Introdução
O ambiente sempre foi um fator decisivo sobre o desempenho das poedeiras. Alguns estados brasileiros, especialmente o estado do Acre (norte Amazônico), o excesso de umidade relativa e altas temperaturas vem ocasionando diversas alterações na fisiologia geral e no bem estar das aves, afetando diretamente a qualidade final dos ovos, levando a concluir que os modelos de criação preconizados como "ideal" no restante do país nem sempre são verdadeiros nas condições supramencionadas. O microambiente para produção e bem- estar das aves nem sempre é compatível com as necessidades fisiológicas das mesmas, gerando com isto, uma grande susceptibilidade a diferentes tipos de estresses. Significantes entre os potenciais agentes estressores está o efeito do calor (temperatura), mais conhecido como estresse calórico (Furlan, 2005). A temperatura ideal para produção de ovos estaria entre 21°C e 26°C, quando adultas (Silva, 2000). Em relação ao efeito da temperatura do ambiente sob as aves de postura, existem muitos estudos que mostram a existência de uma zona de conforto térmico. Entretanto, a determinação da zona de conforto térmico envolve o conhecimento e as interações de muitas variáveis que podem influenciar nesse processo (umidade, manejo, ventilação, instalações, etc). O objetivo deste trabalho foi avaliar os aspectos relacionados a ambiência e comportamento fisiológico de poedeiras Isa Brown, em produção, criadas em ambiente Úmido e Quente, comparando o sistema de criação convencional (gaiolas) com o sistema de criação preconizado como garantidor de melhor "bem estar" (piso).
Materiais & Métodos
O experimento foi conducido na Universidade Federal do Acre - UFAC, Centro Multidisciplinar de Cruzeiro do Sul - AC / Brasil, no período de agosto a novembro de 2010. Conforme classificação de Koppen o clima da região é classificado como tropical úmido Af com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e ausência de estação seca. A altitude média é de 170 metros com precipitação média anual é de 2074 mm. Na realização do experimento foram utilizados unidades experimentais com plantéis comerciais em produção, sendo a pesquisa alocada em 4 modelos de aviários. Foram utilizadas um total de 200 aves fêmeas, em fase de produção, da linhagem Isa Brown. Considerando a implantação do experimento dentro de uma granja comercial, foram utilizadas aves entre 23 e 42 semanas de idade. A ração experimental foi a mesma utilizada pela granja, formulada à base de milho e farelo de soja, seguindo as exigências nutricionais da linhagem, sendo fornecidas de modo a proporcionar às aves consumo de alimento e água à vontade. Os tratamentos experimentais foram representados pelos sistemas de produção, sendo compostos de dois sistemas de criação (gaiola e piso) com dois sistemas de ambiência (com e sem ventilação forçada), no qual cada tratamento contou com 4 repetições no tempo (4 tempos de 7 dias, intervalados de uma semana entre eles). Cada modelo de criação e ambiência foi mantido com 50 aves representativa. As coletas de informações, para todas as variáveis, foram realizadas em todos os dias experimentais, independentemente de precipitação, em horários pré-fixados (9:00 às 10:00h e 15:00 às 16:00h), horario local. A ventilação forçada foi realizada por meio de ventilador com vazão de ar de 1m3/segundo. As variáveis meteorológicas coletadas no interior e exterior dos modelos experimentais foram: temperaturas máxima e mínima, temperaturas de bulbo seco e bulbo úmido e umidade relativa do ar no interior e exterior dos galpões. Com base nos dados metereológicos coletados, calculou-se o Índice de Temperatura e Umidade (THI), segundo Barbosa (2004), considerando o THI ideal na faixa entre 71 a 75.Dentre os parâmetros fisiológicos, foram coletados os dados de temperatura de superfície corporal das aves e a temperatura retal, utilizando estes dados para o cálculo da Temperatura Média da Pele (TMP). Apartir dos dados de TMP, juntamente com os dados de temperatura retal, calculou-se a Temperatura Média Corporal (TMC) das aves, sendo TMP e TMC calculadas de acordo com a equação proposta por Richards (1971). O experimento foi delineado em blocos casualizados e, para análise dos dados, foi utilizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados & Discussão
Os resultados referentes as condições ambientais e caracterísitcas fisiológicas de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência estão descritos na Tabela 1.
Tabela 1. Temperatura média no interior e exterior do galpão (TMIG e TMEG), umidade relativa média no interior e exterior do galpão (URMIG e URMEG) e índice de temperatura e umidade (THI) de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência
* Médias seguidas por letras diferentes, na linha, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
Observando os dados obtidos para temperatura média interna do galpão, os tratamentos representados pelos sistemas ventilados mostraram-se mais eficientes em manter a temperatura próxima a faixa dita de conforto térmico para as aves (p<0,05). As aves são animais capazes de tolerar temperaturas muito baixas, porém não muito acima da termoneutralidade, estando a faixa considerada ideal próxima a uma temperatura ambiente de 21°C e 26°C, quando adultas.
Em relação ao efeito da temperatura do ambiente sob as aves de postura, existem muitos estudos que mostram a existência de uma zona de conforto térmico. Entretanto a determinação da zona de conforto térmico envolve o conhecimento e as interações de muitas variáveis que podem influenciar nesse processo (umidade, manejo, ventilação, instalações, etc.).
A zona de conforto térmico é aquela em que a resposta animal ao ambiente é positiva e a demanda ambiental é conciliada com a produção basal, acrescida da produção de calor equivalente a atividade normal e do incremento calórico da alimentação. Nessa zona (variável para cada tipo de fase e manejo), o animal alcança seu potencial máximo e a temperatura corporal é mantida com a mínima utilização de mecanismos termorreguladores (Filho, 2004).
No presente experimento, o sistema de ventilação forçada contribui para a retirada do excesso de umidade relativa do ar dentro dos galpões. Já os sistemas não ventilados apresentaram temperaturas internas superiores aos ventilados o que poderia explicar, como citado, o pior desempenho das aves alojadas especialmente no sistema gaiola sem ventilação. Fato importante a ser mencionado é que ambos galpões com ventilação forçada apresentaram temperaturas médias exteriores menores que os galpões sem ventilação forçada (p<0,05), mesmo estes estando dispostos em um raio menor a 4km; o mesmo não aconteceu com a umidade relativa média no exterior entre todos os galpões (p>0,05). Este comportamento pode ser explicado pelo fato de que somente os galpões com ventilação forçada possuíam em suas laterais sistema de sombreamento por espécies arbóreas, o que contribuiu para menor incidência dos raios solares sob o telhado melhorando, juntamente com o sistema de ventilação, o ambiente interno dos galpões. Silva (1998), estudando sombreamentos em galpões de poedeiras afim de melhorar a climatização, observou melhorias no desempenho das aves quando avaliado espécies mais velhas plantadas em espaçamentos menores, melhorias que resultaram aumento na produção de ovos em até 12,5%.
Quanto à umidade do ar ideal para aves de postura, não há valores concretos como no caso da temperatura. O que se pode afirmar com certeza é que, com valores muito altos de umidade relativa, as aves ficam mais sensíveis ao estresse calórico. Por isso, é importante se manter uma baixa umidade relativa no aviário, principalmente no verão. Outro problema sério causado pela alta umidade relativa nos aviários que utilizam cama, ao invés de gaiolas, é seu umedecimento, o que além de trazer problemas de saúde as aves, ainda poderá comprometer a qualidade dos ovos ali postos.
Neste experimento, os valores médios de umidade relativa obtidos nos modelos com ventilação forçada mantiveram-se dentro do esperado para aves, em geral, na fase de produção (75%). Mesmo os modelos sem ventilação forçada, não apresentaram umidade relativa maior que 90%, fato relacionado à pequena largura e comprimento dos modelos/galpões, além da relativa efetividade da ventilação natural.
Analisando-se o THI, observa-se no presente experimento que o indicativo de conforto em questão está condizente com os resultados encontrados para todos os sistemas de produção estudados, nota-se claramente que a condição de conforto estabelecida reflete um comportamento de valores de THI dentro da faixa estabelecida, ou seja, de 71 a 75. Por outro lado, quando se analisa a condição de estresse, verifica-se que os valores do THI são superiores nos sistemas sem ventilação forçada, aproximando-se do limite superior da zona de conforto térmico caracterizando, assim, uma condição de estresse e confirmando as diferenças entre as duas condições estudadas (com e sem ventilação forçada).
Os dados referentes a temperatura média da pele e temperatura média corporal de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência estão visualizados na Tabela 2.
Significativamente entre os potenciais agentes estressores está o efeito do calor (temperatura), mais conhecido como estresse calórico. Observando a TMP, esta apresentou-se estatisticamente diferente e mais adequada (p<0,05) no modelo piso com ventilação forçada, estando a TMC e THI seguindo a mesma condição.
Tabela 2. Temperatura média da pele (TMP) e temperatura média corporal (TMC) de poedeiras vermelhas submetidas a diferentes sistemas de criação e ambiência
* Médias seguidas por letras diferentes, na linha, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
O modelo gaiola sem ventilação apresentou a maior temperatura, o que indicou a piora no desempenho das aves alojadas neste sistema, certamente porque esse modelo apresentou a pior condição de conforto térmico. A associação de piso com ventilação forçada promoveu redução da TMC. Estes resultados corroboram aos encontrados por Welker et al. (2008).
Atenção especial deve ser dada as instalações, que devem proporcionar as melhores condições possíveis de conforto térmico aos animais. Isso alerta os avicultores para a importância fundamental de um sistema funcional de ventilação nos aviários, os quais devem ser orientados no sentido de que o ar quente possa ser facilmente renovado, e permitindo também a entrada de ar fresco para que as aves se sintam confortáveis e sua produção não seja comprometida (Filho, 2004).
Portanto, considerando que na maioria dos sistemas de produção de aves na América Latina os fatores climáticos são pobremente manipulados e gerenciados, o microambiente para produção e bem- estar das aves nem sempre é compatível com as necessidades fisiológicas das mesmas, gerando com isto, uma grande susceptibilidade a diferentes tipos de estresses.
Conclusões
Nas condições em que o experimento foi conduzido:
Os sistemas contendo ventilação forçada foram eficientemente úteis na manutenção do conforto térmico das aves dentro do galpão, auxiliando no bem estar térmico das aves, em especial no sistema gaiolas suspensas. Demais estudos necessitam ser realizados afim de verificar a viabilidade econômica da produção de ovos nestes diferentes sistemas de criação.
Bibliografia
Filho JADB. 2004. Avaliação do bem-estar de aves poedeiras em diferentes sistemas de produção e condições ambientes, utilizando análise de imagens. 140p. Dissertação (Mestrado em Física do Ambiente Agrícola)- Escola Superior de Agricultura Luíz de Queiros, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Furlan RL. 2005. Influência do calor na fisiologia de poedeiras. In: Junior AB, Gama NMSQ, Junqueira OM, Sakomura NK, Moraes VMB, Furlan RL, Paulillo AC. II Curso de atualização em avicultura para postura comercial. São Paulo: Jaboticabal, Funep, p. 96-118.
Richards SA. 1971. The significance of changes in the temperature of the skin and body core of the chicken in the regulation of heat loss. Journal of physiology 216:1-10.
Silva IJO. 1998. Desenvolvimento de modelos matemáticos para análise da influência das condições ambientais na produção de ovos. 140p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola)- Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Silva RG. 2000. Introdução a bioclimatologia animal. São Paulo: Nobel. 286p.
Welker JS, Rosa AP, Moura DJ, Machado LP, Caterlan F, Uttpatel R. 2008. Temperatura corporal de frangos de corte em diferentes sistemas de climatização. Revista Brasileira de Zootecnia 37(8):1463-1467.