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Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frangos de corte (Tese de Doutorado- Parte 2)

Publicado: 7 de janeiro de 2008
Por: José Antonio Delfino Barbosa Filho (Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Agronomia. Área de concentração: Física do Ambiente Agrícola)
1 INTRODUÇÃO
 O Brasil vem atravessando, nos últimos anos, uma ótima fase com relação às exportações de carne, sendo que a de frango merece destaque especial, pois apesar de algumas barreiras colocadas recentemente ao setor de exportação, o Brasil se mostra na vanguarda e ocupa atualmente o importante posto de maior País exportador de carne de frango do mundo (ABEF, 2006).
A produção mundial de carne de frango, segundo o United States Department of Agriculture (USDA), registrou em 2006 um aumento de 3,25%, passando de 58,2 para 60,09 milhões de toneladas. A produção do Brasil em 2006 foi de 9,3 milhões de toneladas, resultado que manteve o País no terceiro lugar entre os maiores produtores mundiais, atrás somente dos Estados Unidos e da China, que apresentaram produção de 16,16 e 10,35 milhões de toneladas respectivamente (ABEF, 2006).
Com base no avanço dos números atuais do setor avícola, é possível perceber uma grande evolução com relação às dificuldades enfrentadas em anos anteriores, o que mostra que nosso País avança a passos largos quando o assunto é avicultura de corte. Analisando-se o ano de 2007, foi possível constatar um grande aumento nas exportações, que já somam aproximadamente 3 milhões de toneladas, sendo  20,67% superior ao que foi embarcado em 2006 (Produção Animal - Avicultura, 2007).
Não se pode negar o grande efeito que este crescimento nas exportações traz para o nosso País e para o setor avícola em geral. No entanto, tendo-se em vista a necessidade de acompanhar este rápido desenvolvimento da avicultura, produtores e processadores deverão estar sempre atentos às perdas que poderão ocorrer durante todas as etapas do processo produtivo das aves.
Dentre estas perdas, as que ocorrem no seguimento do chamado “pós-porteira”, ou no momento da saída das aves para o abatedouro, deverão receber atenção especial, pois embora haja ainda pouca informação sobre as causas de perdas, sabe-se que estas etapas são as principais fontes de ocorrência de danos à carcaça e mortalidade das aves.
As etapas finais do manejo das aves constituem as chamadas operações pré-abate, que, por sua vez, compreendem as operações de pega ou apanha, carregamento, transporte e espera no abatedouro, sendo que, para cada um destes processos, existem cuidados a serem tomados para que se possam evitar as perdas que poderão surgir em função do manejo incorreto ou de condições ambientais inadequadas para uma boa realização dos mesmos.
As perdas contabilizadas no abatedouro decorrentes das operações pré-abate são chamadas de “Mortes na Chegada” ou Dead on Arrivals (DOA’s), e representam um grande desafio para as empresas integradoras e abatedouros, uma vez que, além de resultar em prejuízo, ainda apresentam as dificuldades de se descobrir qual (is) a (s) fonte (s) de perda (s), bem como uma maneira de minimizá-las.
Para exemplificar o impacto econômico das perdas decorrentes das operações pré-abate em nosso País, suponhamos a seguinte situação:
- integradora/abatedouro à abate 300 mil aves/dia;
- assumindo-se uma % de perdas de 1% por dia à 3.000 aves perdidas/dia;
- assumindo peso médio/ave de 2,00 kg à 6.000 kg aves perdidos/dia;
- assumindo preço médio por kg de R$ 1,50 à R$ 9.000,00 de perda/dia;
- a perda mensal será de à R$ 234.000,00;
- a perda anual será de à R$ 2.808.000,00 (dois milhões e oitocentos mil reais).
Como mostrado nesta situação, as perdas durante as operações pré-abate representam um grande prejuízo para as empresas do setor avícola, e mesmo sendo um exemplo, isso poderá ocorrer com facilidade atualmente. Em casos mais graves de condições de estresse térmico, esta porcentagem de perdas diária poderá chegar a valores acima de 3%, o que poderá significar uma grande redução nas margens finais de lucro das empresas.
Outro ponto importante é que este cálculo de perdas foi realizado somente para uma unidade de abate; no entanto, sabe-se que a maioria das grandes empresas integradoras possui mais de uma destas unidades, o que torna as perdas ainda mais preocupantes, pois este mesmo prejuízo poderá ser multiplicado de acordo com a quantidade de abatedouros de cada empresa.
Tendo este cenário preocupante em mente, além da atenção com as questões eminentes das normas de bem-estar animal, é preciso que se direcione todos os esforços no sentido de descobrir quais as fontes causadoras destas perdas e onde ou quando elas estão ocorrendo. Só assim será possível atuar de maneira eficiente dentro deste processo e tentar reduzir ao máximo estes valores.
Na descoberta dos principais pontos críticos de um determinado processo, outro importante conceito que também vem à tona é o da rastreabilidade da produção, pois dentro deste estão princípios como o do acompanhamento de todos os processos e etapas da produção. Sendo assim, para que se consiga atuar corretamente dentro de uma cadeia produtiva é necessário que se conheça a fundo e se tenha registrado tudo o que aconteceu com aquele lote (no caso de aves) durante todo o ciclo de criação.
Em contrapartida, muitas pesquisas foram desenvolvidas buscando tal entendimento em Países de clima temperado, assim como para outros animais de interesse zootécnico (bovinos e suínos, por exemplo). Porém, poucos trabalhos oferecem informações aprofundadas sobre a influência das condições ambientais dos Países tropicais no que se refere ao manejo pré-abate de frangos de corte.
Partindo então destes três conceitos fundamentais, que são, respectivamente, a redução de perdas nas operações pré-abate, a adequação do manejo de acordo com as normas de bem-estar animal e a rastreabilidade, será possível alcançarmos o sucesso completo da atividade e nos firmarmos ainda mais como País referência no seguimento de produção de frangos de corte.
Partindo do principio de que nossa avicultura necessita de rever alguns de seus processos de manejo, principalmente com relação às etapas finais da criação, devido a elevada quantidade de perdas, bem como adequar este manejo as nossas condições ambientais, este trabalho teve como objetivo principal avaliar os principais fatores que influenciam as operações pré-abate de frangos de corte, bem como:
  • Avaliar a influência das condições bioclimáticas durante as operações pré-abate (jejum, pega, carregamento, transporte e espera);
  • Avaliar a influência das características do transporte (tempo, distância e turno) nas perdas produtivas;
  • Caracterizar o microclima da carga para diferentes condições de transporte e correlacioná-lo com as perdas produtivas.
 
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Ambiência para frangos de corte
Até pouco tempo atrás, o conforto térmico era considerado como problema secundário dentro da produção animal, figurando em segundo plano perante os avanços constantes da genética, nutrição e sanidade. No entanto, à medida em que a tecnologia avança e os níveis de confinamento tornam-se um problema, a ambiência animal surge como um assunto de extrema importância, principalmente no que diz respeito à redução de perdas dentro dos processos produtivos e das exigências quanto às boas práticas de manejo e de bem-estar animal.
É praticamente impossível imaginar um ambiente que não exerça nenhum tipo de estresse aos animais. Mesmo que este seja cuidadosamente planejado, sempre haverá algum elemento que não permitirá que o animal se encontre totalmente em situação de conforto. Dentre estes elementos, que poderão causar estresse aos animais, estão as variáveis ambientais.
De acordo com Macari e Furlan (2001), as variáveis ambientais tanto poderão ter efeitos positivos como negativos sobre a produção das aves. Assim, temperaturas elevadas reduzirão o consumo de alimento, aumentarão o consumo de água, influenciarão as trocas térmicas e ainda poderão causar doenças metabólicas. Já temperaturas mais baixas aumentarão o consumo de alimento, reduzirão o consumo de água e também poderão resultar em problemas metabólicos. Portanto os autores recomendam que as condições ambientais sejam manejadas e controladas, na medida do possível, para que perdas possam ser evitadas.
Lin et al. (2006) classificam os elevados valores de temperatura como um dos mais importantes agentes causadores de estresse dentro da produção avícola, sendo o estresse térmico resultante das interações entre temperatura do ar, umidade relativa, radiação e velocidade do vento, onde a temperatura possui o maior peso.
Segundo os mesmos autores, é sabido que as linhagens atuais de frangos de corte são particularmente muito susceptíveis às condições de estresse térmico, pois a taxa de produção de calor metabólico aumenta com o desenvolvimento das aves, mas sua capacidade de dissipação de calor corporal não acompanha essa evolução. Sendo assim, ambientes com altos valores de temperatura resultarão em problemas de desempenho e até mesmo em morte das aves.
A faixa térmica onde o animal se encontra em conforto é aquela em que a produção ou dissipação de calor é mínima ou a termoneutralidade é ajustada através do saldo de perda de energia térmica para o ambiente sem o auxílio de algum mecanismo de conservação ou dissipação de calor, Curtis (1983). Silva (2000) descreve a zona de conforto térmico como aquela onde os animais não necessitam da ativação de qualquer mecanismo de controle da termorregulação, seja ele químico ou físico.
Desta forma, o conforto térmico é uma faixa de temperatura ambiente que possibilita uma taxa metabólica mínima e a homeostase é mantida com o menor gasto energético possível. A fração de energia utilizada para a manutenção é mínima e a energia convertida para a produção é máxima, Furlan e Macari (2002). Porém, esses autores salientaram que tal faixa varia segundo a idade e o peso do animal. Portanto, os diagramas mais confiáveis são aqueles que levam em consideração tal fonte de variação, e com precisão podem definir as zonas de conforto e os mecanismos que as aves utilizam para se manterem nestas faixas.
É comum que durante os meses de verão se tenha períodos de temperaturas elevadas freqüentemente acompanhados também de elevados valores de umidade relativa. Estes elevados valores das variáveis ambientais poderão afetar de maneira drástica a produtividade das aves. Sob temperaturas ambientais acima de 32°C, elevados índices de mortalidade e grandes perdas produtivas são evidentes, Moura (2001).
Sobre a umidade relativa, Lin et al. (2005), relatam que a perda de calor evaporativo aumenta com a temperatura, no entanto diminui com o aumento da umidade relativa, sendo que o efeito desta na termorregulação da ave irá depender da temperatura do ar e da idade da mesma. Valores de umidade acima de 60% reduzem a transmissão de calor da parte interna do corpo para a periferia, o que prejudica as trocas térmicas com o meio. Os mesmos autores mencionam também a dificuldade de se controlar esta variável, principalmente em regiões de clima quente e úmido.
Muitos são os estudos e pesquisas que buscam encontrar uma melhor maneira de se avaliar fisiologicamente os efeitos do estresse térmico nas aves, seja através de indicadores sanguíneos, Borges, Maiorka e Silva (2003), ou hormonais, Siegel (1995). No entanto, um método de avaliação direto e relativamente prático é através da medida do parâmetro fisiológico “Temperatura Retal”.
Apesar desta temperatura não representar sempre a média térmica do núcleo corporal, Andersson e Jónasson (1996) relataram que tal parâmetro oferece uma informação mais fiel da condição interna do animal do que qualquer outra em outro local do corpo. Segundo os autores, a temperatura normal de um frango é de 41,7°C, com variação entre 40,6 a 43°C.
Confirmando os resultados acima, Silva et al. (2007) realizaram pesquisa, no Núcleo de Pesquisa em Ambiência – NUPEA (ESALQ/USP), para avaliar o efeito da temperatura e umidade relativa elevadas sobre os parâmetros fisiológicos, numa condição simulada de transporte. Dentre os fatores avaliados, a Temperatura Retal foi utilizada neste estudo como um dos principais parâmetros de estresse fisiológico. Os autores constataram uma faixa de condição superior de estresse, por volta de 46,3°C, na qual foi registrado óbito durante o experimento. De conformidade com Furlan e Macari (2002), a condição inferior de estresse encontrada foi de 41,1°C, abaixo da qual foi considerada a faixa de conforto para as aves. Silva et al. (2001) afirmaram que a temperatura de estresse e a idade dos animais influenciam conjuntamente a Temperatura Retal.
Em demais estudos envolvendo temperaturas elevadas e Temperatura Retal, tem sido relatada a relação direta entre estas duas variáveis. Altan et al. (2000) encontraram aumentos mais suaves da Temperatura Retal em aves aclimatizadas em relação às aves que não sofreram tal tratamento.
A variável fisiológica também foi utilizada no trabalho de Medeiros et al. (2005), para a elaboração do Índice Térmico Ambiental de Produtividade para frangos de corte – IAPfc. Segundo os autores, o índice mais sensível às condições ambientais das aves seria aquele que fosse elaborado segundo as respostas fisiológicas e produtivas dos animais. Incluindo a Temperatura Retal no modelo estatístico, o índice obteve uma boa estimativa quanto ao conforto térmico dos frangos de corte.
2.2 Operações pré-abate para frangos de corte
As aves são expostas a um grande número de fatores estressantes antes do abate propriamente dito, incluindo restrição alimentar, quebra da estrutura social, pega, transporte e espera na linha de abate. Estes fatores não afetam somente o bem-estar das aves mas também causam prejuízos a todo setor avícola, uma vez que poderão resultar em perdas e queda na qualidade do produto final.
Nicol e Weekes (1993) afirmaram que à medida em que as normas e leis em prol do bem-estar dos animais avançam, mais atenção é dada à questão dos cuidados com as operações pré-abate dos animais. Os mesmos autores comentaram também que a pesquisa científica nesta área tem concentrado seus esforços em identificar e quantificar os agentes causadores de estresse durante as etapas das operações pré-abate, devido principalmente à quantidade de perdas decorrentes deste processo.
Os principais fatores responsáveis no pré-abate que desencadeiam alterações fisiológicas características do estresse são: intervalo de jejum e dieta hídrica (Shrimpton e Miller, 1960; Sams e Mills, 1993), transporte (Ehinger e Gschwindt, 1979; Warriss, Kestin e Brown, 1993; Fischer, 1996) e temperaturas ambientais (Lee, Hargus e Hagber, 1976; Froning e Uijttenboogaart, 1978; Osman et al. 1990).
Para o entendimento de todos estes fatores e seus efeitos durante as operações pré-abate é necessário que se conheça detalhadamente todas as etapas e o manejo de cada operação, pois só assim será possível saber onde estarão localizados os principais agentes causadores de perdas.
Outro ponto que deverá ser avaliado também é se os procedimentos de manejo durante as etapas do pré-abate estão de acordo com o que preconizam as leis e normas internacionais de bem-estar animal; isso porque, dentro de pouco tempo, teremos nossas próprias leis. Sendo assim, seria importante que os produtores e processadores ligados ao setor avícola começassem desde já a adotar tais normas, mesmo porque isso por si só já ajudará muito na redução das perdas e promoverá um aumento na qualidade do produto final.
2.3 Jejum pré-abate
O jejum pré-abate pode ser definido como a remoção da água e da comida das aves antes do início da pega e é uma prática utilizada pelo setor avícola já há bastante tempo. Este período se refere ao tempo total em que as aves permanecerão sem alimentação antes do abate, englobando desde o momento da retirada do alimento na granja, o tempo de pega e carregamento, o tempo de transporte até o tempo de espera no abatedouro, Türkyilmaz et al. (2006).
O tempo de jejum tem como objetivo principal reduzir a contaminação das carcaças no momento do processamento, sendo uma etapa muito importante do pré-abate, pois poderá afetar a eficiência da linha de abate, o peso final das carcaças e ainda a qualidade do produto final, Northcutt (2000).
De acordo com Wabeck (1972), o tempo necessário de jejum para se minimizar a contaminação das carcaças no momento do processamento é de 8 a 10 horas. Entretanto, Duke et al. (1997), trabalhando com tempos de jejum de 4, 8 e 12 horas, observaram que períodos de 4 horas foram tão eficientes quanto os de 8 ou 12 horas.
Nijdam et al. (2005) encontraram em seus estudos uma relação entre tempo de jejum e transporte na perda de peso das aves. Os autores relatam que aves que foram transportadas depois de um período de jejum de até 10 horas apresentaram uma perda de peso da ordem de 0,42% por hora, o que foi aproximadamente 0,30% maior quando comparado com aves que tiveram acesso livre à comida até o momento do transporte. Northcult et al. (1997) também puderam observar uma redução significativa no peso das carcaças relacionada à duração do tempo de jejum, sendo encontradas como tempos ideais de jejum 8 e 12 horas.
Türkyilmaz et al. (2006) encontraram em seus estudos efeitos significativos do tempo de jejum no peso das aves no momento do abate. Seus estudos relatam que, para um tempo de jejum de 14 horas, houve uma diminuição do peso das aves da ordem de 15,2%. Os mesmos autores concluíram que o tempo de 8 horas de jejum pré-abate foi o que apresentou melhores resultados, uma vez que resultou em perda mínima de peso no momento do abate, além de fortalecer o organismo contra o risco de contaminação fecal.
Quanto ao risco de contaminação, Bartov (1998) ressalta que tempos de jejum inadequados poderão resultar em resíduos encontrados no sistema digestivo das aves no momento do processamento. Tal fato poderá acarretar contaminação da carcaça e ainda causar uma contaminação bacteriana em todo o resto da planta de processamento.
Períodos muito longos de jejum estão associados ao encolhimento da carcaça, causado pela desidratação. Duke et al. (1997) relatam que a perda de peso corporal aumenta com a duração do tempo de jejum, onde de 50 a 70% dessas perdas, nas primeiras 4 horas, são resultado da perda de água e matéria seca das fezes, e após 4 horas, a perda está relacionada à retirada de água dos tecidos musculares.
Quando o tempo de jejum é muito curto, menos de 6 horas, o trato digestivo das aves ainda estará cheio de alimento no momento do abate. Por esta razão as paredes intestinais estarão mais susceptíveis ao rompimento durante a evisceração. Em contrapartida, se o tempo de jejum é muito longo, maior que 12 horas, além das paredes intestinais ficarem muito fracas, isso poderá resultar também em uma contaminação da carcaça por bile, ou seja, a produção de bile não cessa, o que faz com que a vesícula biliar continue enchendo e ficando cada vez mais inchada, o que a tornará mais vulnerável ao rompimento durante a evisceração, Bilgili e Hess (1997).
De acordo com Denadai et al. (2002), há uma tendência das empresas integradoras em reduzir o tempo de jejum das aves a fim de diminuir a perda de peso por desidratação, já que esta poderá resultar em uma diminuição do rendimento da carcaça. Sendo assim, Türkyilmaz et al. (2006) recomendam que o tempo ideal de jejum seja planejado para cada empresa integradora separadamente, pois cada qual possuirá seu esquema individual de tempos e programas pré-abate.
Dentre as vantagens de um tempo adequado de jejum estão: as aves ficarão menos suscetíveis à contaminação, uma vez que estarão com menos excretas nas penas; a água da escaldagem também ficará menos contaminada, pois as aves escretarão menos durante os processos de atordoamento e sangria e haverá menores riscos de contaminação das carcaças no momento da evisceração e uma maior eficiência na linha de abate, Northcutt (2000).
É sabido também que fatores como níveis de estresse térmico, quantidade de alimento consumido e iluminação têm influência direta no esvaziamento do trato digestivo das aves, Northcult et al. (1997).
Com relação à iluminação, May et al. (1990) mostraram em seus estudos que, após um período de duas horas de jejum, aves que estavam em um local escuro apresentaram uma maior quantidade de comida no papo do que aquelas situadas em ambientes bem iluminados.
Sob condições normais de criação e acesso à água, de 80 a 85% da ingesta que se encontra no trato digestivo das aves irá ser evacuada durante as primeiras seis horas do tempo de jejum, Northcult et al. (1997).
Os mesmos autores afirmam também que, quando expostas a elevados valores de temperatura, as aves tendem a se tornar menos ativas e a consumir menos alimento; no entanto, ocorrerá um aumento no consumo de água, o que, por sua vez, afetará a consistência do material fecal nos intestinos.
Sendo assim, Nijdam et al. (2005) afirmam que o descuido com o tempo adequado de jejum antes da etapa de transporte e abate, além de trazer efeitos econômicos negativos, ainda poderá trazer problemas aos produtores quando isso for analisado sob o ponto de vista das normas de bem-estar animal.
No que diz respeito a estas normas, tem-se as seguintes recomendações para o tempo de jejum:
- O tempo de jejum pré-abate deverá estar entre 8 a 10 horas, sendo proibido tempos de jejum que ultrapassem este limite;
- A água disponível às aves só deverá ser retirada no momento do início da pega das mesmas, Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens (2002).
2.4 Pega ou captura das aves
Atualmente, em todo o Brasil, são abatidos diariamente milhões de frangos. Antes do abate, porém, as aves terão que ser capturadas, para depois serem carregadas e então transportadas até o abatedouro. Esse processo de captura das aves é chamado de “pega” ou “apanha”, e consiste basicamente em “pegar” as aves e conduzi-las ao caminhão que fará o transporte.
A atividade avícola se apresenta hoje como um dos setores mais desenvolvidos tecnologicamente, o que permite um constante aumento na escala de produção e no processamento da carne. Sendo assim, quase todo o processo de produção das aves se encontra automatizado, exceto o processo de pega, Lacy e Czarick (1998).
Embora exista a pega mecânica em alguns países, esta ainda não se apresenta totalmente automatizada, necessitando de auxílio manual em algumas etapas de seu processo. Apesar deste sistema reduzir o tempo de carregamento e o número de trabalhadores, ainda carece de maiores estudos no sentido de se analisar aspectos como a qualidade de carcaça das aves carregadas deste modo, bem como se este está de acordo com as normas de bem-estar animal e ainda o custo benefício de se adotar tal tecnologia, Scott (1993).  
Em quase todos os países, as aves ainda continuam a ser pegas manualmente, sendo carregadas pelos pés na quantidade de 3 ou 4 por mão para serem então colocadas nas caixas de transporte, que por sua vez poderão estar localizadas do lado de dentro ou de fora do galpão, Bayliss e Hinton (1990). De acordo com Leandro et al (2001), no Brasil, essencialmente todas as empresas avícolas realizam a captura das aves manualmente, sendo a pega realizada por uma equipe de em média 12 pessoas.
O manejo de captura ou apanha das aves é uma importante etapa, interferindo diretamente na qualidade da carcaça e no custo do frango. Kettlewell e Turner (1985) e Holroyd (2000) reportaram que no mínimo 20% das aves apresentam qualidade inferior de carcaça devido ao manejo de carregamento para o abate. Ritz (2005) afirma que 35% das mortes na chegada (DOA’s) são devido às injúrias sofridas pelas aves durante as operações de pega e carregamento, tais como fraturas, deslocamentos, contusões e traumas na carcaça.
Gregory e Austin (1992) mostraram em seus estudos que metade das aves que chegavam mortas no abatedouro era devido a problemas cardíacos e que o deslocamento do fêmur ocorrido durante a pega pelos pés era um dos principais traumas detectados nas carcaças.
De acordo com Kannan et al. (1997), as operações de pega e carregamento são os procedimentos mais propícios a ocorrer injúrias e danos à carcaça das aves. Os autores mostraram também que manter as aves por um período de até quatro horas em um ambiente escuro e calmo após o transporte reduziu a condição de estresse das mesmas, conforme pôde ser detectado pela diminuição dos valores de corticosterona nestas situações.
O forte bater de asas durante a inversão das aves na pega feita pelos pés pode contribuir para a ocorrência de fraturas e problemas nesta região, Gregory et al. (1989). Isso irá não só afetar o bem-estar das aves mas resultará também em perdas econômicas devido à queda de qualidade das caraças. O medo causado devido à aproximação humana e ao manejo da pega com certeza também afetará o bem-estar das aves, Duncan (1981).
Carlyle et al. (1997), estudando o efeito da pega manual em 39 lotes (155.000 aves) a partir de sete granjas, observaram que a taxa de contusão do peito e asa foi significativamente afetada pelo tempo (do carregamento do galpão até a descarga na plataforma do abatedouro), tendo sido encontrada uma correlação positiva para incidência de contusão no peito e negativa para contusão de asa. Também observaram uma correlação positiva entre densidade de criação e contusão de asas.
Aksit et al. (2006) puderam concluir, em seus experimentos, que elevadas temperaturas durante a operação de pega e carregamento tiveram efeitos negativos na qualidade da carne. Também de acordo com Sandercok et al. (2001), a exposição ao estresse térmico agudo durante a pega levou as aves a apresentarem alteração no balanço ácido-base e afetou os níveis de glicogênio muscular no postmortem e o pH da carne do peito. De acordo com Yalçin et al. (2004), o estresse pré-abate durante a época de verão aumentou os níveis de ácido úrico no sangue, albumina e glicose, que são indicadores diretos da condição de estresse sofrido pelas aves.
À primeira vista a operação de pega pode até parecer fácil de ser executada; no entanto, sabe-se que não se trata de um processo tão simples assim, devido principalmente a sua dinâmica, ou seja, pessoas entram e saem num ritmo constante da granja carregando os frangos até o caminhão, o que exige grande esforço físico e agilidade por parte dos trabalhadores responsáveis por essa etapa.
Um dos problemas é que o ambiente interno do galpão onde ocorre a pega poderá se tornar desconfortável aos trabalhadores devido aos elevados valores de temperatura e umidade relativa, além do que a movimentação provocada pelos trabalhadores e aves acaba levantando muita poeira, o que dificulta o trabalho e ainda poderá resultar em problemas respiratórios, Bayliss e Hinton (1990).
É sabido também que existem outros métodos de pega das aves, tais como o método de pega pelo dorso (japonês) e o da pega pelo pescoço. No entanto, ainda há a necessidade de pesquisas que explorem mais esses métodos para que se possa discutir de maneira consistente sua eficiência e as respectivas porcentagens de perdas.
 De acordo com Kannan e Mench (1996), a pega pelos pés aumentou os níveis de corticosterona nas aves quando comparada com o método de pega pelo dorso, o que torna este método de pega muito mais estressante às aves. Do mesmo modo, Leandro et al (2001) puderam concluir que aves capturadas pelo dorso apresentaram um menor número de contusões de carcaça quando comparadas com aquelas que foram pegas pelo pescoço.
Tudo indica que o método de pega das aves pelo dorso ou também chamado “método japonês”, em que as aves são apanhadas individualmente pelo dorso com as duas mãos, causa menos estresse e reduz os riscos de fraturas causadas nessa etapa. A diferença, além do modo como os frangos são pegos, está também no fato de que as caixas são levadas para dentro do galpão e colocadas próximo às aves, o que faz com que as mesmas não precisem ser carregadas pelo galpão até as caixas.
No entanto, para este método, algumas modificações no galpão deverão ser feitas, tais como o alargamento das portas, pois as caixas serão empurradas para o caminhão por um sistema de trilhos. É um método de pega mais elaborado e os trabalhadores deverão receber treinamento adequado para efetuá-lo; no entanto, sabe-se que os ganhos obtidos serão muito maiores.
 De acordo com Kettlewell e Mitchell (1994), a operação pré-abate de pega das aves vem sendo cercada de leis que visam a melhorar os problemas de bem-estar das mesmas. No entanto, há uma dificuldade grande de se afirmar onde exatamente estes problemas ocorrem, devido à grande dependência de vários outros fatores e não somente o modo de pega ou o tipo de caixa utilizada. Também deverão ser levadas em consideração características inerentes à equipe de pega e ao tempo de duração desta etapa, uma vez que se trata de uma operação que exige uma certa concentração e elevado esforço físico.
As normas de bem-estar animal para frangos de corte geralmente mencionam a operação de pega das aves dentro da etapa de transporte e recomendam que “a captura e manuseio das aves deverão ser feitos sem causar injúrias ou algum tipo de stress aos animais”. Ainda sobre o manuseio das aves, a norma enfatiza que “a captura e manuseio das aves deverão ser executados por pessoas aptas e treinadas para este tipo de trabalho”.
As normas ainda fazem recomendações sobre a maneira como as aves deverão ser capturadas e manuseadas para evitar dor e sofrimentos desnecessários e recomendam que:
- Pânico entre as aves e subseqüente causa de injúrias deverão ser sempre evitados. A captura deverá ser, sempre que possível, feita sob baixa intensidade luminosa de maneira a minimizar possíveis reações de pânico.
- As aves deverão ser capturadas e carregadas pelo corpo (usando as duas mãos e pressionando as asas contra o corpo), ou pelas duas pernas.
- Não deverão ser carregadas mais de três aves pelas pernas em cada uma das mãos;
- As aves nunca devem ser carregadas pelas asas ou pelo pescoço;
- A distância que as aves deverão ser carregadas deverá, sempre que possível, ser minimizada, isso poderá ser feito levando-se as caixas para dentro do aviário;
- Ao serem colocadas nas caixas, as aves deverão ter a capacidade de ficar em pé, isso irá reduzir o estresse e os danos no momento do carregamento, Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens (2002).
2.5 Carregamento das aves até o caminhão de transporte
A etapa pré-abate de carregamento das aves vem sendo cada vez mais explorada, pois possui muitos pontos críticos e é tão importante quanto as demais operações. As perdas provocadas durante o carregamento colocam em risco todos os cuidados considerados até esta fase e poderão comprometer o bem-estar das aves nas etapas seguintes, visto que pouca importância é dada a esta operação devido a sua aparente simplicidade.
O ato do carregamento das aves abrange aspectos tais como o estado de conservação e a padronização das caixas de transporte das aves, o impacto provocado pelo arremesso das mesmas durante o carregamento do caminhão e ainda as condições ambientais a que os animais estarão expostos durante este procedimento. Problemas de saúde dos trabalhadores provocados pelo elevado esforço físico e repetitivo e pela alta quantidade de poeira presente no ambiente, também poderão comprometer a boa condução desta etapa.
Estes problemas fazem com que o carregamento se torne algo mais complexo e fonte potencial de perdas. Por isso, o setor avícola vem exigindo cada vez mais uma observação cuidadosa durante esta etapa, na busca de reduzir as perdas de morte por cabeça prensada, lesões de asas e carcaças, que são as mais comuns de ocorrerem neste processo, Olivo (2006).
Antes do ato de carregar o caminhão, é importante que as caixas de transporte estejam em bom estado de conservação (sem partes danificadas) e limpas, isso para se prevenir possíveis arranhões, danos e contaminação das carcaças, Kettlewell e Mitchell (1994). É importante também que todas as caixas estejam com tampas, pois grande parte das perdas por cabeças prensadas se deve ao fato da falta de tampa nas mesmas.
Quanto aos tipos de caixa para transporte de frangos existentes no mercado, estas podem possuir portinholas tipo basculante ou corrediça. A portinhola tipo basculante possui duas partes que se abrem para fora para que as aves possam ser colocadas nas caixas. Com esse mecanismo há um menor risco de ocorrerem traumas, além de se evitar decepamentos e morte por pescoço prensado no momento do fechamento das caixas, uma vez que tais traumas são os maiores causadores de perdas nos modelos com portinhola corrediça, Olivo (2006).
Ainda segundo Olivo (2006), quanto aos tipos de carroceria dos caminhões de transporte de aves, existem basicamente dois modelos. O primeiro tipo é aquela constituída somente de assoalho de pranchão de madeira, onde a fixação das caixas é feita através da amarração de cordas presas a essas caixas e nas catracas laterais da carroceria, sendo o tipo mais utilizado, devido ao seu custo e praticidade. O outro tipo de carroceria possui um dispositivo de travas metálicas colocado sobre as caixas de transporte, com o objetivo de funcionar como uma espécie de lacre, dificultando assim o roubo da carga durante o transporte.
Na tentativa de diminuir as perdas, algumas inovações no desenvolvimento de novos projetos de caixas de transporte têm sido feitas, objetivando uma melhor circulação de ar pelas laterais das mesmas, o desenvolvimento de tampas mais resistentes e ainda a facilidade de higienização e desinfecção.
Após o termino do carregamento e a amarração das caixas no caminhão, inicia-se o “molhamento” da carga. No entanto, embora esta seja uma prática muito utilizada e difundida, a falta de informações concretas sobre a necessidade e a quantidade correta de água a ser utilizada em cada situação poderá resultar em um “molhamento” insuficiente ou exagerado das aves, o que descaracterizará sua funcionalidade, podendo vir a se tornar, ao contrário do que se deseja, uma ação estressante às aves, Bayliss e Hinton (1990).
Para o carregamento, as normas de bem-estar são tratadas juntamente com a operação de pega, e mencionam os seguintes cuidados principais:
- As caixas contendo as aves deverão ser manejadas de forma cuidadosa e sem sofrer solavancos demasiados;
- As caixas em que as aves serão acomodadas para o transporte deverão estar em boas condições, limpas e não apresentar quinas nem pontas que possam ferir os animais;
- As caixas de transporte deverão ser manejadas e posicionadas de modo a promover ventilação adequada às aves durante o carregamento;
- Atenção especial deverá ser dada à densidade de aves por caixa, pois isso poderá causar danos às carcaças e mortes por efeito das condições ambientais no momento do transporte. Recomenda-se, portanto, que uma menor densidade de aves por caixa seja considerada durante a época de verão;
- Os responsáveis pelo ato de carregar o caminhão de transporte deverão estar aptos e treinados para realizar tal tarefa, evitando que caixas sejam arremessadas ou que as aves sofram pancadas sem necessidade, Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens (2002).
2.6 Transporte das aves até o abatedouro
O transporte de aves envolve um dos maiores deslocamentos de animais vivos do mundo, e considerando-se a grande expansão do setor avícola nos últimos anos, não é difícil perceber a magnitude e a complexidade logística associadas a este processo.
Esta operação pré-abate consiste basicamente na ação de transportar as aves da granja até o abatedouro, sendo que esta etapa poderá ser executada nas mais diferentes condições e combinações de distâncias, horários e tipos de vias. Estas combinações terão um reflexo direto na qualidade do produto final (carne) e na maioria das vezes serão responsáveis pela maior parte das perdas (mortes).
Durante o transporte, as aves são submetidas a uma grande quantidade de fatores estressantes. De acordo com Mitchell et al. (1992) e Mitchell e Kettlewell (1998), estes fatores comprometem o bem-estar das mesmas, além de causar prejuízos devido à alta mortalidade e à queda na qualidade da carne. Nicol e Scott, (1990), reportam, em seus estudos que os potenciais fatores causadores de estresse no transporte incluem desde as características térmicas do microclima da carga, aceleração ou vibração das caixas, impactos, velocidade do vento, jejum e até a quebra da estrutura social.
Bayliss e Hinton (1990) sugerem que as mortes no transporte podem ser influenciadas por três fatores principais: pela saúde dos animais, pelo estresse térmico e pelas injúrias e traumas ocorridos nas etapas anteriores ao transporte. No entanto, devido a todo o processo das operações pré-abate, a mortalidade só poderá ser identificada na linha de abate, ou seja, quando as aves estão prestes a ser penduradas na nórea. Esta mortalidade, por sua vez, reflete em um único valor todas as mortes ocorridas nas demais etapas das operações pré-abate, e por esta razão, são chamadas de “Mortes na chegada”, Bayliss e Hinton (1990), Warriss et al. (2005).
Um dos principais fatores estressantes durante o percurso do transporte das aves está relacionado ao microclima da carga, sendo que a exposição destas a elevados valores de temperatura durante o transporte é a maior responsável pelas chamadas “mortes na chegada” ou “Dead on Arrivals” (DOA’s), Hunter et al. (1997); Mitchell e Kettlewell (1998). Estudos conduzidos na Europa indicam que 40% das DOA’s ocorridas são devido ao transporte das aves até o abatedouro, Bayliss e Hinton (1990), e que essa mortalidade tende a aumentar conforme a distância de transporte aumenta, Warriss et al. (1990).
Warriss et al. (2005), analisando 3 anos consecutivos de registros de DOA’s e  relacionando-as com as máximas temperaturas diárias, reportaram, em seu experimento, que existe um efeito bem definido da variação sazonal na mortalidade das aves e observaram um aumento do número de DOA’s no verão quando comparado com a estação de inverno. Da mesma maneira, Tabbaa e Alshawabkeh (2000), estudando fatores que pudessem afetar os valores de mortalidade durante o transporte de aves, puderam observar diferenças significativas entre estações do ano e mortalidade das aves.
Quanto à relação turno de transporte e porcentagem de mortes, Bayliss e Hinton (1990), estudando três empresas integradoras, puderam observar, em seu estudo, aumentos significativos das mortes na chegada (DOA’s), no período da manhã para a estação de inverno e no o período da tarde durante a estação de verão.
O transporte sob elevados valores de umidade relativa também poderá agravar a situação de estresse térmico das aves, devido ao fato destas não dissiparem calor de forma tão eficiente. Nestas condições, medidas como a redução da densidade de aves por caixa deverão ser tomadas para que se possa prevenir maiores perdas, Kettlewell (1989).
As aves, quando transportadas, estarão sujeitas à ação direta da radiação solar, principalmente durante o verão, o que se agrava ainda mais pela ventilação irregular que possibilitará o acúmulo de calor na carga, piorando ainda mais a sensação de desconforto térmico das aves, Warriss et al. (2005).
Sabe-se que as aves normalmente controlam sua termorregulação através de mudanças nos seus comportamentos. Por exemplo, expondo uma área maior do corpo para favorecer a perda de calor, elas utilizam também o mecanismo de ofegar na tentativa de aumentar a perda de calor por evaporação. Acontece que, quando a densidade de aves por caixa é alta, a grande concentração de umidade nas caixas reduz muito a eficiência deste mecanismo, Warriss et al. (2005).
Segundo os mesmos autores é de se esperar, então, que o aumento da umidade relativa agrave os efeitos das altas temperaturas nas aves, e que isso contribua para reduzir a eficiência da ofegação, que representa um dos mais importantes mecanismos de perda de calor através do resfriamento evaporativo no trato respiratório das aves.
Assim, quanto maior a densidade de aves por caixa, menor será a perda de calor sensível, exceto para as aves que se encontram nas extremidades da carga. Fora isso, a única possibilidade que as mesmas terão de realizarem trocas térmicas durante o transporte será através da perda de calor latente utilizando o ar disponível a sua volta, Kettlewell (1989).
Em condições de baixa ventilação e alta temperatura, o acúmulo de vapor de água resultante dos efeitos da polipnea respiratória (ofegação) compromete a eficiência das perdas evaporativas de calor e aumenta efetivamente a carga térmica sobre as aves. É sabido também que, quando os valores de umidade relativa aumentam de 20 para 80% a uma temperatura de 28°C dentro de uma caixa de transporte, isso resultará em um aumento de 0,42°C por hora nos valores de temperatura corporal das aves, Mitchell e Kettlewell (1994).
Segundo Kettlewell (1989), o grau de desconforto sentido por uma ave durante o transporte só poderá ser medido ou quantificado nela mesma, ou seja, através de seus parâmetros fisiológicos sob condições de estresse. Estas variáveis fisiológicas incluem medidas como taxa de batimentos cardíacos, pressão sangüínea, taxa respiratória, pH do sangue, temperatura corporal e concentrações de hormônios. No entanto, existe uma série de dificuldades para se realizar todas estas medidas, primeiro porque algumas exigem procedimentos cirúrgicos, processos laboratoriais e equipamentos especiais para as análises. Outro motivo é que são procedimentos invasivos, ou seja, por si só já afetarão os resultados.
Um parâmetro fisiológico bastante difundido no meio científico é a medida da Temperatura Retal das aves. Apesar desta temperatura não representar sempre a média térmica do núcleo corporal, Andersson e Jónasson (1996) relataram que tal parâmetro oferece uma informação mais fiel da condição interna do animal do que qualquer outra em outro local do corpo. Segundo os autores, a temperatura normal de um frango é de 41,7°C, com variação entre 40,6 a 43°C.
Silva et al. (2007) realizaram pesquisa no Núcleo de Pesquisa em Ambiência – NUPEA (ESALQ/USP) - para avaliar o efeito da temperatura e umidade relativa elevadas sobre os parâmetros fisiológicos, numa condição simulada de transporte em câmara climática. Dentre os fatores avaliados, a Temperatura Retal foi utilizada como um dos principais parâmetros de medida de estresse fisiológico. Os autores constataram uma faixa de condição superior de estresse, por volta de 46,3°C, na qual foi registrado óbito durante o experimento. De conformidade com Furlan e Macari (2002), a condição inferior de estresse encontrada foi de 41,1°C, abaixo da qual foi considerada como faixa de conforto para as aves. Silva et al. (2001) afirmaram que a temperatura de estresse e a idade dos animais influenciam conjuntamente nos valores de Temperatura Retal.
Contudo, é preciso saber que nem só o estresse térmico é responsável pelas mortes ocorridas durante o transporte das aves. Fatores como tempo de viagem, densidade de aves por caixa (Warriss et al., 1992), injúrias e traumas provenientes da pega e do carregamento (Gregory e Austin, 1992), a genética de cada linhagem e ainda todo o modo de criação e manejo das aves deverão ser levados em consideração.
Em seus estudos, Freeman et al. (1984) avaliaram os efeitos do transporte de frangos por períodos de 2 a 4 horas para distâncias de até 200 km e concluíram que o estresse sofrido pelas aves aumentou significativamente quanto maior foi a distância de transporte. Do mesmo modo, Vecerek et al. (2006) avaliaram diferentes distâncias e épocas de transporte e puderam observar um aumento da mortalidade relacionado às maiores distâncias de transporte e aos meses mais quentes do ano.
A mortalidade tende a aumentar com o tempo de transporte, Warriss et al. (1992), sendo que a carga térmica sobre as aves durante o transporte irá resultar em estresse moderado ou severo e conseqüente redução do bem-estar das aves, (Mitchell et al., 1992; Mitchell e Kettlewell, 1998; Mitchell et al., 2001). O estresse térmico durante a viagem poderá resultar em aumento na mortalidade, Hunter et al. (2001), bem como em uma queda na qualidade da carne, Gregory et al. (1989); Bressan (1998).
Quanto ao caminhão de transporte, é sabido que a distribuição das aves mortas ao longo da carga não é aleatória; pelo contrario, essa distribuição reflete a variação da ventilação e das regiões de conforto ao longo da carga. Kettewell e Mitchell (1993) realizaram uma caracterização tridimensional das condições ambientais do interior da carga de caminhões comerciais de transporte de frangos e puderam constatar uma grande heterogeneidade das variáveis ambientais dentro das mesmas.
A produção de calor metabólico pelas aves durante o transporte irá criar gradientes térmicos entre as caixas de transporte e o meio externo, o que será afetado também pela ação do vento em cada ponto, isso, por sua vez, resultará em uma distribuição heterogênea da temperatura ao longo da carga do caminhão, Mitchell e Kettlewell (1994).
Estudos conduzidos por Mitchell et al. (1992), Kettlewell e Mitchell (1993) e Kettlewell et al. (1993), indicam a existência de um “núcleo térmico” na carga dos caminhões originado pela baixa ventilação e em locais onde a carga térmica e umidade são maiores.
Hunter et al. (2001), ressaltam que a incidência e distribuição das mortes de aves durante o transporte são diretamente influenciadas pelas condições ambientais, fisiológicas e físicas das mesmas, sendo que aproximadamente 50% das mortes na chegada são devido a problemas pré-existentes, tais como doenças ou traumas e injúrias ocorridas durante a pega e carregamento, processos estes inerentes à etapa de transporte. Sendo que estas mortalidades ocorreram independentemente da localização na carga.
É necessário ressaltar, também, que as condições ambientais poderão mudar durante a viagem, o que exigirá certa atenção do motorista responsável pelo transporte dos animais, pois isso poderá ocasionar problemas de bem-estar. Viagens muito longas são mais propícias a estes acontecimentos, o que implica a necessidade de um bom monitoramento das condições, tanto da carga como do ambiente externo, Broom (2005).
Como se pode notar, a etapa de transporte é muito mais do que simplesmente conduzir as aves da granja ao abatedouro. É uma etapa fundamental dentro das operações pré-abate, pois é a partir deste ponto que se pode perder tudo o que se realizou em prol do bem-estar dos animais até então. Sendo assim, é de suma importância a verificação de todos os pontos críticos desta etapa para que as perdas possam ser sempre minimizadas.
Diante disso, Mitchell e Kettlewell (1998) ressaltam que a missão do pesquisador não deverá ser somente a de se limitar à descoberta de onde se encontram as fontes de estresse, mas sim de ir mais além e desenvolver mecanismos ou criar formas de evitar esse estresse antes que ele possa vir a ocorrer.
Uma das maneiras de se conseguir isso seria começar a seguir desde já as recomendações das normas e códigos de bem-estar animal para frangos de corte. Ainda mais sendo o transporte uma das operações pré-abate que mais são exploradas dentro destas normas, pois, como se sabe, esta é uma das etapas mais importantes do processo pós-porteira.
Sendo assim, entre as muitas recomendações das normas e códigos de bem-estar, as principias são:
- Nenhuma pessoa deverá transportar nenhum animal de modo que possa causar injúria ou sofrimento desnecessário a este;
- Nenhuma pessoa deverá transportar nenhum animal, a não ser que esteja apta a fazer o transporte, e que tenha treinamento adequado para prestar socorro ao mesmo durante a viagem, caso seja necessário;
- Qualquer pessoa transportando animais deverá fazer sempre o possível para que os mesmos cheguem o mais rápido possível ao seu local de destino;
- As condição meteorológicas deverão ser levadas em consideração durante o transporte dos animais, evitando assim o transporte destes sob condições estressantes ou adversas;
- Ventilação adequada deverá ser fornecida aos animais durante todo o tempo de viagem, devendo, para isso, ser respeitada a quantidade de animais transportados, bem como a condição das caixas de transporte;
- As condições das vias também deverão ser levadas em consideração no momento do transporte das aves, uma vez que vibração e solavancos na carga poderão resultar em danos à carcaça, Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens (2002).
2.7 Espera para o abate
A etapa de espera para o abate encerra as chamadas operações pré-abate das aves, e sendo assim é um dos processos cruciais para que tudo o que foi realizado anteriormente não venha a ser perdido. Nesta operação as aves que chegam do transporte no abatedouro serão encaminhadas para um local específico denominado “galpão de espera”. Este “galpão” geralmente compreende um local coberto e aberto nas laterais para permitir que os caminhões carregados fiquem parados num local com sombra e bem arejado.
Além disso, estes “galpões” poderão conter ainda equipamentos de climatização, tais como ventiladores e nebulizadores para favorecer a ambiência das aves enquanto aguardam o momento do abate, Bayliss e Hinton (1990). O fluxo de permanência dos caminhões nas salas de espera deverá ocorrer de acordo com a quantidade total de aves abatidas diariamente e com a logística de transporte de cada abatedouro.
Silva et al. (1998), avaliaram o conforto térmico das aves durante a espera no abatedouro de acordo com o layout de estacionamento dos caminhões de transporte e puderam concluir que, além do fator densidade de aves por caixa, a condição de espera afetou significativamente a mortalidade.
Nääs et al. (1998) recomendam a utilização da climatização para ambientes de espera através do uso de ventiladores e nebulizadores, o que melhora a sensação térmica das aves, com acionamento em intervalos freqüentes, de forma a evitar que as mesmas fiquem molhadas durante um grande período de tempo.
Segundo Hunter et al. (2004), poucos estudos foram executados na intenção de se avaliar a influência do tempo de espera sobre o bem-estar e a qualidade da carne das aves. Os mesmos autores apontam uma grande variabilidade de horários existentes na espera (de 1 até 7 horas); portanto, recomendaram tempo de espera menor que 2 horas como ideal para se manter a homeostase dos animais.
O que poderá ocorrer também quanto ao tempo de espera é que nem sempre quando um caminhão carregado de frangos chegar ao abatedouro ele será rapidamente descarregado ou seguirá para o galpão de espera. Algumas vezes o que acontece é que, devido a uma falta de planejamento ou programação prévia do abatedouro, ou ainda a eventuais problemas operacionais que possam vir a ocorrer na linha de abate, o caminhão carregado será obrigado a aguardar por algum tempo fora do galpão de espera até que possa ser descarregado.
De acordo com Warriss et al. (1990), o tempo de espera na linha de abate poderá ser igual ou até mesmo ultrapassar o tempo de viagem até o abatedouro. O que acontece é que, se este tempo de espera for muito prolongado, poderá resultar em problemas como o agravamento do estresse sofrido pelas aves durante a viagem bem como contribuir para o aumento dos problemas de bem-estar.
Bressan e Beraquet (2002) avaliaram o efeito do tempo de espera sobre a qualidade da carne de peito dos frangos para as condições brasileiras. Foram encontrados valores significativos nos tempos de descanso de 2 e 4 horas, resultando no retardamento dos efeitos negativos à qualidade da carne.
Quinn et al. (1998) demonstraram a importância do controle ambiental na redução dos efeitos negativos do ambiente externo no bem-estar das aves. Em seus estudos, puderam observar que os ambientes de maior estresse para os frangos foram aqueles que tiveram um tempo de descarregamento menor, ou seja, nas primeiras duas horas de espera no verão, com temperaturas médias acima de 25°C, concluindo que não basta trabalhar isoladamente o tempo de espera, mas também as características ambientais dos galpões de espera.
Quanto às recomendações das normas de bem-estar para frangos de corte, as principais para se obter uma boa condução da etapa de espera são:
- Ao chegar ao abatedouro, os animais deverão ser encaminhados o mais rápido possível para locais frescos e bem ventilados enquanto aguardam o momento do abate;
- Os locais designados a acomodar os animais durante o período que antecede o abate deverão proporcionar um ambiente confortável aos mesmos, para que estes possam se acalmar e se recuperar da viagem;
- O local de espera deverá, de preferência, possuir baixa iluminação e boa ventilação, para garantir que os animais permaneçam calmos enquanto aguardam o abate.
- Em casos de elevados valores de temperatura ambiente, sistemas de nebulização combinados com ventiladores deverão ser utilizados, para que as aves não entrem em condições de estresse térmico, Code of Recommendations for the Welfare of meat chickens (2002).

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Autores:
José Antonio Delfino
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