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Ovos poedeiras isa brown

Desempenho e qualidade interna de ovos de poedeiras isa brown criadas em diferentes sistemas de produção em clima úmido e quente

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: FA Gomes, ALV Figueiredo*, TS Jucá, CPAS Júnior, LA Silva Universidade Federal do Acre – UFAC, Centro Multidisciplinar de Cruzeiro do Sul – AC / Brasil
Sumário

A avicultura de postura no Brasil vem ganhando espaço e conseqüentemente aumenta-se a preocupação quanto ao desempenho e bem-estar das aves. Portanto este trabalho teve como objetivo principal avaliar o desempenho e qualidade dos ovos de poedeiras Isa Brown criadas em sistema convencional (gaiolas) e sistema piso, com e sem uso de ventilação forçada, em clima Úmido e Quente. O experimento foi conduzido em unidades experimentais com plantéis comerciais em produção, sendo a pesquisa alocada em quatro modelos de aviários de alvenaria, Foram selecionados diferentes sistemas de produção (gaiola e piso) com dois sistemas de ambiência (com e sem ventilação forçada), no qual cada tratamento contou com quatro repetições no tempo (4 tempos de 7 dias), intervalados de uma semana entre eles. Foram utilizadas um total de 200 aves fêmeas, em fase de produção, da linhagem Isa Brown entre 23 e 42 semanas de idade. A avaliação do desempenho das aves (consumo de ração, conversão alimentar e produção de ovos) foram realizadas através da coleta dos dados diários, em 2 horários pré-determinados (9:00 às 10:00h e 15:00 às 16:00h). Com relação à qualidade dos ovos, foram avaliados os efeitos dos sistemas de produção sobre a qualidade interna dos ovos no dia da postura, onde se utilizou os seguintes parâmetros: peso do ovo, unidade de Haugh (UH), índice de gema e espessura da casca. Verificou-se que os sistemas de criação piso, independentemente de ventilação forçada, apresentaram melhor desempenho produtivo e melhor qualidade dos ovos quando comparado ao sistema de gaiolas suspensas.
Palavras Chave: Conversão alimentar, Índice de gema, Unidade haugh.

Introdução
Percebendo a importância do ambiente sob o desempenho das poedeiras, cresce a preocupação em melhorar os sistemas de produção e ambiência, proporcionando melhor bem-estar as aves e melhoria na qualidade do produto final, o ovo. Considerando ainda a ausência das estações do ano pré-definidas no bioma Amazônico e, em especial no macroclima do estado do Acre, é notório a alta umidade relativa do ar e temperatura ambiente no qual as galinhas poedeiras estão inseridas. Desta forma, torna-se necessário estudos que busquem melhores entendimentos das interações fisiológicas e produtivas das aves versus ambiente de criação. Segundo Silva (2000), a temperatura ideal para produção de ovos estaria entre 21°C e 26°C. Entre 26°C e 29°C ocorreria uma leve redução no tamanho dos ovos e na qualidade da casca; entre 29°C e 32°C haveria uma deterioração sensível no tamanho dos ovos e na qualidade da casca e a produção se mostraria afetada; por volta de 35°C a 38°C, a produção seria severamente abalada, podendo ocorrer prostação das aves. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho e qualidade dos ovos de poedeiras Isa Brown criadas em sistema convencional (gaiolas) e sistema piso, com e sem uso de ventilação forçada, em clima Úmido e Quente.
Materiais & Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Federal do Acre - UFAC, Centro Multidisciplinar de Cruzeiro do Sul - AC / Brasil, no período de agosto a novembro de 2010. Conforme classificação de Koppen o clima da região é classificado como tropical úmido Af com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e ausência de estação seca. A altitude média é de 170 metros com precipitação média anual é de 2074mm. Na realização do experimento foram utilizados unidades experimentais com plantéis comerciais em produção, sendo a pesquisa alocada em 4 modelos de aviários. Foram utilizadas um total de 200 aves fêmeas, em fase de produção, da linhagem Isa Brown. Considerando a implantação do experimento dentro de uma granja comercial, foram utilizadas aves entre 23 e 42 semanas de idade. A ração experimental foi a mesma utilizada pela granja, formulada à base de milho e farelo de soja, seguindo as exigências nutricionais da linhagem, sendo fornecidas de modo a proporcionar às aves consumo de alimento e água à vontade. Os tratamentos experimentais foram representados pelos sistemas de produção, sendo compostos de dois sistemas de criação (gaiola e piso) com dois sistemas de ambiência (com e sem ventilação forçada), no qual cada tratamento contou com 4 repetições no tempo (4 tempos de 7 dias, intervalados de uma semana entre eles). Cada modelo de criação e ambiência foi mantido com 50 aves representativa. As coletas de informações, para todas as variáveis, foram realizadas em todos os dias experimentais, independentemente de precipitação, em horários pré-fixados (9:00 às 10:00h e 15:00 às 16:00h), horario local. A ventilação forçada foi realizada por meio de ventilador com vazão de ar de 1m3/segundo. A avaliação do desempenho das aves (consumo de ração, conversão alimentar e produção de ovos) foram realizadas através da coleta dos dados diários. Com relação à qualidade dos ovos, foram avaliados: peso médio dos ovos, unidade Haugh, índice de gema e espessura de casca. O experimento foi delineado em blocos casualizados e, para análise dos dados, foi utilizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados & Discussão
Os resultados referentes ao desempenho de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência estão descritos na Tabela 1.
 Tabela 1. Consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e produção de ovos de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência
Parâmetros
Tratamentos (Galpões/Sistemas de Produção)*
CV (%)
Gaiola c/ Ventilação
Piso c/ Ventilação
Gaiola s/ ventilação
Piso s/ Ventilação
CR (g/ave/dia)
105b
110a
104b
108a
2,48
CA (kg/kg)
1,97b
1,89a
1,97b
1,87a
4,01
Produção (%)
78b
84a
76b
82a
3,02
* Médias seguidas por letras diferentes, na linha, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
De acordo com os dados obtidos para o consumo de ração, observou-se um maior consumo para as aves alojadas em galpão tipo piso com ventilação forçada, diferindo estatisticamente dos demais sistemas (p<0,05). Neste caso, o maior consumo está diretamente relacionado a menor densidade de aves por m2 em comparação aos sistemas tipo gaiola o que, por sua vez, proporciona menor conforto ambiental e maior estresse para as aves alojadas. A melhoria neste conforto, podendo ser traduzida pela menor dissipação de calor no meio de criação, permitiu as aves regular de maneira natural o centro da fome e saciedade que, tendo mais fácil acesso ao alimento, favoreceu os controles hormonais atuantes diretamente no hipotálamo. Os demais tratamentos, especialmente o representado por gaiolas sem ventilação forçada, apresentou aves com consumo inferior ao supramencionado, sendo essa redução no consumo não podendo ser justificada, diretamente, pelo efeito da maior densidade de criação das aves, este efeito na diminuição parece estar relacionado a aspectos fisiológicos diretos, como por exemplo maior temperatura corporal das aves, resultante da maior temperatura e umidade relativa do ar interna no galpão.
Avaliando a conversão alimentar das aves, verificou-se também melhores índices para as aves alojadas nos sistemas piso (com e sem ventilação), estes resultados estão diretamente relacionados ao maior peso médio dos ovos nestes tratamentos. As aves dos demais tratamentos apresentaram piora na conversão alimentar, resultados explicados pelo possível déficit de nutrientes ingeridos em função do menor consumo de ração o que, por sua vez, levaram a uma redução no peso médio dos ovos. Comparando a conversão alimentar entre os tratamentos representados por gaiolas suspensas, não foram verificados efeitos significativos (p>0,05). Estes resultados estão em conformidade com Pavan et al. (2005) que, estudando densidade de alojamento, não encontraram diferenças na conversão alimentar de poedeiras alojadas em gaiolas sob condições de ventilação forçada.
Dentro dos dados obtidos para produção de ovos, notou-se uma grande coerência com os dados encontrados para consumo de ração. A maior produtividade também foi notória para as aves alojadas nos tratamentos representados pelo sistema piso (com e sem ventilação). Estes resultados novamente reforçam as teorias de maior produção relacionadas ao conforto e bem estar animal. O sistema de gaiolas sem ventilação apresentou queda na postura o que, também, não pode ser atribuído diretamente ao fator densidade de alojamento e sim, possivelmente, a efeitos no micro clima do galpão.
Os resultados de produção de ovos em sistemas de gaiolas (com e sem ventilação forçada), encontrados neste experimento, estão em conformidade com Carey et al. (1995), que não encontraram diferenças significativas para aves em diferentes taxas de dissipação de calor, originadas de diferentes densidades de alojamento. Acredita-se que a similaridade produtiva entre os sistemas de gaiolas com e sem ventilação forçada esteja limitada por 3 aves/gaiola, podendo esta produtividade ser afetada negativamente ao elevar esta densidade.
Os resultados referente a qualidade dos ovos de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência estão visualizados na Tabela 2.
Tabela 2. Peso médio do ovo (PMO), unidade haugh (UH), índice de gema (IG) e espessura de casca (EC) de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência
Parâmetros
Tratamentos (Galpões/Sistemas de Produção)*
CV (%)
Gaiola c/ Ventilação
Piso c/ Ventilação
Gaiola s/ ventilação
Piso s/ Ventilação
PMO (g)
53,2b
58,1a
52,8b
57,9a
3,09
UH
87,1b
91,2a
86,8b
90,7a
2,01
IG
0,36b
0,47a
0,34b
0,44a
2,64
EC (mm)
0,62b
0,81a
0,64b
0,80a
3,37
* Médias seguidas por letras diferentes, na linha, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
A análise estatística das médias dos pesos dos ovos revelou uma diferença significativa deste parâmetro de qualidade com relação as aves criadas nos modelos piso, destacando esta condição ambiental.
Conforme observado, houve uma redução significativa (p<0,05) no peso dos ovos quando as aves foram submetidas às condições de possível estresse térmico, especialmente no sistema gaiola sem ventilação. Estes resultados confirmam os encontrados Mashaly et al. (2004), que encontraram uma diferença de 7,5g entre ovos postos sob condições de conforto e estresse térmico. Pelo comportamento dos dados, é possível observar também uma queda mais expressiva das médias de peso dos ovos para a condição de criação em gaiola, o que pode ser explicado, provavelmente, pelo maior estresse que este sistema apresenta em condições de altas temperaturas, tendo-se em vista o grau de confinamento e a maior dificuldade das aves em perder calor.
A unidade Haugh classifica os ovos como: excelente - UH acima de 90, muito boa - UH entre 80 e 90, aceitável - UH de 70 a 80 e regular - UH de 65 a 70. O parâmetro de qualidade unidades Haugh apresentou uma diferença significativa (p<0,05) com relação as condições ambientais estudadas. Para a condição ambiental gaiolas, o parâmetro de qualidade unidades Haugh teve uma queda significativa em seus valores em comparação ao sistema piso, o que baixou sua classificação para a classe "muito boa", que ainda indica um considerável nível de qualidade interna. No entanto, esta queda pode ser decorrente do estresse sofrido pelas aves devido aos efeitos das altas temperaturas. Este resultado confirma o encontrado por Barbosa et al. (2008), que relatou em seu trabalho que os valores de unidade Haugh diminuíram em relação aos encontrados antes da exposição das aves ao estresse térmico. É importante mencionar que, mesmo com desempenho inferior, os ovos postos sob o sistema de gaiolas foram clasificados como "muito bons". Independentemente da condição ambiental e do sistema de criação, todos os ovos apresentaram considerável qualidade do ponto de vista do parâmetro albúmen.
Para o parâmetro índice de gema houve diferenças significativas (p<0,05), quanto ao sistema de criação. É possível notar uma queda significativa (p<0,05) nos valores médios de IG para os ovos produzidos pelas aves alojadas nos sistemas com gaiolas suspensas. Para o sistema piso é possível notar ainda que não houve diferença estatística para o IG, estando este índice superior aos demais sistemas. Esta condição é reflexo direto da possível zona de conforto térmico nos quais estas aves estão inseridas.
Avaliando o parâmetro espessura da casca houve diferenças significativas (p<0,05) quanto ao sistema de criação. Observando-se os dados, pode-se notar uma queda bem acentuada nos valores médios de espessura da casca dos ovos produzidos no modelo gaiolas suspensas. Isso, de acordo com autores com Barbosa et al. (2008), é decorrente da diminuição no balanço de cálcio no sangue, uma vez que se sabe que este balanço é afetado quando a ave se encontra em condições de altas temperaturas, diminuindo a quantidade de plasma cálcico e comprometendo a formação da casca do ovo.
Conclusões
Nas condições em que o experimento foi conduzido:
As aves criadas nos sistema piso, independentemente de ventilação forçada, apresentaram melhor desempenho produtivo e melhor qualidade dos ovos quando comparado ao sistema de gaiolas suspensas. Demais estudos necessitam ser realizados a fim de verificar a viabilidade econômica da produção de ovos nestes diferentes sistemas de criação.
Bibliografia
Barbosa NAA, Sakomura NK, Mendonça MO, Freitas ER, Fernandes JBK. 2008. Qualidade de ovos comerciais provenientes de poedeiras comerciais armazenados sob diferentes tempos e condições de ambientes. ARS Veterinária 24(2):127.
Carey JB, Kuo FL, Anderson KE. 1995. Effects of cage population on the productive performance of layers. Poultry Science 74(4):633-637.
Mashaly MM, Hendricks GL, Kalama MA. 2004. Effect of heat stress on production parameters and immune responses of commercial laying hens. Poultry Science 83:889-894.
Pavan AC, Garcia EA, Mori C. 2005. Efeito da Densidade na Gaiola sobre o Desempenho de Poedeiras Comerciais nas Fases de Cria, Recria e Produção. Revista Brasileira de Zootecnia 34(4):1320-1328.
Silva RG. 2000. Introdução a bioclimatologia animal. São Paulo: Nobel. 286p.
 
 
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Autores:
ALV Figueiredo
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Lorena Suelen Vasconcelos Lima
19 de mayo de 2014
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