4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentro deste tópico será realizado um detalhamento de cada uma das etapas das operações pré-abate de frangos de corte, bem como também será feita uma caracterização do ambiente em que estas foram executadas durante as duas fases da pesquisa (inverno e verão).
4.1 Jejum pré-abate
A etapa de jejum pré-abate, nesta pesquisa, foi analisada para 9 carregamentos, sendo o tempo total de jejum quantificado como a soma do tempo de jejum na granja, caracterizado a partir do corte do fornecimento de ração (levantamento da linha de comedouros), do tempo de transporte (trajeto granja-abatedouro) e também do tempo de espera no abatedouro.
A Tabela 1 apresenta as principais características encontradas durante o levantamento dos tempos de jejum pré-abate para esta pesquisa.
Tabela 1 – Panorama geral dos tempos de jejum pré-abate
Observando-se a Tabela 1, é possível notar que, tanto para a fase inverno, quanto para a fase verão, as médias dos tempos de jejum na granja foram praticamente iguais, variando em torno de valores próximos a 6 horas. A média de tempo de transporte foi um pouco maior na fase verão (1h18min); no entanto, nesta fase não houve espera (tempo igual a zero), o que contribuiu para uma redução na média final do tempo de jejum total (7h30min), com relação à fase inverno, onde esta foi de aproximadamente 8 horas.
É importante notar que, mesmo com tempos relativamente curtos de jejum na granja (5 horas), as médias finais de tempo total de jejum ficaram bem próximas dos valores recomendados (de 8 a 10 horas) por autores como Wabeck (1972), Northcult et al. (1997) e Türkyilmaz et al. (2006).
Com exceção do dia 7, da fase verão, não houve ocorrência de tempos de jejum total menores que 6 horas, valor considerado como curto, de acordo com Duke et al. (1997), que relataram em seus estudos que, para períodos de jejum muito curtos (menores que 6 horas), há riscos do trato digestivo das aves ainda estar com alimento no momento do abate, o que poderá favorecer o rompimento das paredes intestinais durante a evisceração.
Também não se encontra na Tabela 1 a ocorrência de tempos totais de jejum maiores que 10 horas, embora alguns até se aproximem disso, como os dias 4 e 6 na fase inverno. Isso pode ser visto como um resultado positivo, uma vez que, de acordo com Bilgili e Hess (1997), se o tempo de jejum é muito longo há o risco das paredes intestinais ficarem enfraquecidas, além de resultar também em um inchaço da vesícula biliar, o que a tornará mais vulnerável ao rompimento durante a evisceração, podendo, assim, resultar em contaminação da carcaça por bile.
Quanto à perda de peso das aves devido ao tempo de jejum a que elas foram submetidas durante este estudo, são apresentados na Tabela 2 os tempos totais de jejum pré-abate, juntamente com as perdas de peso encontradas para os carregamentos avaliados nesta pesquisa.
Tabela 2 – Perda de peso das aves em função dos tempos de jejum pré-abate
Observando a Tabela 2 e as Figuras 8 e 9, é possível verificar que, de acordo com o encontrado por Denadai et al. (2002) em seus estudos, à medida em que aumenta o tempo de jejum, aumenta também a perda de peso das aves, isso pode ser verificado tanto para a fase inverno quanto para a fase verão.
Resultados como estes foram encontrados também por Lyon et al. (1991) e Burh e Northcutt (1998), onde puderam constatar um decréscimo considerável do peso vivo inicial das aves, conforme o tempo total de jejum pré-abate aumentava.
Figura 8 - Perda de peso das aves em função dos tempos de jejum pré-abate para os diferentes turnos de transporte durante o inverno
Figura 9 - Perda de peso das aves em função dos tempos de jejum pré-abate para os diferentes turnos de transporte durante o verão
Quanto à influencia do turno na perda de peso das aves em função do tempo de jejum; analisando-se as Figuras 8 e 9, pode-se dizer que, para a estação de inverno, as maiores perdas ocorreram nos turnos da manhã e noite (Figura 8), nos quais os tempos de jejum foram maiores, isso se deu devido às distâncias do percurso granja-abatedouro serem maiores nestes turnos (Tabela 1, dias 2 e 6).
Para o turno da tarde, apesar do tempo de jejum ter sido maior que o da manhã, a distância granja-abatedouro foi menor (Tabela 1, dias 2 e 3). Sendo assim, a perda de peso das aves para este turno ficou próxima do valor encontrado para o turno da manhã (Figura 8), o que indica, conforme descrito por Nicol e Scott (1990), uma influência das condições ambientais do turno da tarde na perda de peso das aves.
Para a estação de verão (Figura 9), o mesmo comportamento pode ser verificado, ou seja, mesmo o tempo de jejum sendo maior no turno da tarde, a distância granja-abatedouro é a metade da verificada para o turno da manhã (Tabela 1, dias 2 e 3), o que, certamente, também indica a influência das condições ambientais deste turno (tarde) como agravante da perda de peso das aves.
Para a obtenção de um tempo total de jejum pré-abate adequado, é importante que se faça um bom planejamento prévio da logística das operações pré-abate das aves; ou seja, além da atenção com o tempo adequado de jejum na granja, é preciso também que se tenha um bom planejamento do tempo que será gasto no percurso da viagem da granja até o abatedouro e, pelo menos, uma previsão do tempo de espera antes do abate.
Concordando com Türkyilmaz et al. (2006), não existe um modelo para a recomendação exata do tempo ideal de jejum a ser utilizado, o que se têm são limites a ser considerados, uma vez que a determinação do tempo final de jejum dependerá de cada empresa integradora, que terá seu planejamento individual de tempos e programas pré-abate.
Quando se leva em consideração os turnos de manejo das aves, sabe-se que grande parte das empresas integradoras opta pela escolha de transportar as aves durante o turno da noite para distâncias mais longas, principalmente em função das condições ambientais mais amenas deste turno. Sendo assim, a luminosidade passa também a ter importância no tempo de jejum das aves, pois, de acordo com May et al. (1990), em ambientes escuros, as aves apresentaram maior retenção de alimento no papo do que se estivessem sob ambientes mais iluminados.
No que se refere às normas de bem-estar animal para frangos de corte, Nijdam et al. (2005) já afirmavam em seus estudos que o não cumprimento dessas normas e o descuido com o tempo adequado de jejum podem aumentar as perdas e trazer prejuízos aos produtores. No entanto, como se pode observar na Tabela 1, todos os tempos de jejum estão em conformidade com o recomendado pelas normas de bem-estar, isto é, o tempo total de jejum pré-abate das aves deve estar em torno de 8 a 10 horas, Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens (2002).
4.2 Pega das aves
Durante esta etapa, foram constantemente monitoradas as variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa), o tempo gasto na realização da mesma, o número de pessoas envolvidas, o número de aves carregadas por mão e o peso médio das aves para cada dia.
A Tabela 3 apresenta as principais características encontradas nesta etapa do estudo.
Tabela 3 – Principais características da operação de pega das aves
Com base na Tabela 3, é possível observar que a operação de pega das aves não apresentou grandes variações com relação as duas fases avaliadas (inverno e verão), tanto no que diz respeito ao tempo médio gasto na condução da operação, quanto na quantidade de aves carregadas em cada uma das mãos pelos trabalhadores.
Foi possível notar também que, quando a turma responsável pela realização da pega era menor (8 pessoas), a operação teve um acréscimo de tempo em sua duração, e como isso só aconteceu durante a fase inverno, o tempo médio final acabou ficando acima da média da fase verão.
Analisando-se somente a fase verão, na qual todas as turmas eram formadas por 10 pessoas, verificou-se que o tempo da pega apresentou variação, desde intervalos de 32 minutos (dia 5) até uma hora (dia 3), isso reflete a variabilidade de execução dessa operação particular de cada turma. Sendo assim, não há como fixar um tempo de duração para a operação de pega, pois vários são os fatores que influenciam direta e indiretamente no tempo total gasto durante esta etapa.
A coluna Aves/mão (Tabela 3) representa a quantidade de aves que os trabalhadores carregavam em cada uma das mãos durante a operação da pega. Esse número, por sua vez, estava diretamente relacionado com a densidade de aves por caixa, que variou conforme o peso e a idade das mesmas. Essa informação é de extrema importância quando se analisa as condições de trabalho desta etapa.
Quanto às normas européias de bem-estar animal e manuais de boas práticas de manejo para frangos de corte, a maioria recomenda que não se carregue mais de 3 aves/mão, (Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens, 2002). Isso, no entanto, como pôde ser observado durante esta pesquisa, não é rigorosamente seguido, o que certamente acaba contribuindo como uma das fontes de queda na qualidade da carne e perdas na carcaça (torções e fraturas) das aves, Leandro et al. (2001); Holroyd (2000); Gregory e Austin (1992); Kettlewell e Turner (1985).
Conforme apresentado na Tabela 3, o número de aves carregadas por mão variou de 3 a 5, sendo mais constante durante o verão, em que a média de aves carregadas por trabalhador foi de 7 (3 aves numa mão e 4 na outra). Com a coluna de peso médio das aves (Peso/ave), é possível verificar o peso que cada trabalhador carregava em cada uma das mãos durante a execução da etapa de pega.
Sendo assim, para uma situação como a do dia 6 da fase inverno, na qual a média de peso das aves foi de 3,407 kg e a quantidade de aves/mão foi de 3 e 4, os trabalhadores responsáveis pela pega carregaram, respectivamente, 10,2 kg e 13,6 kg em cada mão, totalizando um peso final de 23,851 kg, correspondente a 7 aves.
Ainda sobre a Tabela 3, analisando-se os turnos em que foi realizada a pega, é sabido, conforme verificado por Kannan et al. (1997), que a pega, quando realizada sob baixa intensidade luminosa, causa menos estresse às aves, pois é de se esperar que as aves carregadas no turno da noite apresentem menos danos à carcaça e menos mortes na chegada do que as que foram pegas nos turnos da manhã ou tarde.
Outro aspecto interessante de ser analisado é quanto à relação turno de transporte e número de aves pegas por mão, pois era de se esperar que, para o turno da tarde, fosse estipulado, por um planejamento prévio, uma menor densidade de aves por caixa, no entanto não é o que se verifica, principalmente no verão, o que mostra um certo descuido com relação aos aspectos ambientais durante a etapa de pega das aves.
4.2.1 A operação de pega durante a fase inverno
Durante esta fase, registrou-se os dados de oito carregamentos, sendo 2 no turno da manhã, 3 no da tarde e 3 no turno da noite, com tempos de duração desta operação variando de 00:35min a 01h:10min, com média geral de 00:50min. (Tabela 3). A quantidade de aves carregadas por mão pelos trabalhadores variou de no máximo 5 a no mínimo 3, com média de 7 aves/pessoa.
A Tabela 4 apresenta uma visão geral de como foi o comportamento das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa) durante a estação de inverno para esta operação.
Tabela 4 – Médias das variáveis ambientais internas (Galp) e externas (Ext) ao galpão das aves, para cada turno em que foi realizada a pega
Analisando-se a Tabela 4 quanto aos valores de temperatura durante esta etapa, é possível notar que estes não apresentaram variações muito bruscas durante os dias avaliados, em que o menor valor registrado de temperatura interna do galpão foi de 22,0°C (dia 1) e o maior foi de 25,7°C (dia 4).
A Figura 10, resultante dos dados da Tabela 4, apresenta os comportamentos das variáveis ambientais durante os turnos em que foi realizada a operação de pega das aves, com o objetivo de avaliar a diferença entre eles.
Figura 10 – Médias de temperatura (a) e umidade relativa (b) para os ambientes avaliados (galpão e externo), de acordo com cada turno em que a etapa de pega das aves foi realizada
Analisando-se a Figura 10a, é possível observar que, mesmo se tratando de época de inverno, o turno da tarde foi o que apresentou os valores médios mais elevados de temperatura, tanto para o ambiente interno do galpão (TempGalp), quanto para o ambiente externo (TempExt). Isso, embora já esperado, não comprometeu o conforto das aves, uma vez que os valores médios de temperatura se situavam dentro dos limites de conforto térmico para frangos de corte na sexta semana (21-24°C), Macari e Furlan (2001).
Quanto à variável umidade relativa, nota-se que os maiores valores se encontram no turno da noite e os menores, no turno da tarde (Figura 10b). No entanto, estes ainda estão situados dentro da faixa de conforto térmico para frangos de corte na sexta semana (55-65%), Macari e Furlan (2001).
É interessante analisar também o aumento que a umidade relativa apresentou, quando se observa o ambiente interno do galpão com relação ao externo. Essa diferença chegou a 27 pontos percentuais, no caso do turno da tarde (dia 4), o que comprova como o calor latente e sensível, produzidos pelas aves no interior de uma instalação, contribuem para o acréscimo nos valores desta variável.
Quando se analisa os efeitos das variáveis ambientais sobre as aves, é interessante também que seja considerado um índice resultante da combinação dos valores de temperatura e umidade relativa dentro do galpão. O Índice Entalpia de Conforto (IEC) vem se difundindo como uma solução rápida e prática na avaliação do ambiente interno de galpões de criação de frangos, uma vez que depende somente do levantamento dos valores de temperatura e umidade relativa no interior dos galpões que se deseja avaliar, isso baseado nas Tabelas de Entalpia propostas por Barbosa Filho et al. (2007).
A seguir, é apresentada a figura resultante da aplicação do Índice Entalpia de Conforto (IEC), na qual as cores das barras indicam a situação do ambiente interno do galpão avícola, de acordo com a classificação dada pelas Tabelas de Entalpia.
Figura 11 – Valores médios do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para aves na 6ª semana, para a etapa de pega e estação de inverno
A cor amarela das barras da Figura 11 remete a uma classificação de alerta quanto às condições ambientais internas dos galpões de criação avaliados, independentemente do turno em que foi realizada a pega das aves. Esta condição de alerta indica uma situação fora da região de conforto, mas que, no entanto, deverá ser monitorada constantemente para que o ambiente não venha a atingir a região crítica (laranja).
Quanto aos valores externos de entalpia, estes deverão ser levados em consideração em uma análise ambiental mais ampla. Mas para efeito especifico de avaliação do ambiente interno das instalações, os valores que realmente terão influência direta sobre as aves serão as medidas das variáveis ambientais do interior do próprio galpão de criação.
Com relação aos turnos avaliados, o da tarde é o que necessita de maior atenção, uma vez que seu valor médio de entalpia está praticamente no limite entre a condição de alerta (amarela) e a crítica (laranja). Neste estágio, será necessário intensificar o monitoramento das condições ambientais internas do galpão, pois qualquer descuido poderá tornar o ambiente desconfortável às aves.
Durante o acompanhamento da operação de pega, a variável fisiológica Temperatura Retal foi constantemente monitorada, como forma de indicativo de uma possível condição de estresse térmico.
A Figura 12 apresenta o comportamento médio da Temperatura Retal medida durante a etapa de pega.
Figura 12 – Valores médios da variável fisiológica Temperatura Retal, medidos durante a operação de pega das aves para a estação de inverno
Pela Figura 12, é possível verificar o aumento da Temperatura Retal das aves durante o turno da tarde, isso confirma uma tendência já esperada, uma vez que as condições ambientais e o Índice Entalpia de Conforto (IEC) para este turno já apontavam para esse efeito nas aves.
É importante mencionar, ainda, que o valor médio de Temperatura Retal das aves (41,3°C) apresentado no turno da tarde ultrapassa o valor limite da condição inferior de estresse (CIE) para Temperatura Retal de frangos de corte (41,1°C), de acordo com Silva et al. (2007), o que comprova que as aves já estavam sob condições de desconforto térmico.
4.2.2 A operação de pega durante a fase verão
Durante esta fase, novamente registrou-se os dados de oito carregamentos, sendo dois no turno da manhã, dois no da tarde e quatro no turno da noite. Os tempos de duração desta operação variaram de 00:32min a uma hora, com média final de 00:46min (Tabela 3). A quantidade de aves pegas por mão quase não variou, ficando em média entre três e quatro.
A Tabela 5 apresenta um panorama geral de como foi o comportamento das variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa) durante a estação de verão para esta operação pré-abate.
Tabela 5 – Médias das variáveis ambientais internas (Galp) e externas (Ext) ao galpão, para cada turno em que foi realizada a pega
Na Tabela 5, é possível observar o comportamento das variáveis ambientais para os diferentes turnos em que foi realizada a pega das aves. Com relação a estes turnos, é nítida a diferença de temperatura entre o turno da tarde, quando comparado aos da manhã e noite, principalmente no que se refere às temperaturas médias internas do galpão.
A Figura 13, resultante dos dados da Tabela 5, apresenta os comportamentos das variáveis ambientais durante os turnos em que foi realizada a operação de pega das aves, com o objetivo de avaliar a diferença entre eles.
Quando se observa a Figura 13a, fica nítido o efeito do turno da tarde, quanto aos valores de temperatura dentro do galpão para a estação de verão; o que caracteriza este turno como sendo um dos mais danosos, sob o ponto de vista da ocorrência de estresse térmico nas aves.
As temperaturas para os demais turnos, manhã e noite, embora apresentem valores menores, se encontram fora da faixa de conforto térmico para frangos de corte na sexta semana (21-24°C), Macari e Furlan (2001). É interessante notar também que o turno da manhã, conforme esperado, é o que apresenta os menores valores de temperatura externa. No entanto, quando se analisa o ambiente interno do galpão, os valores médios de temperatura no turno da noite e no da manhã praticamente se igualam (Tabela 5).
Figura 13 – Médias de temperatura (a) e umidade relativa (b) para os ambientes avaliados (galpão e externo), de acordo com cada turno em que a etapa de pega das aves foi realizada
Quanto aos valores de umidade relativa, tem-se a ocorrência de valores mais elevados nos turnos da tarde e noite, tanto para o ambiente do galpão, quanto para o ambiente externo. Contudo, sabe-se que estes valores são mais prejudiciais às aves quando ocorrem no período da tarde, uma vez que sua combinação com os elevados valores de temperatura poderá levá-las a um quadro de estresse térmico agudo.
Na Figura 13b, os valores da umidade se comportam de forma crescente, conforme se observa os turnos de execução da pega; ou seja, a umidade começa com um determinado valor no turno da manhã, se eleva no da tarde e apresenta um incremento ainda maior no turno da noite. Isso se deve ao fato de que o incremento na temperatura dentro dos galpões faz com que sejam acionados sistemas de climatização para o controle térmico desse ambiente. Dessa forma, o uso de sistemas de resfriamento evaporativo contribui para um aumento da umidade relativa no interior dos galpões.
No turno da noite, outro fator que também contribui para o aumento na umidade dentro dos galpões é a característica de, nestes horários, haver uma baixa ventilação natural, o que, por sua vez, acaba dificultando a retirada do excesso de umidade de dentro dos galpões das aves.
Casos de excesso de umidade dentro do galpão no momento da pega poderão resultar em problemas sérios, tanto para as aves, quanto para os trabalhadores.
É importante frisar, concordando com autores como Bayliss e Hinton (1990), que problemas de desconforto térmico dentro dos galpões de criação de frango não afetarão somente as aves, mas também os trabalhadores, e isso terá um reflexo direto na qualidade final das carcaças e no rendimento da atividade executada.
A Figura 14 apresenta os valores do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para os três turnos de realização da pega. É possível notar que, conforme já indicavam as figuras de temperatura de umidade relativa, o turno da tarde foi o que apresentou a pior condição ambiental interna do galpão no momento da operação de pega das aves.
As cores das barras da Figura 14 indicam que, de acordo com as Tabelas de Entalpia, os períodos da manhã e noite se caracterizam como turnos dentro de uma situação ambiental crítica (laranja), e o turno da tarde se encontra na região da tabela classificada como letal (vermelha).
Figura 14 – Valores médios do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para aves na 6ª semana, para a operação de pega e estação de verão
A região crítica (laranja) remete a uma situação nociva de combinação de valores de temperatura e umidade relativa às aves, na qual há a necessidade de constante climatização do galpão, para que as aves não sofram os efeitos prejudiciais do estresse térmico. Já a região considerada como letal (vermelha), indica que os valores combinados de temperatura e umidade relativa poderão levar as aves à morte, se não forem alterados de forma rápida.
A cor vermelha atribuída ao turno da tarde, coloca este turno, do ponto de vista do estresse térmico, como o mais prejudicial às aves para a realização da operação de pega durante a estação de verão.
A Figura 15 mostra o comportamento médio da variável fisiológica Temperatura Retal coletada durante os turnos da pesquisa para a fase verão. É possível observar um aumento nos valores de Temperatura Retal para o turno da tarde, acompanhando o mesmo comportamento que ocorre nos valores de temperatura para o ambiente interno do galpão de criação das aves.
Figura 15 – Valores médios da variável fisiológica Temperatura Retal, durante a operação de pega para a estação de verão
Analisando a Figura 15, verifica-se que os valores médios de Temperatura Retal ficaram em torno de 41,6 e 41,7°C para os turnos da manhã e noite, respectivamente. No entanto, para o turno mais crítico, o da tarde, este valor médio de Temperatura Retal medido durante a operação de pega atingiu 42,6°C. Este valor, por sua vez, ultrapassa o estabelecido como limite inferior da condição de estresse térmico (CIE) para Temperatura Retal de frangos de corte (41,1°C), proposto por Silva et al. (2007).
Pela análise da Temperatura Retal medida durante a etapa de pega para a estação de verão, fica evidente que o turno da tarde é o menos indicado para a realização da operação de pega das aves.
Sob o ponto de vista bioclimático e fisiológico, sem dúvida nenhuma, as condições ambientais do inverno são menos estressantes as aves. Porém, quanto aos turnos em que a etapa de pega foi realizada, verifica-se que o turno da tarde para as duas estações estudadas (inverno e verão) foi o mais crítico.
Em se tratando de um planejamento da operação pré-abate de pega das aves, com base nas características ambientais apresentadas, este deverá seguir a seqüência: turno da manhã, turno da noite e, finalmente, turno da tarde.
Sendo assim, quando se considera as variáveis ambientais (temperatura e umidade relativa), o Índice Entalpia de Conforto (ICE) e o comportamento da Temperatura Retal para as duas fases deste estudo (inverno e verão), tem-se que a estação de inverno, sob o ponto de vista ambiental, é a mais recomendada para a realização da pega das aves, e que o turno da tarde pode ser considerado como o menos indicado para a realização desta etapa das operações pré-abate, sendo provavelmente o mais propenso à ocorrência de perdas.