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Poedeiras comerciais gaiolas enriquecidas

Desempenho de poedeiras comerciais alojadas em gaiolas enriquecidas

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: JA Becker1*, IMDT Jácome2, M Pies1, DW Rizzotto1, AZ Almeida1, R Borille1 1Graduandos do Curso de Zootecnia da UFSM/Palmeira das Missões, RS – Brasil; 2Professor Adjunto do Curso de Zootecnia da UFSM/Palmeira das Missões
Sumário

O presente trabalho teve por objetivo testar diferentes modelos de gaiolas enriquecidas utilizadas para produção de aves poedeiras comerciais, avaliando a influência do enriquecimento nos índices zootécnicos das mesmas. Foram utilizadas 128 aves da linhagem Hy-line Brow com idade inicial de 19 semanas, distribuído em um delineamento inteiramente casualizado (DIC) com quatro tratamentos e duas repetições com 16 aves cada. Tratamentos: T1: gaiola convencional; T2: gaiola enriquecida 1, com ninho, poleiros, caixa de areia e lixa; T3: gaiola enriquecida 2, com ninho, poleiros e lixa e T4: gaiola enriquecida 3, com poleiros e lixa. Foram realizadas coletas com intervalos de 28 dias, sendo cada coleta com duração de cinco dias, onde foram contabilizados os ovos totais, sujos e quebrados. Foi realizado ainda pesagens dos ovos, mensurado o consumo diário de ração e dimensionado o comprimento das unhas das aves. Não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos para produção (p>0,05). No entanto, para número de ovos sujos e ovos quebrados foram encontradas diferenças significativas (p<0,05). Para peso medio de ovo e consumo de ração não foram observadas diferenças significativas (p>0,05), assim como para gravidade específica. Já para o comprimento de unha foi verificada diferença significativa (p<0,05) entre os tratamentos.
Palavras Chave: Aves, Bem estar, Enriquecimento ambiental, Instalações, Ovos.

Introdução
Com o passar dos anos, o Brasil vem se tornado um dos maiores produtores de alimentos do mundo, sendo que a avicultura comercial com produção de carne e ovos vem tomando um lugar de destaque neste cenário.
Segundo dados da União Brasileira de Avicultura, em 2009 o Brasil exportou cerca de US$ 49,3 milhões em ovos de galinha em casca refrigerados para consumo, diante de uma produção anual de 22,1 bilhões de ovos. O Estado do Rio Grande do Sul figura como o 3º estado do país na exportação de ovos in natura, seguido de Minas Gerais e São Paulo (UBA, 2009).
Os maiores importadores de ovos do Brasil são países árabes e asiáticos, para os quais a exportação obteve um crescimento maior que 200% nos últimos anos. Já a União Européia não participa do grupo de importadores de ovos brasileiros, pois condena a criação de poedeiras comerciais em baterias de gaiolas convencionais, porém aceitam a importação de ovos de países que mantém suas aves em baterias convencionais desde que respeitadas suas exigências e diretivas.
Tendo em vista este fator, fornecer alimentos saudáveis, de qualidade e respeitando a qualidade de vida dos animais torna-se imprescindível na medida em que o mercado está cada vez mais exigente e competitivo.
Alves et al. (2007) menciona que o bem estar é um dos assuntos mais discutidos atualmente na produção animal. No entanto, é crescente a convicção dos consumidores de que os animais utilizados para produção de alimentos devem ser bem tratados. As campanhas movidas por diferentes segmentos e a pressão de um número crescente de organizações não-governamentais sensibilizaram a opinião pública em muitos países (principalmente os países da União Européia) para esse aspecto, o que originou progressos legislativos consideráveis.
Diante dessa grande capacidade produtiva do Brasil e da escassez de informações pertinentes a ambiência de aves poedeiras, faz-se necessária a realização de estudos que comprovem a viabilidade técnica e econômica do Brasil como produtor de ovos atendendo as exigências de bem estar animal. Estes estudos devem possibilitar a adaptação dos modelos de gaiolas convencionais para gaiolas enriquecidas e colocar o Brasil dentre os países que se preocupam com boas práticas de produção e qualidade do produto final.
Materiais & Métodos
O trabalho foi desenvolvido no Setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria - Cesnors, localizado na cidade de Palmeira das Missões - RS, a uma latitude 27° 53'''' 58" sul e a uma longitude 53° 26'''' 45" oeste, estando a uma altitude de 634 metros. Foi utilizado um galpão experimental com três metros de pé-direito, cinco metros de largura e dez metros de comprimento. As análises foram realizadas de julho a setembro, sendo dividido em 3 períodos de 28 dias. Cada análise teve duração de 5 dias. Foram utilizadas 128 galinhas da linhagem Hy-line Brown, com idade inicial de 19 semanas, divididas em quatro tratamentos e duas repetições por tratamento, distribuído num delineamento inteiramente casualizado (DIC).
Foi utilizada como dieta experimental, ração comercial com 15% de proteína bruta, própria para fase de postura, utilizando comedouros tipo calha e bebedouros tipo nipple e o fotoperíodo utilizado foi de 17 horas diárias.
Os tratamentos foram compostos por 32 aves, onde o tratamento I (gaiola convencional) sem modificações, considerado tratamento testemunho, compreendendo 2 gaiolas com capacidade para 32 aves. As medidas da gaiola foram: 2,0x0,45x0,40m de largura, profundidade e altura respectivamente. Tratamento II (Enriquecida 1) composto por um conjunto de baterias de gaiolas adaptadas, compreendendo 2 gaiolas com capacidade para 32 aves da linhagem Hy-line Brown, possuindo as seguintes características: medidas de 2,0x0,45x0,40m. Comedouro de 0,125m por ave e bebedouro do tipo nipple com abastecimento automático, sendo utilizado 3 nipple por gaiola. A gaiola teve o espaço alterado que constituiu com a inserção de um ninho com 0,30x0,40x0,20m num canto da gaiola, três poleiros com 0,45m e cama de areia no outro lado da gaiola com 0,30x0,25x0,20m. Uma lixa desgastadora de unhas também foi inserida na linha abaixo do comedouro. Tratamento III (Enriquecida 2), teve as mesmas características do tratamento II. No entanto teve seu espaço interno alterado, que constituiu com a inserção de um ninho com 0,30x0,40x0,20m, três poleiros com 0,45m e uma lixa desgastadora de unhas. Tratamento IV (Enriquecida 3), teve as mesmas características dos tratamentos II e III, no entanto, teve seu espaço interno alterado, que constituiu na inserção de três poleiros com 0,45m e uma lixa desgastadora de unhas.
A cada 28 dias foram coletados os dados de produção diária, contabilizados o número de ovos sujos e quebrados e mensurado o comprimento das unhas das aves, sendo este, com o auxílio de um paquímetro digital. Ainda foram coletadas amostras representativas para análise de peso dos ovos e gravidade específica. As análises de gravidade específica foram realizadas utilizando-se tubos de beker contendo soluções salinas (NaCl) nas densidades de 1.070, 1.075, 1.080, 1.085, 1.090, 1.095 e 1.100. Para se obter as soluções nestas concentrações foi utilizado um decímetro de petróleo. Já o consumo de ração, foi obtido através de pesagens das sobras de ração no final de um período de 24 horas, durante os cinco dias de coletas.
Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, utilizando o programa computacional ASSISTAT (2010).
Resultados & Discussão
Os dados obtidos na pesquisa serão apresentados a seguir na forma de tabela.
Tabela 1. Gravidade específica, g/m3 (G.E), percentagem de ovos sujos, % (O.S), percentagem de ovos quebrados, % (O.Q), produção de ovos, % (PR), consumo de ração por ave, g (CR), peso dos ovos, g (PO), e comprimento das unhas, mm (CU)
 
G.E
O.S
O.Q
P.R
C.R
P.O
C.U
Gaiola convencional
1,090a
0,46c
1,15ab
88,74a
121,70a
60,01a
13,68a
Enriquecida 1
1,092a
48,43a
4,35a
88,24a
117,30a
58,58a
12,32b
Enriquecida 2
1,091a
30,14b
4,32a
90,36a
126,18a
59,98a
13,21ab
Enriquecida 3
1,089a
0,88c
0,43b
95,20a
129,92a
59,84a
13,35ab
C.V (%)
0,25
17,52
35,33
3,15
8,83
7,47
3,73
Médias com diferente letra diferem significativamente (p<0,05).
Na pesquisa não foram encontradas diferenças estatísticas (p>0,05) para gravidade específica (G.E) em nenhum dos tratamentos empregados. Para Jácome (2009), gravidade específica é uma medida de cunho físico que avalia a densidade do ovo, a qual se relaciona basicamente com a espessura da casca, o que explica os ovos mais pesados apresentarem uma menor densidade, porém não apresentam um menor peso da casca.
Várias pesquisas demonstram que a gravidade específica vai diminuindo conforme as aves vão envelhecendo, pois ovos de aves mais velhas apresentam menor qualidade de casca com maior porosidade e com casca mais fina.
Em estudo comparando dois sistemas de criação cama x gaiolas, Alves et al. (2007) observaram que os ovos provenientes de gaiolas apresentaram casca mais fina e conseqüentemente uma menor gravidade específica, o que ocasionou diferenças significativas entre sistemas de criação. Já nesta pesquisa, avaliando gaiolas enriquecidas x gaiolas convencionais não foram observadas tais diferenças.
Junqueira & Filho (2000), em estudo realizado, utilizando poedeiras Hy-line de 54 semanas de idade encontrou valores de 1,085 de gravidade específica, confirmando que com o avanço da idade das aves, os valores de gravidade específica tendem a diminuir e o peso dos ovos a aumentarem.
Durante o período experimental foi contabilizados o número de ovos sujos recolhidos, observando que o tratamento que apresentou o maior número foi o tratamento 2, onde 48,43% dos ovos coletados eram sujos, seguido pelo tratamento 3 com 30,14%. Em estudo comparando duas linhagens de postura em dois diferentes sistemas de criação, cama x gaiola, observaram maior número de ovos sujos no sistema de cama (Mostert et al., 1995; Alves et al., 2007), estando de acordo com observado nesta pesquisa. Portanto, esses resultados contrariam as observações de Barbosa Filho (2006). O fato de apresentar maior número de ovos sujos esteve relacionado ao ambiente em que as aves se encontravam, visto que, aves criadas em sistema de cama ou em gaiolas enriquecidas dispunham de maior área para locomoção e ninho para por os ovos, sendo nestes, muitas vezes defecados pelas aves, contribuindo para a diminuição de ovos limpos. No entanto, Barbosa Filho (2006) cita, que fornecendo uma área adequada, respeitando as dimensões para cada ave, o número de ovos sujos encontrados tendem a diminuir.
Relacionado ao percentual de ovos quebrados, os tratamento 2 e 3 não apresentaram diferenças estatísticas (p>0,05), onde no tratamento 2, apresentou 4,35% dos ovos quebrados, seguido pelo tratamento 3 com 4,32% de ovos quebrados. Para os tratamentos 1 e 4 o percentual de ovos quebrados foi menor em relação aos demais, apresentando 1,15% e 0,43% respectivamente. Este fato pode ser explicado pela concorrência das aves na busca pelo ninho para fazer a postura. Barbosa Filho (2004), avaliando bem estar de aves poedeiras em diferentes sistemas de criação, cama x gaiolas convencionais, observou que aves alojadas em condições de conforto, apresentaram menor número de ovos quebrados no sistema de cama com a utilização de ninhos em relação as gaiolas convencionais, sendo diferente ao observado nesta pesquisa.
Resultados encontrados nesta pesquisa coincidem com os trabalhos de Appleby (1998) e Abrahammson & Tauson (1995), onde observaram maiores inconvenientes em sistemas utilizando ninhos.
Quanto a produção e consumo de ração, os tratamentos não apresentaram diferenças estatísticas, assim como para peso dos ovos. Segundo Etches (1996), o peso dos ovos podem serem influenciados por vários fatores, como a qualidade da ração utilizada na alimentação, a genética, peso e idade da galinha, assim como pelo programa de iluminação fornecido e do manejo utilizado na sua criação.
Roll (2005), em trabalho realizado com aves utilizando gaiolas convencionais versus gaiolas enriquecidas, observou uma diminuição de 2,0 g do peso dos ovos para aves que estavam em gaiolas enriquecidas.
Quanto ao comprimento das unhas, observou-se que houve diferença estatística (p<0,05) entre o tratamento 2, em relação ao tratamento 1, no entanto, não apresentou diferença entre os tratamentos 2, 3 e 4, enquanto que os três tratamentos com enriquecimento ambiental não apresentaram diferenças entre si. A media foi de 12,32 mm para o tratamento 2, seguido pela tratamento 3, com 13,21 mm, tratamento 4, com 13,35 mm e o tratamento 1, com 13,68 mm. O fato de apresentar diferença apenas no tratamento enriquecida 1, pode ser explicado pelo uso das caixas de areia, visto que as aves passavam parte do tempo ciscando e banhando-se.
Roll et al. (2008), observou boa eficiência quanto a utilização de dispositivos de desgaste de unhas, o que se contradiz ao resultado desta pesquisa. Esta diferença pode ser atribuída ao tempo de avaliação, sendo que Roll et al. (2008) avaliou durante todo período de postura das aves (18 a 78 semanas). No entanto, em trabalho realizado avaliando dois diferentes tipos de criação (criadas em piso x criado em bateria de gaiola), não foi observado diferença estatística nas medias de comprimento entre as unhas das aves (Roll et al., 2009).
Conclusões
Conclui-se que o uso de gaiolas enriquecidas para aves poedeiras comerciais não influenciou a qualidade dos ovos em relação aos ovos das aves mantidas em gaiolas convencionais. No entanto, houve influência com o aumento na produção de ovos sujos e quebrados nas gaiolas com ninho e caixa de areia.
Bibliografia
Abrahammson P & Tauson R. 1995. Performance and cage quality of laying hens in an aviary system. Journal of Applied Poultry Research 7:225-232.
Alves SP, Silva IJO, Piedade SMS. 2007. Avaliação do bem-estar de aves poedeiras comerciais: efeitos do sistema de criação e do ambiente bioclimático sobre o desempenho das aves e a qualidade de ovos. Revista Brasileira de Zootecnia 36(5):1388-1394.
Appleby MC. 1998. Modification of Laying Hen Cages to Improve Behaviour. Poultry Science 77:1828-1832.
ASSISTAT. 2010. Programa de Análises Estatísticas. Versão 7.5 UAEG - CTRN - UFCG, Campina Grande - PB. URL: http://www.assistat.com. Acessado em: 20-mai-2010.
Barbosa Filho JAD. 2004. Avaliação do bem-estar de aves poedeiras em diferentes sistemas de produção e condições ambientais, utilizando análise de imagens. Dissertação (mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo. 140 p.
Barbosa Filho JAD. 2006. Egg quality in layers housed in different production systems and submitted to two environmental conditions. Revista Brasileira de Ciência Avícola 8(1):23-28.
Etches RJ. 1996. Reproducción Aviar. Zaragoza: Acribia.
Jácome IMTD. 2009. Diferentes sistemas de iluminação artificial usados no alojamento de poedeiras leves. Dissertação (Doutorado em Construções rurais e Ambiência) - Universidade Estadual de Campinas . Faculdade de Engenharia Agrícola, Campinas, SP. 144 p.
Junqueira OM & Filho BC. 2000. Efeitos das Fontes de Níveis de Sódio, Cloro e Potássio e da Relação (Na+K)/Cl, sobre o Desempenho e Características do Plasma Sanguíneo de Poedeiras Comerciais. Revista Brasileira de Zootecnia 29(4).
Mostert BE, Bowes EH, Van Der Walt JC. 1995. Influence of different housing systems on the performance of hens of four laying strains. South African Journal of Animal Science 25:80-86.
Roll VFB. 2005. Bienestar animal y productividad en gallinas ponedoras comerciales alojadas en jaulas enriquecidas. Dissertação (Doutorado) - Universidade de Zaragoza. Espanha, 293 p.
Roll VFB, Briz RC, Levrino GAM, Xavier EG. 2008. Effects of claw shortening devices in laying hens housed in furnished cages. Ciência Animal Brasileira 9(4):896-901.
Roll VFB, Briz RC, Levrino GAM. 2009. Floor versus cage rearing: effects on production, egg quality and physical condition of laying hens housed in furnished cages. Ciência Rural 39(5).
UBA - União Brasileira de Avicultura. 2009. Relatório Anual. URL:http://www.uba.org.br/site3/ arquivos/anuario_ano_2009.pdf. Acesso em: 31-mai-2010.
 
 
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