comprometendo assim, a dissipação de calor.
Outro problema é quanto ao caminhão ficar parado sob o sol por muito tempo, isso também irá contribuir para que a temperatura média da carga aumente, pois as aves estarão expostas à ação direta da radiação solar, o que somado à baixa ventilação, poderá gerar um ambiente térmico estressante as aves.
Ainda na Tabela 7, pode-se observar que, mesmo para as condições de inverno, o turno da tarde ainda continua sendo o mais propenso a gerar estresse térmico as aves durante o carregamento.
Quanto à variável Umidade Relativa, seu comportamento para os três ambientes analisados (Tabela 7), revela uma tendência dos valores desta se igualarem aos medidos no ambiente interno do galpão das aves. O que, por sua vez, confirmaria os efeitos da configuração da carga no impedimento da ventilação e, conseqüentemente, na retirada do excesso de umidade entre as caixas.
 Quanto à grandeza dos valores, o turno da manhã foi o que apresentou maior média de umidade relativa (78%), seguido pelo da noite (76%) e finalmente pelo da tarde (62%), isso se deu pela própria característica ambiental destes turnos e pelas características da estação de inverno da região da pesquisa.
A Figura 17 apresenta as variáveis ambientais resultantes dos dados da Tabela 7, obtidos durante a operação de carregamento das aves para a fase inverno.
 
Figura 17 – Médias das variáveis ambientais Temperatura (a) e Umidade Relativa (b) para os ambientes avaliados (galpão, externo e carga do caminhão), de acordo com cada turno em que o carregamento das aves foi realizado
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A Figura 17 confirma a característica que a estação de inverno possui de apresentar manhãs e noites com características ambientais semelhantes. Diferentemente, o turno da tarde apresenta uma condição de temperaturas mais elevadas, o que, por sua vez, afeta também a média da temperatura na carga do caminhão.
No que diz respeito à variável ambiental umidade relativa, esta apresenta uma tendência de aumento no turno da noite para praticamente todos os ambientes avaliados, o que deve ser visto com certo cuidado para que estes não venham a se tornar um problema para as aves neste turno.
A Figura 18 apresenta a fusão dos gráficos de temperatura e umidade relativa na forma do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para os três ambientes avaliados. É possível notar, conforme vem sendo indicado, que o turno da tarde é o que apresenta uma maior propensão a causar problemas de desconforto térmico às aves.
 
Figura 18 – Valores médios do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para aves na 6ª semana, durante a operação de carregamento e estação de inverno
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De acordo com a classificação das Tabelas de Entalpia, as cores amarelas de ambas as barras (HGalp e HCam) revelam que as condições térmicas para estes ambientes podem ser classificadas como de alerta sob o ponto de vista do conforto térmico para frangos de corte na sexta semana de vida. Esta situação, por sua vez, revela uma condição de conforto térmico instável, o que demandará um monitoramento periódico das variáveis ambientais, para que esta situação não se agrave e venha a comprometer os animais.
A Figura 19 confirma a indicação do turno da tarde como sendo o mais desfavorável, sob o ponto de vista bioclimático, para a realização da operação de carregamento, sendo nítido o aumento da Temperatura Retal média para este turno.
 
Figura 19 – Valores médios da variável fisiológica Temperatura Retal, durante a operação de carregamento das aves para a estação de inverno
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Os valores de Temperatura Retal durante o carregamento variaram em média de 41,1 a 41,8 °C, sendo este último valor medido no turno da tarde. É importante lembrar que o valor do limite inferior da condição de estresse térmico para Temperatura Retal, de acordo com Silva et al. (2007), é de 41,1 °C, o que abrange praticamente todos os valores de Temperatura Retal medidos nos turnos avaliados durante esta etapa pré-abate.
Quanto à prática de “molhamento” das aves para a fase inverno, é possível observar pela Tabela 5 que a metade dos carregamentos foi molhada antes do transporte, sendo que para o turno da tarde somente um carregamento não foi molhado (dia 3).
A prática de molhar as aves, quando realizada no turno da noite, durante a época de inverno, poderá se tornar um procedimento perigoso aos animais, uma vez que seu efeito poderá funcionar de forma inversa, ou seja, ao invés de favorecer as aves, poderá causar problemas de estresse térmico por frio a elas (morte por hipotermia). Concordando com Hunter et al. (1999), esse estresse será resultante da combinação de elementos como a baixa temperatura ambiental durante a noite e a ação do vento que incide diretamente nas aves durante a viagem, principalmente naquelas situadas nas extremidades e no topo da carga dos caminhões.
Conforme mencionado por Nicol e Scott (1990), essa ação combinada, da incidência do vento gelado somado à água presente no corpo das aves devido ao molhamento, resultará em um aumento na sensação térmica de frio pelos animais e em uma significativa redução da capacidade de isolamento térmico das penas, o que causará um aumento nas perdas por convecção, levando às aves a um quadro de hipotermia, aumentando as perdas durante o transporte.
Sendo assim, medidas como a utilização de lona plástica na parte frontal e no topo da carga dos caminhões deverão ser adotadas durante a estação de inverno, tal como sugerido por Bayliss e Hinton (1990), para que maiores perdas resultantes de problemas provenientes do estresse térmico por frio possam ser evitadas. 
4.3.2 A operação de carregamento das aves durante a fase verão
Conforme descrito anteriormente (fase inverno), as condições avaliadas durante a operação pré-abate de carregamento para a fase verão foram praticamente as mesmas avaliadas durante a etapa de pega nesta mesma estação.
A Tabela 8 apresenta uma visão geral do comportamento das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa) durante a estação de verão para a operação pré-abate de carregamento das aves.
 
Tabela 8 – Médias das variáveis ambientais internas (Galp) e externas do galpão (Ext) e da carga do caminhão (Cam) para cada turno em que foi realizado o carregamento das aves
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Como se pode notar pela Tabela 8, acontece a mesma tendência apresentada na fase inverno, ou seja, o fato dos valores médios de temperatura interna do galpão (TempGalp) e da carga do caminhão (TempCam) se igualarem para os turnos avaliados. No entanto, diferentemente da fase inverno, em que os valores das médias de temperatura na carga do caminhão (TempCam) foram menores do que os medidos no interior do galpão (TempGalp), na fase verão, estes valores ultrapassaram os medidos no galpão; o que, com certeza, indica que as características ambientais externas para esta estação foram bem mais nocivas às aves.
Quanto aos valores de umidade relativa nos três ambientes avaliados, há uma tendência destes apresentarem uma queda nos turnos da manhã e tarde (Tabela 8); no entanto, para o turno da noite, o valor médio desta variável na carga do caminhão (URCam) volta a subir e praticamente se iguala ao do ambiente interno do galpão (URGalp).
Este fato exige muita atenção, tanto no que diz respeito ao ambiente interno do galpão quanto ao ambiente da carga do caminhão. Medidas como o acionamento de ventiladores dentro dos galpões, com o objetivo de retirar o excesso de umidade, bem como a redução da densidade de aves por caixa durante o carregamento, para favorecer a circulação de ar entre os animais, estão entre as principais providências que deverão ser tomadas, com o objetivo de evitar que estes elevados valores de umidade relativa possam desencadear uma situação de desconforto térmico.
A Figura 20 mostra as variáveis ambientais resultantes dos dados da Tabela 8, obtidos durante a operação de carregamento para a fase verão.
 
Figura 20 – Médias das variáveis ambientais temperatura (a) e umidade relativa (b) para os ambientes avaliados (galpão, externo e carga do caminhão), de acordo com cada turno em que o carregamento das aver foi realizado
Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 5) - Image 8
 
Pela Figura 20, é possível verificar a tendência de igualdade entre os turnos da manhã e noite, bem como o grande aumento das temperaturas dos ambientes do galpão (TempGalp) e da carga do caminhão (TempCam) com relação ao ambiente externo (TempExt) no turno da tarde.
Este aumento, da ordem de 7 a 8°C, reflete como estes ambientes se comportam sob condições de altos valores de temperatura, ou seja, para o ambiente interno do galpão, a inércia térmica da instalação e o calor produzido pelas aves contribuem para este aumento. Já na carga do caminhão, fatores como a densidade de aves por caixa, a exposição constante das aves à ação direta do sol e, ainda, a configuração da carga que dificulta a circulação do vento, provavelmente, sejam os principais responsáveis por esta elevação da temperatura.
No que diz respeito à umidade relativa, é possível notar certa semelhança entre os valores médios desta variável nos turnos da manhã e tarde. Contudo, no turno da noite, ocorre um aumento nos valores desta variável, isso certamente se deve ao foto de haver uma menor circulação de ar neste período.
Analisando-se a Figura 21, do Índice Entalpia de Conforto (IEC), fica nítida a condição de estresse térmico observada para o turno da tarde, em que os valores do índice foram superiores a 90 kJ/kg ar seco, caracterizando este turno como o mais prejudicial às aves sob o ponto de vista bioclimático.
 
Figura 21 – Valores médios do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para aves na 6ª semana, durante a operação de carregamento e estação de verão
Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 5) - Image 9
 
As cores das barras do gráfico, conforme as Tabelas de Entalpia, indicam uma situação de desconforto térmico dos ambientes avaliados. Sendo assim, a cor laranja das barras dos turnos da manhã e noite classificam os ambientes do galpão (HGalp) e da carga do caminhão (HCam) como críticos, sob o ponto de vista do conforto térmico para frangos de corte na sexta semana.
Por sua vez, a cor vermelha das barras do turno da tarde revela que estes ambientes estão sob uma situação de estresse térmico letal para frangos de corte na sexta semana, o que reforça, mais uma vez, que carregar aves sob estas condições ambientas poderá resultar em um maior número de perdas.
As médias de Temperatura Retal apresentadas na Figura 22 mostram, claramente, o aumento desta variável fisiológica durante o turno da tarde, que, por sua vez, acompanha os aumentos das temperaturas médias internas do galpão e da carga do caminhão.
Os valores médios de Temperatura Retal foram de 41,8 °C, para os turnos da manhã e noite, e 42,7 °C, para o turno da tarde, sendo que todos estes valores ultrapassaram o limite inferior da condição de estresse térmico para Temperatura Retal, proposto por Silva et al. (2007).
 
Figura 22 – Valores médios da variável fisiológica Temperatura Retal, durante a operação de carregamento das aves para a estação de verão
Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 5) - Image 10
 
Os valores elevados de Temperatura Retal encontrados para todos os turnos durante a estação de verão reforçam a atenção especial que deverá ser dada às operações pré-abate que forem executadas durante esta época do ano, uma vez que as perdas sob estas condições ambientais poderão aumentar muito os prejuízos dentro de cada etapa deste processo.
4.4 Transporte das aves
A Tabela 9 apresenta as principais características encontradas durante a operação pré-abate de transporte das aves nesta pesquisa.
 
Tabela 9 – Panorama geral da operação de transporte das aves
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Analisando-se a Tabela 9, é possível observar que a distância de transporte das aves da granja até o abatedouro variou de valores de 12 a 120 km, e que a média geral, tanto para a fase inverno quanto para a verão, ficou abaixo de 50 km.
Os valores médios de distância verificados nesta pesquisa, bem como as porcentagens médias de mortes na chegada (DOA), que ficaram em torno de 0,23 a 0,33%, se encontram abaixo de valores como os observados por Voslarova et al. (2007), que encontraram em seus estudos valores de 0,592% para distâncias de transporte menores que 50 km.
Já Freeman et al. (1984), avaliaram em seus estudos os efeitos do transporte por períodos de 2 a 4 horas para distâncias de até 200 km e puderam concluir que o estresse sofrido pelas aves aumentou significantemente quanto maior foi a distância de transporte. Para este estudo, pode se observar pela Tabela 9 que há mesmo um comportamento de elevação da porcentagem de mortes conforme a distância de transporte aumenta, o que, por sua vez, está de acordo com o verificado por Warriss et al. (1990).
Com relação ao turno de transporte, é possível observar uma concordância com o encontrado por Bayliss (1986), em que os maiores valores de porcentagem média de mortes se encontram no turno da tarde para estação de verão. No entanto, para a estação de inverno, este fato também pode ser constatado durante o turno da tarde, o que reforça e indica, mais uma vez, este período como o mais prejudicial sob o ponto de vista térmico para condições de clima tropical.
O tempo de transporte também apresentou grande variação, e estando diretamente ligado à distância e à velocidade de transporte, acompanha as mesmas variações. No entanto, características como as condições das vias, trechos de estrada de terra e a ocorrência de chuvas poderão ter influência sobre estes tempos. Neste estudo, o menor tempo de transporte foi de 15 min (inverno) e o maior de 02h25min (verão). 
De acordo com Warris et al. (1992), existe uma correlação positiva entre a duração da viagem e a incidência de mortes na chegada (DOA), com uma significante elevação de mortes, para viagens com duração maior que 4 horas, o que não ocorreu nesta pesquisa.
A coluna com as informações sobre a velocidade (Veloc) dos caminhões para cada período analisado nesta pesquisa também representa uma informação muito importante, uma vez que, quanto maior a velocidade dos caminhões durante o transporte, maior será também a circulação de ar no interior da carga, o que terá um efeito direto no microclima a que as aves estarão submetidas.   
Elevados valores de densidade de aves por caixa influenciam, como mencionado por Kettlewell (1989) e Mitchell e Kettlewell (1994), os mecanismos de trocas térmicas das aves, reduzindo a dissipação de calor e aumentando a umidade do microclima da carga, devido aos efeitos provocados pelo aumento da ofegação e pela reduzida renovação do ar nesta região.
De acordo com Bayliss e Hinton (1990), a porcentagem de mortes na chegada representa os valores contabilizados de aves mortas por caminhão verificadas na chegada dos mesmos ao abatedouro (DOA). Estes valores, por sua vez, terão ligação direta com todas as operações pré-abate realizadas anteriormente. No entanto, conforme as condições em que as aves são transportadas, os valores poderão apresentar algumas variações importantes.
Estas variações podem ser notadas já nos valores das médias gerais para cada fase desta pesquisa, que apresentaram uma diferença de 0,10% entre as fases inverno (0,23%) e verão (0,33%). Esta diferença indica como as condições ambientais de cada estação do ano influenciam nas perdas durante as etapas das operações pré-abate. Tabbaa e Alshawabkeh (2000); Warris, et al. (2005); Vecerek, et al. (2006); Voslarova, et al. (2007).
Novamente é mostrada a coluna com a informação da ocorrência ou não da prática de “molhamento” das aves. Esta informação é apresentada com o intuito de verificar uma possível relação desta prática com a perda de peso e com a porcentagem de mortes durante o transporte.
4.4.1 Análise do microclima da carga
De acordo com estudos realizados por Kettlewell (1989); Mitchell e Kettlewell (1994); Hunter et al. (1997); Mitchell e Kettlewell (1998); Kettlewell et al. (2000); Mitchell et al. (2001) e Hunter et al. (2001), os potenciais agentes estressores e os mais importantes estímulos impostos às aves durante o transporte estão diretamente relacionados ao microclima da carga, sendo este ambiente um dos principais responsáveis pelas mortes na chegada.
Sendo assim, foi realizada uma análise dos dados do microclima da carga dos caminhões de transporte, quanto à inferência geoestatística, nas duas estações avaliadas (inverno e verão). Para uma melhor interpretação dos dados, foi necessário realizar as seguintes etapas:
  1. Pressuposição da normalidade dos dados;
  2. Análise do semivariograma;
  3. Estimação dos parâmetros: método da máxima verossimilhança;
  4. Predição dos dados.
Dessa forma, assumindo todos os pressupostos para a obtenção dos perfis das cargas de transporte para os dias avaliados nesta pesquisa, foi possível fazer uma análise ambiental do microclima da carga, com base nos valores de temperatura e umidade relativa medidos de acordo com a configuração adotada, bem como através da aplicação do Índice Entalpia de Conforto (IEC).
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Autores:
José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
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