Cipermetrina galinhas poedeiras

O Brasil está entre os cinco maiores produtores de ovos do mundo, cuja produtividade é inferior apenas a da China, EUA, Índia e Japão (USDA, 2008). No ano de 2005 foram produzidos 58,8 milhões de toneladas de ovos e estima-se que em 2015 esta produção chegará a 70,9 milhões de toneladas (Associação Paranaense de Avicultura - APAVI). As poedeiras comerciais criadas em regimes de confinamento são constantemente acometidas por ectoparasitos, sendo comum e persistente a infestação pelo ácaro da pena, Ornythonyssus sylviarum. A ação desses ácaros sobre as aves promove condições de estresse com consequente decréscimo no ganho de peso e na produção de ovos, além da transmissão de microorganismos (Axtell & Arends, 1990). Esses artrópodos são controlados com uso corrente de inseticidas, especialmente piretróides, como a cipermetrina. A crescente demanda por alimentos seguros (sem contaminantes) torna o emprego de inseticidas e outros medicamentos em avicultura, cada vez mais restrito. Este fato é marcado pela criação da Instrução Normativa Nº. 56 de 2007 (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA), referente a procedimentos para registro, fiscalização e controle de estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais. Desta forma, para registros de novos produtos ou revalidação daqueles já registrados, se faz necessário a avaliação de diferentes parâmetros, sendo um deles, a inocuidade. A inocuidade de medicamentos pode ser estimada em testes clínico-patológicos de hematologia, bioquímica e urinálise (International Cooperation on Harmonisation of Technical Requirements for Registration of Veterinary Medicinal Products - VICH, 2008). Apesar do uso corrente de piretróides em avicultura, não há informações sobre sua atuação desses compostos no perfil bioquímico sanguíneo em poedeiras. Com objetivo de responder a esta questão, neste trabalho foi avaliada a inocuidade da cipermetrina em galinhas poedeiras naturalmente infestadas pelo ácaro O. sylviarum.

O estudo foi realizado com poedeiras Hyline Brown (n=30), com 70 semanas de idade, naturalmente parasitadas por O. sylviarum. As aves estavam alojadas em gaiolas 45 x 45 x 25 cm, 17 horas/luz/dia, alimentadas com ração balanceada e água ad libitum, no aviário experimental do Departamento de Nutrição Animal (VNP) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Campus de Pirassununga. As provas bioquímicas, foram realizadas a partir de amostras de sangue colhidas com EDTA, mediante punção da veia ulnar, na quantidade de 2 mL. As amostras foram mantidas sob refrigeração até o momento da análise. As amostragens foram realizadas no dia 0 (pré-tratamento; aves não tratadas), sendo este o grupo controle, e no dia 7 (sete dias pós-tratamento). Foram utilizados dois grupos, com 15 aves, sendo: T1: submetidos a aplicação tópica (pulverização) de cipermetrina CE (concentrado emulsionável) na dose recomendada, T2: cipermetrina CE na dose 3 vezes (3X) maior que a recomendada. O perfil bioquímico foi obtido em análise sérica das funções renais (ácido úrico e uréia); funções hepáticas (aspartato amino transferase- AST, Fosfatase alcalina- FA e γ-Glutamiltransferase- GGT); colesterol; glicose; proteínas totais e albumina. As dosagens foram realizadas utilizando-se "kits" comerciais da marca BIOCLIN, processadas em aparelho automático SBA-200 da marca CELM^® e a leitura realizada em espectofotômetro. A análise estatística foi realizada com o Programa GraphPad InStat.

Os valores encontrados para a análise das funções hepáticas (AST e GGT), renais (uréia e creatinina), de proteínas e metabolismo da glicose, bem como os valores de referencia, estão demonstrados na Tabela 1.

Tabela 1. Perfil bioquímico séricos em poedeiras Hyline Brown antes e após pulverização de cipermetrina (Cyperpour 15, Vetbrands^®) em duas diferentes doses: T1 (dose recomendada pelo fabricante) e T2 (dose três vezes maior que a recomendada)

Os tratamentos com cipermetrina, na dose recomendada (T1) e na dose 3X maior (T2), foi observado que todos os valores dos parâmetros bioquímicos estavam de acordo com os valores de referência (Borsa et al., 2006; Thrall, 2007), com exceção da albumina. Os níveis sanguíneos considerados normais de albumina estão entre 0,8 e 2,0 g/dL. Os valores médios obtidos, entretanto, variaram entre 2,7 e 2,9 g/dL, com diferença significante entre o grupo de poedeiras antes (dia 0) e depois dos tratamentos (dia 07). Pode-se observar, entretanto, que as poedeiras apresentaram níveis de albumina acima dos valores de referência antes mesmo da aplicação do produto, demonstrando não ser o inseticida o fator que provocou esta alteração. De fato, há constantes variações dos níveis de albumina em poedeiras, o que pode ser explicado pela exigência protéica para formação do ovo (Gonçalves et al., 2008), posto que a clara do ovo é composta basicamente de albumina. Além disso, de acordo com Campbell (2004), as fêmeas antes da postura podem apresentar hiperproteinemia induzida por estrógenos. Nenhuma alteração nos parámetros bioquímicos foi observada, o que mostra que o inseticida não foi tóxico aos animais, nas doses estudadas. Os valores de referência citados no texto foram obtidos de observações de outros autores, realizadas em aves (sentido geral), e em frangos de corte. Devido à escassa literatura, este estudo contribui também com novas informações sobre os valores de referencia de variáveis bioquímicas séricas em poedeiras comerciais.

Foi demonstrado que a cipermetrina é inócua a galinhas poedeiras, mesmo quando se empregam doses 3X superiores à recomendada pelo fabricante.

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP.

Associação Paranaense de Avicultura. APAVI. URL:http://www.apavi.com.br. Acesso: 24-Mar-2011.

Axtell RC & Arends JJ. 1990. Ecology and Management of Arthropod Pests of Poultry. Ann Rev Entomol 35:101-126.

Borsa A, Kohayagawa A, Boretti LP, Saito ME & Kuibida K. 2006. Níveis séricos de enzimas de função hepática em frangos de corte de criação industrial clinicamente saudáveis. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 58:675-677.

Campbell TW. 2004. Clinical Chemistry of Birds. pp. 479-492. In: Veterinary Hematology and Clinical Chemistry. Thrall MA (ed). Philadelphia, Lippincott.

Gonçalves FM, França RT, Dallmann HM, Gentilini FP, Del Pino FAB, Stercken RAC, Zanusso JT. 2008. Perfil metabólico de poedeiras semipesadas em fase de pré-pico de postura. In: 45ª Reunião Anual da SBZ. Anais (CD-ROM).

International Cooperation on Harmonisation of Technical Requirements fo registration of Veterinary Medicinal Products (VICH). 2008. Target animal safety for veterinary pharmaceutical products. VICH GL 43 (Target Animal Safety) - Pharmaceuticals, July 2008, For implementation at Step 7 Adopted at Step 7 of the VICH Process by the VICH Steering Committee in July 2008 for implementation in July 2009.

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Instrução normativa nº 56, de 04 de dezembro de 2007. Estabelece os procedimentos para registro, fiscalização e controle de estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais. URL:http://extranet.agricultura.gov.br/
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Schmidt, SEM, Locatelli-Ditrich R, Santin E, Paulillo A.C. Patologia clínica em aves de produção - Uma ferramenta para monitorar a sanidade avícola - revisão. Archives of Veterinary Science,12: 9-20, 2007.

Thrall MA. 2007. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 1ª ed., Ed Roca, São Paulo, SP. 581p.

United States Department of Agriculture - USDA. 2008. Oilseed worldmarket and trade. URL:http://www.fas.usda.gov/oilseeds/circular/2008/January/oilseeds0108.pdf. Acesso: 24-Mar-2011.